Comercialização de Batata na CEAGESP


 


 


Marcia Yuriko Iuamoto – myuriko@gmail.com – Engenharia Agronômica – ESALQ/USP – (11) 7449.5429 / 3643.3827 Parceria do Centro de Qualidade em Horticultura da CEAGESP e SYNGENTA Proteção de Cultivos Ltda.


 


A comercialização da batata no Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP) da Central de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) cresceu 26% em volume, de 2000 a 2003. Em 2004, o volume comercializado no ETSP foi de 223.660 toneladas e apresentou uma pequena queda de 3% em relação ao ano anterior. No ano passado, cerca de 15% da produção paulista foi comercializada no ETSP.
Pouco mais da metade do volume total comercializado no mercado da CEAGESP é proveniente do estado de São Paulo. Em segundo lugar, com 30% da participação, está o estado de Minas Gerais, em seguida o Paraná, com 14% do volume total. O restante é dividido entre os estados de Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul e outros.


As principais variedades encontradas hoje no mercado de São Paulo da CEAGESP são: Ãgata, Monalisa, Baraka, Cupido, Caesar e Asterix. A variedade mais comercializada hoje é a Ãgata. Alguns permissionários afirmam que acima de 90% do volume comercializado são da variedade Ãgata e outros afirmam que são acima de 50%. Os termos utilizados para definir os diferentes calibres da batata variam de acordo com a região de comercialização. Foi realizada uma harmonização entre os termos utilizados no mercado de São Paulo da CEAGESP e as classes das normas de classificação de batata do Programa Brasileiro para a Modernização da Agricultura.



A Seção de Economia e Desenvolvimento da CEAGESP monitora diariamente os preços de venda do atacado para o varejo: Batata Comum, Batata Beneficiada Comum e Batata Beneficiada Lisa. São consideradas Batata Comum e Batata Beneficiada Comum, as variedades Ãgata, Monalisa, Caesar, Asterix e Baraka. A diferença entre os dois termos se deve ao processo de beneficiamento da batata. A Batata Comum é somente escovada e a Batata Beneficiada Comum é lavada. Já o termo Batata Beneficiada Lisa refere-se às variedades Bintje e Cupido, que apresentam maior valor comercial.


Em relação ao tamanho, os termos utilizados são Especial, Especialzinha, 1ª e 2ª. O termo Especial refere-se à Classe II do Programa Brasileiro para a Modernização da Agricultura, o termo Especialzinha, à Classe III e os termos 1ª e 2ª, às classes IV e V, respectivamente.


O Valor da Batata


Foi realizado um estudo sobre a valoração da batata na comercialização, considerando-se as variedades e as classificações encontradas no mercado. Para comparação, foi atribuído o índice 100 ao maior valor e índices proporcionais para os outros preços. A comparação entre as variedades foi feita dentro da mesma classe de tamanho. A comparação entre as classificações foi feita com a mesma variedade. As variedades com índice 100 foram Cupido e Bintje. A Bintje, praticamente, não é mais encontrada no mercado da CEAGESP, pois os produtores alegam que o investimento para o cultivo desta variedade não é compensado pelo preço de comercialização. Mas ainda apresenta um valor alto, pela sua reconhecida qualidade culinária. A Cupido apresenta alto valor no mercado por apresentar uma aparência muito boa, com a casca lisa, muito brilhante, “parece um sabonete”, disse um vendedor. As variedades Ãgata e Asterix empatam em segundo lugar com índice 98. A Ãgata por apresentar uma ótima aparência, e a Asterix pela qualidade culinária, porém esta não é uma variedade muito difundida no estado de São Paulo.
Em seguida, encontram-se a Monalisa, com índice um pouco acima do índice atribuído a Caesar, com índice 92. A Monalisa também já foi a mais valorizada pela aparência, porém perdeu espaço para a Ãgata, e a Caesar é comercializada em baixos volumes.



A variedade Baraka ficou em último lugar com índice 65, na pesquisa de valoração. Apesar de sua ótima qualidade culinária, ela apresenta um baixo valor por ser comercializada somente escovada e não apresentar uma boa aparência.


Existe pequena diferença de valor entre variedades de grande diferença de qualidade culinária. O que é preciso descobrir é a sua relação com a diminuição do consumo per capita de batata in natura e o aumento do consumo per capita de batata industrializada (na sua maior parte importada), registrados pela POF – esquisa de Orçamento Familiar – do IBGE. No mercado paulistano, a classificação mais valorizada é a Especial, que varia entre 42 e 70mm de diâmetro. Em seguida, encontra-se a Florão (acima de 70mm), com índice 85, que é procurada principalmente pelos restaurantes. A classificação Segundinha ou Bolinha (abaixo de 33mm), apresenta uma valoração de 60% em relação à Especial e é destinada principalmente ao preparo de conservas. As classificações Primeirinha e Boneca apresentaram menor valor, índice 45; a Primeirinha por apresentar um tamanho inadequado para os supermercados, restaurantes e indústria, e a Boneca apresenta uma grande mistura de calibres e grande quantidade de defeitos.



O estudo mostrou uma variação de valor entre os diferentes tamanhos de batata de até 55%, a desvalorização da batata escovada e a valorização das variedades de melhor aparência.


