O tubérculo da batata (Solanum tuberosum L.) pode ser atacado no campo por larvas de insetos vulgarmente denominadas de larva-alfinete e larvasarame, que podem ocorrer conjuntamente em determinadas épocas do ano, resultando em tubérculos perfurados superficialmente, sem valor comercial. Se não controladas, essas pragas podem causar grandes prejuízos aos bataticultores, com perda de todo um alto investimento na implantação e condução de lavouras.
Para que os bataticultores possam controlá-las com eficiência e evitar os seus prejuízos, torna-se importante conhecer seus aspectos bioecológicos. Larva-alfinete Diabrotica speciosa (Germ., 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae) Os insetos adultos, também denominados de vaquinhas, são polífagos, ou seja, se alimentam das folhas de um grande número de hospedeiros, como as solanáceas (tomateiro, berinjela, pimentas etc) e leguminosas (feijoeiro, ervilha, feijão-vagem etc.) e muitos outros, como as hortaliças (Figura 1). São facilmente reconhecidos no campo, voando constantemente de planta em planta ou pousando nas extremidades das folhas.
Medem cerca de 5 a 6 mm de comprimento e apresentam coloração geral verde, com manchas amarelas e simétricas nos élitros (asas). Sua coloração verde com manchas amareladas levou-o a ser conhecido como brasileirinho ou patriota. É um inseto muito comum na agricultura brasileira (Figura 2).
A vaquinha ou larva-alfinete apresenta desenvolvimento holometabólico, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulta (Figura 3).
As fêmeas adultas fazem as posturas no solo, junto à base das plantas. Seus ovos são brancos hialinos, diminutos, sem chamarem atenção. Após alguns dias, dos ovos, eclodem (nascem) larvas diminutas, brancas, que se alimentam dos tubérculos perfurando-os superfi- cialmente, como se faz com um alfinete, dai o seu nome vulgar de larva-alfinete. À medida que se alimentam, vão aumentando de tamanho. Antes de passarem à fase de pupa e completamente desenvolvidas, medem até 10 mm de comprimento. São reconhecidas entre outras larvas de espécies afins através de uma placa castanho-escura, localizada na face dorsal do último segmento abdominal (Figura 4 ).
Figura 1
Dano em folha de batata causados pelos adultos da vaquinha ou larvaalfinete Diabrotica speciosa.
Figura 2
Adulto da vaquinha ou larva-alfinete D. speciosa.
Figura 3
Ciclo biológico da vaquinha ou larva-alfiete D. speciosa. Os ovos, larvas e pupas são encontrados no solo, a pouca profundidade.
Figura 4
Detalhe de uma larva denominada larva-alfinete da inseto D. speciosa.
Tanto na fase adulta como na fase larval, principalmente, a larva-alfinete causa danos à batata. Na fase adulta, alimenta-se de folhas, provocando injúrias muitas vezes desprezíveis (Figura 3). Pode requerer controle através da pulverização com um inseticida fosforado, piretróide ou neonicotinóide, como o imidacloprid 700 WG (grânulos dispersíveis em água), na dosagem de 30g/100L de água, se os adultos atacarem a parte aérea logo no início da brotação no campo. Suas larvas, que são vulgarmente denominadas de larvaalfinete ou bicho-alfinete, perfuram os tubérculos, quando ocasionam dano, na maioria das vezes superficial. Os tubérculos “alfinetados” são enormemente depreciados comercialmente (Figura 5).
