Menor incidência e transmissão de doenças e controle rigoroso da nutrição das plantas são as vantagens do cultivo hidropônico
A batata (Solanum tuberosum), conhecida no Brasil como batata inglesa é na verdade originária da região dos Andes, na América, onde vem sendo cultivada a cerca de 7.000 anos. A batata só foi introduzida na Europa no século 16. É uma hortaliça do tipo tubérculo, que são os órgãos comercializáveis e usados como material de propagação. Dada a sua relevância, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) declarou 2008 o Ano Internacional da Batata.
Esta iniciativa teve a função de chamar a atenção da comunidade científica e da população mundial da importância que este alimento apresenta para a humanidade em especial aos pobres e famintos (Pereira, 2008).
Na saúde humana a batata representa um alimento rico em carboidratos (17,6%), além de proteínas, vitaminas (A, B1, B2, C e Niacina) e minerais. O incentivo ao cultivo e as altas produtividades obtidas pelo melhoramento genético da espécie são garantias de um alimento de alta qualidade para muitos povos ao longo das gerações. A produtividade brasileira média
de batata é baixa, em torno de 19 t/ha (Agrianual, 2004). Uma das principais causas dessa baixa produtividade é qualidade
do material propagativo utilizado pelos bataticultores. O tubérculo é o meio de propagação assexual da batata, onde pode ser o responsável pela transmissão de várias doenças viróticas que causam a degenerescência dos cultivos comerciais.
O sucesso de um cultivo agrícola qualquer depende, entre outros fatores, do uso de sementes de qualidade fi tossanitária.
Como o meio de propagação assexual da batateira pode ser responsável pela transmissão de patógenos, a obtenção de batata-semente utilizando meios que garantam sanidade torna-se de grande importãncia na cadeia produtiva. Assim, diversas pesquisas têm sido feitas no Brasil e no mundo com a fi nalidade de produzir minitubérculos em grande escala e com qualidade para plantio. Os custos de produção da batata-consumo ainda são elevados devido ao preço da semente que oscila entre 30 a 50% do custo total. Com isso, novas alternativas para produção de mini-tubérculos são necessárias visando a redução do custo deste insumo. Técnicas da biotecnologia como a cultura de tecidos têm sido usadas para obter plantas isentas de viroses para serem levadas para os locais de produção dos minitubérculos, que osteriormente serão destinados aos campos de produção de batata-semente. Os sistemas atuais de produção dos mini-tubérculos são os canteiros, vasos, bandejas de isopor e o atual sistema de hidroponia. O cultivo hidropônico – que se refere ao cultivo de plantas em água, sem solo – apresenta uma série de vantagens em relação ao sistema tradicional, citando-se menor incidência e transmissão de doenças radiculares e controle rigoroso da nutrição das plantas, pelo uso de soluções nutritivas adequadas às exigências das plantas. Esta técnica de cultivo em solução nutritiva tem mostrado excelentes respostas na produtividade de minitubérculos de batata, como mostram em diversas pesquisas experimentais:
Corrêa et al., (2008), Muller et al., (2007), Medeiros et al., (2002) dentre outros. Pesquisas de Corrêa et al., (2008) mostraram ser possível produzir cerca de 12 a 15 tubérculos pré-básicos por planta, com colheitas escalonadas de 15
em 15 dias. Esta pesquisa comparou os sistemas de produção canteiros, vasos e hidroponia evidenciando que a hidroponia
produz tubérculos sadios, em maior quantidade e com a colheita escalonada, em relação aos canteiros e vasos. Além
disso, o controle fi tossanitário é reduzido na hidroponia, visto que as irrigações são feitas pelas canaletas de cultivo, não
atingindo as folhas. Na Universidade Federal de Lavras, Lavras (MG) foi desenvolvido um projeto fi nanciado pela FAPEMIG onde Corrêa, et al. fi zeram a comparação da taxa de multiplicação de tubérculos das cultivares Monalisa e Ãgata nos sistemas de canteiros, vasos e hidroponia, usando dois tipos de colheitas – única e escalonada (Tabela 1) e Fotos 1, 2, 3, 4 e 5. A equipe chegou a seguinte conclusão:
• Ao contrário dos sistemas tradicionais, apresenta a vantagem de permitir colheitas periódicas de 15 em 15 dias, obtendo-se alta quantidade de tubérculos por planta e por m2; com comprimento médio de 3 a 4 cm, enquadrados na classe III, a mais procurada pelos produtores;
• Permite o fácil acesso aos tubérculos nas canaletas, possibilitando verificar o ponto ideal de colheita; nos canteiros e vasos a colheita escalonada é difi cultada em virtude do estresse causado pela retirada da planta do substrato para a colheita dos tubérculos;
• Os tubérculos obtidos apresentaram-se vigorosos e sem sintomas de patógenos após as colheitas.
• A nutrição das plantas na hidroponia é perfeitamente monitorada de acordo com a exigência nutricional durante todo o ciclo da cultura; nos canteiros e vasos há difi culdade no controle nutricional;
• Os ensaios de brotação mostraram não haver diferenças entre canteiros, vasos e hidroponia. Assim, o sistema hidropônico mostrou- se uma técnica bastante eficiente e promissora na produção de tubérculos pré-básicos de batata, com alta qualidade fitossanitária e dentro dos padrões exigidos pelo mercado.
As pesquisas atuais com hidroponia e batata-semente visam otimizar os protocolos de produção de minitubérculos.
Neste ano de 2008, tido como ano Internacional da Batata, a divulgação da importância desta cultura e das difi culdades
de produção da semente serão um incentivo para as empresas, universidades e pesquisadores, visando melhorar a produção de batata-semente em hidroponia.
Ricardo Monteiro Corrêa
Doutor, Professor do CEFET de Bambuí ( MG)
ricardomonc7@cefetbambui.edu.br
Valdemar Faquin
Doutor, Professor Titular da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras ( MG).
Bolsista do CNPq
José Eduardo Brasil P. Pinto Ph.D Professor Titular da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
César Augusto Brasil P. Pinto
Doutor, Professor Titular da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Érika Soares Reis
Mestre, Professora de Olericultura do CEFET de Bambuí ( MG)
Thiago Leal Alves
Engº Agrônomo, Safra Mineira
Araxá (MG)
LITERATURA CONSULTADA
CORREA, R.M.; PINTO, J.E.B.P.; PINTO, C.A.B.P.; FAQUIN, V.; REIS, E.S.; MONTEIRO, A.B.; DYER W.E. A comparison of
potato seed tuber yields in beds, pots and hydroponic systems. Scientia Horticulturae, v. 116, p. 17-20, 2008.
MEDEIROS, C.A.; ZIEMER, A.H., DANIELS, J.; PEREIRA, A.S. Produção de sementes pré-básicas de batata em sistemas
hidropônicos. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 110-114, 2002.
MULLER, D. R.; BISOGNIN, D. A.; ANDRIOLO, J. L.; DELLAI, J.; COPETTI, F. Produção hidropônica de batata em diferentes
concentrações de solução nutritiva e épocas de cultivo. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.42 n.5, 2007.
PEREIRA, A. S. Batata: fonte de alimento para a humanidade. Horticultura Brasileira. v. 26, n. 1. 2008.
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