Aplicação de fertilizantes na bataticultura – Comportamento de preços no plano real

EVARISTO M. NEVES – Professor Titular do Depto. de Economia, Administração e Sociologia, ESALQ/USP – CP: 9, Piracicaba/SP, 13418-900. emneves@esalq.usp.br, LUCIANO RODRIGUES – Graduando em Engenharia Agronômica, lurodrig@esalq.usp.br MARIAM DAYOUB – Graduanda em Engenharia Agronômica, bolsista PIBIC/CNPq, dayoub@esalq.usp.br DIOGO S. DRAGONE – Pós-graduando em Economia Aplicada, sdragon@esalq.usp.br
ESALQ/USP


INTRODUÇÃO
Nos estudos de custos de produção, principalmente nos operacionais, a aplicação de fertilizantes na cultura da batata tem peso considerável quando se decompõe o custo em seus usos e serviços dos fatores de produção. No Anuário da Agricultura Brasileira (Agrianual 2001-editado pela FNP Consultoria & Comércio) verifica-se que na decomposição do custo de produção da batata beneficiada – Região de São Miguel Arcanjo, SP – considerando-se as três safras anuais (seca, águas e inverno), o consumo de fertilizantes por hectare tem variado de 3,8 t para a safra das secas até 4,3 t para a de inverno. A batata é, talvez, entre todas as culturas comerciais, a que apresenta maior demanda relativa por fertilizantes (quantidade demandada/ hectare).
Para o Brasil, porém, quando se toma como referência o consumo de fertilizantes em termos globais, a batata não se posiciona entre as principais culturas. A Tabela 1 mostra a elevada participação da soja (cerca de 32,9% do consumo total), seguida pelo milho (17,2%), cana-de-açúcar (12,5%), café (6,7%) e algodão (3,6%), contabilizando, nestas 5 culturas, cerca de 73% da demanda brasileira total por fertilizantes, no ano de 2001. Verifica-se ainda, que a batata se posicionou em 9º lugar no consumo total de fertilizantes.


No Brasil, qual o posicionamento da bataticultura, em termos relativos no consumo de fertilizantes? Em função dos preços recebidos pelos bataticultores, a quantidade média demandada de fertilizantes por hectare tem variado? Preços atrativos recebidos pelos bataticultores ao longo do Plano Real (anos 1995 a 2001) tem repercutido em um menor número de sacas para adquirir a mesma quantidade de fertilizantes? As seções seguintes tentam responder estas questões.


DEMANDA RELATIVA
A Tabela 1 mostra que em termos globais (consumo total de fertilizantes pelas principais culturas), a batata não se posiciona entre as primeiras culturas. Isto se deve, principalmente, pela sua área cultivada (159 mil hectares em 2001), que é bem menor que as áreas de soja (15,8 milhões de hectares), de milho (11,7 milhões), cana-de-açúcar (5,1 milhões), feijão (4,2 milhões), arroz (3,2 milhões) e outras 10 culturas que se colocam acima de batata em termos de área cultivada (café, mandioca, trigo, algodão, laranja, cacau, banana, sorgo, fumo e mamona). Em 2001, segundo a FIBGE, a área cultivada com batata se posicionou em 16º lugar, entre as principais culturas brasileiras. Porém, quando se decompõe o consumo total de fertilizantes no Brasil com a área cultivada (divisão entre a demanda global de fertilizantes pelos hectares plantados), o consumo médio (demanda relativa) posicionou a batata em 1º lugar (na média 2,8t/ha, em 2001) bem acima de outras culturas conhecidas pelos consideráveis requerimentos em fertilizantes por unidade de área, como algodão, fumo, café, etc (Tabela 2). Portanto, é de se esperar que os termos de troca entre preços recebidos pelos bataticultores e preços de fertilizantes apresentem variabilidade significativa em relação à quantidade de sacas exigidas para adquirir uma tonelada de fertilizantes quando os preços recebidos pelos bataticultores são atrativos.