Torna-se importante informar aos bataticultores e técnicos envolvidos na cultura da batata que as larvas da vaquinha D. speciosa perfuram tubérculos no campo, nos plantios das águas e da seca, independente da ocorrência de adultos do inseto na parte aérea das plantas. Neste caso, os ovos já foram depositados anteriormente no solo por outras fêmeas adultas, no período do ano de maior atividade de adulto (primavera- verão). Assim, os ovos no solo ficam em diapausa, por algum período de tempo, aguardando condições ideais para a eclosão (nascimento) das larvas, que passam a perfurar tubérculos de batata no interior do solo, um de seus alimentos. Em Lavras, na região Sul de Minas, por exemplo, num experimento visando o controle da larva-alfinte no solo, instalado em novembro, pela EPAMIG, recorreu-se ao controle de adultos da larva-alfinete ou vaquinha na parte aérea com um inseticida piretróide, logo após a brotação total das plantas. Esse controle de adultos não infl uiu negativamente na população de larvas do mesmo inseto no solo, larvas essas que perfuraram o tubérculos, já que avaliações realizadas na colheita, resultaram numa alta infestação da larva-alfinete neles, com um grande numero de perfurações por batata colhida, indicando assim a presença de ovos no solo, postos anteriormente. Larvas-arame Conoderus scalaris (Germ., 1824), Agriotes spp. (Coleoptera: Elateridae) As larvas-arame, como acontece com a larva-alfinete, apresentam desenvolvimento holometabólico, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulta.
Os adultos de C. scalaris são besouros e medem de 1 a 1,5 cm de comprimento. Apresentam protórax preto com élitros marrom-avermelhados. Não atacam os tubérculos e se alimentam da parte aérea da batateira.
As fêmeas adultas fazem as posturas no solo. Após alguns dias, dos ovos eclodem (nascem) larvas diminutas, que vão aumentando de tamanho à medida que se alimentam. Podem chegar até 3 cm de comprimento, são achatadas, cor geral amarelo-escura, pouco fl exíveis, daí o seu nome comum de larvas-arame (Figura 6). Somente as larvas são de hábitos subterrâneos, chegam a causar danos perfurando os tubérculos, resultando em orifícios bem maiores do que os causados pela larva alfinete, pelo seu maior diâmetro comparativamente.
Figura 5
Sintomas do ataque da larva-alfinete D. speciosa em um tubérculo de batata que fica “alfinetado”.
Figura 6
Detalhe de uma larva-arame de Conoderus scalaris. As larvas da espécie também perfuram tubérculos de batata.
Figura 7
Sintomas em tubérculos de batata causados pela larva-alfinete (perfurações menores) e larvas-arame (perfurações maiores).
Figura 8
Tubérculos de batata sem ataque das larvas arame e alfinete no plantio de inverno, em Alfenas, Sul de Minas.
Ocorrem conjuntamente no campo (Figuras 7). Após um período de tempo na fase larval, quando se alimenta perfurando tubérculos e comendo raízes em geral, em pupa no solo, quando deixa de alimentar. Após a fase pupal, emerge o adulto. Como acontece com a vaquinha D. speciosa, os adultos das larvas-arame apresentam maior atividade nos meses quentes e chuvosos do ano, na primavera-verão, com temperaturas favoráveis. Os adultos, que se assemelham a pirilampos ou vagalumes, são raramente vistos na folhagem das plantas, sendo comuns em fl ores de plantas daninhas e outros cultivos próximos, sem lhes causar prejuízos. Existem muitas espécies de larvas-arame que ocorrem em batata. Os gêneros mais comuns são Agriotes, Conoderus, Ctenicera e Limonius, sendo que a espécie C. scalaris é a mais citada na literatura brasileira.
Em levantamentos realizados no campo tem sido encontrados várias espécies. Épocas de ocorrência das larvas-alfinete e arame Os adultos da larva-alfinete D. speciosa são encontrados em grande quantidade a partir de dezembro, no verão, os quais atacam inúmeros hospedeiros, dentre eles o feijoeiro, soja, tomateiro, milho etc. Já os adultos das larvasarame são encontrados na mesma época, porém, não causam nenhum prejuízo às plantas. Porém, as larvas desses insetos perfuram os tubérculos de batata nos plantios das águas e da seca, recomendando- se assim o seu controle preventivo, por ocasião do plantio, e para alguns inseticidas, como complemento por ocasião da amontoa.
No plantio de inverno, na região de Alfenas, por exemplo, as larvas arame e alfinete não têm ocorrido, dispensandose assim seu controle (Figura 8).
