Gustavo Furman2, Carlos Alberto Scotti 3& Maurício César Iung 3
1 Trabalho de conclusão do Curso de Agronomia, PUC/PR, ano 2005, do primeiro autor.
2 Engenheiro Agrônomo, São Mateus do Sul/PR
3 Professores do Curso de Agronomia – Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, PUC/PR, São José dos Pinhais/PR
babo4227@terra.com.br
RESUMO
Com o objetivo de avaliar a eficácia do ácido giberélico e do bissulfureto de carbono na quebra de dormência em tubérculos de batata-semente, foi conduzido um experimento com as cultivares Ãgata e Cupido. Foram utilizadas três doses de bissulfureto de carbono (10,20 e 30cc/m³), e concentrações de 0 e 5 ppm de ácido giberélico.
Foram avaliados o número médio de brotos/ tubérculo (NBT) e o índice de velocidade de brotação (IVB). Os resultados evidenciaram que as cultivares reagiram de forma semelhante à aplicação dos produtos. O bissulfureto de carbono foi eficiente na quebra de dormência, sendo que doses de 30cc/m³ proporcionaram maiores valores de IVB, e estatisticamente superiores à menor dose testada (10cc/m). Não houve efeito dos tratamentos com ácido giberélico.
Palavras-chave: Solanum tuberosum, batata-semente, dormência
INTRODUÇÃO
A batata (Solanum tuberosum) é a mais importante olerácea cultivada no Brasil, com área plantada em 2004 de 138.612ha e produção de 2.892t. (EMBRAPA, 2005). A batata é uma fonte cada vez mais importante de alimento, de emprego rural e de ingressos financeiros, podendo contribuir para a alimentação e a estabilização social do meio rural, principalmente nos países em desenvolvimento. É a quarta cultura na ordem de importância no mundo, depois do trigo, do arroz e do milho, um dos principais alimentos da humanidade, sendo cultivada em mais de 125 países e consumida por mais de um bilhão de pessoas (PEREIRA & DANIELS, 2003).
Apesar de ser uma planta autógama e produzindo frutos e sementes botânicas, a forma mais usual de multiplicação é através do tubérculo. O tubérculo é um caule modificado como estrutura de rmazenamento e reprodução. O tubérculo é um alargamento do estolão, que por sua vez é um broto que, na ausência de luz, deixa de ser hastes e folhas, para se tornar estolão e que na presença de termoperiodicidade começa a acumular amido, tornando-se tubérculo. O entendimento da fisiologia destas partes da planta é importante para obter um manejo agronômico, capaz de um aumento de produtividade da lavoura de batata consumo ou batata semente (HIRANO, 2000).
Dentre os insumos que mais pesam no custo de produção da batata, o item batata-semente representa ao redor de 30% do total (PEREIRA & DANIELS, 2003). Deste modo, a correta utilização dos promotores da brotação, em concentrações apropriadas às diferentes cultivares, poderá levar a quebra de dormência e ao estímulo para a brotação de maior número de gemas em batata-semente. Isso possibilitará a formação de maior quantidade de ramos quando implantada a lavoura, fator este fundamental para a maior produção de fotoassimilados e, consequentemente, maior número e tamanho dos tubérculos comercialmente desejáveis.
Dos fatores que qualificam um tubérculo-semente de batata, a brotação rápida, uniforme e sadia constitui característica preferencial. Sabe-se que a brotação constitui uma resposta fisiológica do tubérculo a estímulos internos e externos, característicos de cada cultivar (ZUFFELLATO-RIBAS, 2000). No entanto, os tubérculos de batata, imediatamente após a colheita, não iniciam o processo de brotação, mesmo quando colocados em condições ideais, devido à uma condição endógena denominada dormência, regulada pelo balanço hormonal entre promotores e inibidores do crescimento (HEMBERG, 1985).
O período de dormência tem início na fase de tuberização. Assim, o dia da colheita não conta – o que importa mesmo é a data da tuberização. Por isso, os tubérculos menores, aparentemente, têm dormência maior do que os maiores, pois a tuberização se deu em fase posterior. Entretanto, este período de dormência pode ser influenciado ou alterado em parte por alguns fatores. São eles: alta temperatura e baixa umidade do ar no armazenamento, alta temperatura na época da tuberização, ataque de patógenos e pragas, bem como a aplicação de certos produtos químicos (PEREIRA & DANIELS, 2003).
