Análise de preços da batata in natura nos últimos sete anos

Por Ãlvaro Legnaro
batcepea@esalq.usp.br


O objetivo do presente artigo é avaliar os principais fatores que infl uenciaram o comportamento de preços da batata in natura pagos ao produtor coletados diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP) desde novembro de 2000. A série de preços da batata do Cepea é obtida através de coleta diária de preços e informações de mercado com os principais agentes da cadeia da batata (produtores, atacadistas, técnicos e outros). Assim, analisou-se o banco de dados de preços agregados por período de colheita: águas (novembro-abril), secas (maio-julho) e inverno (agosto-outubro) bem como a série de preços mensal e o comportamento dos valores do tubérculo anualmente.


A série completa de preços foi defl acionada pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas de julho de 2007. Os preços, a partir de 2000, foram comparados com a área de batata colhida por safra (águas, secas e inverno) nas principais regiões produtoras. Essa área não representa o total produzido por região no Brasil, mas é um indicador que representa o total cultivado pelos colaboradores de preços do Cepea. Os principais resultados desse estudo estão demonstrados a seguir:


Maior volatilidade dos preços é observada na safra das águas


Desde 2001, a maior oscilação de preços é observada na safra das águas comparada à colheita da seca e o inverno. Isso pode estar relacionado às condições climáticas mais adversas durante o desenvolvimento e a colheita do tubérculo no período de chuvas – de novembro a abril. Outro fator que contribui para a maior volatilidade é o perfil dos produtores que colhem nesse período. A ausência de irrigação na maior parte da produção da safra das águas abre espaço também para produtores que não possuem sistemas de irrigação. Esse grupo normalmente é composto por produtores de pequena escala e de baixa capacidade de investimento, assim boa parte dos recursos empregados por esse grupo provém da receita obtida na safra anterior.


Uma temporada de preços baixos nas águas já inibe investimentos deste grupo para a próxima safra e isso também contribui para uma maior oscilação na área plantada neste período e, consequentemente, infl uencia a volatilidade dos preços. Um exemplo é a variação de preço e área observada entre as duas últimas safras das águas (2005/06 e 2006/07). O preço elevado obtido por produtores na temporada 2005/06 infl uenciou o aumento da área da safra 2006/07 em aproximadamente 10%. O aumento de área e o clima favorável no desenvolvimento do tubérculo no início da safra 2006/07 elevação considerável da oferta de batata e a queda significativa no preço médio pago ao produtor de aproximadamente 60%, quando comparada à temporada 2005/06. Com isso, os preços baixos da safra 2006/07 já sinalizam que a área para a próxima safra das águas (2007/08), que inicia em novembro, deverá ser 8% inferior à anterior (dados preliminares).


Gráfico 1. Variação do preço médio recebido por produtores e da “área plantada” para as safras das águas durante o período de 2003 a 2007.
A área divulgada pelo Cepea é referente às regiões analisadas, e não representa a área total da safra.



* Na safra 2005/06 foi registrado valorização dos preços mesmo com o aumento de área em relação à safra anterior, tal fato ocorreu devido a quebra de safra causada pelo clima adverso durante a safra.
** Estimativa de área para a safra das águas 2007/08
Fonte: Cepea – Esalq/USP


Melhor preço é obtido na época das secas


Ao contrário da safra das águas, o período de colheita das secas (maio-julho) foi o que registrou menor volatilidade de preço e maior valor médio ao longo dos meses entre 2001 e 2007. Analisando o valor médio do tubérculo entre esses anos na safra das secas em relação aos demais períodos de colheita, o preço médio recebido por produtores do tubérculo destinado ao mercado in natura foi de R$ 26,86/sc de 50 kg, valor cerca de 57% e 13% superior ao obtido nas safras de inverno e das águas, respectivamente.
O clima adverso (quente e seco) normalmente registrado em várias regiões do País no período de desenvolvimento das batatas colhidas de maio a julho limita a produção do tubérculo por produtores que não possuem sistemas, como irrigação. Tal fato tem levado à estabilidade da oferta e, consequentemente, dos preços durante a colheita das secas.


Gráfico 2. Variação do preço médio recebido por produtores e da “área plantada” para as safras das águas durante o período de 2003 a 2007.
A área divulgada pelo projeto é referente às regiões analisadas pelo projeto.



Fonte: Cepea – Esalq/USP


Inverno registra o menor preço


O valor médio do tubérculo entre 2001 e 2007 durante a colheita do inverno (agosto – outubro) é menor que o das demais temporadas de colheita. O preço médio recebido pelos produtores que concentram a colheita neste período (agosto e outubro) foi de R$ 17,06/sc de 50 kg. O menor valor obtido pelo tubérculo pouco alterou o volume colhido na temporada de inverno, como observado na safra das águas. Uma das explicações para esse comportamento é que parte dos produtores desta temporada planta em regiões diferentes durante as safras das águas e das secas, contribuindo para que o fl uxo de caixa deste grupo mantenha os investimentos no inverno, mesmo em situações de baixos preços.


Gráfico 3. Variação do preço médio (*até 8 de agosto de 2007) recebido por produtores e da “área plantada” nas safras de inverno durante o período de 2003 a 2007.
A área divulgada pelo Cepea é referente às regiões analisadas pelo projeto.



* Preço atualizado até 8 de agosto de 2007.
Fonte: Cepea – Esalq/USP


Obs:
Para acompanhar as análises de preço e calendário de oferta das principais regiões produtoras de batata, acesse o site do Projeto Hortifruti Brasil: http://cepea.esalq.usp.br/hfbrasil


Abril e maio são os melhores meses para comercializar o tubérculo


Avaliando o comportamento mensal dos preços da batata ao invés da análise por safra, os preços mais elevados são obtidos entre abril e maio. O valor médio obtido nesses meses, entre 2001 e 2007, foi de R$ 32,67/sc de 50 kg. Esse período é caracterizado pelo final da safra das águas e início da colheita das secas e normalmente apresenta menor oferta. Além disso, a produtividade média obtida nesses meses de colheita foi afetada negativamente pelos constantes problemas climáticos durante os ciclos de desenvolvimento da cultura nos últimos sete anos.


Gráfico 4. Preço médio da batata especial tipo ágata recebido na roça por produtores entre janeiro e dezembro de cada ano.


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