Eng. Agr. José Alberto Caram de Souza-Dias (Ph.D) Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Centro de Fitossanidade / Virologia e-mail: jcaram@cec.iac.br C.P. 28; CEP.: 13020-902; Campinas, SP (Tel.: 0xx19-3241.5188, ramal 360)
Aspectos epidemiologicos e etiológicos:
O nome da moléstia causada pelo TRV na Europa é “Stem Mottle” ou “Sprain(g)” que vale também para o caso do PMTV, podendo ser traduzido para o Português como “mola” ou algo “torcido”, devido ao aspecto de entrenós curtos e tortuosos da parte apical das hastes infectadas. Na América do Norte, a denominação para os sintomas induzidos pelo TRV é “Corky Ringspot”, devido ao aspecto de cortiça dos anéis ou arcos formados na superfície dos tubérculos (Robson & Harrison, 1989; Pérez et al., 2000)
Para a moléstia causada pelo PMTV, a denominação é geralmente “Potato Mophead”, “Potato Spraing” (Beemster & de Bokx, 1987; Jones, 1980).Tanto nas principais revistas científica de fitopatologia, horticultura, como também nas de agricultura em geral do Brasil, não se encontra registro algum sobre a presença do PMTV (genero Pomovirus, grupo Furovirus, em território brasileiro.
Pelo menos nos últimos 30 anos (Kitajima, 1986 e 1995). Entretanto, esse vírus é transmitido pelo fungo Spongospora subterranea; mesmo fungo causador da Sarna Pulverulenta, cuja ocorrência na região de São João da Boa Vista – SP foi relatada em fins de 1980 (Miranda Fo. et al., 1989) O TRV (genero Tobravirus) é transmitido na natureza por nematóides do genero Trichodorus spp e Paratrichodorus spp (Van Hoof, 1968) tem sido muito esporadicamente observado em plantas isoladas de batata, e mais especificamente em plantações onde se utilizou batata-semente importada da Europa, em primeiro plantio no Brasil, sugerindo que possa ter vindo na batata-semente mas não estabelecido ou disseminado no Brasil (Souza-Dias e Iamauti, 1997). Há evidências de que populações de nematóides não virulíferos raramente adquirem o TRV de plantas de batata infectadas e disseminação por tubérculos infectados não tem sido verificada (Weingartner, 1981) O TRV já foi relatado ocorrendo naturalmente em batata em vários países da Europa (Be mster & de Bokx, 1987) e América do Norte, particularmente em áreas dos estados da Florida, Washington, Oregon e algumas regiões do Canada (Pérez, et al., 2000). Em países de clima tropical, a moléstia não tem sido relatada apesar de o nematoide vetor (Para) trichodorus estar presente em áreas dos Andes (Salazar, 1996.) e no Brasil (Rubens Lordello, Cenfit/IAC, comunicação pessoal).
As caraterísticas morfológicas desses 2 vírus são relativamente parecidas. Tanto o TRV como o PMTV apresentam partículas de 2 tamanhos diferentes, sendo uma menor e outra maior: 45-115nm x 180-210 nm para o TRV (Robson & Harrison, 1989) e 100-150 x 250-300 x 18-20 nm de diâmetro para o PMTV (Harrison, 1974).
Sintomatologia: Os sintomas tanto nas folhas como nos tubérculos são também semelhantes e passíveis de confusão. Nos tubérculos, podem manifestar manchas de cor marrom escura ou arroxeada, plana ou quebradiça, algumas vezes corticosas e em forma de círculos ou arcos angulares e concêntricos, com desenhos irregulares, medindo de 1 a 4 cm de diâmetro na superfície dos tubérculos. Essas lesões manifestam-se em até 90 % da superfície dos tubérculos, principalmente mas não exclusivamente, na infeção primária; em todos ou apenas alguns tubérculos de uma mesma planta-cova. O corte transversal feito a partir da lesão dos tubérculos revela que os sintomas de necrose na epiderme penetram no interior da polpa do tubérculos, apresentando arcos ou círculos de cor marrom claro ou escuro. As necroses no interior da polpa dos tubérculos apresentam tanto mais profundas quanto maiores na superfície.
No caso do PMTV, nem todos os tubérculos produzidos por planta infectada se tornam infectados, sendo que no replantio, poucas plantas se desenvolvem infectadas. Sugere o fato haver “auto eliminação do vírus”. Já o TRV, em um cultivar sensitivo, pode ser “auto-eliminante”, porém, persistem em cultivares suscetíveis, potencialmente disseminando o vírus para novas áreas (Dale et al. 2001).