TERMOS DE TROCA (PREÇO DE PARIDADE)
Como se comportou a demanda por fertilizantes quando os preços recebidos pelos bataticultores foram poucos atrativos e compensadores? Será que uma queda de preços na saca de batata, num determinado ano, é acompanhada na mesma proporção por uma redução nos preços de fertilizantes de tal forma que os termos de troca permanecem constantes? Se assim ocorrer, seria necessário trocar a mesma quantidade de sacas de batata por uma tonelada de fertilizantes, em qualquer ano analisado, na vigência do Plano Real. Na realidade isto não ocorre, pois são mercados diferentes. Enquanto os produtores de batata ficam sujeitos à lei da oferta e demanda, num mercado competitivo onde são tomadores de preços, os de fertilizantes se formam num mercado oligopolizado, com a existência de poucas firmas na indústria de fertilizantes, criando a possibilidade de serem formadores de preços. Não resta dúvida que a formação de preços fica condicionada em parte à taxa de câmbio, pois é expressiva a importação de matéria prima usada pela industria de fertilizantes. Em determinados momentos, em que os preços recebidos pelos bataticultores são poucos compensadores, esta indústria pode reduzir o preço real pago pelo fertilizante, mas até um certo limite.
Daí se notar que a variação relativa dos preços recebidos pelos bataticultores é muito maior que as oscilações dos preços dos insumos pagos pelos produtores num determinado horizonte temporal (anos 1995 a 2001). É o que ocorreu com a cultura da batata, como se verifica a seguir (Tabelas 3 e 4).


Em síntese: a cultura da batata é uma das mais importantes em termos de demanda relativa (quantidade consumida por hectare) por fertilizante, ocupando o 1 o . lugar nos últimos anos, dentre as 18 principais culturas cultivadas no Brasil. Este elevado consumo é afetado na sua demanda frente à variabilidade de preços recebidos pelos bataticultores conforme os termos de troca, analisados na vigência do Plano Real (1995 a 2001). Estas oscilações nos termos de troca são facilmente explicadas com a necessidade de oferecer uma maior quantidade de sacas de batata para trocar com uma mesma quantidade de fertilizantes.




LITERATURA CONSULTADA – consulte o autor


As seguintes colocações podem ser inferidas, via Tabelas 3 e 4:
Preços atrativos para o produtor estariam induzindo tratos culturais mais cuidadosos, com maior aplicação de insumos. Por exemplo, no ano 1995, onde o preço médio da saca 60kg foi de US$ 20,99, a demanda relativa foi de 2,275 toneladas de fertilizantes por hectare e o consumo total brasileiro foi de 405 mil toneladas na cultura da batata. Neste ano, na média, a relação de troca foi favorável ao bataticultor que trocou 7,3 sacas de 60kg na aquisição de uma tonelada de adubo, diferentemente do que ocorreu em 1999 (menor preço recebido pelo bataticultor na vigência do Plano Real) cujo preço médio de US$10,23 requereu 13,2 sacas para adquirir a mesma tonelada de fertilizante. Em 1999, na média, a demanda relativa se retrai para 1,822 t/hectare (Tabela 2) e o consumo total brasileiro de fertilizantes destinado a bataticultura cai para 317 mil toneladas (Tabela 1).
Geralmente, a melhor relação de troca para o produtor está associada a uma evolução no preço recebido pela saca de batata, mas pode ser acompanhada também por um decréscimo no preço pago pelos insumos. É o caso de 1998, onde o bataticultor recebeu o melhor preço (US$ 21,07) no horizonte analisado, acompanhado por queda no preço médio de fertilizante que foi de US$ 151,89/ t, quando em 1996 fora de US$ 173,42/t e, em 1997, de US$ 166,97/t. Para 1998, foram necessárias 7,2 sacas para adquirir uma tonelada de fertilizante, quase duplicando em 1999 (13,2 sc), quando os preços médios da saca caíram praticamente à metade (US$ 10,23), mesmo havendo queda no preço do fertilizante (US$ 135,36/t).
A partir de 1999, a situação se torna mais confortável para o bataticultor, pois o preço médio recebido pelo produtor se eleva (US$ 10,23/sc em 1999, US$ 12,36/sc em 2000 e US$ 14,60/sc em 2001) permitindo relação de troca mais favorável ao produtor (de 13,20 sacas para comprar uma tonelada de adubo em 1999 se retrai para 9,20 sacas em 2001), aumentando a demanda relativa (2,811 t/ha) e o consumo total brasileiro de fertilizantes para a bataticultura (447 mil toneladas) em 2001.
Há indicações que o setor do “antes da porteira” fica “torcendo” por bons preços para o bataticultor, pois tanto a demanda relativa (quantidade consumida de fertilizantes por hectare) como a demanda derivada (relação de troca) vem sinalizando maior demanda por fertilizantes quando o fluxo de caixa do produtor é favorecido por preços atrativos pela saca vendida.





 

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