* Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, Pós-Graduando em Produção Vegetal, UNESP-Jaboticabal.
Engº Agrº Ms.Thiago Leandro Factor & Prof. Dr. Jairo Augusto Campos de Araújo – Depto de Engenharia Rural, UNESP – Campus de Jaboticabal Via acesso Prof. Paulo Donato Castellane, Km 5, 14884-900, Jaboticabal/SP – factor@fcav.unesp.br – jaca@fcav.unesp.br
A produção de batata-semente constitui uma das fases mais importantes da cadeia produtiva da batata e movimenta milhões de dólares no Brasil e no mundo. Isto se deve pelo fato de que, no processo de produção da cultura, o material de plantio encontra-se permanentemente sujeito à infecção por patógenos como fungos, bactérias e, principalmente, vírus que, a cada ciclo vegetativo, são transmitidos para a próxima geração, contribuindo para o processo de degenerescência da cultura. É nesse contexto que a utilização de material de propagação de alta qualidade genética e fitossanitária é indispensável na cultura da batata. Por estarem diretamente relacionados com a produtividade e qualidade dos tubérculos e por constituírem-se componente mais alto do custo de produção, cerca de 30%, é de grande importância a utilização de sementes de alto padrão de qualidade para a instalação da lavoura.
Por conta disso, a introdução de técnicas de micropropagação e indexação de plantas, por meio da utilização de métodos de cultivo in vitro e testes rápidos e sensíveis na detecção de vírus, tem proporcionado notáveis avanços na produção de batata-semente de alta qualidade no país. Entretanto, o sucesso da limpeza clonal por meio da técnica da cultura de meristemas como estratégia de controle de doenças sementetransmitidas, depende de sistemas eficientes de multiplicação do material desinfectado, de maneira a não comprometer a rápida disponibilização da semente dele originada (Medeiros, 2003). Além disso, os métodos tradicionais de produção de tubérculos-semente, em matriz sólida, normalmente solo ou substrato, apresentam como principal desvantagem a baixa eficiência produtiva, associada aos riscos inerentes quando se utiliza solo não esterilizado. Segundo Daniels et. al. (2000), são produzidos em média de 3 a 5 tubérculos por planta, o que contribui, sobremaneira, para elevar ainda mais os custos de produção da batata-semente.
Dentre os métodos empregados em diferentes países, como forma de substituir aqueles convencionais de produção de tubérculossementes, em solo ou substratos, destacam-se os sistemas hidropônicos (Muro et. al., 1997; Ritter et.al. 2001; Medeiros et. al., 2002; Corrêa et. al, 2005). Entretanto, segundo Furlani (1999), muitos dos cultivos hidropônicos não obtêm sucesso nos primeiros anos de implantação, principalmente em função do desconhecimento dos aspectos nutricionais desse sistema de produção que requer formulação e manejo adequado da solução nutritiva. Outro aspecto que interfere significativamente nos resultados está relacionado ao sistema de cultivo, que requer conhecimento detalhado da estrutura básica que o compõe.
Diante do exposto e de maneira a contribuir para o desenvolvimento de novas opções de cultivos em sistemas hidropônicos no Brasil, foi conduzida esta pesquisa no Setor de Plasticultura do Departamento Eng. Rural, UNESP-Jaboticabal, cujo objetivo foi o de avaliar o comportamento produtivo de minitubérculos de batata-semente pré-básica em diferentes sistemas hidropônicos. Destaque para os sistemas que utilizam os princípios hidropônicos DFT e Aeropônico. Mais detalhes do sistema aeropônico ou aeroponia podem ser observados na edição nº 12, ano 5, Agosto/2005 desta mesma revista. Neste rtigo maior ênfase será dada ao sistema de cultivo que utiliza o princípio hidropônico DFT (Deep Flow Technique) ou Técnica do Fluxo Profundo.