Apesar da dormência ser vantajosa para o armazenamento os tubérculos (PÓGI & BRINHOLI, 1995), a quebra de dormência é necessária em programas de melhoramento genético, na multiplicação de tubérculos livres de patógenos e em regiões onde a batata é cultivada em duas safras anuais, pois o tempo entre a colheita e o próximo plantio é insuficiente para o rompimento natural da dormência dos tubérculos. O plantio de tubérculos dormentes retarda a emergência e resulta em estande desuniforme, o que dificulta os tratos culturais e reduz o rendimento em relação ao potencial da cultivar (SCHOLTE, 1990).
Vários métodos têm sido utilizados para reduzir o período de dormência dos tubérculos. O ácido giberélico promove o aumento do nível endógeno de giberelinas, resultando na quebra de dormência dos tubérculos (RABIE et al.,1992). O ácido giberélico, associado ao abafamento, estimula a brotação dos tubérculos, devido ao aumento da temperatura, diminuição da concentração de oxigênio e aumento da concentração de gás carbônico (SCHOLTE, 1990). A aplicação de ácido giberélico por aspersão nos tubérculos logo após a colheita acelerou a brotação, aumentou o número de hastes e o rendimento de tubérculos (BISOGNIN et al., 1998).
O abafamento dos tubérculos, com o uso de bissulfureto de carbono, também tem sido eficiente, devendo-se tomar cuidados especiais com a dose e o tempo de aplicação para cada cultivar, já que, em algumas situações, especialmente em doses muito altas, pode ocasionar o apodrecimento dos tubérculos (BEUKEMA & VAN DER ZAAG, 1979).
A Embrapa-negócios Tecnológicos (1999/2000) recomenda o ácido giberélico e o bissulfureto de carbono para o tratamento químico de tubérculos- semente de algumas cultivares de batata, em doses variando de 2 a 10 ppm para o ácido giberélico, e 15 a 30 cc/m3 conforme a sensibilidade e resposta do material.
Embora apresente certa eficiência na quebra de dormência de gemas de tubérculos de batata, em alguns casos e em função da dose, do tempo de tratamento e da sensibilidade da cultivar, o bissulfureto de carbono pode também apresentar alguns inconvenientes como alongamento de hastes, atraso na tuberização, mudanças no formato dos tubérculos, brotação insuficiente ou queima de brotos (TIMM et al., 1962)
Desta forma, pretendeu-se, com este trabalho, determinar as doses corretas do bissulfureto de carbono e ácido giberélico para a quebra de dormência e forçamento da brotação de alguns cultivares de batata de importância econômica.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em Fazenda particular no município de São Mateus do Sul – PR, nos meses abril a outubro de 2005. O município de São Mateus do Sul está localizado na região sul do Paraná. O clima é subtropical úmido, com chuvas uniformes no ano e temperatura média de 18 a 20 0C.
Foram utilizados tubérculos-semente do tipo II (40 – 50mm) das cultivares Ãgata e Cupido, produzidas na propriedade, na safra das secas.
Buscou-se simular condições de um armazém/depósito destinado a batata-semente, no período que transcorre da colheita do produto no campo (após a seleção, preparo e classificação) e o novo plantio.
Para cada cultivar foram utilizadas doses de 10, 20 e 30 cc/m³ de bissulfureto de carbono para quebra de dormência, e concentrações de 0 e 5ppm de ácido giberélico para estimular a brotação.
A dose zero de bissulfureto de carbono não foi utilizada, pois tem sido verificado que os tratamentos convencionais a base de bissulfureto de carbono são comprovadamente mais eficientes que a mesma (REGHIM, 1982).
Foram testados 2 cultivares, 2 concentrações de ácido giberélico e 3 doses de bissulfureto de carbono. O delineamento experimental utilizado foi o de Blocos ao Acaso, com quatro repetições, totalizando 48 parcelas. Foram utilizados 5 tubérculos por parcela, totalizando 120 tubérculos de cada variedade.
Para o tratamento com bissulfureto de carbono, os tubérculos-semente de cada cultivar, foram colocados em três sacos de polietileno com 40 tubérculos em cada saco. Cada saco recebeu um tratamento diferente de bissulfureto de carbono, simulando uma estufa hermeticamente fechada.
