Uma perspectiva do que ocorreu no setor nos últimos dez anos
Alexandre Andreatta, representante no Brasil de HZPC Holland B.V. e Semillas SZ S.A.
tatasem@uol.com.br
Podemos produzir no Brasil sementes de batata em material básico para multiplicação?
Sim, claro.
Podemos produzir este material básico com boa qualidade?
Sim, claro, outra vez.
Podemos produzir este material básico em quantidade
Sim, podemos.
Podemos produzir este material básico em quantidade suficiente para atender a demanda do mercado e com a qualidade que ele exige? Não, nossas condições não o permitem e vários produtores que tentaram dar este salto em anos passados tiveram que voltar atrás e rever suas estratégias, incluindo a própria EMBRAPA e o seu Serviço de Produção de Sementes Básicas. Considerando estas quatro perguntas e suas respectivas respostas, vamos então começar pelo óbvio: o Brasil é um país que depende fortemente da importação de sementes de batata. Devido às nossas condições climáticas, que favorecem a proliferação de patógenos nocivos à cultura da batata durante praticamente o ano todo, o Brasil não consegue produzir material básico para multiplicação em quantidade e qualidade suficientes para atender nossa necessidade. Temos então que importar estas sementes de outros países. Isto é óbvio e todo mundo sabe.
Por que, então, repetir o óbvio e começar um artigo para a revista “Batata Show” justamente assim? Porque, por mais que isto seja claríssimo, entra ano e sai ano e continuam a existir (e às vezes até a encontrar eco e ressonância e a se proliferar), pessoas e setores que se recusam a aceitar o óbvio, seja por cegueira ideológica seja pelo mais vil oportunismo comercial. Voltaremos a tratar disso mais adiante neste artigo.
Vamos primeiramente tentar explicar o que nos mostram os números das importações de sementes de batata efetuadas nos últimos dez anos.
1. Volumes Totais
Como se pode ver no Gráfico 1, após manterem-se estabilizadas em torno de 3.500 a 4.000 toneladas anuais durante toda a primeira metade da década de 90, as importações vinham em ritmo ascendente e acelerado na sua segunda metade, embaladas tanto pelo Real valorizado que barateava as importações quanto pelo súbito crescimento do mercado interno trazido pelo Plano Real durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Até que em janeiro de 1999 o sonho acabou: a crise cambial fez o Real desvalorizar-se profundamente e mergulhou o país na recessão econômica. O resultado disso é claríssimo no volume de importações do período 99/00, o menor dos últimos 50 anos!
A recuperação ensaiada na temporada 2000/2001 foi estancada já na temporada seguinte (01/02) por uma das páginas mais sombrias já escritas na história da bataticultura brasileira, que foi a entrada em vigor da Instrução Normativa 18/01, estabelecendo normas e limites de tolerância absurdos, tornando as importações extremamente caras e arriscadas pois qualquer mínimo defeitinho poderia ser motivo de condenação de todo um lote de sementes. Os dois maiores e mais tradicionais países exportadores de sementes ao Brasil reagiram a esta IN de forma diversa: enquanto os exportadores holandeses promoviam uma seleção rigorosa de seus materiais de forma a tentar atender a nova Norma – e logicamente incluíam o custo desta seleção nos seus preços – o Canadá simplesmente recusou-se a exportar ao Brasil, causando sérios problemas e prejuízos aos produtores que dependiam de seus materiais e variedades.
Outra consequência gravíssima desta IN 18/01, esta em nível interno, foi a praticamente total destruição do sistema brasileiro de certificação de sementes de batata. Impossibilitados de cumprir as normas extremamente rigorosas bem como de arcar com os altos custos dela decorrentes, mais e mais produtores foram abandonando a certificação de sementes e aderindo às multiplicações “informais”, a ponto de hoje as sementes certificadas de batata não representarem nem 5% do que é utilizado no país. É certo que a tumultuada transição para o novo regime de certificação previsto na nova Lei de Sementes de 2004 (e regulamentada em 2005) ajudou a enterrar de vez nosso programa de certificação de batata, mas não foi mais do que uma pá de cal num processo que já vinha desde 2001. Tenho orgulho de ter sido uma das poucas vozes (e, Graças a Deus, não a única) a alertar nas reuniões da Comissão Técnica Nacional de Batata Semente para esta terrível consequência que as medidas preconizadas na IN 18/01 causariam. Um tiro no pé muitíssimo bem dado!!!!! Mas não adianta chorar sobre o leite derramado, agora é ter a cabeça no lugar e pensar em maneiras modernas e viáveis de reconstruir um sistema de certificação de sementes ágil e eficiente.
