Carlos Lopes
Agnaldo Ferreira
Giovani Olegário
Carlos Ragassi
Especialmente no Brasil, a aparência dos tubérculos é um importante diferencial na comercialização de batata para mesa. Por isso, é muito gratificante para o produtor observar um produto com pele lisa e brilhante, sem defeitos, saindo das lavadoras – em especial se os preços são favoráveis no momento! No entanto, nem sempre isso é possível, se levarmos em conta que a batata é produzida sob diversas condições climáticas em um país tropical como o nosso,
muitas vezes favoráveis ao aparecimento de doenças e distúrbios fisiológicos que interferem na aparência do produto.
Longe de estar entre os mais preocupantes, um dos defeitos de pele apresentados pela batata é o rendilhamento ou “russeting” (Figura 1). De fato, este pode até não ser um defeito, mas uma marca controlada geneticamente associada a uma boa qualidade culinária, caso típico da Russet Burbank, cultivar americana antiga que se notabilizou pela excelência na fritura. Por outro lado, o rendilhamento é indesejável nas cultivares de pele lisa, nas quais o defeito se manifesta superficialmente e em manchas de maior ou menor tamanho, diferentemente do
rendilhamento genético, que é mais espesso e geralmente cobre toda a superfície do tubérculo.
Em relação ao rendilhamento por causas genéticas (russet), ou seja, quando a cultivar apresenta naturalmente tendência a apresentar esta característica, nota-se que o atraso na dessecação tende a aumentar a intensidade deste rendilhamento, visto que com o avanço no período de desenvolvimento dos tubérculos há aumento também do processo de lignificação da pele. Há também evidências de maior ocorrência desta característica em solos mais argilosos. Sendo o controle genético do tipo dominância para a característica “russet”, no melhoramento, com o cruzamento entre genótipos “russet” e lisos, há tendência de haver maior proporção de clones “russet” na progênie.
Porém, quando pensamos no rendilhamento que ocorre em batatas de pele lisa, há a possibilidade de este estar ligado a causas fisiológicas ou patógenos. No caso de patógenos, a sarna comum causa sintomas conhecidos como “ferrujinho”. De fato, sabe-se que outros patógenos de solo podem causar sintomas similares, como Rhizoctonia solani e algumas espécies ou estirpes de Streptomyces.
Estudos anatômicos mostraram que o rendilhamento natural, ou fisiológico, ou seja, quando não há associação deste sintoma com agentes fitopatogênicos, é causado pelo acúmulo de células mortas da pele dos tubérculos, que ficam aderidas às camadas inferiores recém formadas. Em condição normal de desenvolvimento, essas células mortas se desprendem, deixando a superfície lisa.
Embora o rendilhamento seja um processo complexo, sua ocorrência já foi relacionada com a alta concentração de Ca e baixa concentração de K na superfície dos tubérculos.
Há evidências que maior concentração de Ca nos tubérculos de superfície rendilhada aumenta a tenacidade da parede celular e a aderência entre células, fatores que interferem na escamação das células mortas que conferem a lisura da casca.
No entanto, os mesmos autores concluíram que a aplicação de CaCl2 antes do plantio reduziu a intensidade de rendilhamento. Este resultado aparentemente contraditório pode ser explicado pela complexidade da absorção e translocação de Ca nos tecidos da planta. Enquanto o Ca encontrado no interior dos tubérculos é absorvido pelas raízes, o Ca na superfície dos tubérculos é absorvido diretamente pelas camadas de células que formam a
pele da batata. Portanto, a composição do solo adjacente, em contato com os tubérculos, é um forte determinante da aparência da pele. Inclusive, há autores que recomendam a aplicação de cálcio na amontoa, mesmo quando a análise de solo indica que esse nutriente está disponível na região das raízes.
Embora de difícil comprovação, observações dos autores mostram evidências desses fatos ao observarem distintos tipos de rendilhamento em:
1. Tubérculos produzidos em campo em que houve contato físico dos tubérculos com formulações de adubos químicos não adequadamente misturados ao solo, em especial na amontoa.
2. Tubérculos produzidos em vasos (para produção de semente pré-básica ou em programas de melhoramento), em que ocorreu excesso de irrigação, comprometendo o arejamento do solo e a absorção de nutrientes.
3. Tubérculos produzidos em hidroponia, provavelmente em virtude do balanço iônico inadequado da solução nutritiva.
Diante desses fatos e comentários, depreende-se que o rendilhamento é, de fato, um fenômeno complexo e de difícil solução. De modo geral, pode-se afirmar que a manutenção da umidade do solo próximo à capacidade de campo durante o crescimento dos tubérculos aumenta a incidência do rendilhamento. No entanto, alterar essa prática requer muita atenção, visto que ela é recomendada para garantir a produção (enchimento dos tubérculos) e,
ao mesmo tempo, reduzir a incidência da sarna comum. Assim, reforça-se a ideia da importância da agricultura de precisão, em que, neste caso, o ajuste fino da irrigação é relevante, levando-se em conta outras variáveis tais como cultivar, temperatura, tipo/preparo do solo e nutrição da planta.
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Joaquim Gonçalves de PáduaEng.º Agr., Pesquisador EPAMIG/CTSM/FECDpadua@epamigcaldas.gov.br Dr. Sérgio Mário Regina é um dos Profissionais das Ciências Agrárias que mais contribuiu para o desenvolvimento da Olericultura Nacional. Natural de Varginha – MG, onde nasceu...