Nas demais regiões produtoras de batata de inverno, devido a falta de resultados de pesquisa, o controle preventivo das larvas alfinete e arame deve ser realizado de acordo com a experiência dos bataticultores quanto às referidas pragas. Por exemplo, nas regiões bataticultoras de Minas Gerais onde lavouras de batata são implantadas ao final do plantio de inverno, em julho/agosto, o atraso na colheita, prevista para outubro/ novembro, poderá resultar em ataque das larvas alfinete e arame nos tubérculos. Nesse caso, deve ser feito seu controle preventivo. O ideal é não atrasar a colheita no campo, já que as batatas poderão ser perfuradas tardiamente pelas primeiras larvas alfinete e arame eclodidas de ovos. No entanto, de uma maneira geral, essas pragas não ocorrem no plantio de inverno, dispensando- se qualquer controle.
As larvas-arame geralmente atacam e perfuram tubérculos de batata nos plantios das águas e da seca, sendo que o seu controle é o mesmo recomendado para a larva-alfinete. Assim, o controle químico preventivo é único para essas pragas.
Prejuízos causados pelas larvas alfinete e arame
Os tubérculos de batata perfurados pelas larvas alfinete e arame ficam depreciados comercialmente, já que se apresentam feios no aspecto. Os prejuízos são mais acentuados quando as batatas são lavadas.
Controle das larvas alfinete e arame
O Ministério da Agricultura recomenda inúmeros inseticidas para o controle de adultos e larvas das larvasalfinete e arame, que merecem ser discutidos. O controle proporcionado pelos inseticidas sistêmicos granulados convencionais tem deixado a desejar, não devendo ser utilizados. Esses inseticidas já foram muito utilizados pelos bataticultores, com poucos resultados positivos. Além se serem altamente tóxicos aos aplicadores no campo, esses inseticidas, em experimentos realizados pela EPAMIG, se mostraram ineficientes no controle das larvas alfinete e arame, ao serem aplicados no plantio, e outros no plantio e amostra, resultando na colheita de tubérculos perfurados, além de deformados, muito deles embonecados, tubérculos esses depreciados comercialmente. Portanto, os inseticidas à base de carbofuran e forato não devem ser utilizados
pelos bataticultores.
Outro inseticida muito utilizado pelos bataticultores é o clorpirifós etil, em pulverização sobre os tubérculos por ocasião do plantio e antes de cobri-los com terra. Esse inseticida, fosforado, por apresentar um curto período de controle como resultado de seu metabolismo no solo, se apresenta ineficiente no controle das larvas alfinete e arame, que atacam os tubérculos algum tempo após o plantio, ocasião em que o mencionado inseticida perdeu sua eficácia. Para o controle eficiente das larvas alfinete e arame são recomendados os inseticidas à base de fipronil (Regent 800 WG) e thiamethoxam (Actara 250 WG). O Regent 800 WG é recomendado para ser aplicado pulverizado sobre os tubérculos, por ocasião do plantio, com bico leque, na dosagem de 150 g do produto comercial por hectare.
Complementar o controle com o mesmo inseticida, na dosagem 200 g do produto comercial por hectare antes da amontoa, no mesmo modo de aplicação. O Actara 250 WG é recomendado para ser aplicado na dosagem de 600 g do produto comercial por hectare, em pulverização sobre os tubérculos por ocasião do plantio.
Complementar o controle, também antes da amontoa, com o mesmo inseticida na dosagem de 800 g de produto comercial por hectare. Outro inseticida recomendado para o controle das larvas arame e alfinete é o Cruiser (thiamethoxam) 700 WS, em tratamento da batatasemente antes do plantio. Suas dosagens estão contidas na bula que acompanha o produto. Assim, a aplicação desses inseticidas resultará em tubérculos normais no formato e aspecto, sem nenhuma perfuração pelas larvas alfinete e arame.
Finalmente, as larvas alfinete e arame devem ser mais estudadas nos aspectos de ocorrência e danos nas diversas regiões produtoras de batata do Brasil, bem como novos experimentos sobre o seu controle químico nos aspectos de eficiência e economicidade.
Renata Chiarini Monteiro, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), renatathrips@yahoo.com André Luiz Lourenção, Instituto Agronômico (IAC), andre@iac.sp.gov.br Tripes são insetos da ordem Thysanoptera, representada por cerca de 5.000 espécies. Há espécies fitófagas...
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