Fitopatologia – Variabilidade de Phytophthora infestans em batata na região sul do Brasil


Variabilidade de Phytophthora infestans em batata na região sul do Brasil


Cesar Bauer Gomes – Engº. Agr. D.Sc. Fitopatologia,


Pesquisador Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS cbauer@cpact.embrapa.br


 


A região Sul é uma das mais importantes produtoras de batata (Solanum tuberosum L.) do Brasil, sendo responsável por quase 40% da produção nacional (IBGE, 2003). Entretanto, problemas de ordem fitossanitária como a “requeima”, doença causada pelo fungo Phytophthora infestans (Mont.) De Bary, representam um grande limite à produção devido às condições ambientais favoráveis (umidade relativa elevada e temperaturas amenas a baixas) ao desenvolvimento do patógeno na referida região. Nessas condições, a requeima pode, em poucos dias, dizimar uma lavoura de batata (Kimati et al., 1997).
P. infestans pode atacar a planta em qualquer fase do seu ciclo e comprometer, desde cedo, a futura produção. Inicialmente, o fungo incide nas folhas e hastes, causando necrose e escurecimento, podendo mais tarde afetar os tubérculos e provocar podridão seca (Fig.1), sintoma conhecido como “chocolate” (Reifshneider, 1987; Rowe, 1993).
A reprodução do fungo pode ocorrer assexuadamente por meio de zoosporângios ou por recombinação genética entre isolados dos grupos de compatibilidade A1 e A2, formando os oósporos (Fig. 2), os quais são esporos sexuais que podem originar populações mais agressivas. Resultados de pesquisa indicam que há uma especialização de P. infestans pelo hospedeiro, sendo a batata afetada principalmente por isolados do grupo A2, e o tomate por isolados do grupo A1.



Fig 1 – Folhas e tubérculos de batata com sintomas de requeima


 



De acordo com levantamento realizado por Reis (2001) nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil, havia predominância de isolados do grupo de compatibilidade A2 em batata, cujas populações mantinham-se clonais, ou seja, reproduziam-se assexuadamente. Porém, em trabalho recente de Santana et al. (2005), foi verificada a presença de isolados A1 e A2, em batata, no Rio Grande do Sul (Fig. 3). A partir dessas informações, uma série de investigações vêm sendo realizadas na Embrapa com o objetivo de mapear a distribuição e caracterizar os isolados de P. infestans que ocorrem nas principais regiões produtoras de batata dos três estados do Sul.


 



Fig. 2 – Esporos sexuais (oósporos) de P. infestans




Com base no estudo de Santana (2006), verificou-se que no Paraná e em Santa Catarina as populações de P. infestans continuavam clonais. Entretanto, no Rio Grande do Sul, foram levantadas fortes evidências da possível ocorrência de novas linhagens clonais com alta complexidade genética. A partir dessas informações, caracterizou-se molecularmente um grupo, os isolados mais representativos da região de coleta por meio de polimorfismo do DNA mitocondrial e da isoenzima Gpi (Glicose 6-fosfato). A análise de isoenzima re-velou padrões diferentes dos isolados de P. infestans provenientes do Rio Grande do Sul em comparação com isolados dos demais Variabilidade de Phytophthora infestans em batata na região sul do Brasil Cesar Bauer Gomes – Engº. Agr. D.Sc. Fitopatologia, Pesquisador Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS cbauer@cpact.embrapa.br Fitossanidade FITOPATOLOGIA estados e também com os padrões encontrados por Reis (2001). Estes resultados indicam uma provável ocorrência de uma nova linhagem de P. infestans no Rio Grande do Sul.



Fig 3- Locais de ocorrência dos grupos de compatibilidade (GC) A1 e A2 de P. infestans associados à batata no Sul do Brasil




A presença de isolados A1 e A2 no Rio Grande do Sul abre a possibilidade de formação de oósporos que pode levar a uma maior variabilidade do patógeno, refletindo-se em dificuldades no controle do fungo por tratos culturais, pois os oósporos sexuais deste patógeno podem resistir por até três anos no solo, sem perder a capacidade de infectar a planta (Porter et al, 2005, Drenth et al., 1993). Outra implicação da confirmação desta hipótese é no melhoramento genético, em que o desenvolvimento de cultivares deveria ser orientado para resistência durável (horizontal). A verificação da hipótese de ocorrência de novas populações do patógeno, resultantes dos cruzamentos entre isolados dos dois grupos de compatibilidade por meio de marcadores moleculares como RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism) e AFLP (Amplified Fragment Lenght Polymorphism Analysis), deverá revelar se populações híbridas de P. infestans resultantes de reprodução sexual estão ocorrendo na região.

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