Larva Alfinete – Diabrotica Speciosa

Ana Paula Afonso da Rosa
Entomologista

Os insetos conhecidos como larva alfinete apresentam ampla distribuição no continente americano, com grande diversidade nas áreas tropicais a temperadas da América do Sul, possuem como característica a variabilidade e a estreita associação com as plantas hospedeiras.
Estes insetos pertencem à família Chrysomelidae e são representados em sua maioria pelas espécies do gênero Diabrotica, o qual esta subdividido em três grupos: signifera, virgifera e fucata (krysan; Smith, 1987).
O grupo fucata, considerado o mais importante, cujos indivíduos ocorrem na América do Norte, América Central e América do Sul; apresentam hábitos multivoltinos, migrantes e são polífagos nas fases de larva e adulto, sendo Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Figura 1) a mais abundante e que causa maiores danos às culturas agrícolas.

Figura 1. Adulto de Diabrotica speciosa. Foto: Paulo Lanzetta

O grupo virgifera inclui as espécies que formam o complexo de pragas do milho mais importantes da América do Norte (Metcalf, 1986). A única espécie deste grupo considerada praga na América do Sul é Diabrotica viridula (Fabricius, 1801) que é frequentemente confundida com D. speciosa.
A espécie D. speciosa apresenta três instares larvais com um período de crescimento inferior a dois meses a uma temperatura média de 25°C. É bastante tolerante ao frio, podendo ocorrer de cinco a seis gerações por ano. Suas posturas são realizadas em fendas dos solos, preferencialmente nos mais escuros com alto teor de matéria orgânica e umidade de 26% a 63%, respectivamente. Cada postura possui, em média, 30 ovos e é encontrada próxima às plantas hospedeiras ou sobre raízes e tubérculos. As larvas, comumente denominadas “larva-alfinete”, por possuírem o corpo alongado e fino, são esbranquiçadas, com cabeça e parte terminal de coloração escura. O corpo é cilíndrico, mais afilado na parte anterior, podendo atingir 12 mm de comprimento e cerca de 1 mm de diâmetro (Figura 2).

Figura 2. Larva de Diabrotica speciosa. Foto: Paulo Lanzetta

O período larval, variável em função da planta hospedeira. As pupas têm coloração branca-amarelada e os adultos possuem aproximadamente 4,5 mm de comprimento, antenas escuras, cabeça variando de pardo avermelhado ao negro, coloração esverdeada, apresentando em cada élitro três manchas transversais ovalares de coloração amarela, tendo como denominações comuns “vaquinha”, “brasileirinho” e “patriota” devido à coloração característica que apresenta (Nogueira et al., 2000). É muito semelhante à espécie D. viridula que possui cabeça verde, tíbias marrons e élitros com pontuações mais grossas (Zucchi et al., 1993) (Figura 3, Tabela 1), em milho foi verificada presença das duas espécies (Waquil et al., 2010), indicando que é necessário avaliar a distribuição espacial e temporal destas espécies no Brasil.

Figura 3. Adulto de Diabrotica viridula (A) e Diabrotica speciosa (B). Foto: Simone Martins Mendes

Tabela 1. Características morfológicas de Diabrotica speciosa e Diabrotica viridula.

* Adaptado de Rossetto (1989)

O adulto de D. speciosa é considerado um inseto polífago, predominante praticamente em todos os Estados da federação, cujos adultos atacam a parte aérea de várias plantas cultivadas, como espécies de plantas do grupo das frutíferas, olerícolas, dicotiledôneas e monocotiledôneas, sendo considerada uma das mais importantes pragas agrícolas da América Latina, manifestando uma preferência alimentar por folhas de plantas de feijão e soja. Além dos danos diretos causados às folhas, pode ser vetor de viroses e doenças bacterianas para diversas espécies de plantas.
Em batata, as larvas de D. speciosa se alimentam dos tubérculos em formação, abrindo galerias e os adultos se alimentam das folhas, reduzindo a área fotossintética e diminuindo, por consequência, o rendimento de tubérculos (Figura 4).

Figura 4. Tubérculos de batata atacados por larvas de Diabrotica speciosa. Foto: Calisc Oliveira Trecha

Em lavouras de batata, o ciclo varia, de 40 a 50 dias, em condições normais de temperatura e umidade e mais curto durante a safra primavera, onde verificam-se até duas gerações por safra, e mais longo durante a safra plantada ao final do verão ou no outono.
Quando o ataque se dá na extremidade do estolão, não há formação do tubérculo, em decorrência do ataque algumas cultivares emitem maior quantidade de estolões, que podem compensar a formação de tubérculos na planta.
Os adultos causam danos na fase inicial de desenvolvimento da cultura, pois danificam folhas e hastes da planta, reduzindo a produtividade em virtude da diminuição da área fotossintética, e por possuírem o hábito de voarem de uma planta para outra, o avanço do dano causado na área se dá rapidamente. Desfolha de até 33% no inicio do ciclo da cultura da batata, a planta tem a capacidade de recuperação, porém, se a mesma for mais intensa, atingindo 67% ou mais, há perdas na produção (Cranshaw; Radcliffe,1980).
As larvas podem atacar os tubérculos desde o início do processo de tuberização, caracterizando danos ainda maiores, afetando o produto comercial, podendo deixá-los completamente danificados.
A densidade larval influencia diretamente nos danos ocasionados pelas larvas de D. speciosa; no verão, que é período mais favorável ao desenvolvimento do inseto, cinco larvas já causam danos nos tubérculos. Densidades de 30 e 40 larvas/planta são as que mais interferem na produção de tubérculos das cultivares Agata e BRS Clara (Tabela 2).

