Produção de batata no norte de Santa Catarina
Santa Catarina, junto com o Paraná, sempre foi um estado receptivo as imigrações de várias etnias, tendo como principais os alemães, italianos, poloneses e ucranianos, que estão em maioria. A imigração japonesa é recente, iniciou na década de 50 com a implantação da Colônia Celso Ramos em Curitibanos (atualmente Frei Rogério) para o cultivo de trigo (atualmente frutas de clima temperado e alho), mas posteriormente foram implantados colônias de agricultores em Caçador (frutas) e Itajaí, e Forquilhinha (hortaliças). Acredita-se que a população de nipônicos no estado não passe de três mil habitantes entre isseis, nisseis, sanseis e yonseis.
A concentração na região norte do estado, cujo pólo é em Canoinhas – que compreende os municípios de Bela Vista do Toldo, Major Vieira, Monte Castelo, Papanduva, Mafra, Três Barras, Canoinhas, Irineópolis, Itaiópolis e um pouco mais longe em Santa Cecília e Campo Belo do Sul – se dedicou a produção de batata, que iniciou no fim da década de 60 com a migração da cultura que começou em Cotia (SP), passou pelo sudoeste de São Paulo e pelo sul do Paraná. Esta busca por terras novas, recém desmatadas, era para evitar o risco de contaminação por murcha bacteriana Ralstonia solanacearum), assim a maioria dos produtores que chegaram à região tinham o objetivo de produzir batata semente.
Os agricultores que vieram para a região foram do sul do Paraná e interior de São Paulo, atraídos pela fama da região por terras de alta fertilidade e preços baixos. O grande incremento iniciou na década de 70 com a entrada da Cooperativa Agrícola de Cotia, que instalou um escritório em Canoinhas para atender técnica e comercialmente os associados. Em apoio a esta produção, o governo implantou um programa de certificação de batata semente certificada, que de 1972 a 1999 foi executado pela CIDASC, órgão vinculado à Secretaria da Agricultura de Santa Catarina, ressaltando-se a figura histórica do inspetor de sementes Waldomiro Bubniak que trabalhou por 25 anos. O programa oficial de certificação de batata
semente finalizou em 2005. Atualmente, os produtores realizam a certificação da produção própria.
Os primeiros agricultores da região norte catarinense encontraram terras de boa qualidade, clima frio com intensas geadas no inverno e áreas cobertas de mata nativa, que possibilitavam bom isolamento para a disseminação de pulgões e bactérias. Com isto, a qualidade da batata semente produzida era quase igual a semente importada.
O país importava mais de 500.000 caixas (15.000 toneladas) de sementes certificadas (classes A e B) da Holanda, Alemanha e Suécia. A Cooperativa Agrícola de Cotia incentivou produtores de batata consumo a se deslocarem para a região para multiplicarem as sementes básicas importadas classes SE e E para produzirem sementes certificadas classes A, B e C nacionais. Com esta substituição, a produção nacional começou a aumentar e a região a se destacar na atividade. Nos anos dourados, entre 1985 a 1990, a região comercializou 76% da produção nacional.
Os primeiros produtores que vieram à região foram os senhores Massatomo Murakami, Umeichi Shimoguiri, Nagano Kanzi, Nagano Kinzi, Kazuomi Inushi, Mitsuomi Inushi, Massakazu Takahashi, Akio Takahashi.
Em 1974, foi instalado em Canoinhas o Centro de Treinamento e Multiplicação de Batata Semente Celso Freitas de Souza, do Convenio MA – GTZ, órgãos governamentais do Brasil e Alemanha respectivamente. Esta unidade fazia parte de uma série de instalações construídas pelo Plano Nacional de Sementes (PLANASEM), que implantou o parque de produção de sementes no Brasil. Em Canoinhas estiveram trabalhando técnicos alemães e brasileiros, fizeram testes de cultivares de batata alemã e implantaram o primeiro laboratório de testes virológicos do país. Em 1976, com o fim daquele programa, a EMBRAPA recebeu do Ministério da Agricultura o centro e o transformou em Gerência Local de Canoinhas, parte da EMBRAPA Sementes Básicas, cuja unidade tinha como missão a criação de tecnologia para produção de batata semente totalmente nacional.
Primeiras produções
O início das atividades de produção de batata semente básica nacional foram muito tumultuadas, as primeiras produções foram muito difíceis de vender, pois ninguém acreditava nesta tecnologia. Os primeiros produtores a acreditarem foram Fumiya Igarashi e Tamon Nakayama, que iniciaram a adquirir as sementes e ao mesmo tempo fizeram contratos de multiplicação com a EMBRAPA. A instituição produziu sementes entre 1976 a 1997, atualmente se dedica a melhoramento genético da batata. No início da década de 80 entrou a “moda” da biotecnologia, algumas empresas foram criadas no país, como a Bioplanta (do grupo Souza Cruz), Biomatrix (do grupo Agroceres) e outras pequenas empresas nacionais, que fecharam as portas alguns anos após.
