Seção Especial 100 Anos de Imigração Japonesa – História de um pioneiro

Produção de batata no sudoeste de São Paulo

Antonio Kaitro Warikoda filho de Tasaenon Warikoda e Sue  Warikoda, natural de Aira Gun – Fukushima Mura da província de Kakoshima Ken. Nascido em 19 de agosto de 1901, fi lho de pequeno agricultor, imigra para o Brasil em 1917, com 16 anos. Acredita-se que seus pais eram contra sua vinda para o Brasil, já que o irmão Kanekuma, logo acima dele, vinha acompanhando o cunhado Makino, como terceiro braço trabalhador, condição exigida para se imigrar.
Fez greve de fome quase uma semana, até que os pais consentissem, na esperança de sua desistência, pois os demais já haviam partido para cidade, distante, a fi m de providenciarem documentação.
Ele catou sua trouxa e na saída do vilarejo avistou um cavalo. Dirigiu-se ao seu lombo, sem sela, juntando-se aos demais na cidade, tamanha era sua vontade de conhecer um mundo novo.
Durante a viagem, ao atravessar o Oceano Índico, a embarcação correu risco de ser torpedeado por submarinos alemães, pois em 1917 o mundo estava em Guerra e o Japão posicionado contra os alemães. O comandante reuniu os passageiros e tripulantes e alertou para o perigo. Na eventualidade do ataque, os barcos salva vidas eram insufi cientes para comportar todos. As prioridades seriam crianças, idosos e mulheres, por último os homens. Aqueles que não conseguissem embarcar deveriam enfrentar a situação com coragem e honradez como cidadão nipônico.
A chegar ao porto de Santos, seu destino não era diferente dos demais imigrantes: trabalhar na fazenda de café no interior paulista, enfrentando múltiplas difi culdades, desconhecendo o idioma, costumes e alimentação.
Sendo o mais jovem do grupo não teve dificuldades em aprender o português, passando a atuar como porta voz da família em seus contatos com os brasileiros.
Três a quatro anos depois, desliga-se do grupo e aventura-se sozinho, trabalhando em fazendas, chegando a administrar uma delas. Por interferência paterna não se casa com a filha do patrão. O pai não desejava uma descendente de pele diferente da sua, rejeição muito comum para a época.
Nessas andanças, como a maioria dos imigrantes, plantou algodão. Em uma dessas ocasiões perdeu uma excelente oportunidade de ganhar dinheiro, quando um incêndio, provocado em razão da revolução por Izidoio Lopes, destruiu o depósito onde o produto estava armazenado.
Em 1933 deixou a agricultura e comprou um armazém de secos e molhados, na cidade de Alvarez Machado, com o lucro conseguido numa lavoura de batatinha, cultura que havia aprendido cultivar.

Quitanda do Senhor Warikoda e memorando Batata-Semente


No mesmo ano casa com a Kazue Ito no sistema “miai”(casamento por apresentação) e decide mudar para outra cidade, pois ali havia um comerciante forte, também japonês, que não lhe dava espaço para seu crescimento.
Durante a mudança sofre contratempos por motivo de saúde e a demora na retirada da carga, a fiscalização apreende o carregamento sob alegação que havia formicida entre os gêneros transportados.
Devido às dificuldades na liberação da carga e da pesada multa, desiste do negócio,perdendo praticamente tudo que possuía e resolve ir para Itapecerica da Serra, nos arredores de São Paulo, onde havia concentração de seus conterrâneos.