Bem, passado mais este baque em 2001/2002, tivemos outro período bastante fraco na temporada 03/04, basicamente creditada ao desaquecimento do mercado de consumo e aos baixos preços da batata no mercado interno. Em seguida, nas temporadas 04/05 e 05/06, inicia-se uma lenta recuperação em direção aos volumes tradicionalmente importados. Até que algum outro baque venha sacudir a ordem das coisas.
2. Os Países Exportadores
O principal fornecedor de sementes ao Brasil, não só em termos de quantidade mas também em termos de número e diversidade de variedades aqui introduzidas ao longo dos anos, é a Holanda: oito vezes o número um nos últimos dez anos e com nove variedades entre as dez principais (veja Gráfico 2). Logo a seguir encontra-se o Canadá, tradicional fornecedor de sementes da variedade Atlantic, largamente utilizada na indústria de chips. O Chile vem num distante mas bastante estável terceiro lugar, porém com tendência de crescimento devido à entrada no mercado de uma nova empresa produtora e exportadora de sementes.
Alemanha e Suécia, que eram grandes exportadores há dez anos atrás, não conseguiram substituir suas variedades de sucesso (Achat no caso da Alemanha e Jaette Bintje no caso sueco) e viram suas participações no mercado brasileiro cair drasticamente – a Suécia já há quatro anos praticamente abandonou suas exportações ao Brasil enquanto a Alemanha luta arduamente para tentar recuperar o terreno perdido.
A Argentina, que teve seu auge na temporada 98/99 com o até hoje polêmico acordo do governo de Minas Gerais com o governo argentino e que exportou ao Brasil nesta temporada mais de 900 toneladas de sementes através da também polêmica empresa Polychaco, nunca conseguiu firmar-se no mercado brasileiro como exportador tradicional e confiável, por isso seus altos e baixos.
A França, através de duas empresas diferentes, investiu bastante no Brasil nos últimos anos tanto na introdução de variedades quanto na promoção comercial de suas sementes através de inúmeras visitas técnicas patrocinadas, e parece que todo este trabalho começa agora a dar seus primeiros frutos.
E, por fim, aparece a Escócia, a caçula da turma, que é um exportador mais recente, exportando a mesma variedade Atlantic que vinha do Canadá, e que entrou no vácuo dos problemas canadenses com as normas fitossanitárias brasileiras.
O principal fato a considerar aqui, em minha opinião, é que sendo o Brasil um país que necessita importar boa parte de suas sementes, deveria-se estabelecer uma política de longo prazo que identificasse as necessidades do país e procurasse de maneira realista e pragmática garantir aos produtores nacionais, através de acordos e parcerias com outros países, o fornecimento de materiais de multiplicação da mais alta qualidade pelo menor custo possível, como fazem diversos outros países importadores como Cuba, Egito, Marrocos, e outros.
Infelizmente não é esta a visão preponderante no nosso setor. Ainda prevalece a antiga e defasada posição “nacionalista” do confronto, sempre muito bem disfarçado sob os argumentos da “defesa sanitária nacional”. Em vez de nos colocarmos como bons clientes e negociarmos acordos, de preferência, com nossos principais fornecedores, preferimos confrontá-los. Com essa atitude só conseguimos má-vontade. Quando há escassez de material de alguma variedade e outros países disputam sua compra com o Brasil somos sempre relegados ao segundo plano. Precisamos mudar urgentemente esta imagem negativa: em vez de “nacionalistas” deveríamos ser mais “patriotas” e pensar no que é mais útil e proveitoso ao país. O Brasil representa só 0,15% do volume total exportado anualmente pela Holanda, por exemplo, e pensa e se comporta como se fosse seu principal comprador mundial.
Somos arrogantes sem termos nenhum cacife para isso…
Damos importância a coisas que não são realmente importantes. Condenamos lotes inteiros de sementes por apresentarem um pouco de sarna prateada. Condenamos lotes inteiros de sementes básicas de alta qualidade, sem qualquer problema fito-sanitário visível, por “excesso de terra” aderida… Queremos praticamente “re-certificar” as sementes importadas quando elas chegam aos nossos portos, desperdiçando um volume enorme de tempo, dinheiro, recursos e esforços, quando isto podia ser feito muito mais facilmente e a um custo incrivelmente menor por técnicos brasileiros enviados aos países exportadores previamente aos embarques, selecionando e qualificando os lotes aprovados, como fazem os já citados Cuba, Egito, Marrocos e outros grandes compradores mundiais de sementes através de seus acordos comerciais.
