Avanços no melhoramento genético de Batata na Embrapa

Arione da S. Pereira1, Paulo Eduardo de Melo2, Odone Bertoncini3, Ossami Furomoto2, Nilceu Nazareno4, Élcio Hirano3, Carlos Alberto Lopes2, Sieglinde Brune2, Caroline M. Castro1, Antônio Carlos de Ãvila2, André N. Dusi2, César B Gomes1, Ailton Reis2, Carlos Alberto B. Medeiros1, João Luiz Vendruscolo1, Cristina Maria M. Machado2, Roberto P. de Oliveira1, Antônio Carlos Torres2, Bernardo Ueno1, José Amauri Buso2. 1Embrapa Clima Temperado (http://www.cpact.embrapa.br); 2Hortaliças (http://www.cnph.embrapa.br); 3Canoinhas (encan.snt@embrapa.br); 4Iapar/CPRA (www.iapar.br).


Na busca por atender as demandas de cultivares dos produtores de batata, a Embrapa tem aumentado seus esforços em melhoramento genético. Conforme apresentado em artigo anterior desta revista, a Embrapa estruturou os seus programas de melhoramento em um único projeto que foi implantado em rede a partir de 2004. Neste projeto, as atividades são distribuídas de forma complementar em três Unidades (Canoinhas, Clima Temperado e Hortaliças) e no Iapar/CPRA. Além disso, este projeto, intitulado “Melhoramento genético de batata para ecossistemas tropicais e subtropicais do Brasil”, conta com importantes colaborações diretas da Fédération Nationale des Producteurs de Plants de Pommes de Tèrre (FNPPPT) – França, Instituto Nacional de Investigaciónes Agropecuarias (INIA) – Chile e Centro Internacional de la Papa (CIP), localizado em Lima, no Peru, universidades (UFPel e UFV), Hayashi Batatas, ABBA e das cooperativas Coopibi e Coopar.


O projeto visa desenvolver novas cultivares tanto para sistemas de produção convencional quanto orgânico, e melhorar a base genética para resistência a vírus, com ênfase no PVY, resistência a doenças, com foco em requeima, pinta-preta e murcha-bacteriana, resistência a insetos-praga e ao acúmulo de açúcares redutores. São ainda desenvolvidas ações visando identificar raças/estirpes de agentes causadores das principais doenças, bem como para melhorar os sistemas de produção de semente pré-básica.


Utilizando metodologias convencional e molecular, tem havido progresso em todas as atividades do projeto. No que se refere ao melhoramento da base genética, destaca-se a obtenção de dois clones resistentes à murcha-bacteriana: MB 03 e MB 9846-01. Comparados às cultivares atualmente mais plantadas no País e a clones relatados como resistentes no Brasil e em outras partes do mundo, os clones MB 03, MB 9846-01 e Cruza 148, que é padrão internacional de resistência, foram os mais resistentes, com a incidência da doença ficando abaixo de 10%, 100 dias após o plantio. Em relação à qualidade para cor de fritura, alguns clones foram identificados com conteúdo mais baixo do que o encontrado nos tubérculos da cultivar Atlantic. No que tange ao melhoramento para resistência a vírus, foram selecionados diversos clones com resistência extrema ao PVY e adaptação às condições brasileiras.


Os clones selecionados para resistência a vírus são também avaliados para teor de matéria seca e qualidade de fritura, além de serem selecionados somente aqueles com características comerciais (Figura 1). Quanto à resistência a insetos-praga, com ênfase à larva-alfinete nos tubérculos e à vaquinha nas folhas, foram selecionados alguns clones que apresentavam baixos níveis de incidência de ataque às folhas e aos tubérculos, enquanto cultivares de uso muito comum (Baronesa e Elvira) apresentavam alta incidência de danos. Populações clonais com resistência à pinta-preta e à requeima e com caracteres agronômicos aceitáveis estão sendo submetidas a processos de seleção.


Em relação ao desenvolvimento de cultivares, as ações estão sendo realizadas utilizando um número de genótipos superior ao planejado. Neste semestre, estão em fase inicial e intermediária do processo de seleção 23,4 mil plântulas em primeira geração de campo, 175 clones em segunda geração, 105 clones em terceira geração e 35 clones em quarta geração. Além disso, tubérculos de 37,4 mil novos genótipos estão sendo preparados para plantio no primeiro semestre de 2007, e outros 25 mil estão em produção para plantio e seleção em primeira geração de campo no segundo semestre. Somam-se aos clones produzidos no Brasil aqueles introduzidos da França, através da FNPPPT e do Chile, através do INIA. Desses, 102 estão em quarentena, 43 em primeira avaliação e campo, quatro em segunda avaliação e 11 em quarta avaliação.