Foram constituídos 3 blocos, um para cada dosagem de bissulfureto de carbono. O volume de cada bloco, em metros cúbicos, foi considerado para o cálculo da dosagem de bissulfureto de carbono. A temperatura dentro do bloco foi superior a 22°C, favorecendo a vaporização do líquido. A lona foi fechada imediatamente para evitar o escapamento do gás. Os tubérculos-semente foram mantidos sob lona plástica por 72 horas. Após a retirada da lona, as embalagens de cada cultivar foram divididas em duas partes. Uma parte foi tratada com ácido giberélico, com uma concentração de 5ppm. Estes tubérculos-semente foram imersos por 10 segundos num balde com solução do produto comercial (PROGIBB ®), e em seguida, mantidos sobre papel toalha por 15min em local ventilado e à sombra para secagem. A outra parte, não tratada, constituiu o tratamento testemunha para o produto, conforme a Tabela 1.
Para facilitar as avaliações, foi utilizado um quadro de madeira medindo 50x50cm, onde foram colocados pregos para fixar os tubérculos-semente. Foi utilizado um quadro por repetição e estes quadros foram distribuídos ao acaso, conforme sorteio. Procedeu-se a avaliação do número de brotos/tubérculo (NBT) e do índice de velocidade de brotação (IVB). O NBT se refere à média do número de brotos nos tubérculos de cada tratamento e o IVB consistiu da somatória do número de brotos em cada avaliação dividido pelo tempo (número de dias) para a avaliação, adaptado de MAGUIRE (1962), conforme detalhado a seguir: IVB= N1/D1 + N2/D2 + …. Nn/Dn, onde N1, N2, Nn = número de brotos observados na primeira, segunda e ultima contagem, respectivamente. D1, D2, Dn = número de dias decorridos dos tratamentos até a primeira, segunda e ultima contagem, respectivamente.
As avaliações foram realizadas com intervalos de 5 dias, até que os valores coletados se estabilizassem e/ou os tubérculos atingirem o estágio de senescência (brotos finos e alongados), indicando esgotamento dos mesmos e sua inadequação ao plantio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As contagens de número de brotos se estabilizaram ao redor do 30° dia, na maioria dos tratamentos.
Nas duas características avaliadas a Análise da Variância revelou valores de F altamente significativos.
A aplicação do teste de Tukey na comparação de médias (Tabela 2) evidenciou que na cultivar Cupido e na presença do ácido giberélico, o bissulfureto estimulou o NBT e o IVB; na ausência do ácido giberélico, o bissulfureto de carbono não afetou o número de brotos.
Este tipo de resposta em relação ao aumento da dose de bissulfureto de carbono, já era esperado uma vez que já são conhecidos os efeitos das substâncias químicas utilizadas para a quebra de dormência de tubérculos de batata. (DANIELS, 1980)
Um dos pontos fundamentais no sucesso da utilização dessa substância é a penetração do composto no tubérculo, uma vez que os tubérculos estão dormentes, com a taxa de atividade metabólica e respiratória muito baixa. Com isso, as trocas gasosas entre o tubérculo e o meio ficam reduzidas a quase zero, o que impede a difusão ou entrada do bissulfureto de carbono no interior do tubérculo. A eficiência do produto só é conseguida em pedaços cortados ou em tubérculos com a película danificada (BEUKEMA E ZAAG, 1979).
Já na avaliação do IVB, foram observadas diferenças entre as doses extremas de bissulfureto de carbono: doses maiores foram superiores à dose menor, sendo que a dose intermediária não diferiu das demais.
CONCLUSÕES
Os dados obtidos no presente trabalho permitiram observar que:
a) O tratamento à base de bissulfureto de carbono foi eficiente na quebra de dormência de tubérculos-semente, devendo ser ajustadas doses para cada cultivar;
b) As cultivares Ãgata e Cupido reagiram de forma semelhante à aplicação dos produtos. Não houve efeito dos tratamentos com ácido giberélico;
c) Com relação ao bissulfureto de carbono, as doses de 30cc/m³, proporcionaram maiores valores de IVB, e estatisticamente superiores à menor dose testada (10cc/m³);
Tabela 2- Número médio de brotos (NBT) e Índice de Velocidade de Brotação (IVB) em tubérculos tratados ou não com Ãcido Giberélico (GIB) e com três doses de Bissulfureto de Carbono (BC) em duas cultivares de batata. Médias de 4 repetições. S. José dos Pinhais, PR 2005.
Obs: média(s) nas colunas seguida(s) da(s) mesma(s) letra(s) não diferem entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de probabilidade.
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