Depois, a Cooperativa Agrícola de Cotia percebeu que esta tecnologia de produção de batata semente pelo uso da biotecnologia e plantio à campo de mini-tubérculos era técnica, economicamente viável e construiu, em 1985 junto com o frigorífico de batata semente em Canoinhas, o laboratório de virologia, cultura de tecidos e telados para produção de mini-tubérculos de batata semente, que continua até hoje através da COOPEAGRO-AGROSEM, empreendimento criado pelos ex-associados da extinta Cooperativa Agrícola de Cotia. Os pioneiros se instalaram na região, construíram barracões para armazenamento e beneficiamento de batata semente, derrubaram áreas de mata nativa e plantaram batata semente por duas safras e seguiram em frente para novas áreas. As áreas já plantadas eram aproveitadas para o plantio de cereais.
Soja e milho
Atualmente, a região é uma das grandes produtoras de soja e milho do estado. Em 40 anos de atividade, acredita-se que foram desmatadas mais de 40.000 hectares na região. Na década de 90, com o inicio da aplicação do Código Florestal, começaram as restrições de desmatamento, aliados às crises de preços e demanda da bataticultura, verticalização das atividades dos grandes produtores de batata consumo, além da abertura de novas regiões de produção de batata e de batata semente, principalmente no centro oeste, como o Planalto Central de Goiás e Distrito Federal, Triângulo Mineiro e Bahia. Com isso, a produção da região de Canoinhas começou a entrar em declínio produtivo. Alguns produtores desta região migraram para as novas, mas a maioria dos pequenos acabou saindo da produção de sementes por condições financeiras, demanda de mercado e mudança para outras atividades agrícolas.
A produção de batata semente na década de 70 e 80, que era de 2.500.000 caixas/ano, atualmente produz aproximadamente 500.000 caixas/ano. Os remanescentes ainda são grandes produtores de batata semente como Nagano Kinzi Agropastoril Ltda., COOPERAGRO-AGROSEM e seus cinco associados, além de outros quatro produtores de origem não nipônica. As famílias que entraram na região na época, que não mais produzem batata, continuam com produção de cereais ou foram para atividades comerciais. A despeito da redução, a qualidade das sementes continua a mesma, pois a pressão por patógenos diminuiu, das terras já desmatadas em uso para cereais e os produtores não tem obtido grande sucesso na batata consumo, já que a maioria dos solos da região são de textura muito argilosa e pesada, resultando batatas “cascudas” e sem muito brilho. Devido a estas características da região, na década de 80, o então presidente da Associação dos Produtores de Sementes do Estado de Santa Catarina, sr. Lincoln Kinziro Nagano tentou implantar uma indústria de processamento de batata pré-frita super-gelada em parceria dos produtores da região com uma grande empresa de armazenamento e processamento de hortaliças de Mairinque (SP), mas ele faleceu em um acidente aéreo e as conversações não prosseguiram.
Os fatos ocorridos nesta região fizeram parte da historia da agricultura catarinense e o desenvolvimento econômico deve-se em parte ao pioneirismo e perseverança dos agricultores de origem japonesa.
Etnia japonesa fez história na região
Dos anos 70 até 2008, inúmeros produtores de etnia japonesa produziram na região Norte de Santa Catarina, desenvolvendo o local e fomentando o cultivo do tubérculo. Entre eles estão: Akio Takahashi, Unzo Suzuki, Jorge Hiroshi Umeo, Kameo Oi, Hiroatsu Nishimori, Moriyoshi Togami, Roberto K. Shimoguiri, oshiaki Nagano, Teruo Nagano, Sentaro Nagano, Osvaldo Cosaburo Nagano, Mitsuomi Inushi, Massahiro Nishioka, Jogi Yoshitani, Akira Inoue, Fumio Inoue,Akihiko Inoue, Yoshiharu Nagano, Kazunari Koga, Tamon Nakayama, Fumiya Igarashi, Kingo Fujioka, Manabu Odawara, Akira Wakuda, Yoshio Shiokawa, Taimei Huzioka, Shizuo Shiokawa, Kikushi Ikeda, Chuiti Koyama, Carlos M. Shimoguiri, Massazaku Yamanishi e Tetsuo Yamanishi. A Associação Nipo-Brasileira do Planalto Norte Catarinense chegou a ter 70 famílias associadas entre 1980 a 1990, estimando que tivessem cerca de 300 pessoas da etnia japonesa.
Artigo alusivo a comemoração do
IMIN 100 – Cem anos da imigração japonesa no Brasil
Redigido por:
Elcio Hirano da EMBRAPA
elcio.hirano@embrapa.br
Satoru Ogawa e Cláudio T. Fujita
ambos COOPERAGRO-AGROSEM
agrosem.batatasemente@brturbo.com.br
Fotos:
Gilberto Primo Shaefer
Engº agrônomo do Ministério da Agricultura, em 1974.
Da esquerda para a direita:Quirino Augusto de Camargo Carmelo qacarme@esalq.usp.br – prof. associadoMagnus Dall’Igna Deondeon@esalq.usp.br – Pós-graduandoAntonio Roque Dechenardechen@esalq.usp.br – prof. titularfone: 19 3429.4170 – fax: 19 3434.7947 BoroO boro é absorvido da solução...
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