Batata Transgênica no Brasil e no mundo

André Nepomuceno Dusi e Paulo Eduardo de Melo Embrapa Hortaliças – Pesquisadores CP 218, Brasília, DF – 70.359-970 (61) 3859-066 e (61)556-5744 dusi@cnph.embrapa.br, paulo@cnph.embrapa.br


O crescimento da área plantada com transgênicos no mundo não pára (Figura 1). Em 2003 houve um crescimento de 15% na área mundial plantada com transgênicos, que atingiu a marca de 68 milhões de hectares. O Isaaa (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia) não só acompanha esse crescimento, como tem constatado que a área cultivada com plantas transgênicas está aumentando mais rapidamente em países em desenvolvimento que em países desenvolvidos (James, 2003).
As sementes transgênicas são rapidamente adotadas pelos produtores em razão de suas vantagens agronômicas, econômicas, ambientais e sociais. Seis países foram responsáveis por 99% do plantio mundial de culturas geneticamente modificadas (GM): Estados Unidos, Argentina, Canadá, China, Brasil e Ãfrica do Sul. China e Ãfrica do Sul registraram um crescimento de 35% de 2002 para 2003. A soja continua sendo a cultura GM mais plantada em todo o mundo (41,4 milhões ha, 55% da soja mundial), seguida do milho (15,5 milhões ha, 11% do total plantado), canola (3,6 milhões ha, 16% do total mundial) e algodão (7,2 milhões ha, 21% da área mundial).No Brasil estima-se que 3 milhões de hectares tenham sido plantados com soja transgênica, com resistência a herbicida na safra 2003/2004 (James, 2003), cerca de 8% da safra brasileira de soja no período. Recentemente a imprensa noticiou a constatação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de plantios ilegais de algodão transgênico em pelo menos três fazendas no Mato Grosso.



Plantas de batata cultivar Bintje. Esquerda – planta convencional inoculada com o PVY e com sintomas da infecção; meio – planta transgênica inoculada com o PVY mas sem sintomas ; direita – planta transgênica não inoculada


Em relação à batata, os primeiros materiais foram liberados comercialmente a partir de 1996, sendo seis clones das cultivares Russet Burbank e Shepody resistentes ao besourodo- Colorado (Colorado potato beetle), ao Potato virus Y (PVY – vírus Y da batata) e ao Potato leafroll virus (PLRV- vírus do enrolamento) (Glenon et al., 2000). Foram plantados inicialmente 4 mil ha, que cresceram até o ano 2000 para no cerca de 50 mil ha, tendo sido autorizado seu cultivo nos EUA e Canadá. Em 1998 foram plantados, só nos EUA, cerca de 20 mil ha, ou o equivalente a 3,5% da área plantada de batata naquele país.
Entretanto, a partir de 2001 seu plantio foi descontinuado (http:\www.isaaa.org, relatórios anuais). Outras iniciativas de transformação em batata, que nem sempre ou que ainda não resultaram em produtos comerciais, visaram a resistência a outras doenças além das viroses (requeima, pintapreta e podridão-mole) e à traça-da-batata.


Genes envolvidos na fisiologia da produção e adaptação a calor em batata também já foram estudados experimentalmente em plantas transgênicas de batata. Mais recentemente, foram desenvolvidos diversos materiais de batata GM expressando proteínas humanas (albumina, proteína de leite, lactoferrina), anticorpos, elastina de aracnídeo, fragmento de rotavírus, amido modificado (bioplástico) e toxinas de cólera. A finalidade da expressão dessas substâncias quimicamente puras não é agronômica, mas sim a expressão massal para purificação em larga escala (uso como biorreator) ou expressão de antígenos para vacinação em massa pela ingestão de alimento.


O uso de plantas como biorreatores está sendo avaliado em diversos países, para expressão de medicamentos, fibras, suplementos alimentares e vacinas. A batata tem sido considerada adequada para esses fins por ter ciclo curto, ter propagação vegetativa, ser cultivada em diversos ecossistemas, ter aceitabilidade com o alimento na população e ter alta produtividade. Há uma série de questões de biossegurança envolvendo o uso de batata como biorreator, como o risco de escape do gene em populações silvestres ou uso indevido como alimento, dentre outros.


Entretanto, conforme diretrizes internacionais, os estudos de biossegurança são desenhados caso-a-caso e a liberação no meio-ambiente, tanto para fins comerciais como também experimentais, só serão realizadas com o aval oficial dos órgãos competentes. No Brasil, o primeiro trabalho com batata GM foi iniciado pela UFRJ para incorporar resistência ao Andean potato mottle virus (APMV – vírus do mosqueado andino) no fim da década de 80, na UFRJ sob coordenação da Prof. Dulce de Oliveira. Entretanto, apenas plantas de fumo com resistência ao vírus foram relatadas na literatura. A Embrapa iniciou, em 1994, um projeto para o desenvolvimento de batata com resistência a vírus, que culminou com a seleção de um clone da cultivar Achat com resistência ao PVY (Romano et al., 2001), denominado 1P, que está sendo agora avaliado para segurança alimentar e ambiental. Dentro desse mesmo projeto, foram gerados três clones da cv. Bintje com resistência ao PVY (Oliveira et al., 2004). Na época em que o projeto foi iniciado, a cultivar Achat era a mais plantada no Brasil e, em conjunto com a cultivar Binjte, representava mais de 60% da área plantada. A obtenção desses clones transgênicos demonstra a real possibilidade de uso em larga escala de cultivares GM de batata com resistência a vírus. Caso cultivares com estas características estivessem disponíveis ao público haveria uma redução substancial no custo de produção da batata, uma vez que o produtor não teria necessidade de renovar seu estoque de batata-semente com a mesma frequência que faz hoje, sem com isso comprometer a qualidade e a produtividade do seu cultivo.


Porém, a adoção de uma cultivar transgênica, especialmente de um produto tão próximo da mesa como a batata, não depende exclusivamente das suas qualidades técnicas. É preciso também que não haja restrições por parte dos consumidores. Hoje, as estatísticas mostram que a área plantada com transgênicos aumenta apenas para cultivos ligados à alimentação animal, produção de óleo, fibras e processamento em geral, enquanto o contrário acontece para cultivares transgênicas de frutas e hortaliças (Redenbaugh & McHugen, 2004). Um exemplo claro, em batata, é a cultivar transgênica New Leaf Plusâ Russet Burbank, da Monsanto, lançada em 2001. Apesar da resistência ao besouro-do-Colorado, a principal praga da batata nos Estados Unidos, e ao vírus do enrolamentodas- folhas, a cultivar New Leaf Plusâ foi retirada do mercado no ano seguinte ao lançamento, devido às restrições encontradas junto a consumidores e processadores (Rommens, 2004). Contrabalançando esta restrição aos transgênicos, há pesquisas que indicam que os consumidores não vêem perigo em consumir produtos geneticamente modificados, desde que os genes inseridos pertençam à mesma planta ou a plantas relacionadas à espécie receptora (Lusk & Sullivan, 2002). Este parece ser o caminho mais promissor para a transformação genética em batata e que nos permitiria introduzir na espécie cultivada diversos genes de interesse, como, por exemplo, genes de resistência a doenças e pragas ou ainda genes relacionados à qualidade dos tubérculos provenientes das diversas espécies silvestres relacionadas à batata ou até mesmo provenientes de outras cultivares.


Bibliografia: Consulte autor


 

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