Folhas de batata com sintomas de arcos, riscos e manchas amareladas, brilhantes (à direita) ou pálidas (central e esquerda), de plantas naturalmente infectadas (infecção secundária, perpetuação pela batata-semente) pelo vírus TRV, na variedade Cupido. Esses sintomas são também sugestivos da infecção pelo PMTV.
Na parte aérea das plantas, observa-se tanto para o TRV como para o PMTV, a presença de arcos ou traçados de cor amarelo brilhante ou pálido em alguns folíolos de parte superior de algumas hastes, ás vezes passíveis de confusão com danos de frio ou do cálico da batata (Beemster & de Bokx, 1987).
Devido aos sintomas causados nos tubérculos, os quais podem ser confundidos com desordem isiológica como a causada por aquecimento interno (“internal heat necrosis”) (Sterrett and Henninger, 1997), esses 2 vírus somam-se a outros também causadores de danos “cosméticos”, tais como o mosaico Y quando causado pela variante PVY NTN (conforme descrito na edição anterior desta revista); o Tobacco Necrosis Virus (TNV, genero Necrovirus, família Tombusviridae, transmitido por nematoides); Potato Aucuba Mosaic Virus (PAMV, genero Potexvirus, transmitido por contato, sem vetor conhecido), Potato Yellow Dwarf Virus (PYDV, genero Rhabdovirus, transmitido por cigarrinha) e o Tomato Spotted Wilt Virus (genero Tospovirus, família Bunyaviridae, transmitido por tripes), sendo este último, causador das moléstias denominadas Vira Cabeça do Tomateiro ou Necrose do Topo da Batata (Costa & Hooker, 1980).
Comportamento das plantas infectadas : Trata- se de dois vírus que podem causar danos severos não somente à produtividade das plantas afetadas: 26% de redução no caso do PMTV, mas principalmente à qualidade dos tubérculos, conforme descrito anteriormente. As variedades de batata são quase todas suscetíveis e sensitivas ao PMTV; não havendo nenhuma resistente (Dale, 2001). As reações das plantas de batata ao TRV podem variar em função da interação variedade de batata/raça do vírus; assim sendo, podem ser do tipo resistente, suscetível (infectada mas sem sintomas evidentes), ou sensível. Neste último caso seria com uma resposta de hipersensibilidade, com os sintomas de curvaturas e encurtamento dos nós nas partes apicais das hastes, bem como necroses nos tubérculos.
Tubérculos progênies de uma única planta-cova infectada pelo PMTV, variedade Monalisa. A ponta da caneta indica o sintoma de arcos e anéis arroxeados e circuncentricos, de distirbuição irregular nos tubérculos. Notar que nem todos os tubérculos desta cova apresentam sintomas. Esses sintomas podem também ser confundidos com os do TRV.
Medidas de controle: Quanto ao controle, parece que há pouco a ser feito para ambas as viroses, senão, evitar o plantio em áreas contaminadas pelos vetores e nunca utilizar como batata-semente tubérculos de plantações onde a virose esteve presente. Tanto TRV como PMTV são de difícil, senão impossível eliminação após terem se estabelecido no solo com seus vetores. Ambos os vírus têm longo período de sobrevivência no solo: 10 anos para PMTV e muitas décadas para TRV. Historicamente, não há controle químico adequado para o PMTV. Porém, para o TRV, em alguns países da Europa tem sido utilizado oximecarbamatos no controle dos nematóides vetores (Dale, 2001). A introdução e disseminação do TRV nos campos pode ocorrer através de batata-semente infectada ou semente de plantas da vegetação espontânea ou cultivada, bem como pela movimentação de solos carregando nematóides com o TRV no vento, na água ou em partes de máquinas e implementos. A redução na disseminação dessa virose vinha sendo relatada nos EUA com o uso de aldicarb.
Outros tratamentos que vêm sendo satisfatórios segundo Ingham et al.( 2001 ) são:
1- Uso combinado de sódio metano (MS) aplicado através de “quimigação” e incorporação de “ethoprop” na camada superficial do solo;
2- Aplicação de MS e 1,3-dicloropropene (1,3- D);
3- Aplicação pós-emergência de oxamyl antes do início da tuberização. Há evidências de que os tubérculos se tornam vulneráveis à transmissão do TRV logo após seu desenvolvimento e devem ser protegidos de Paratrhichodorus allius por pelo menos 8 semanas (Mojtahedi, et al. 2001);
4- Preferência para plantio de variedades menos sensíveis como Russet Narkotah, evitando plantio de R Burbank, Shepody e Century que são altamente sensíveis (Ingham, et al., 2001) ;
5- Resultados recentes obtidos por Thomas et al. (2001), revelam que plantio de alfafa (Medicago sativa) por um período de 3 anos depois da semeadura e mantido estritamente livre de outras espécies (ervas daninhas) resultou em ausência de TRV.
