A batata na China – Parte 1

Engo Agro Dr. Fernando N. Ezeta
Líder Regional
Leste e Sudeste Asiático; e Pacífico
Centro Internacional de la Papa (CIP)


O impressionante crescimento econômico da China, um dos mais populosos países do mundo, é um tema atual nos meios de comunicação do mundo inteiro. A recente incorporação da China à ‘Organização Mundial do Comércio’ despertou o interesse de muitos países do mundo em estreitar seus vínculos comerciais com esse colosso do oriente.


A China possui uma população de 1.300 milhões de habitantes que constituem um interessante mercado de matérias primas e de produtos industriais para todo o mundo. Mesmo assim, a China é um importante competidor nos mercados internacionais, onde está aumentando sua participação com diversos produtos industrializados. A competitividade da China na indústria têxtil tem sido motivo de preocupação de muitos países do mundo, pelos seus altos volumes de produção, qualidade e baixos custos. A expansão econômica, refletida nas altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto registradas durante a década passada, tem se manifestado também no setor agrário. Entre as culturas mais favorecidas pela expansão econômica se encontra a da batata, cuja produção e consumo tem alcançado taxas de crescimento impressionantes nos últimos anos.



01 – Fernando Ezeta.
Créditos: cortesia do International Potato Center.


A China é atualmente o maior produtor de batata do mundo. As estatísticas da FAO para o ano de 2003 indicam que a área total cultivada com batata na China foi de 4,5 milhões de hectares, com uma produção anual de 66,8 milhões de toneladas e uma produtividade de 14,8 t/ha. Assim, a China contribui com a quarta parte da área cultivada e com a quinta parte da produção mundial de batata. Esse lugar preponderante nas estatísticas mundiais foi atingido pelas espetaculares taxas de crescimento na área cultivada, observadas na última década, que aumentaram a área de exploração pela cultura de 2,87 para 4,70 milhões de hectares, entre os anos de 1991 e 2002.


Zonas de Produção
A China é um país de dimensão continental, onde se pode encontrar uma grande diversidade climática para a produção da batata. De acordo com a altitude e condições naturais, modificadas pela distância do mar, existem quatro regiões de produção: a zona de uma única safra anual no norte do país, onde se cultiva a batata no verão; a zona de duas safras, no centro; a zona mista, onde, de acordo com a altitude, se tem uma ou duas safras por ano, no sudeste e a zona de cultivo de inverno, no sul do país.


No norte da China, se concentra a maior zona de produção, com quase 50% da área cultivada no país. A batata é semeada na primavera e colhida no outono, cultivada sob condições de clima frio e dias longos, com um período entre geadas inferior a 150 dias e precipitação média anual em torno de 600 mm. Os solos são férteis e a precipitação é abundante, de modo que é possível obter-se altos rendimentos, mesmo sem o concurso da irrigação. No entanto, no noroeste da China, a grande evaporação e a escassa precipitação causam, frequentemente, secas severas, que reduzem drasticamente os rendimentos.
Na zona de duas safras, a batata é semeada na primavera e no outono. Os tubérculos obtidos na safra de primavera são utilizados como batata-semente no plantio de outono. Neste é produzida a semente que se conserva até o próximo ano, para o plantio de primavera. Este é o mais importante para o abastecimento do mercado de consumo. O intervalo entre os plantios de primavera e outono é inferior a dois meses, requerendo assim variedades precoces, de curto período de dormência. Nos últimos anos, com a construção e melhoramento da malha viária, aumentou, significativamente nessa região, o uso de batata-semente produzida no norte, com o que se conseguiu um aumento significativo nos rendimentos. Hoje, nessa região é frequente observar-se plantios intercalados e sucessivos.



02 – Produção de Batata na China.
Créditos: DR. WANG FENGYI


A cultura de inverno é explorada no sul da China, nas zonas costeiras das províncias de Guandong, Hainan, Guangxi e Fujian, no extremo norte da zona tropical, com invernos suaves, dias curtos e alta precipitação. A batata não é a principal cultura regional, mas sim uma alternativa para a rotação com o arroz, que é cultivado no longo verão das regiões próximas ao trópico. Nessa região, a batata-semente colhida no final do inverno deve ser armazenada por um período de seis a nove meses, sob condições quentes e úmidas, até a próxima safra, exigindo-se assim variedades com grande período de dormência.
O sudeste chinês é uma região montanhosa, com uma complicada geografia que favorece a diversidade climática. A cultura da batata é explorada principalmente em altitudes entre 1.000 e 2.000 m. Nas zonas baixas, pode-se conseguir duas safras por ano, enquanto que nas mais altas, as geadas não permitem mais do que uma. O clima é chuvoso e nublado, o que favorece as doenças fúngicas de folhagem, como a ‘requeima’. A batata é uma cultura de muita importância para a alimentação dessa região altamente povoada e onde o solo é um recurso escasso. Parte importante da produção é utilizada na alimentação animal.