Embora estes números representem um aumento na probabilidade de se obter novas cultivares, são os clones em fase final do processo de seleção que demonstram os avanços efetivos de projeto. Nesta fase, existem dois conjuntos de clones avançados que sinalizam para uma avaliação positiva do projeto. Além desses, há um clone já em processo de avaliação para fins de registro e liberação como cultivar.
Há um conjunto de cinco clones (três de película amarela e três vermelhas) que foram selecionados e serão submetidos a testes multilocais a partir do primeiro semestre de 2007.


O segundo conjunto de clones avançados (Figura 2) está sendo testado em diversos locais. São quatro clones de película amarela e matéria seca, variando de média a alta. Três dos clones (04-08, PCDAG00-01 e 58.97.1) apresentam tubérculos com boa aparência. O clone 04-08 se destaca pelo alto teor de matéria seca e alto potencial produtivo. O clone PCDAG00-01 foi selecionado sob o sistema de produção orgânica pelo Iapar/CPRA, sendo altamente resistente à requeima. O clone 58.97.1 resultou da seleção de clones introduzidos da França, por meio da FNPPPT, e apresenta boa qualidade de fritura. O quarto clone do conjunto (C-1881-16-97) apresenta boa qualidade de processamento na forma de fatias (chips), resistência extrema ao PVY e dormência curta.


Em processo de avaliação do Valor de Cultivo e Uso (VCU), encontra-se o clone 65-2 (Figura 3), cuja liberação como cultivar está prevista para o segundo semestre de 2007. O clone 65-2, que será registrado com o nome BRS Ana, tem se destacado em aparência de tubérculo (película vermelha), qualidade de fritura e potencial de produção. Apresenta possibilidade de utilização tanto para consumo, quanto para processamento industrial na forma de palitos pré-fritos congelados. Nos testes conduzidos até o momento, a futura cultivar BRS Ana tem apresentado boa resistência ao PVY e tolerância à seca. Contando com a importante e costumeira colaboração da ABBA, por meio de seus produtores associados, planeja-se para 2007, o desenvolvimento de lotes de validação deste clone em diversas regiões produtoras do país.


No que diz respeito ao uso da transgenia no melhoramento de batata, a Embrapa segue fazendo os estudos de biossegurança, utilizando como modelo um clone transgênico da cultivar Achat com resistência ao PVY. Estes estudos são necessários para conseguir junto aos órgãos competentes a liberação para uso comercial de genótipos transgênicos. Nestes estudos, avaliam-se os riscos da liberação no ambiente de cultivares transgênicas por meio da avaliação de impactos sobre organismos não-alvo, o que inclui, entre outros, microorganismos que habitam o solo, fungos e bactérias causadores de doenças, plantas daninhas e insetos-praga da batata. Estão sendo feitos também estudos de segurança alimentar e equivalência substancial entre o material transgênico e seu contraparte não-transgênico, ou seja, a cultivar original, sem ter sido transformada. Já os ensaios de campo para avaliar a eficiência da metodologia, neste caso resistência a PVY, foram conduzidos por três anos, confirmando-se a resistência observada em estudos em contenção (casa-de-vegetação).


A Embrapa também está desenvolvendo outras cultivares para resistência ao PVY e ao PLRV. Já foram selecionados preliminarmente um clone da cultivar Baronesa com resistência ao PLRV e três clones da cultivar Bintje, com resistência ao PVY, todos avaliados em casa-de-vegetação e preparados para os estudos de campo. Com o domínio do processo, a obtenção de clones transgênicos resistentes a vírus em outras cultivares pode ser feita, a princípio, de forma bastante rápida.


Enfim, percebe-se que a decisão da Embrapa de montar o seu projeto de desenvolvimento de cultivares de batata em rede foi acertada. Foram agregados os esforços em uma única direção e, com isso, o progresso foi mais rápido. Esperamos agora que a cultivar BRS Ana seja a primeira de uma longa série de boas cultivares, que venham ao encontro às demandas dos produtores e que representem uma ferramenta útil para alavancar a produção de batata de qualidade no Brasil, contribuindo para a competitividade e sustentabilidade da cadeia, tão bem representada pela ABBA.



Figura 1. Clones com resistência extrema ao PVY.



Figura 2. Clones avançados: PCDAG00-01, 58.97.1, 04-08 e C-1881-16-97.



Figura 3. Clone de batata 65-2 (BRS Ana).

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