Erros comuns na pulverização da batata

Hamilton Humberto Ramos Pesquisador Científico – IAC/APTA – Jundiaí/SP hhramos@iac.br


O controle químico de pragas e doenças é hoje o principal meio utilizado para a manutenção da fitossanidade na cultura da batata, sendo a pulverização a principal forma de aplicação dos diferentes produtos fitossanitários. Esta operação no entanto, apesar de sua significativa influência no custo de produção, é pouco entendida e considerada por técnicos e operadores dentro do sistema de produção, levando geralmente a expressivas perdas de produto, tempo e dinheiro. Dessa forma, buscando avaliar os principais problemas existentes na aplicação de produtos fitossanitários na bataticultura com o objetivo de elaborar treinamentos específicos a aplicadores, técnicos e agricultores do setor, o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação (Centro APTA de Engenharia e Automação) do Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa
Agrícola (FUNDAG) e a BASF S.A., realizaram um levantamento das condições da aplicação de produtos fitossanitários na cultura da batata, nas regiões de Vargem Grande do Sul, Capão Bonito e Itapetininga, todas no Estado de São Paulo, no período de maio a julho de 2002. Neste artigo, tentar-se- á analisar os problemas mais comumente encontrados, quantifica-lo quando possível e propor soluções viáveis.


Rotação inadequada motor do trator
Um dos principais problemas observados foi a utilização de rotações inadequadas no motor do trator, frequentemente abaixo da recomendada para o acionamento dos pulverizadores. A rotação do motor do trator tem grande influência sobre a eficácia da pulverização, pois interfere diretamente na rotação da tomada de potência (TDP), normalmente responsável pelo acionamento dos pulverizadores. A grande maioria dos pulverizadores no Brasil estão dimensionados para trabalhar a 540 rpm, portanto, uma operação importante na fase de regulagem é identificar qual a rotação no motor que proporciona 540 rpm na TDP e selecioná-la como rotação de trabalho.
Quando necessário, a velocidade de deslocamento mais adequada às condições da operação deve ser avaliada apenas em função da alteração de marchas. A rotação do motor necessária para 540 rpm na TDP está normalmente especificada no próprio trator, no painel ou nos adesivos e placas metálicas onde se encontra a relação de marchas. Caso uma rotação inferior a especificada seja selecionada, interferências negativas sobre o funcionamento da bomba e do sistema de agitação poderão ser observadas. Na bomba, a baixa rotação interfere na vazão e na sua vida útil. A vazão especificada na bomba, de 80, 100 ou 150 L/min por exemplo, refere-se à vazão a 540 rpm e será proporcionalmente reduzida com a rotação. Desta forma, o trabalho a baixas rotações pode fazer com que se tenha que investir em bombas de maior capacidade, com maior custo inicial e consumo de potência do trator, para suprir uma deficiência de vazão que poderia ser alcançada pelo trabalho em condições adequadas. Além disso, como a lubrificação da bomba é realizada por respingos de óleo proporcionados pelo impacto de partes mecânicas móveis sobre o óleo no carter, uma redução na rotação de trabalho, por reduzir a velocidade do impacto, pode prejudicar a lubrificação e consequentemente a vida útil da bomba. No sistema de agitação, a baixa rotação interfere tanto na agitação mecânica quanto na hidráulica. Reduzindo-se a rotação, o número de revoluções da hélice do agitador mecânico é reduzida proporcionalmente, reduzindo a eficiência da agitação. Na agitação hidráulica, a interferência se dá pela redução do volume de calda retornando ao tanque. Ambas as reduções podem interferir diretamente na eficácia dos produtos fitossanitários utilizados, principalmente em função da sua formulação. Formulações PM ou SC, por possuírem partículas sólidas em suspensão, tendem a se depositar no fundo do pulverizador em condições de agitação ineficiente. Formulações de concentrado emulsionável (CE), cujo princípio ativo é um líquido não solúvel em água (óleo por exemplo), tendem a migrar para a superfície nestas mesmas condições. Isso faz com que, no início da aplicação, a concentração de produto seja superior (PM ou SC) ou inferior (CE) ao final, ocasionando uma má distribuição, mesmo quando a dose por área (kg ou l/ha) está adequada. Em pulverizadores com tanque de alta capacidade, em condições onde o ponto de aplicação está longe do ponto de preparo, a agitação no abastecimento é efetuada com baixas rotações, e o deslocamento é realizado com baixas rotações e/ou com a TDP desligada, esta segregação do produto no tanque também poderá acontecer. O sintoma mais típico deste fenômeno é, na aplicação de produtos PM com cores acentuadas como formulações cúpricas e de mancozeb, observar-se áreas coloridas cuja intensidade vai diminuindo no sentido de deslocamento do pulverizador. Para resolver este problema, basta deixar o trator parado por pelo menos 2 minutos com o agitador ligado, na rotação de trabalho, imediatamente antes do início da pulverização. O problema da segregação de produtos na calda de pulverização pode ser particularmente sentido nas propriedades menores, quando da utilização de pulverizadores semi-estacionários. Nestes pulverizadores, o trator permanece parado na borda da área enquanto os operadores, arrastando compridas mangueiras, fazem a pulverização da cultura. Nesta situação, além de se utilizar comumente formulações PM, o trator trabalha entre 700 e 1000 rpm, com o intuito de se economizar combustível durante a aplicação, e o regulador de pressão sempre na posição de máxima pressão. Tal atitude, além de demonstrar um completo desconhecimento das curvas de consumo, por se acreditar que a menores rotações correspondem menores consumos de combustível, resulta em situações bastante críticas tanto para o agitador mecânico (baixa rotação) quanto para o hidráulico (mínimo retorno), ocasionando sérios problemas de distribuição do produto fitossanitário na área tratada. Tais problemas, não raro, resultam na necessidade de pulverizações complementares, onerando o custo de produção. entretanto, a manutenção do trator na rotação adequada (540 rpm na TDP) e, quando necessário, a ncorporação de válvulas e alívio ao sistema, constituem-se em soluções simples, viáveis e de baixo custo.


