Alerta Fitossanitário

Mosca branca (Bemisia tabaci) x viroses na bataticultura: Não bastava o mosaico amarelo deformante (geminivirus – TYVSV) e agora também o enrolamento da folha (luteovirus – PLRV)?


 


José Alberto Caram de Souza-Dias (Eng. Agr. PhD) – Pesquisador Científico – Centro de P&D Fitossanidade
APTA – Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – jcaram@iac.sp.gov.br
Haiko Enok Sawasaki (Eng. Agr. Dr.) – Pesquisadora Científica – Centro de Genética Molecular (IAC)
Márcia dos Santos Silva (Eng. Agr.) – Pós-graduanda – PG/IAC
Andressa Barbosa Giusto (Eng. Agr.) – Pós-graduanda – PG/IAC


 



Batatal com ausência de pulgões e alta infestação da mosca branca B. tabaci e mais 30% de plantas com sintomas de enrolamento primário. Presença do PLRV confirmada por ELISA


Mosaico amarelo deformante das folhas da batata: virose causada por vírus da família Geminiviridae, gênero: Begomovirus, estando na região do Sudoeste Paulista associada ao Tomato yellow vein streak vírus – TYVSV.
Um artigo buscando rever aspectos de identificação, disseminação e controle da rápida disseminação do TYVSV, geminivirus causador de sintomas de mosaico amarelo seguido de malformação dos folíolos apicais, em diferentes cultivares de batata (Solanum tuberosum L.), cuja transmissão na natureza está relacionado com a mosca branca (Bemisia tabaci), mereceu destaque de capa na revista Cultivar Hortaliças e Frutas , Junho/Julho 2004, Ano V, No. 26, editada pelo Grupo Cultivar de Publicações LTDA, Pelotas- RS (www.cultivar.inf.br). Trata-se de um problema fitossanitário emergente na bataticultura da região Sudoeste Paulista, demandando dos produtores inspeções de campo constante para evitar e controlar (precocemente) os focos iniciais do inseto vetor B. tabaci, além do monitoramento periódico (análises virológicas) no sentido de evitar o plantio de lotes de batata-semente contaminados, pois o TYVSV mostrouse, experimentalmente, ser facilmente perpetuado (“hereditário”) via tubérculos progênies se utilizados como batata-semente.
Enrolamento das folhas da batata: viroses causada por vírus da família Luteoviridae; gênero: Polerovírus, tendo como espécie típica, no mundo, o Potato leafroll vírus – PLRV. O PLRV é uma das viroses da batata que sempre esteve mais diretamente associada à degenerescência da batata-semente, em praticamente todos os países produtores no mundo. No Brasil, sempre foi apontada como a “número 1” para explicar a razão da dificuldade que os produtores brasileiros têm na manutenção de lotes de batata-semente livre de vírus (classe básica) em multiplicações sucessivas em campo. Até meados da década de 90, o PLRV sempre foi a principal, senão única virose presente a ponto de justificar a renovação anual de estoques básicos; obtidos via importação anual ou via sistemas nacionais de produção de minitubérculos prébásicos, dentro de telados antiafídeos. A rápida incidência ocorria geralmente logo após 2 a 3 multiplicações de lotes de batata-semente básica (geralmente denominados G-1, G-2; ou F-1, F-2; ou ainda, Filha de Caixa, Neta de Caixa, respectivamente), ultrapassando aos 20%, mesmo que inicialmente um lote de batata-semente/ básica, importada ou nacional, contivesse 0% (zero porcento) do PLRV.
Esse panorama histórico e quase que exclusivo do PLRV na degenerescência da batata-semente brasileira foi superado a partir de meados de 90 com importações massivas de batata-semente da variedade Atlantic, principalmente, contendo índices superiores a 10% do vírus Y (Potato vírus Y – PVY). Esse vírus logo se estabeleceu e disseminou pois sua transmissão se dá via estiletar (após segundos de alimentação de aquisição e inoculação) por várias espécies de afídeos vetores, mesmo os que não se hospedam, mas apenas visitam ( fazem picadas de “experimentação” ou prova nas plantas de batata).
A eficiente proteção contra altas incidências de PLRV, em batatal destinado à semente, passou a ser feita com aplicação de inseticidas dirigidos ao controle de pulgões (afídeos), particularmente da espécie
Myzus persicae (Sulz.), mais importante e praticamente única espécie reconhecida, a nível mundial, como transmissora (vetora) da virose do enrolamento das folhas no batatal.
Contribui muito para essa eficiência química no controle do afídeo M. persicae, principal e até então único inseto vetor conhecido do PLRV, o fato de esse vírus manter uma relação do tipo Detalhe de planta de batata cv. Agata com sintoma de amarelo apical do PLRV (ELISA positivo).
Ausencia de pulgão mas alta infestação da mosca branca B. tabaci Batatal com ausência de pulgões e alta infestação da mosca branca B. tabaci e mais de 30% de plantas com sintomas de enrolamento primário. Presença do PLRV confirmada por ELISAdenominado circulativa e portanto persistente no inseto vetor. Nesse tipo de relação vírus-vetor, há uma necessidade maior de tempo (geralmente horas) de alimentação do inseto na planta, tanto para aquisição como para transmissão do vírus, os quais ocorrem somente após o vírus “circular” pelo sistema digestivo do inseto vetor. Por isso, apenas algumas poucas espécies de afídeos são vetoras do PLRV (ex.: M. percicae, M. nicotiana, Macrosiphum euforbiae), mas apenas M. persicae é mais comum como hospedeira da batata e assim sendo, capazes de efetivamente atuar nadisseminação do PLRV em batatais disseminação do PLRV em batatais.



