A batata (Solanum tuberosum) é um dos alimentos mais consumidos no mundo devido à sua composição nutricional, versatilidade gastronômica, adaptações tecnológicas e baixo preço, sendo suplantada apenas pelo trigo, arroz e milho.
No Brasil são produzidas cerca de 2,8 milhões de toneladas de batata por ano (Agrianual 2006) principalmente para mercado fresco, onde a qualidade se traduz quase que unicamente no aspecto da visual. Tamanho e sanidade também são importantes, porém, muitas variedades de alto potencial produtivo e mesmo de uso industrial encontram poucas oportunidades devido as suas características visuais. Devido a esta exigência do mercado há uma grande quantidade de descartes nas benefi ciadoras.
A palavra descarte deriva do verbo descartar, cujo signifi cado é rejeitar, jogar fora após o uso. No caso da bataticultura o descarte é considerado as batatas que após o benefi ciamento não se encaixam nos padrões exigidos pelo mercado.
O beneficiamento se dá em unidades benefi ciadoras, designadas “lavadeiras” ou “lavadoras” que recebem a batata colhida do campo e processam, lavando e classifi cando-as, para serem vendidas a atacadistas ou diretamente a indústria, supermercados ou mercado consumidor. E é nestas benefi ciadoras que os descartes são produzidos.
Os descartes variam muito com local de produção e também época do ano sendo que o ideal para os produtores é ter o mínimo destes. Estas batatas fora do padrão de comércio, muitas vezes são eliminadas de forma indevida, causam poluição, problemas ambientais efi tossanitários, além de interferirem no mercado. A quantidade de descartes varia também dependendo do mercado onde será comercializada a batata. No caso da indústria o descarte é bem menor, pois para ela é importante a quantidade de matéria seca e açucares redutores. O tamanho e sanidade, responsáveis pelo aspecto visual, são de menor importância.
Para maior aproveitamento das batatas, a indústria retira os pedaços danifi cados e re-seleciona as batatas .
Já no caso do mercado fresco o tamanho a sanidade são muitíssimo importante, mas entra outro fator bastante decisivo que é o aspecto de pele, isto ocasiona uma quantidade de descarte muito maior. Para o mercado brasileiro as batatas devem ter, preferencialmente, a pele lisa e brilhante.
Parte desse descarte recebe uma classificação chamada de “diversa”, “primeirinha” são tubérculos com defeitos e de qualidade inferior, que são comercializados com menor valor que as “especiais”, de qualidade melhor. Logo, benefi ciadoras que lavam batata para indústria tem menor quantidade de descartes, em relação as que lavam para o mercado fresco.
Na média, os descartes variam de 5- 10% da produção dependendo do local e época do ano. As regiões em que os descartes são mais críticos, podendo ultrapassar 25% da produção, e durante a safra de verão é quando ocorrem as maiores perdas.
Considerando que a área plantada no Brasil é de 100-120mil ha/ano e a produção média de 20-25ton/ha, são produzidas de 100-300 mil toneladas de descartes somente nas benefi ciadoras. Isto quer dizer que estão sendo plantados de 5-15 mil ha para virar lixo, e ainda considerando que para se produzir um ha de batata é necessário a quantia de R$17 mil, conclui-se que são jogados fora mais de R$ 100 milhões por ano.
Dentre os motivos que causam descartes na bataticultura estão, principalmente, os problemas fitossanitários que provocam danos visuais no produto, seguido por problemas fi siológicos e tamanho.
As principais doenças que hoje afetam o tubérculo causando descarte são a Podridão-Mole (Erwinia spp.), Sarna comum (Streptomyces spp.), Mancha- Asfalto (Rhizoctonia solani) Sarna pulverulenta (Spongospora subterranea), Sarna Prateada (Helminthosporium solani), Podridão aquosa (Pythium spp.), vírus YNTN e alguns nematóides.
Também pragas como a vaquinha ou larva alfi nete(Diabrotica speciosa), larva arame (Conoderus scalaris), lagarta rosca (Agrotis ypsilon) e traça da batata (Phthorimaea operculella). Os problemas fi siológicos são o embonecamento, invaginações e batata verdes, estas fi cam verdes devido a incidência de luz no tubérculo, que sintetiza clorofi la e glicoalcalóides, que podem causar intoxicação. O tamanho de preferência do mercado são batata médias de 80-120g.
Estes descartes, na maioria dos casos, são jogados de forma indevida em lixões e aterros. Há caso de produtores que jogam até em beira de estradas ou fossas no fundo de propriedades Isto é um meio de proliferação e disseminação desses problemas fi tossanitários. Além da poluição ambiental, o processo de apodrecimento gera odores desagradáveis. Por lei, isto pode acarretar multa e punições aos produtores que eliminam estes descartes de forma indevida. Muitos produtores, para cumprirem as exigências legais, gastam para eliminar os descartes ou dão para terceiros.
Quando comercializados, estes descartes “diversas”, por apresentarem um aspecto visual prejudicado, são vendidos por um preço inferior às batatas “especiais”, isto causa um interferência muito grande no mercado. Por serem mais baratas as “diversas” competem com as especiais, derrubando o preço das batatas de melhor qualidade. Além disso, na banca de venda, estas batatas “feias” inibem o consumo por parte das donas de casa, provocando retração do consumo. Se essas batatas fossem retiradas do mercado, os preços das batatas “especiais” poderiam ser maiores. Lei da oferta e da procura. Diminuindo a oferta, os preços tendem a subir. Fenômeno observado constantemente na bataticultura. As batatas mais “bonitas” na banca podem aumentar o consumo.
No conceito de batata para processamento, a pele é de ínfi ma importância. O tamanho e a sanidade são fatores importantes, em alguns casos, mas acima de tudo estão dois aspectos mais relevantes: o teor de matéria seca (teor de sólidos ou peso específi co) e o teor de açúcares redutores (frutose e glucose), que influenciam diretamente no rendimento ou na qualidade do produto fi nal.
Muitas são as formas de processamento de batata ainda pouco exploradas no Brasil. Dentre elas está a produção de fécula, fl ocos, farinhas e produtos extrusados. Vale citar também utilização para alimentação animal e produção de álcool, bioplásticos e outros derivados de emprego industrial. Em muitos destes processamentos é possível também a utilização dos descartes. Esses processos agregam valor à matéria-prima e as indústrias têm a oportunidade de oferecer aos consumidores um produto diferenciado e em muitos casos pré-prontos.
Foi apresentado no XIII Encontro Nacional da Batata, a palestra Aproveitamento dos Descartes de Batata, que tratou um pouco de cada um dos processamentos.
Israel Nardin
Engenheiro Agrônomo
raelnardin@hotmail.com
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