Curtas- Homenagem para Fernando Antonio dos Reis Filgueira


Por José Magno Queiroz Luz
jmagno@umuarama.ufu.br


O professor Fernando Antônio Reis  Filgueira  faleceu  em Anápolis (GO) no último dia 20 de fevereiro, devido a um câncer nos vasos  linfáticos, descoberto em 2005. Filgueira, como era chamado, nasceu em Recife em 17 de novembro de 1937. Passou parte de sua infância e adolescência no Rio de Janeiro e, em 1961, formou-se em Agronomia pela Universidade Estadual de Minas Gerais, em Viçosa,  onde iniciou sua atuação pro?ssional como extensionista e obteve o mestrado na mesma Instituição em Olericultura 1965.
Começava  aí  uma carreira de sucesso dentro da Olericultura Brasileira. Foi presidente da Sociedade de Olericultura do Brasil (SOB) – hoje Associação Brasileira de Horticultura  (ABH), entre julho de 1968 a julho de 1969. Em 1981, recebeu o diploma e título de  Sócio Honorário da SOB;  em 2001 recebeu da SOB a homenagem por serviços prestados à olericultura nacional e em 2006 foi o presidente de Honra, recebendo homenagem do 46º Congresso Brasileiro  de  Olericultura,  realizado em Goiânia (GO).
Em 1967 mudou-se para Goiânia  e  entrou  para  a  Acar-Goiás, como  seu  primeiro  extensionista, (depois  transformada  em  Emater
e  hoje Agência Rural). Atuou  na pesquisa agronômica e, como consequência, participou diretamente da criação da Emgopa (Empresa
Goiânia de Pesquisa Agropecuária), onde atuou a partir de 1975. Em 1973 fez o curso de aperfeiçoamento em Olericultura (Third Internacinal Course on Vegetable Growing, em Wageningen, na  Holanda), estágio de  campo nas nove principais regiões produtoras  de  hortaliças dos Estados Unidos, incluindo Flórida e Califórnia. Obteve seu doutorado em Agronomia (Produção  Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), em 1991. No ano seguinte, iniciou sua brilhante carreira como docente na universidade Federal de Uberlândia (UFU) e passou a ser chamado por muitos como Prof. Filgueira. Aposentou-se pela UFU em 1997. Foi para a Universidade Federal de Mato Grosso onde atuou como professor visitante em 1999 e 2000. Por último, o professor Filgueira foi um dos fundadores do curso de Agronomia na Unidade de Ipameri, da Universidade Estadual de Goiás, de onde estava licenciado.


Professor diferenciado


A sua experiência anterior como extensionista e pesquisador o tornou um professor diferenciado e muito querido  por  todos  que tiveram  o  privilégio  de  ser  seu aluno, devido  ao  seu  jeito  alegre, comunicativo e pela facilidade em transmitir  seus  conhecimentos,
aliando com perfeição a teoria com a prática. Publicou artigos cientí?cos,  apostilas  didáticas  e  livros sobre  sua  especialidade,  sendo  o mais famoso o “Manual de Olericultura”.  A  primeira  edição  foi publicada em 1972, e a  segunda, dez anos depois. Em 2000, atualizou  o Manual  e  lançou  o  “Novo Manual  de  Olericultura”,  que já  está  com  a  sua  terceira  edição para  ser  publicada. O  “Manual”,
como  todos  chamamos,  teve  seis edições, que ele tanto se orgulhava. Uma obra de fundo cientí?co, tecnológico e econômico que contribuiu muito  para  a  olericultura brasileira. Até hoje é o livro sobre o tema mais usado nas faculdades de agronomia do Brasil.


Pesquisas pioneiras


Em toda sua obra nota-se destaque para a tomaticultura e bataticultura, incluindo um livro especí?co de Solanáceas e capítulos  de  livros  tratando  da  Batata. O cultivo do tomate industrial nos cerrados teve grande contribuição com  pesquisas  pioneiras do professor  Filgueira. Hoje, a tomaticultura industrial nesta  região é uma  realidade de sucesso, com destaque para Goiás. Sua tese de doutorado  tratou  da  interação genótipo  x  ambiente em batata. Contribuiu para o  lançamento de cultivares de batata durante os trabalhos  de  melhoramento  conduzidos na Estação Experimental de Anápolis. Em 1995 recebeu o prêmio de primeiro lugar no concurso de Comunicações Cientí?cas pelo artigo  cientí?co  apresentado, com diploma, troféu e prêmio em dinheiro no I Seminário  Latino-americano da Cultura da Batata. Foi homenageado pela Associação  Brasileira da Batata  (ABBA) por serviços prestados à Bataticultura  Nacional.  Além do tomate e da  batata,  outras olerícolas tiveram importante contribuição do Prof. Filgueira,  como pimentão, berinjela, jiló e abóboras. O  Sr. Wandell  Seixas  a?rma em coluna, homenageando  o Filgueira, publicada em 22/2/2008 no Diário da Manhã, em Anápolis/GO, que “se a população está alimentando melhor, se o produtor goiano aderiu aos seus ensinamentos da produção e da  comercialização, muito saiu do acervo de Fernando Antônio Reis Filgueira, que dedicou  ao  longo  de  quase 50  anos  de  atuação  pro?ssional à  extensão,  assistência  técnica  e pesquisa”. Aproveitamos estas palavras e acrescentamos que não só o produtor goiano, mas os produtores brasileiros aderiram aos seus ensinamentos.  Soube  como  poucos  unir a  pesquisa  e  a  extensão.
Lembro-me  de  uma  aula  prática na primeira turma de Olericultura da  Agronomia  UFU,  em  1990, realizada  em  um  produtor  diver
si?cado  de  hortaliças,  que  ?cou emocionado ao receber o Filgueira e seus alunos, pois anos atrás este produtor  tinha  escrito  uma  carta para  ele  questionando  sobre  um problema  com  sua  produção.  O Filgueira respondeu também com uma carta que o produtor guardou como um  “troféu” e nos mostrou orgulhoso naquela aula.  Ele não  será  lembrado  apenas pelo  seu  grande  trabalho  pro?ssional,  mas  também  pela  sua alegria, honestidade, sinceridade e simplicidade. A Olericultura Brasileira já sente sua falta, mas a contribuição dele será para sempre.
Filgueira  deixa  a  esposa  Ana Maria,  os  ?lhos  Ulisses,  Kátia, Denise, Sávio, Juliana e Thiago e oito netos: Ulisses Júnior, Victor e Lucas, Danilo  e Mariana,  Raissa, João Pedro e João Vítor.

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