Tuberização

Silvio Tavares – stavares@esalq.usp.br
Eng. Agrônomo, doutorando em agronomia – Depto. de Produção Vegetal – ESALQ/USP


Introdução
A batata (Solanum tuberosum L. subespécie tuberosum Hawkes), planta herbácea da família Solanaceae, tem como importante fonte alimentar os seus tubérculos.
A produtividade média nacional é de 15,2 t ha -1 , considerada baixa quando comparada aos principais países produtores (EUA, Alemanha, Holanda, Inglaterra e França), com produções médias acima de 30 t ha -1 . As razões que justificam essas altas produções fundamentam-se no conhecimento ecofisiológico da cultura, proporcionando um eficiente manejo em suas diferentes fases fenológicas. O objetivo deste trabalho é enfocar principalmente o estádio III, ou seja, o processo de tuberização e suas implicações na produtividade final.
A tuberização ocorre em várias espécies vegetais, sendo que órgãos de natureza determinada apresentam a propriedade de acumular substâncias de reservas em seus parênquimas primários e secundários. Segundo Jolivet (1969), o armazenamento destas substâncias acompanhado de uma hipertrofia radial do órgão afetado caracteriza a tuberização.
O amido é o principal polissacarídeo de reserva das plantas; armazenado na forma de grãos nas células da medula e do parênquima cortical; sendo insolúvel em água pode ser estocado em grandes quantidades (Dietrich & Ribeiro, 1986). Ewing (1995) afirmou que a formação de tubérculos de batata é acompanhada por alterações morfológicas e bioquímicas na planta, sendo que o início da tuberização é caracterizado pela paralisação do crescimento longitudinal e consequente crescimento radial da extremidade do estolão.
O controle do crescimento e do desenvolvimento depende da ação dos genes das células vegetais, sendo também influenciado por diversos fatores ambientais, tais como luz, água, nutrientes minerais e temperatura. A ação gênica é exercida através da síntese de substâncias reguladoras do crescimento, entre as quais se destacam as auxinas, as giberelinas, a citocinina, o etileno e vários outros tipos de compostos orgânicos, que atuam de forma conjunta e balanceada sobre o crescimento vegetativo, manutenção dos órgãos vegetativos, crescimento e amadurecimento dos frutos.
A tuberização é a resultante da interação de vários fatores extrínsecos e intrínsecos, sendo ativada por um estímulo indutor que desencadeará o desenvolvimento e crescimento do órgão de reserva.


Fatores climáticos:
Temperatura – O clima desempenha um papel importante na produção da batata. As culturas mais produtivas encontram-se nas regiões ou estações em que prevalecem temperaturas baixas. As temperaturas ideais situam-se na faixa de 20 – 25 º C durante o dia e 10 – 16 º C durante a noite.


Fotoperíodo – O fotoperíodo influencia vários p rocessos fisiológicos da batata, especialmente o crescimento das ramas, estolões, floração e a tuberização. A produção de tubérculos está na dependência do crescimento dos estolões. O crescimento dos estolões é favorecido por dias longos. Sob condições de dias curtos, o seu comprimento é reduzido o suficiente para a formação do tubérculo.


Umidade – A quantidade de água no solo e a precipitação atmosférica afetam a produção de batatas, pois influenciam diversos processos fisiológicos da planta, principalmente o crescimento, fotossíntese e a absorção de nutrientes.


Estádios fenológicos – A relação entre o clima e fenômenos biológicos periódicos durante o ciclo da cultura da batata é definido por cinco estádios fenológicos (Figura 1).



Figura 1 – Esquema do ciclo fenológico da cultura de batata.


Estádio I – período entre o plantio e a emergência das plântulas (10 dias). Nesse estádio a plântula sobrevive das reservas contidas no tubérculo-mãe e o hormônio vegetal presente é a giberelina (região subapical).


Estádio II – período de desenvolvimento vegetativo compreendido da emergência até o desenvolvimento de estruturas diferenciadas denominadas de estolões (20 dias). Os estolões se desenvolvem a partir de gemas axilares (crescimento horizontal). O número de estolões é proporcional ao número de gemas axilares
presentes no caule. As gemas abaixo do solo (escuro) sofrem a ação de outro balanço hormonal, ou seja, na presença de um caule com dominância apical (auxinas) e citocininas presentes nas raízes, se diferenciam em estolões e se desenvolvem lateralmente. Isso gera uma preocupação extra ao produtor na ocasião da amontoa. A amontoa quando efetuada de maneira adequada, resulta num maior número de tubérculos, porém, se efetuada de forma inadequada ocasiona um maior número de ramos “ladrões”.


Estádio III – Tuberização – A formação dos tubérculos de batata é acompanhada por alterações morfológicas e bioquímicas na planta (Figura 2). A produção de tubérculos está fortemente relacionada com o grau de estímulos envolvidos durante a fase de indução (30 – 40 dias), ou seja:
A) tubérculo-mãe; B) raízes; C) estolão e D) tubérculo em crescimento.  Saldo de fotoassimilados – A planta deve estar no seu máximo desenvolvimento vegetativo (maior índice de área foliar).



Figura 2 – Alterações morfológicas durante o processo de tuberização em plantas de batata:


 


Estolonização – Formação do maior número de estolões possíveis por planta. Parada de crescimento dos estolões: está relacionado com a c o m p l e t a formação da copa (dossel) da planta e presença do ácido abscísico (A B A ) sintetizado nas folhas e deslocados para os estolões.


Alteração do plano de divisão celular: essa mudança é consequência da ação de uma série de inibidores denominados jasmonatos (ácido jasmônico e metil jasmonato). As citocininas são importantes para a estolonização e desenvolvimento dos tubérculos, pois estão envolvidas na promoção da divisão celular. A maioria dos tubérculos com tamanho ideal para colheita são formados dentro de um período de duas semanas.


Estádio IV – Crescimento dos tubérculos – O crescimento dos tubérculos apresenta um caráter exponencial, ou seja, a proporção de assimilado exportados pela folha é duplicado, sendo a maior parte dirigida para os tubérculos. Nesse estádio, a planta se encontra no seu máximo desenvolvimento vegetativo (60 dias). O aumento na massa seca dos tubérculos deve-se a deslocação de carboidratos da folha para os órgãos de reservas.


Estádio V – Maturação dos tubérculos – A maturação dos tubérculos se dá quando a película se encontra no grau máximo em termos de brilho. Parte do ABA formado na parte aérea se desloca para os tubérculos tornando-os dormentes. Quando os tubérculos amadurecem ocorre a senescência e abscisão da parte aérea (presença de etileno e ABA) indicando o início da colheita. O tubérculo maduro apresenta maior capacidade de armazenamento e pele (periderme) mais espessa.

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