Entretanto, TRV foi rotineiramente isolado do solo onde ervas daninhas cresciam voluntariamente e alfafa não havia sido semeada. O nematóide vetor permaneceu nos campos de alfafa da mesma forma que permaneceram em campos de fumo sob iguais tratamentos, porém, TRV não pode ser transmitido pelos nematóides vetores de campos de alfafa enquanto os de campos de fumo foram capazes. Os resultados sugerem que há perda ou redução da capacidade do nematóide em transmitir o TRV após período de mais de 3 meses de alimentação em alfafa (Thomas, et al., 2001).
Quanto ao PMTV, trabalhos realizados por Cooper et al, 1976, revelam que tentativas de eliminação desse vírus com termoterapia nos tubérculos infectados a 37ºC não apresentaram resultados favoráveis. A rotação de cultura não controla a infestação em terras novas, entretanto, a submersão dos tubérculos, infectados tanto com o vírus como com o fungo vetor, em solução de formaldeido ou fungicidas mercuriais (lembrando que o uso deste produto é proibido no Brasil), pode diminuir a infestação em campos novos (Jones, 1980). Também é apontado como medida de controle do PMTV em plantios inicialmente livres do vírus o tratamento do solo com calomel, composto de zinco (ZnO) ou diminuindo o PH a 5.0 (Cooper, et al., 1976). Testes com plantas transformadas (transgênicas) para a síntese de capa protéica do PMTV mostraram-se resistentes (Dale et al. 2001).
Sintomas causados pelo PMTV nos tubérculos, semelhantes aos do TRV. Detalhe de tubérculos da variedade Monalisa apresentando sintomas de necrose em formas de arcos ou circulos arroxeados na superfície do tubérculo e sua penetração no tecido (polpa) interno também com traços necróticos do tipo arco ou círculos de coloração marrom.
Teste de diagnose: Testes de imunodiagnose (ELISA) são efetuados com sucesso para PMTV em extratos de plantas indicadoras, mas não tão eficientemente com extratos de tubérculos onde o vírus apresenta-se em menor concentração ou desigualmente distribuído (Jeffries, 1998).
A detecção em plantas indicadoras das espécies Chenopodium amaranticolor ou C. quinoa são recomendadas por responderem com lesões locais ecróticas de coloração amarronzada em forma de círculos concêntricos e em C. quinoa apresenta ainda necrose ao longo das nervuras. Em Nicotiana tabaccum Turkish, a formação de riscas necróticas de coloração esbranquiçada, com formação de traços denteados (do tipo folhas de mamão) são bastante características para alguns isolados do PMTV (Beemster & De Bokx, 1987 e Salazar, 1996).
Testes de PCR-MD foram desenvolvidos para detecção do fungo vetor S. subterrania, enquanto para TRV, testagem de solos antes do plantio através dessa mesma técnica encontram-se em andamento para espécies do nematóide vetor (Para) thrichodorus (Dale et al. 2001).
Apesar de também ser possível a detecção do TRV via ELISA, este tem se mostrado inconsistente devido a presença de partículas virais do tipo M e NM (Sanger 1968). A do tipo M, é dependente de temperatura (plantas a 20ºC produzem mais antígeno do TRV que seu contra parte em 30ºC); da espécie de hospedeira; e da movimentação sistêmica do vírus na planta infectada. Essas partículas do tipo M se diferem em 2 tamanhos, sendo uma delas, a do RNA2 que é codificadora de nucleoproteina, responsável pela reação sorológica.
As partículas virais do tipo NM são causadoras de sintomas em plantas; são comuns na natureza; mas não produzem capa protéica e portanto não têm reação imunológica, o que resulta em impossibilidade de detecção pelo ELISA.. Técnicas de RT-PCR tem sido utilizadas para detecção do ácido nucleico do TRV em folhas de fumo, e tubérculos de batata com sintomas típicos do TRV (Robinson, 1992; Pérez, et al., 2000). Diferentes isolados do TRV têm sido detectados eficientemente por essa técnica. Diferentes isolados dos EUA e Canadá, foram detectados com os pares de primers complementares aos nucleotídeos de números:
(A)6555-6575:
5’- CAGTCTATACACAGAAACAGA-3’, e
(B)6113-6132:
5’- GACGTGTGTACTCAAGGGTT-3’, do
TRV-SYM RNA-1 (Hamilton et al., 1987).
Referências Bibliográficas:
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