EFEITO DE FERTILIZANTES E FUNGICIDAS NA INCIDÊNCIA DA SARNA DA BATATA

Ivan Herman Fischer
(Doutorando ESALQ/USP – Piracicaba/SP)
ihfische@esalq.usp.br
Marise C. Martins
Silvia S.A. Lourenço
Hiroshi Kimati
(ESALQ -USP – Piracicaba, SP)


A sarna comum é uma importante doença da batata, caracterizada pela formação de lesões corticosas nos tubérculos, tanto superficiais quanto profundas (Figura 1). A doença é causada por diferentes espécies e raças de bactérias do gênero Streptomyces, que formam conídios e filamentos, estruturas normalmente encontradas em fungos. A espécie Streptomyces scabies é a mais encontrada causando a doença Lambert & Loria’s, 1989; Faucher et al., 1995), porém levantamentos no Brasil que confirmem essa informação inexistem.


Isolamentos preliminares evidenciaram a ocorrência apenas de S. scabies, causando sintomas de sarna comum profunda, nas condições brasileiras. Segundo Lambert & Loria’s (1989), S. scabies é encontrada em solos secos, neutros a alcalinos, não se desenvolvendo em pH abaixo de 5.


Dentre as medidas de controle recomendadas para S. scabies destacamse o uso de batatas-sementes sadias, a rotação de culturas com gramíneas, a manutenção do pH do solo abaixo de 5,5 e evitar o déficit hídrico durante a tuberização. Entretanto, em algumas regiões do Brasil, a doença vem ocorrendo mesmo com as recomendações preconizadas, o que nos leva a suspeitar da existência de estirpes e espécies de Streptomyces mais adaptadas a acidez e a maior umidade do solo. Aliado ao manejo da calagem, resultados satisfatórios de controle da sarna comum vêm sendo obtidos com o emprego de fertilizantes que promovem redução do pH do solo, como uréia e sulfatos de amônio, de manganês ou de alumínio (Saha et al., 1997; Yoshida et al., 1997; Sturz et al., 2004). Embora o tratamento químico seja algumas vezes preconizado, não há nenhum produto que promova um controle adequado da sarna comum. Os tratamentos das batatas-sementes infectadas com os fungicidas fluazinam, flusulfamide, fenpiclonil, quintozene e mancozeb reduziram a intensidade da sarna comum nos tubérculos filhos (Wilson et al., 1999; Afek & Orenstein, 2002), porém nenhum controle foi observado quando os tubérculos tratados foram plantados em solo com histórico da doença, evidenciando assim a importância do inóculo presente no solo na epidemiologia da doença. As cultivares de batata mais plantadas no Brasil não foram ainda devidamente avaliadas quanto a reação à sarna comum, mas observase, em campos de produção, que a maioria tem-se mostrado suscetível, com destaque para a ‘Monalisa’.


Em estudos desenvolvidos em 2003, no laboratório e na área experimental do Setor de Fitopatologia da ESALQ-USP, foram avaliados 15 fungicidas (captan, carbendazim, chlorothalonil, fluazinam, iprodione, kazugamycina, mancozeb, oxicloreto de cobre, pencycuron, procimidone, quintozene,tebuconazole, thiram+vitavax e tiofanato metílico), ácido bórico e sulfato de amônia quanto à inibição do crescimento in vitro (meio de cultura ágar-água) de três estirpes de S. scabies causadoras da sarna comum profunda em tubérculos provenientes de Piedade, São Miguel Arcanjo e Casa Branca, SP.


Em função dos resultados obtidos in vitro a 1 e 10 ppm de ingrediente ativo (i.a.), foram escolhidos os produtos fluazinam, chlorothalonil e oxicloreto de cobre para a realização dos experimentos in vivo, em sacos plásticos contendo 5 kg de solo infestado com S. scabies. Estudou-se também o efeito da adubação com sulfato de amônia e gesso. Os fungicidas foram pulverizados e aplicados em tratamento de tubérculo-semente, de cova e cova + amontoa. O sulfato de amônia (N 20% – S 23%) foi aplicado no plantio e no plantio + amontoa e o gesso agrícola (Ca0 32% – S 18%) apenas no plantio. Após 90 dias do plantio, avaliouse o pH do solo das parcelas controle e das que receberam sulfatos de amônia e de cálcio. A avaliação da severidade da doença foi realizada após a senescência natural de mais de 50 % das plantas, estimando-se a porcentagem de área do tubérculo doente com o auxílio de uma escala diagramática (James, 1971).




A adubação com sulfato de amônia em solo infestado com S. scabies foi o tratamento que propiciou menor severidade de sarna comum, quando comparado aos demais (Tabela 1). Dez gramas de sulfato de amônia por vaso incorporado ao solo no plantio foi o tratamento que mais controlou a doença com 9,8 e 1,8% de severidade, nos dois experimentos, respectivamente. Gesso incorporado ao solo, no plantio, apresentou resultado intermediário de controle, inferior a sulfato de amônia e superior aos fungicidas. Os fungicidas pouco diferiram entre si, apresentando baixa eficiência no controle da sarna comum, embora fluazinam tenha apresentado menor índice de doença no primeiro experimento. De maneira geral, os fungicidas quando aplicados no solo e na dosagem maior propiciaram uma leve redução na intensidade de sarna comum.


O pH médio dos solos nos tratamentos com sulfato de amônia (10 g/planta no plantio, 5 g/planta no plantio + 5 g/planta na amontoa e 5 g/planta no plantio), gesso agrícola e testemunha inoculada foram 5,8; 6,0; 6,1; 6,3 e 6,4, respectivamente. Notou-se uma relação direta do abaixamento do pH do solo com a aplicação de sulfato de amônia e os menores índices de sarna comum, como já observado por Saha et al. (1997), Yoshida et al. (1997), Park et al. (2002) e Sturz et al. (2004). Os fertilizantes sulfato de amônia e ácido bórico não reduziram o crescimento dos isolados de S. scabies in vitro mesmo a 100 ppm de i.a. Segundo Sturz et al. (2004) a acidificação do solo com sulfatos estimula o desenvolvimento de rizobactérias antagônicas (antibiose) a S. scabies, como as do gênero Bacillus e Pseudomonas. Não se observou diferença estatística de produção entre os tratamentos nos dois experimentos.


Referência Bibliográficas – consulte os autores

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