Paulo Eduardo de Melo – Pesquisador, Embrapa Hortaliças,
C. Postal 218, 70.359-970 Brasília – DF, paulo@cnph.embrapa.br
Arione da Silva Pereira – Pesquisador, Embrapa Clima Temperado,
C. Postal 403, 96.001-970 Pelotas – RS, arione@cpact.embrapa.br
O desenvolvimento de cultivares de batata é um objetivo presente já há vários anos na pauta de trabalho de empresas, institutos e universidades brasileiras envolvidos com a pesquisa agrícola. E, com competência e um trabalho sério e árduo, os pesquisadores instalados nessas instituições desenvolveram várias cultivares de batata: Abaeté, Apuã, Araucária, Aracy, Aracy Ruiva, Baronesa, Canguçu, Cascata, Catucha, Cerrito Alegre, Chiquita, Colorada, Contenda, Cristal, Eliza, Itaiquara, Itararé, Jacy, Macaca, Mantiqueira, Mineira, Monte Bonito, Pérola, Piratini, Santo Amor, Santa Silvana, Teberê e Trapeira.
Entretanto, ainda que portadoras de vantagens comparativas, especialmente no que diz respeito à resistência a doenças e adaptação às condições brasileiras de cultivo, nenhuma dessas cultivares foi efetivamente adotada pelos produtores, à exceção de algumas poucas, cuja estrela mais radiante é a cultivar gaúcha Baronesa. Em uma análise rápida, várias são as razões para a baixa adoção dessas cultivares, desde a dificuldade de produção constante em pequena escala de sementes, tubérculos com aspectos em geral menos atrativos que os tubérculos de cultivares estrangeiras, até a resistência do setor produtivo à substituição de cultivares de batata. Esta última, uma característica da bataticultura em escala mundial, a se ver a importância que possuem, ainda hoje, cultivares como Russet Burbank, criada no século XIX, e Bintje, desenvolvida no início do século passado, respectivamente na América do Norte e Europa.
Ainda assim, o desenvolvimento de cultivares de batata continua sendo prioritário para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em especial para a Embrapa Clima Temperado, instalada em Pelotas, no Rio Grande do Sul, para a Embrapa Negócio Tecnológico, através de seu escritório em Canoinhas, Santa Catarina e para a Embrapa Hortaliças, sediada em Brasília. Tanto que as três unidades se uniram em um único e robusto projeto de melhoramento, aprovado, há poucos dias, pelo Sistema Embrapa de Gestão e em fase de implementação. O projeto, intitulado “Melhoramento genético de batata para ecossistemas tropicais e subtropicais do Brasil”, liderado pelo Dr. Arione Pereira, da Embrapa Clima Temperado, cobre vários aspectos do melhoramento da batata, indo desde a geração de populações, através de cruzamentos controlados e obtenção de sementes botânicas, até a avaliação dos clones-elite selecionados em condições reais de produção. Diversos aspectos do melhoramento de batata são focalizados e integrados, indo desde a resistência a doenças e qualidades culinárias até à caracterização fenotípica e molecular, através de marcadores de DNA dos clones selecionados. Neste projeto, em que participam também o IAPAR e a Universidade de Viçosa, a equipe da Embrapa não só conta, como precisa da colaboração do setor produtivo. Juntos, produtores e pesquisadores podem verticalizar a eficiência do melhoramento no que diz respeito à seleção de clones que, efetivamente, atendam à expectativa do sistema brasileiro de produção de batata e tornarem mais rápido o processo de desenvolvimento de novas cultivares. Intrinsecamente presente em várias etapas desse projeto de melhoramento de batata, a cooperação entre os produtores e pesquisadores aparece de forma mais explícita no plano de ação relativo ao melhoramento de batata para condições tropicais, conduzido por pesquisadores da Embrapa, não em campos experimentais da empresa, mas, da sua terceira etapa em diante, exclusivamente na Empresa Hayashi Batatas, em Cristalina, Goiás. Parcerias similares podem ser estabelecidas no decorrer dos quatro anos de desenvolvimento do projeto e seria extremamente salutar que acontecessem. Estamos totalmente abertos à colaboração com os produtores.