O desenvolvimento do sistema DFT baseou-se na utilização de duas canaletas de fibrocimento trapezoidais interpoladas, com as seguintes dimensões: 0,18 m; 0,40 m e 0,18 m de base menor, base maior e altura, respectivamente. As canaletas foram revestidas com um filme de polietileno preto de 30 mm e colocadas sobre uma estrutura metálica de 2 m de comprimento e 1,0 m de altura e em nível (Figura 1). No interior destas canaletas, foi colocado um suporte com uma tela de polipropileno preta, de modo a permitir que parte do sistema radicular atinja a camada de solução nutritiva (6 cm limitada pelo sistema de drenagem), mas não a maioria dos estolões, facilitando com isso a colheita escalonada sobre a tela (Figuras 2 e 3), permitindo com isso a colheita dos minitubérculos tão logo atinjam o tamanho desejado.
Essa prática, segundo Medeiros et. al. (2002), estimula a diferenciação e formação de outros tubérculos e, ainda, os fotoassimilados que seriam normalmente utilizados para o aumento do tamanho dos mesmos, com a eliminação dessa demanda são carreados para a formação de novos tubérculos, propiciando maiores taxas de multiplicação. Sobre a tela de polipropileno foi colocado um filme de polietileno dupla face, de 50 mm, com a face branca para a parte externa visando evitar a entrada de luz no sistema radicular, bem como o aquecimento no interior do sistema. As mudas de batata foram transplantas em orifícios na forma de X feitos no filme de polietileno superior, no espaçamento de 15 x 15 cm. (Figura 4). Para a oxigenação da camada de solução nutritiva foram adaptados injetores do tipo “venturi” na própria tubulação de distribuição de solução nutritiva, aproveitando a pressão e vazão do conjunto moto-bomba e evitando com isso a instalação de um sistema de injeção de ar. O tempo de funcionamento do sistema foi de 15 minutos a cada hora, de maneira a permitir a renovação e oxigenação da solução nutritiva. Este sistema é fechado, ou seja, a solução retorna para o tanque de armazenamento de solução.
As variedades utilizadas no experimento foram a Ãgata e Monalisa. As plântulas (mudas) foram adquiridas no Laboratório de Biotecnologia (Biovitrus), Campinas – SP, originadas a partir de meristemas e indexadas através de testes para vírus, garantindo sanidade total do material a ser multiplicado. A solução nutritiva utilizada seguiu recomendações de Medeiros et. al. (2002) com modificações.
Dentre as principais vantagens desse sistema em relação aos diferentes sistemas hidropônicos estudados está o menor gasto com energia elétrica, haja vista que trabalha 1/4 do tempo ligado/ desligado, respectivamente, e alto poder tampão pela utilização de um volume muito grande de solução nutritiva por planta e a menor possibilidade de perda total da produção devido a problemas no sistema de alimentação ou falta de energia elétrica quando o produtor não possuir um gerador, em função da constante camada de solução nutritiva que fica a disposição das plantas. Os resultados preliminares obtidos mostram uma elevada taxa de multiplicação nesse sistema de cultivo, da ordem de 38,6 e 44,7 minitubérculos/ planta para as variedades Agata e Monalisa, respectivamente. O peso médio dos minitubérculos variou de 5,7 e 7,0 g para a mesma ordem de variedades citadas. Em relação ao calibre dos tubérculos, para ambas as variedades situaramse na faixa de 20 mm. Não podemos afirmar, no entanto, que este ou outro sistema hidropônico seja ideal, pois no processo de adoção de um sistema pelo produtor devem ser levados em consideração o clima da região, a disponibilidade e custo do material de construção, a possibilidade de falta de energia elétrica e/ou gerador, a produtividade e, consequentemente, a relação custo/benefício do sistema. Acreditamos, todavia, que os produtores poderão contar com mais uma opção promissora para a produção de minitubérculos de batata-semente pré-básica no Brasil.
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