Ao invés de selecionar, qualificar e incentivar os países e empresas exportadoras de reconhecido gabarito, seriedade e confiabilidade, tratamo-los sempre com desconfiança e hostilidade. A lista com os casos absurdos de condenações de lotes de sementes de batata por razões totalmente arbitrárias (e às vezes totalmente risíveis…) ocorridos só nos últimos dez anos ocuparia certamente várias páginas da revista (seria uma excelente matéria!!! Fica aqui a idéia!). A promissora idéia das ARPs (Análise de Risco de Pragas), que prometia fazer uma pré-qualificação fito-sanitária de nossos exportadores dos mais diversos produtos agrícolas, foi praticamente abandonada e hoje se exige “Quarentena Pós-Entrada” em um material que é bastante perecível e que chega ao Brasil em sua maior parte em pleno verão. E ainda querem que não se plantem as sementes enquanto não saiam os resultados dos exames laboratoriais, mas não se importam se os exames estão demorando 30 dias ou mais… Ou seja, com estas mentalidade e atitude, perdemos todos nós e o prejuízo é bastante grande… Temos que mudar de atitude urgente, deixar a ideologia de lado e buscar um pragmatismo comercial que certamente só trará benefícios aos produtores brasileiros. Se temos que importar sementes (e isto é óbvio, não é?) deveríamos então tratar de faze-lo da melhor forma possível, garantindo a melhor qualidade de produto, com logística eficiente e custos baixos. Não, preferimos fazer tudo ao contrário: desestimulamos os melhores fornecedores, criamos entraves e mais entraves que tornam a operação logística de importação um inferno e os resultados finais são sempre cus os altíssimos. É claro que sempre poderão acusar os importadores por “inflar” os preços, é muito fácil se fazer esta manipulação… Mas ao menos deveriam explicar aos produtores brasileiros porque um container de importação é desembaraçado na Aduana em 24 horas no máximo na Europa ou Estados Unidos enquanto aqui no Brasil no ano passado a média foram 25 dias!!! E importamos material altamente perecível!!!
Vinte e cinco dias no porto é brincadeira de muito mau-gosto…
3 – A Dança das Variedades
Em termos de variedades, apesar do domínio holandês conforme dito anteriormente, o grande destaque dos últimos dez anos foi a variedade norte-americana Atlantic, exportada principalmente por empresas canadenses, mas também nos últimos anos por produtores do Chile, Escócia e Argentina (Ver Gráfico 3). Foi a principal variedade importada em nove destes dez anos (e só não o foi em todos porque na temporada 01/02 o Canadá decidiu por não exportar ao Brasil).
Em segundo lugar (sem contar a variedade holandesa Bintje que já vinha em acentuado processo de declínio), desde 96/97 até 01/02, aparece a variedade holandesa Monalisa. Esta foi superada pela também holandesa Agata em 02/03, a qual hoje considera-se como sendo a variedade mais plantada no Brasil.
Interessante notar o gradual declínio e “morte” das variedades Achat, Bintje e Jaette Binte, bem como o lento mas seguro crescimento das variedades Asterix, Caesar e Markies (todas as três com boas qualidades culinárias – será que isto pode ser considerado um bom sinal?).
Outro fato interessante, e que os números não mostram, é a trajetória da variedade Caesar: vinha crescendo rapidamente no mercado quando em 99/00 não houve praticamente material disponível. Perdeu então participação para outras variedades e seguramente abriu caminho para o crescimento rápido e impressionante da Agata. Quando vinha em recuperação o mesmo fato repetiu-se em 03/04: falta de material disponível. Mesmo assim ainda está entre as dez mais cultivadas e continua a ganhar espaço no mercado nacional por suas boas características culinárias e de apresentação.
Crescimento rapidíssimo foi o da variedade holandesa Cupido: em apenas cinco temporadas saiu praticamente do zero para o terceiro lugar nas mais importadas.
E a se notar também o grande salto havido na temporada passada com a francesa Daisy, variedade de uso industrial, e primeira variedade francesa a figurar entre as dez mais importadas.
E quem pode dizer de quais variedades estaremos falando daqui a dez anos? Voyager, Innovator, Ambra, Maranca, Marabel, alguma das FLs americanas (variedades de fritura especiais para chips)…? Um doce pra quem adivinhar!
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