Utilização da Batata na China
A maior parte da produção se destina à alimentação humana e animal. O consumo per capita é de 14,5 kg, o que representa somente a metade do consumo médio mundial e é muito inferior ao consumo dos países desenvolvidos que chega a 74 kg. Embora o processamento atinja 22% da produção total, trata-se, na sua maioria, de processamento primário que produz um tipo de polvilho, ‘fécula bruta’, e macarrão artesanal. Apenas 5% do total, ou cerca de três milhões de toneladas, é destinado à produção de fécula refinada, rodelas fritas (chips), palitos pré-fritos, purê ou batata desidratada.



03 – Produção de batata-semente prébásica em condições controladas.
Créditos: DR. WANG FENGYI


A produção da ‘fécula bruta’ é a mais popular forma de processamento na China. A de fécula refinada é ainda pequena, mas está em expansão. Estima-se a existência de dez fecularias com capacidade de produção de 300.000 toneladas de produto acabado, ou seja, capazes de processar 2,4 milhões de toneladas de tubérculos por ano. A principal fecularia se encontra no norte do país, na província de Ningxia, com uma capacidade de produção de 100.000 toneladas de fécula refinada por ano. Outras fábricas encontramse na Mongólia Interior, Yunnan, Helongjiang, Gansu, Shanxi e Ghizhou. A demanda interna de fécula refinada é estimada entre 300 mil a 450.000 toneladas por ano, para uso industrial e alimentação. As projeções de crescimento para o futuro são elevadas, uma vez que o consumo atual é de apenas 0,5 kg per capita, muito baixo em relação aos países desenvolvidos onde esse valor supera 20 kg .



04 – Modernização da cultura.
Créditos: DR. WANG FENGYI


A produção de chips começou na década dos oitenta, com limitações impostas pela pouca qualidade da matéria-prima, hábitos de consumo e condições econômicas então imperantes no país. Já na década de noventa, a indústria de chips cresceu paralelamente ao aumento da indústria de refeições rápidas.
Cerca de vinte empresas, nacionais ou multinacionais estão produzindo chips, processando cerca de 100 mil toneladas de tubérculos por ano, embora já exista capacidade de processar-se até 200 mil toneladas. As fábricas estão localizadas principalmente na costa leste do país, nas proximidades de cidades densamente povoadas como Beijing, Shangai, Guandong, Zheijiang, Liaoning e Helongjiang. A principal variedade para a produção de chips é a Atlantic, mas algumas variedades locais de boa qualidade de fritura também são usadas, embora em menor escala. Espera-se que com a expansão econômica aumente a demanda pelo produto, bem como as exigências de qualidade.


A primeira fábrica de pré-fritas congeladas foi implantada em 1992 pela companhia Simplot, em Beijing, com uma capacidade de produção de cerca de três mil toneladas por ano, tendo sido expandida para 20 mil toneladas/ano atualmente. Outras pequenas fábricas foram instaladas em cidades próximas a Beijing, bem como na província de Yunnan, no sul do país. Contudo, a China importa cerca de 100 mil toneladas de palitos pré-fritos congelados, para suprir as cadeias de fast-food, que proliferaram enormemente nas grandes cidades do país. A população urbana chinesa é de cerca de 450 milhões de habitantes, com grande potencial de aceitação do hábito de refeições rápidas difundido nos países ocidentais.




05 – Produção de batata-semente.
Créditos: DR. WANG FENGYI


Outro produto de alta demanda é a batata desidratada, na forma de escamas ou grânulos, para o preparo de purê de batata. A demanda atual desse produto é da ordem de 30.000 toneladas por ano, com um índice de crescimento de 20% ao ano, contra uma produção nacional inferior a 10.000 toneladas/ ano. Assim, para suprir-se a demanda, grandes quantidades do produto têm que ser importadas. No momento, fábricas de batata desidratada estão sendo instaladas, o que deverá elevar, em curto prazo, a capacidade de produção para 50.000 toneladas anuais, a fim de cobrir-se o espetacular aumento da demanda por esse produto.
 
 

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