João Paulo Bernardes Deleo, responsável pela
coleta de levantamento de dados e análise do
setor bataticultor do CEPEA.
Daiana Braga, auxiliar de pesquisa e
responsável pelo levantamento dos dados,
Margarete Boteon, coordenadora do projeto
Hortifruti Brasil CEPEA/ESALQ.
horcepea@esalq.usp.br
Em julho de 2000, um grupo de dez alunos e pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da ESALQ/ USP empreenderam uma nova etapa de estudos no centro: levantar dados de preços de hortícolas com abrangência nacional. Nessa nova jornada, o produto de estréia foi o de maior valor econômico: a batata.
Com a experiência em levantar dados de preços e informações para outros produtos agrícolas, o grupo Hortifruti adaptou a metodologia do centro, conversando com quem comanda o setor bataticultor, ou seja, produtores, beneficiadores e atacadistas. O início não foi fácil, poucos estavam acostumados a serem abordados para conversar sobre “o mercado”. Hoje, acostumados com nossa conversa diária, cerca de cem colaboradores nos auxiliam na coleta de dados referentes ao mercado. Para que nossas informações cheguem até aqueles que movimentam o setor, foi criada, em 2002, a Hortifruti Brasil. Uma publicação exclusiva para os produtores hortifrutícolas. A revista, além de levar as melhores informações aos agentes desse mercado, trouxe visibilidade às pesquisas do setor bataticultor. Nela não há apenas preços, mas toda a explicação do movimento do mercado e as expectativas para os próximos meses. Até a primeira quinzena de julho, já tínhamos publicado 26 edições da Hortifruti Brasil e coletado cerca de 33 mil registros de preços em diversos níveis de comercialização, como produtor, beneficiador e atacadista.
Os resultados obtidos, até o momento, são positivos, mas não pretendemos parar por aqui. Além de darmos continuidade aos nossos estudos, pretendemos ampliar nossa atuação, abrangendo outros tópicos econômicos como os custos de produção, instrumento fundamental para melhorar a tomada de decisão do bataticultor.
Acompanhando o vai- e- vem da batata, nesses quatro anos, notamos que este é um produto muito sensível às oscilações de oferta e ao comportamento da demanda, principalmente quanto atrelado à situação econômica do País e a restrições no poder aquisitivo dos consumidores. Já os preços apresentam comportamento diferenciado em dois períodos distintos: na safra das águas e da seca/inverno. As adversidades climáticas são fatores típicos para a safra das águas.
Nesse período, costumamos observar o mercado de chuva, no qual existem elevações dos preços em função do desabastecimento momentâneo do tubérculo, devido à dificuldade de colheita ocasionada por precipitações. Entretanto, os que apostam nessa época podem obter boa rentabilidade, principalmente se a anterior foi ruim. Desde 2001, um ano bom, seguido por outro ruim foi bastante típico e esteve atrelado à capitalização dos produtores do Sul de Minas. A safra das secas é uma transição entre a colheita das águas e a de inverno. Neste período, de junho a agosto, o comportamento dos preços médios depende muito das condições climáticas no desenvolvimento do tubérculo, do volume final da safra mineira das águas e do momento da entrada da safra de inverno de Vargem Grande do Sul (SP).
A safra de inverno é caracterizada pela colheita em Vargem Grande do Sul, onde estimam-se que tenham sido plantados neste ano dez mil ha. O plantio de uma elevada área para ser comercializada em um curto período acaba pressionando os preços. O pico de safra dessa região resulta nos menores valores do ano, se observarmos o comportamento médio dos preços nestes quatro anos.
O período mais crítico, desde o início do levantamento do CEPEA, ocorreu entre a safra de inverno de 2003 e a última safra das águas. A partir da segunda quinzena de julho de 2003, devido à entrada da safra de Vargem Grande do Sul, os preços declinaram acentuadamente durante toda a safra de inverno. Além do aumento da área cultivada, a maior participação da Ãgata em Vargem Grande do Sul (quase a metade do plantio correspondia a essa variedade) contribuiu para o aumento da oferta no período. O excesso do produto no mercado, aliado a um dos piores resultados da economia brasileira nos últimos tempos, que fechou o ano com crescimento negativo, gerou sobras e pressionou os preços significativamente.
Este cenário de excedentes prolongou-se durante a safra das águas já que, além da elevada produtividade da agata, o aumento da área cultivada em todas regiões produtoras contribuiu para o aumento da oferta. Atrelado a isso, a demanda retraída permitiu novamente sobras e queda nos preços. A partir de abril desse ano, após o longo período de escuridão, os preços voltaram a se recuperar, contudo, às custas de um volume muito baixo, já que a procura ainda continua fraca.
Por enquanto, a proposta do Cepea é acompanhar os acontecimentos do setor e dar visibilidade ao processo de formação dos preços. Mas, estamos acompanhando dia-a-dia o calendário de oferta das principais regiões produtoras e a situação da economia nacional e mundial. A expectativa é que, sem um aumento no poder de compra do consumidor brasileiro, o setor bataticultor vai depender do comportamento da oferta para registrar bons preços. Além disso, a rentabilidade será melhor para os que conseguem abastecer o mercado em tempos de escassez, como deve ocorrer até setembro, antes da entrada de Vargem Grande do Sul.
Após esse período, nossa expectativa é que o espetáculo do crescimento econômico dê, pelos menos, alguns sinais no bolso do consumidor para que os preços possam ser atrativos e rentáveis para a cadeia. A previsão de crescimento na economia brasileira é de 4% para 2004. Quanto à oferta, a maior parte dos dez mil ha previstos para serem colhidos em Vargem Grande do Sul, é sejam ofertados no final de setembro e durante o mês de outubro. Isto porque, adversidades climáticas durante os meses de abril e maio concentraram o plantio na região durante o mês de junho.
PREÇOS NACIONAIS COLETADOS PELO CEPEA DA BATATA
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