Itapetininga por acaso
Durante o caminho, em Iperó houve, provavelmente, confusão da aquisição do bilhete de passagem e o casal desembarcou em Itapetininga, cidade que nunca ouvira falar, mas era o destino de muitos imigrantes que vinham plantar algodão naquele tempo.
Conhece o Sr. Sanejima, carpinteiro, conterrâneo de Kagoshima, que trabalhava na construção do quartel do 5º BC que, além de dar informações sobre cidade, acomoda o jovem casal em sua casa até se familiarizarem com o local.
Com clima ameno, não distante de São Paulo e por contar com boas escolas, o casal decide ficar na cidade. Alugou uma pequena casa na Vila Paquetá (hoje Rio Branco), iniciando plantio de verduras e legumes, pois naquela época era quase inexistente a oferta desses produtos. Assim, começa venda de verduras em carrinho de mão, nas ruas, com orientação quanto à forma de consumo de cada produto, pois a maioria desconhecia alface, chicória, pimentão, vagem, nabo, etc.
Pouco tempo depois abre uma quitanda no centro da cidade, no sobrado da esquina entre as ruas Venâncio Ayres e José Bonifácio.
Em pouco tempo o local torna-se ponto de encontro da maioria dos imigrantes que chegavam a Itapetininga.
Em 1935, a família do sogro Guinemon Ito muda-se para a cidade. Vindos de Presidente Venceslau, estabeleceram-se no sítio do bairro da Chapada Grande, onde pouco tempo depois o filho Taizo inicia fruticultura, uma atividade pioneira na região.
Nesse período de grande movimentação de imigrantes, o Sr. Kaitiro, além da quitanda administrada com a ajuda da esposa dona Tereza, auxilia os patrícios que aqui chegavam, muitos sem conseguir comunicação em português, agenciando terras para arrendar, apresentando ao comércio local para obtenção de fornecimento de gêneros, com prazo de safra. Em alguns casos, chegou a afiançar as vendas, sem nenhuma vantagem econômica para si.
Nessa mesma época com o debilitamento da cotonicultura na região, sugere o plantio de batatinha como alternativa econômica.
Sua experiência como plantador de batatinha serviu para indicar os fornecedores de semente e insumos, iniciando-se pequenos plantios, tendo os primeiros produtos saídos no lombo de burro e chegando ao mercado consumidor por via férrea, em São Paulo.
O mercado de batata sempre foi muito dinâmico e o aparecimento de produto procedente de local desconhecido dispertou interesse por parte de bataticultores de cidades mais próxima de São Paulo, como Cotia, São Roque, Ibiúna, etc, atraindo no final da década numerosas famílias de bataticultores, iniciando um novo ciclo na agricultura do município e da região.
O Sr. Kaitiro passou, então, a atuar como comprador comissionando, adquirindo a produção local e despachando para atacadista de São Paulo, transferindo a quitanda para a família do Sr. Paulo Horie, que também acaba permanecendo em Itapetininga.
Abriu um depósito na rua Quintino Bocaiúva e dedicou-se a ele até a vinda da cooperativa Agrícola de Cotia, no final de década de 30, que acaba tomando-lhe a maioria de seus fornecedores.
A quebra do atacadista para quem trabalhava, arruinou-lhe a vida, pois não conseguiu receber as comissões acumuladas que lhe dava sustento. Encerra suas atividades na cidade e reinicia a vida como agricultor nos fundos da Fazenda Boa Vista, propriedade do gaúcho Waldemar Correa, em companhia da esposa e três filhos pequenos.
Em consequência do debilitamento da saúde, procurou apegar-se em curadores e benzedeiras e acabou vítima de um deles, pouco escrupuloso, tendo a sua vida interrompida aos 45 anos, em 24 de junho de 1947, no fundo da Fazenda Boa Vista, deixando seis filhos, o último ainda por nascer.
Não deixou bens materiais, mais um legado de dedicação ao próximo com total desprendimento, Um verdadeiro exercício de amor, que abençoou a família que até hoje permanece na cidade. A viúva Dona Tereza além de ter criado os filhos, deu continuidade ao exemplo do marido e, como reconhecimento, no ano 2000 foi agraciada com título de cidadã itapetiningana. Em novembro de 2004 faleceu aos 91 anos de idade.


Narrativa feita por Tochimitu Varicoda, filho do Sr. Kaitiro.
Fotos: arquivo da família.

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