Detalhe de planta de batata cv. Agata com sintoma de amarelo apical do PLRV (Elisa positivo). Ausencia de pulgão mas alta infestação da mosca branca B. tabaci


Um fato que tem despertado a atenção dos produtores, extencionistas e pesquisadores ligados à fitossanidade da bataticultura, particularmente nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo, tem sido o ressurgimento de casos de PLRV nos últimos dois anos.
Essa aparente volta do PLRV , confirmada em análises rotineiras de amostras de folhas e tubérculos de batatais (enxertia de haste em plantas indicadoras de Datura stramonium; imunodiagnose, DAS-ELISA com antissoro policlonal; e molecular, PCR com primers universais) não tem estado associado à presença de afídeos (pulgões) nas plantações, o que seria até certo ponto necessária para explicar casos de mais de 30% de PLRV manifestado na forma de amarelo apical, típico da infecção primária (estação corrente). Entretanto, nos anos de 2003-2005, em meses mais quentes do ano, nas regiões de Itapetininga, Capão Bonito e Buri, SP, observouse altíssimas, muitas vezes incontroláveis, infestações da mosca branca B tabaci em plantios das variedades Ãgata, Bintje, Jaette Bintje, Mondial, Vivaldi e Asterix. Tais plantações receberam aplicações intensivas de eficientes inseticidas, o que se verificava pela ausência de outros insetos, paticularmente os afídeos, durante o ciclo todo da cultura.
Suspeita da possível transmissão do PLRV via mosca branca passou a ser avaliada através de coletas desse inseto em campos com incidência comprovada de PLRV (DAS-ELISA) e aparente ausência de afídeos. A transferência de moscas brancas coletadas de plantas sintomáticas nesses batatais foram feitas para insetários das dependências do setor de Virologia do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade / APTA- Intituto Agronômico de Campinas (IAC). Dentro dos insetários permitiu-se alimentação e colonização espontânea de moscas brancas em 25 plantas indicadoras de Datura stramonium, bem como em 60 plântulas de batata (plântulas indexadas livres de vírus de diferentes sistemas de produção de minitubérculos classe pré básico) das cvs. Bintje, J. Bintje, Mondial, e Monalisa, originadas de minitubérculos do sistema de produção de batatasemente básica dentro de telados.
Mantendo-se nesses insetários apenas a presença de mosca branca (alta populações) e ausência de afídeos, observou-se ao longo dos quase 2 meses de exposição, três plantas de D. stramonium com sintomas de amarelo internerval típicos do PLRV e duas plantas das variedades Bintje e Mondial com sintomas de amarelecimento apical, típicos da infecção primária do PLRV.
Essas plantas apresentaram DAS-ELISA positivo para PLRV em comparação com plantas das mesmas espécies e fisiologicamente comparáveis, infectadas com o PLRV em condições experimentais (inoculadas via afídeo M. persicae ou enxertia), mantidas em insetários. Recentemente, as evidência da transmissão do PLRV via B. tabaci em plantas de batata e D. stramonium, infectadas sob condições experimentais de insetário, tiveram reforço após resultados positivos em testes moleculares ( PCR ) com primers universais para genoma do PLRV. Resultados positivos de PCR foram também obtidos em análises com amostras das plantas de D. stramonium sintomáticas para PLRV após transmissão por enxertia de haste de planta de batata cv. Bintje com sintoma de infecção de perpetuação do PLRV, originada de tubérculo-semente produzido por planta infectada experimentalmente por mosca branca.
Análises de genoma, via sequenciamento das regiões amplificadas no PCR estão em andamento e poderão indicar a correlação filogenética do possível PLRV transmitido por mosca branca com isolados comuns do PLRV, transmitidos por afídeos. Há evidências anteriores de fitoviroses não causadas por geminivirus, mas que são também transmitidas via mosca branca B. tabaci. Por exemplo, a transmissão normalmente feita na natureza via afídeos, tais como espécie da família Carlaviridae, que inclui o vírus S da batata – PVS (viroses de leguminosas, como feijão e soja) e Closteroviridae (família do vírus da tristeza dos Citrus – CTV). Portanto, as observações que estamos fazendo agora, isto é, a constatação inédita da transmissão do PLRV (família Luteoviridae) via B. tabaci, apesar de surpreendente, pode encontrar explicações em outras interações vírus x mosca branca



Planta de Datura stramonium com sintoma de amarelo interneval. Infecção pelo PLRV via mosca branca Bemisia tabaci


Desponta-se assim, para o já tão complexo contexto da virologia na produção de batata-semente, um potencial e danoso ressurgimento do PLRV, com seus consequentes reflexos na rápida degenerescência da batata-semente. Medidas de controle da mosca branca B. tabaci na condição de inseto vetor de viroses da batata (mosaico amarelo deformante/ TYVSV e agora enrolamento da folha/ PLRV) passam a ter que ser mais intensivamente pesquisada, buscando eficiência de forma integrada nas ações química, biológica, ultura e genética.
Conscientes da necessidade de solução científica a curto, médio e logo prazo para o problema da interação Batata – Mosca Branca – Viroses, a Associação Brasileira da Batata (ABBA) vem tomando frente através de apoio a projetos de Planta de Datura stramonium com sintoma de pesquisas já em andamento. amarelo internerval. Infecção pelo PLRV via mosca branca Bemisia tabaci

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