Perfil do Comprador de Batata do Mercado da CEAGESP, Redes de Supermercados e Distribuidoras


Um levantamento foi realizado com os compradores de batata dentro e fora do ETSP e verificou-se que, atualmente, a importância da variedade somente é relevante para os feirantes que, ao realizar a venda, mantêm um contato direto com o consumidor final, podendo instruí-lo sobre a melhor finalidade culinária de cada variedade. O preço do produto tem grandes variações durante o ano, o que é considerado uma dificuldade na comercialização. O preço varia mais devido à oferta e, não somente, pela qualidade da batata oferecida. Em momentos em que a oferta é pouca e a demanda é alta, a exigência do padrão de qualidade cai bastante. A variação do preço também é devido ao calibre, porém essa variação é constante durante o ano.


Para estabelecimentos que comercializam a batata in natura (feiras, sacolões, varejões e supermercados), a aparência e o calibre do tubérculo são de extrema importância. O padrão dos atributos de qualidade varia conforme o nicho de mercado que é atendido. Para os estabelecimentos que preparam refeições coletivas, e que a batata será apresentada preparada para o consumidor final, a aparência não tem grande importância, já o calibre é importante conforme o prato que será preparado e os defeitos não aceitáveis são, principalmente, podridões e esverdeamento do tubérculo. Cozinhas industriais que possuem descascadores automáticos também não aceitam tubérculos deformados, devido à grande perda. Em relação à variedade, também não há preocupação por esses estabelecimentos. Os funcionários das distribuidoras não sabem reconhecer as variedades que recebem e os responsáveis pelas escolhas de cardápio, em geral nutricionistas, pouco ou nada sabem a respeito das qualidades e diferenças entre as batatas. Com a tendência à mecanização das cozinhas industriais, a batata classificada como Boneca acabará perdendo seu espaço no mercado.


Perfil do Consumidor de Batata


O IBGE mostra a diminuição do consumo per capita de batata in natura de 13,04kg em 1987 para 9,22kg em 1996 e chegou a 5,27kg em 2003, um decréscimo de mais de 40% de 1987 a 2003. O consumo da batata in natura no Brasil está diminuindo com o passar dos anos. O consumidor, que busca a comodidade e praticidade, está trocando as feiras livres e varejões pelos supermercados onde podem encontrar, além de frutas e hortaliças, outros produtos necessários para o seu dia-a-dia. Porém, nas gôndolas dos supermercados em que encontramos batatas à venda, cartazes só indicam o produto como “batata”, sem a indicação da variedade. Os consumidores compram o produto pela sua aparência, de cor clara, casca lisa, sem presença de defeitos, etc. e quando fazem o preparo do prato, reclamam que a batata encharca quando frita, que não cozinha bem e fica “borrachuda”, que o purê fica aguado, que a massa ficou “pesada”, entre outras reclamações. Mas não sabem que existem diferentes variedades que são adequadas para cada tipo de preparo. A falta de informação disponível sobre a utilidade culinária de cada variedade, faz com que os consumidores mostrem-se cada vez mais decepcionados ao realizar o preparo de um prato que inclui a batata. Desse modo, os mercados de batata chips, batata palha, e batata pré-frita congelada estão em expansão.


Além da falta de conhecimento, a falta de opções de variedades é outro problema. Os supermercados não oferecem muitas opções aos consumidores. Somente os consumidores frequentadores de feiras livres, onde possuem contato direto com o vendedor, conseguem comprar as variedades certas para os pratos a serem confeccionados.


Rotulagem e Embalagem


A portaria nº 69 do MAPA reforça a obrigatoriedade da rotulagem, porém nem todos os produtores atendem a essa exigência devido à falta de fiscalização. Para atender à exigência, muitas vezes, são encontrados produtos com rótulos reaproveitados de outros produtores, uma vez que as sacarias são reutilizadas, ou ainda, os rótulos são pertencentes às empresas atacadistas que colocam o rótulo somente na carga à vista em cima dos caminhões. A reutilização das embalagens descartáveis com marca, além de infringir a Instrução Normativa Conjunta 09 de 17/11/2002 da SARC, IPEM e ANVISA, que proíbe a reutilização de embalagens descartáveis, é crime segundo o Código Penal (artigo 171) e o Código de Defesa do Consumidor (artigo 37).



A rotulagem dá ao produtor a oportunidade de ser reconhecido no processo de comercialização e de construir a sua marca, sendo passo imprescindível para a garantia da rastreabilidade. Com a rotulagem, a identificação da variedade das batatas pode ser levada até o consumidor final com informações sobre suas qualidades culinárias e utilizações, incentivando o consumo da batata in natura.




 

VEJA TAMBÉM

Carta ao Leitor

As maiorias das legislações brasileiras precisam ser modernizadas, pois são extremamente prejudiciais às Cadeias Produtivas. Nesta oportunidade comentaremos sobre as principais situações que ocorrem na Cadeia Brasileira da Batata. 1- Lei de Sementes –...

LER

Preço de Batata Bintje (R$/sc) Especial Preço atacadista

LER

Comercialização de batatas pelos supermercados

Os consumidores escolhem as batatas nos supermercados baseando- se somente na aparência e no preço. O resultado prático desta situação encaixa certinho no ditado – BONITINHA, MAS ORDINÃRIA… pois, geralmente, as batatas são bonitas...

LER

Dr. Delorge Mota da Costa

Dr. Delorge Mota da Costa Arione da Silva Pereira Pesquisador, Embrapa Clima Temperado C. Postal 403, 96.001-970 Pelotas/ RS arione@cpact.embrapa.br O Dr. Delorge desenvolveu sua carreira de pesquisador como fitotecnista e melhorista de batata...

LER