A variabilidade genética, necessária ao desenvolvimento de novas cultivares, está assegurada no projeto pelos cruzamentos a serem realizados dentro da Embrapa. Porém, buscando ampliar ainda mais as chances de obtenção de bons clones, que mais tarde poderão se transformar em cultivares de sucesso, a Embrapa foi buscar parceiros também fora do Brasil. Já contamos com um projeto de colaboração técnica com a Federação Nacional de Produtores de Batata da França e seguem a passos largos os entendimentos com os Institutos Nacionais de Pesquisa Agrícola do Chile, Argentina e Uruguai., para o estabelecimento de projetos similares. Os projetos de cooperação internacional prevêem o recebimento de clones avançados, selecionados por algumas gerações em seus países de origem, para seleção final no Brasil, sob nossas condições de cultivo. Com isso, consegue-se ampliar, em muito, as chances de obter um número significativo de clones-elite adaptados, uma vez que nestes países, os programas de melhoramento realizam cruzamentos entre genitores distintos daqueles utilizados no Brasil.
Uma terceira vertente do trabalho de melhoramento da batata na Embrapa diz respeito à transformação de plantas. Em um trabalho conjunto com a Universidade Federal de Pelotas e contando também com a colaboração da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Embrapa Hortaliças identificou em 1997, em experimentos conduzidos em condições controladas, dois clones transgênicos de batata altamente resistentes ao PVY. O PVY é o principal vírus relacionado ao mosaico da batata, uma das doenças que mais prejuízo traz aos produtores em todo o mundo. Os clones foram obtidos a partir da transformação da cultivar Achat, na época, a cultivar mais plantada no Brasil. Em 1999 e 2000 esses clones foram levados a campo para avaliação da resistência em condições reais de produção. Porém, em 2001, uma decisão judicial suspendeu o plantio de transgênicos no Brasil e o trabalho foi suspenso. Felizmente, as atividades de avaliação desses clones transgênicos puderam ser retomadas no mês passado, quando foi concedida à Embrapa Hortaliças a licença para levá-los novamente ao campo. No Brasil, além da batata, somente o feijão, o mamão e o milho têm licenças similares. Mas, o trabalho com transgênicos não se limita a esses dois clones.
A Embrapa dispõe ainda de outros quatro clones transgênicos com resistência a vírus, avaliados em condições controladas: três clones com resistência a PVY, obtidos a partir da transformação da cultivar Bintje, e um clone com resistência a PLRV, vírus causador do enrolamento-das-folhas, obtido a partir da transformação da cultivar Baronesa.
Com o projeto de melhoramento ora aprovado, integrando pesquisadores e produtores, melhoramento tradicional e transformação de plantas e trazendo para o Brasil clones desenvolvidos por parceiros internacionais, a Embrapa espera atender de forma moderna e eficiente o sistema brasileiro de produção de batata, desenvolvendo e colocando à sua disposição as cultivares que hoje tanta falta nos fazem. Temos ciência de que este é um objetivo ambicioso. Porém, juntos, podemos alcançá-lo. Os produtores brasileiros de batata merecem nosso esforço e nossa dedicação. E isso, com certeza, podemos prometer.
Marcelo Giovanetti CanteriEng. Agrônomo – Doutor FitopatologiaUniversidade Estadual de Londrina (UEL),CP 6001, CEP 86051-990, Londrina/PR(43) 3371.4555 – canteri@uel.brJoão Batista CasonEng. Agrônomo – Pesquisador FungicidasDow AgroSciences Industrial Ltda.,CP 226, CEP 13800-970, Mogi Mirim/SP(19) 3805.8757 –...
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