Proposição de uma tabela de cor (UFV 80-Monalisa) para a avaliação do estado de nitrogênio da batateira


Paulo Cezar Rezende Fontes
Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.
Professor Titular. Bolsista do CNPq.
DFT/UFV – VIÇOSA/MG, 36570-000
(31) 3899.1140 / fax (31) 3899.2614
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Marcelo Cleón de Castro Silva
Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.
Doutorando em Fitotecnia-UFV
Rua Santa Luzia, 170/02 – Centro, Viçosa/MG, 36570-000
(31) 3892.4106
mdecastro70@yahoo.com.br


O Nitrogênio (N) destaca-se entre os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento das plantas. A baixa disponibilidade na camada arável do solo somada à grande demanda pelas plantas faz com que o N seja um dos nutrientes mais limitantes à produtividade da batateira. Para corrigir essa limitação é necessária a adição de fertilizante nitrogenado. No intuito de obter altos rendimentos na cultura da batata, agricultores dos diferentes países aplicam nitrogênio, muitas vezes de forma descontrolada, que pode provocar sintomas, de excesso ou de carência deste nutriente nas plantas. Em consequência, podem ocorrer gastos desnecessários para a implantação da cultura, diminuição na produção, além da poluição do ambiente. A possibilidade de contaminação da água do solo com o nitrato oriundo de fertilizante tem sido motivo de preocupação em várias partes do mundo. Diversos países têm regulamentação sobre o tema e os agricultores são orientados a adotarem práticas culturais apropriadas e manejo preciso da adubação para minimizar a aplicação desnecessária de fertilizante nitrogenado.


Normalmente, a dose de N aplicada na cultura da batata é baseada em uma recomendação geral. Às vezes são considerados expectativa de produtividade, histórico da área, conteúdo de matéria orgânica e tipo de solo, sendo raramente ajustada pela análise do estado nutricional da planta. Para que isso ocorra, é necessário dispor de métodos para a avaliação do estado de nitrogênio da planta (ENP), de preferência em tempo real.


Há diversos métodos para avaliar o ENP (Fontes, 2001). Teores de N na folha são correlacionados positivamente com a taxa fotossintética da planta, tendo a clorofila como pigmento que atua diretamente no processo de fotossíntese. Deste modo, o teor de clorofila na planta, em certa fase do seu ciclo, tem sido relacionado com o estado de nitrogênio de algumas hortaliças como alface (Fontes et al., 1997), melão (Coelho, 2001), tomate (Guimarães et al., 1996; Guimarães, 1997; Ferreira, 2001) e batata (Vos & Bom, 1993; Minotti et al., 1994; Gil, 2001). A análise do teor de clorofila ou a intensidade do verde das folhas de diversas espécies, inclusive batata pode ser realizada com equipamento ou clorofilômetro portátil (Vos & Bom, 1993; Minotti et al., 1994; Rodrigues et al., 2000; Gil, 2001; Olivier et al., 2006). Esses equipamentos, com base na luz transmitida pela folha em dois comprimentos de ondas de distintas absorbâncias, fornecem uma leitura instantânea, de forma prática, sem a necessidade de destruição da folha e indica o verde da folha ou, se apropriadamente calibrado, o conteúdo de clorofila. Deficiência de N proporciona baixa concentração de clorofila e baixo valor da leitura do clorofilômetro. Em trabalho anterior indicamos o índice do clorofilômetro portátil (SPAD-502) efetuado no folíolo terminal da quarta folha completamente expandida para avaliação do estado de N da batata (Gil et al., 2002). Detalhes sobre a operacionalização e utilização do medidor SPAD na cultura do tomateiro são apresentados em Fontes & Araújo (sd).


Outra forma de diagnosticar o ENP é utilizando-se uma tabela de cor da folha, em analogia aquela originalmente proposta para rizicultores asiáticos (Balasubramanian et al., 1999). A tabela de cor é simples, fácil de manusear e de baixo custo, sendo uma ferramenta alternativa ao clorofilômetro para estabelecer o ENP, em determinado momento.


Proposição da tabela de cor para a batata
Para avaliar o estado de N da batateira, cultivar Monalisa, com base no verde da folha estamos propondo a tabela de cor denominada UFV-80-Monalisa (Figura 1), uma homenagem aos 80 anos da Universidade Federal de Viçosa.



Essa tabela foi preparada utilizando-se uma câmara fotográfica digital, Nikon 135 TL, lente com distância focal 0,5 e zoom de 3,5 mm. As fotografias foram escaneadas (Sanner HP- 1315) e salvas no programa CorelDRAW 12. Com esse programa codificamos cada número da cor (RGB), sendo: 1) R-165/G-187/B-108; 2) R-122/G-168/B-92; 3) R-87/G-148/B-106; 4) R-69/G-112/B-53; 5)R-41/G-97/B-54.


Encontramos relação entre os valores da tabela de cor UFV-80-Monalisa e leituras SPAD. Estudos têm mostrado haver correlação entre as leituras SPAD e a tabela de cor para o arroz (Yang et al., 2003; Shuukla et al., 2004). A relação entre a leitura SPAD (X) e o valor da cor verde na tabela UFV-80-Monalisa (Y) obtida em experimentos realizados nas épocas das águas e inverno foram:


Y = 23,245 + 7,595X – 0,720X2, R2 = 0,87 (águas) e Y = 27,813 + 5,7107X – 0,5705X2, R2 = 0,85 (inverno) onde Y é o número da cor, de 1 a 5; X é a leitura SPAD, de 27 a 46.


Estudos iniciais com a cultivar Monalisa mostraram que a cor verde número 4, determinada no folíolo terminal da quarta folha completamente expandida, no momento da amontoa, é a “cor crítica” ou quando é sugerido não aplicar N em cobertura. O “valor crítico” de leitura SPAD ou da cor deve ser considerado como referencial necessitando ser ajustado para cada interação genótipo x ambiente x sistema de produção (Fontes, 2001) que pode influenciar o valor no nível crítico. O desenvolvimento de valor padrão próprio é uma alternativa, pois além do N, a interação de fatores como tipo de solo, manejo da cultura, período do ano, densidade de plantio, radiação solar, disponibilidade de água no solo, cultivar entre outros, quase sempre diferentes do utilizado no desenvolvimento do padrão de comparação, dificulta ou impossibilita a adoção de valor de nível crítico geral ou valor padrão tabelado (Fontes, 2001).


Assim, é recomendável validar o valor padrão originalmente proposto ou estabelecer outro valor para a interpretação do resultado de determinado teste desenvolvido em diferente localidade e condições experimentais. Nessa situação é necessário estabelecer o padrão local (Fontes, 2001), tarefa possível de ser executada por um personal agrônomo como temos chamado o profissional com noções de experimentação e competência para indicar procedimentos diferenciados para situações diferentes (agricultura de precisão). A adequada calibração do padrão a cada propriedade, sinônimo de sintonia fina do valor obtido em Estação Experimental, é tarefa impossível de ser realizada por órgão público, mesmo em países com forte esforço de pesquisa. É um campo fértil para a parceria Público-Privada.


LITERATURA CITADA – Consulte o autor.


 

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