Tabela 2. Percentual médio do Índice de Ataque aos Tubérculos (IAT) das cultivares Agata e BRS Clara mantidas em casa de vegetação sob a infestação de diferentes densidades de larvas Diabrotica speciosa, nas safras de verão e outono de 2013.

1Percentual médio seguidos pela mesma letra tanto na linha como na coluna não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey (Trecha et al., 2017).

O controle de D. speciosa no Brasil, tanto de larvas como de adultos, é baseado, quase que exclusivamente, no emprego de inseticidas, no sulco de plantio e/ou pulverização, no entanto, controle de adultos têm-se mostrado com baixa eficiência, já que o inseto se dispersa com facilidade, proporcionando frequentes reinfestações quando as condições ambientais favorecem seu aumento populacional. Da mesma forma, o controle preventivo de larvas, através do tratamento no sulco ou na amontoa, também tem sido considerado ineficaz, devido aos produtos não apresentarem persistência no solo. Atualmente estão disponíveis 68 produtos para controle da praga no Brasil (Agrofit, 2018).
A prática de controle deve ser precedida pelo monitoramento, sendo que os adultos de D. speciosa podem ser amostrados através de armadilhas luminosas com lâmpadas do tipo BLB (ultra-violeta), BL (ultra-violeta) e B (azul), além de iscas atrativas feitas com partes do fruto de abóbora amargosa (Lagenaria vulgaris), que pode ser ou não tratada com inseticida, visando o controle de adultos. Para o monitoramento do inseto na fase larval, o método mais utilizado é o peneiramento do solo sobre um plástico preto, permitindo a identificação e contagem das larvas.
Aliado ao monitoramento é necessária a destruição de restos culturais e a dessecação antecipada da área, para que a infestação inicial no solo seja reduzida pela falta de alimento e que o monitoramento dos adultos que chega em à área represente melhor a população presente.
A utilização de cultivares resistente é método de controle mais desejável, porque não interfere com as práticas agrícolas, permitindo uma boa eficiência de controle do inseto, além de não onerar os custos de produção para o agricultor e não causar um desequilíbrio no ambiente.
Uma das fontes de resistência mais utilizadas é baseada em tricomas glandulares de folhas, como os de espécies silvestres de Solanum berthaultii Hawkes. Os programas de melhoramento de batata têm tentado combinar resistência das espécies silvestres com caracteres agronômicos das espécies cultivadas, através dos quais produziram o clone NYL 235-4 oriundo do cruzamento de batata silvestre, que sofre três a sete vezes menos perdas na produção que genótipos suscetíveis, apresentando boas características agronômicas e alta resistência à praga, do tipo não-preferência para alimentação (antixenose) (Plaisted et al., 1992).
Em 2002, com a aprovação de um projeto financiado pela Fundação McKnight, envolvendo as Universidades americanas de Cornell e de Idaho, o INIA no Chile e a Embrapa no Brasil, em que um dos seus objetivos era o desenvolvimento de germoplasma de batata menos dependente de agrotóxicos, foi introduzido no programa de melhoramento genético de batata da Embrapa clones que tinham na sua genealogia as espécies silvestres S. berthaultii e Solanum chacoense, com os fatores de resistência a insetos associados respectivamente a presença de tricomas glandulares nas folhas e a leptina. Este germoplasma, o qual inclui o clone NYL 235-4, foi usado nos blocos de cruzamentos do programa e foram selecionadas famílias clonais que apresentaram resistência foliar a Diabrotica spp. (Souza et al., 2008). Atualmente, clones avançados oriundos destas famílias estão sendo usados como genitores no programa de melhoramento visando desenvolver cultivares de batata menos suscetíveis ao ataque de D. speciosa. Em um trabalho recente, com infestação natural a campo, estes clones apresentaram resistência a Diabrotica tanto foliar como nos tubérculos (Teodoro et al., 2014).
D. speciosa é uma importante praga na cultura da batata no Brasil, no entanto, embora alguns avanços já tenham sido obtidos em relação à biologia do inseto e a utilização de cultivares resistentes, formas de controle ainda precisam ser mais bem estudadas, entre elas o controle químico que, devido aos riscos oriundos da toxicidade da maioria das moléculas disponíveis, principalmente na formulação de grânulos, pode ocasionar riscos para o ser humano e contaminação ambiental.

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