Inadequação do sistema de filtros
Outro problema também bastante frequente foi a inadequação dos filtros do pulverizador à formulação do(s) produto(s) fitossanitário(s) em uso. Formulações pó-molhável (PM) ou suspensão concentrada (SC), por possuírem partículas sólidas em suspensão na calda, podem apresentar problemas quando o pulverizador for equipado com filtros malha 80 (80 aberturas em 1 polegada linear) ou superior. Apesar das formulações estarem se desenvolvendo muito, o que tem permitido que alguns pós permaneçam em suspensão por até 24 horas, pode ocorrer que o diâmetro das partículas de pó seja superior ao da abertura de peneiras muito finas. Isso faz com que uma grande quantidade de produto pare no filtro, formando uma pasta sobre o mesmo que o bloqueia com frequência, obrigando o operador a realizar limpezas constantes, reduzindo o período útil de trabalho e elevando o risco de contaminação do aplicador. Além disso, quando uma parte considerável do filtro está entupida, a ação de sucção da bomba faz pressão sobre a parede do mesmo, provocando torções e o rompimento da peneira, criando espaços para a passagem da calda e reduzindo sua vida útil. Com a utilização de produtos fitossanitários mais recentes, cujas doses são expressas em g ou ml/ha, em função da baixa quantidade de pó em suspensão no tanque, o problema de entupimento do filtro é menos frequente, apesar da retenção também ser possível. Como, em ambos os casos, a quantidade do produto retida pelo filtro pode ser significativa, pode-se estar aplicando sub doses do produto e limitando sua eficácia.
Para evitar este problema, quando da utilização de formulações PM e/ou SC, peneiras malha 50 devem ser colocadas em todas as posições de filtragem (bomba, linha e bicos). Pontas que exijam peneiras malha 80 ou superior também não devem ser utilizadas com estas formulações.


