E daria certo para nós?

José Marcos Bernardi
batata@solanex.com.br – 19 3623.2445


Quem nunca ouviu a célebre frase ‘o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil’? Muita gente já ouviu e, mesmo sem saber do que se trata, já franze a testa numa expressão negativa.
Pois bem, o que tem isso com as dificuldades que a bataticultura brasileira está passando?


Tem que, com a globalização, a aproximação é de forma generalizada, ou seja, os problemas dos outros países também são, respeitado as devidas proporções, muito parecidos com os nossos, e eles chegam até nós de carona nas coisas que parecem ser do nosso interesse. Vejamos: Qual é o principal fator causador do insucesso de nossos produtores?
Os baixos preços praticados e a baixa ou nenhuma lucratividade, é a resposta. Não nos preocupemos com as causas. Pois bem, nos Estados Unidos há dois anos os produtores de batata tinham também o mesmíssimo problema. Mas como solucionar o problema dos preços baixos?


1 – Se você pudesse, você aumentaria a demanda, o que, numa situação de oferta constante, faria com que, automaticamente, essa oferta diminuísse e os preços aumentassem seguindo a correnteza da lei da oferta e da procura e sua consequente influência no preço;
É possível? Sim, mas não é simples pois, se aumentar a demanda não é tarefa das mais fáceis. Além de programas estratégicos e intensos de marketing dirigido, projetos legais e governamentais que umentassem o consumo seriam de eficácia para médio e longo prazo, além de muito custosos;


2 – Diminuindo a oferta, o resultado é o mesmo, apenas trocamos uma das variáveis, mas que teria efeito direto no aumento de preço e lucratividade (para a mesma oferta, maior preço = lucro), que é o que interessa para o produtor. No caso dos Estados Unidos, a situação foi muito pior, pois, se chegou a um ponto que, além dos baixos preços, a popularização da batata estava caindo em função das tendências da vida moderna americana como o número de pessoas por residência, a redução de consumo em restaurantes fast food, o aumento da produtividade dos produtores e principalmente a moda da ‘Dieta Atikins’ de redução de carboidratos. Para se ter uma idéia do estrago que uma moda dessas faz, saibam que o consumo de batata nos Estados Unidos vinha crescendo até 2002 em 30 % mais que 1980. Até que, com a dieta do baixo carboidrato em 2002, o consumo caiu em 10 % . Estamos falando de uma redução nos 18 milhões e 500 mil toneladas por ano para a América do Norte. Era necessário fazer algo e urgente.


Apesar dos demais problemas que os americanos encontraram além da redução do consumo ou a criação do NAFTA, que para ‘ajudar’, permitiu a entrada da batata canadense nos EUA, um pequeno grupo de produtores de Idaho, Estado que representa 30 % da produção de todo o País, iniciou um movimento que já se colhe os frutos hoje: a criação do United Potato Growers of América – Bataticultores Unidos da América.


A primeira cooperativa se originou em Idaho com o produtor Albert Wada, que planta nada mais nada menos de 4.860 hectares de batata perto de Black Foot. Ele fundou a United Potato Fresh of Idaho no final de 2003, percebendo que, não foi somente a diminuição do consumo, mas o excesso de batatas oferecido em função da alta produtividade dos produtores, pelo uso de novas técnicas, novas áreas e novas variedades. Vocês vêem alguma semelhança com o caso do Brasil?


Criou-se, então, um sistema para unir os produtores de batata em cada Estado produtor, racionalizando a bataticultura pelo ajustamento da produção ao mercado, da mesma forma que os produtores de leite fizeram com os laticínios.
Basicamente, o funcionamento dependeu, claro, da adesão de todos os Estados que produzem batata e o cumprimento das determinações. Baseado no volume do consumo, o tamanho da área é definido e o cumprimento da redução das áreas é monitorado por foto de satélites e GPS. A intenção é de se atacar em dois flancos: a redução da área plantada e, se ainda assim os preços não subirem, se ataca na quantidade de batata colhida. A área de cada um se baseia no histórico de cada um, constante nos relatórios do Ministério da Agricultura de lá, que funciona. Uma contribuição para um fundo de 40 centavos de dólar (R$ 0,85) por 45 Kg comercializados, também é essencial.


Todo ano no final de fevereiro, inicio de junho e meados de agosto (pra nós acrescentar seis meses às datas) a cooperativa faz um amplo levantamento analisando a oferta e a demanda, levando-se em conta fatores como potencial de produtividade, a demanda projetada do mercado, etc. Se a análise de mercado indicar que a safra projetada será grande demais, a cooperativa se oferecerá pagar para os produtores reduzirem a área. Aos produtores será ofertado plantar culturas alternativas a um preço pré-combinado por hectare.


Para este acordo se levara em conta a distância da propriedade, seu potencial de produtividade, a variedade plantada e, claro, o preço que o produtor aceitará em receber. Chega a um ponto que, na terceira análise, se a produção não for compatível com preços favoráveis no mercado projetado, a cooperativa poderá pedir para os produtores destruírem parte de suas lavouras. Se os preços baixarem depois da colheita, medidas como o controle das cargas são tomadas, até que os preços voltem a um nível razoável.
Com apenas dois anos de existência, a margem de US$ 2,50 por saco de 45 Kg, ano passado foi de 6,70 na safra passada, sendo reduzido uma área de 17.000ha de batata plantada, coisa que não acontecia desde 1866. Na safra passada, com as medidas tomadas, 250 milhões de dólares foram acrescidos ao lucro dos produtores.


Hoje, aquele pequeno grupo de Idaho conseguiu outros Estados produtores associados como Califórnia, Colorado, Idaho, Klamath Basin (Oregon), Oregon, Washington and Wisconsin. A Associação dos Produtores do Canadá, que tem adesão de 96%, foi formada em colaboração com a Cooperativa. A receita fez tanto sucesso que outros países estão em conversação, tais como México, Alemanha e Nova Zelândia.


 

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