Vazamentos diversos
Os vazamentos, por serem problemas comuns na maior parte dos pulverizadores, têm a sua importância subestimada, tornando-se não raramente, “parte do equipamento” por vários anos. Entretanto, eles constituem uma considerável fonte de perdas, como se pôde observar em diferentes situações durante este estudo. Na Figura 1, por exemplo, verifica-se um pequeno vazamento na tubulação de retorno do pulverizador que, quando avaliado, proporcionou uma vazão de 0,675 l/min.
Considerando-se que, segundo dados fornecidos pelo tratorista, são necessárias 1h e 30 min. para aplicar o tanque de 2000 l de água distribuindo 500 l/ha de calda, sendo 1 hora gasta na aplicação e 30 minutos em traslado e abastecimento, calcula-se que, por este vazamento, perde-se calda suficiente para tratar 1 ha a cada 2,5 dias de trabalho, ou ainda, perde-se 1 tanque de 2000 l a cada 10 dias. Considerando-se um custo médio de US$12,00 a hora trabalhada do trator (depreciação, manutenção, operador, etc.), isso representaria um desperdício de US$1,30 por dia só com a máquina, devendo-se adicionar ainda a este total o custo relativo ao(s) produto(s) utilizado(s).



Figura 1


Outro tipo também bastante frequente foi o vazamento pelas pontas de pulverização após o desligamento das barras, em função da inexistência ou da manutenção inadequada dos sistemas de antigotejo. Em dimensionamentos desta perda, determinou-se que as barras perdiam 1,425 a 2,13 l/min após serem desligadas, o que representava um desperdício de 72,7 a 108,6 l de calda por dia, apenas durante as manobras ao final do talhão. Assim, considerando-se um volume de 500 l/ha, perde-se nas manobras calda suficiente para tratar 1 ha a intervalos que variam entre 4,6 e 6,9 dias de trabalho. Por fim, outro erro bastante comum foi a utilização dos bicos de pulverização, posicionados sobre as linhas não plantadas para deslocamento do trator (Figura 3). Como nestas linhas não existe cultura, a calda pulverizada por estes bicos foi considerada como vazamento.



Figura 2


Dimensionando-se o que representam 2 bicos (1 em cada linha) pulverizando desnecessariamente durante 8 horas por dia, 3 dias por semana e 10 semanas de safra (75 dias), observou-se perdas que variaram de 16,4 a 19,4 tanques de 2000 l por safra (respectivamente 1,14 e 1,35 l/min/bico). Como se pode perceber, a falta de manutenção do pulverizador, ou sua regulagem inadequada, pode ser muito mais onerosa do que o investimento feito para mantê-lo em condições apropriadas de utilização ou no tempo utilizado para regulagem e calibração.



Figura 3


CONCLUSÕES
Pelo exposto, a adequada manutenção, regulagem e calibração do pulverizador podem resultar em enormes benefícios ao produtor, através da melhoria da eficácia dos produtos fitossanitários e da redução no custo de produção ao aplicador, através da redução na exposição ocupacional e ao ambiente através da redução das perdas e da contaminação. Trabalhos realizados pelo Centro APTA de Engenharia e Automação do IAC, do Instituto Agronômico (IAC), no estado de São Paulo, com diferentes tamanhos de propriedades, equipamentos e culturas, têm mostrado que reduções de 20 a 70% no volume de calda aplicado é possível, apenas trabalhando-se adequadamente a regulagem dos equipamentos. Tais reduções têm significado, em média, economia suficiente para adquirir um pulverizador novo a cada 1ano a 1 ano e meio. Estes resultados demonstram que, através de soluções simples, avaliadas durante a regulagem do equipamento, uma economia significativa pode ser alcançada, além de se contribuir para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e um uso mais racional dos produtos fitossanitários.

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