Entomologia-Lagarta falsa-medideira da soja: provavelmente será uma nova praga na cultura da batata

Júlio César de Souza, Bolsista Fapemig


Paulo Rebelles Reis, Bolsista do CNPq


Rogério Antônio Silva, Bolsista Fapemig


Lenira Viana Costa Santa-Cecília, Bolsista Fapemig


William Resende Alexandre Júnior, Bolsista Fapemig


Pesquisadores da Epamig Sul de Minas


ctsm@epamig.ufla.br


 


Introdução 


O objetivo desta publicação é o de alertar os bataticultores sobre a ocorrência da lagarta falsa-medideira, Pseudoplusia includens Walker, 1859 (Lepidoptera: Noctuidae), em lavouras de batata, em altas infestações, nas regiões do Alto Paranaíba e Sul de Minas, infestações essas que devem ser controladas, para evitar prejuízos. A lagarta falsa-medideira P. includens é uma importante praga na cultura da soja Glycine max (L.) Merr. (Fig. 1). Faz parte do grupo de lagartas-das-folhas ou desfolhadoras que atacam essa leguminosa, sendo a espécie predominante no Estado de São Paulo. Apresentam outros hospedeiros além da soja (preferencial), o amendoim, batata-doce, algodoeiro, crucíferas, tomateiro, fumo, feijoeiro e girassol. A partir de 2007, e pela primeira vez, tem ocorrido em batata, em Minas Gerais.  


 


Características e comportamento dos adultos 


Os adultos (mariposas) de P. includens medem 35 mm de envergadura. Possuem asas de coloração marrom brilhante, sendo que o par anterior apresenta um pequeno desenho prateado em cada asa, aproximadamente no seu terço distal (Fig. 2). Apresentam hábitos noturnos, ou seja, só voam à noite onde exercem atividades como acasalamento (cópula) e ovipostura. Os adultos apresentam aparato bucal sugador-maxilar em forma de espirotromba e pouco se alimentam, já que vivem poucos dias, 15, aproximadamente. A função dos adultos é só reprodutiva, para garantir a perpetuação da espécie. Durante o dia, para fugirem da luz, buscam abrigo e se escondem no interior da folhagem das próprias plantas hospedeiras e de outras também, adjacentes. A migração noturna de adultos voando de uma lavoura a outra, numa mesma região ou de uma região para a outra e a procura de hospedeiros são orientadas pela radiação infravermelha emitida pelos vegetais à noite. Assim, se a mariposa fêmea que está voando a grandes altitudes responder positivamente ao comprimento das ondas infravermelhas emitidas por um determinado vegetal, se aproxima dele, pousa e oviposita, tudo controlado por estímulos emitidos pelo vegetal. Por outro lado, se um determinado vegetal não é hospedeiro da lagarta falsa-medideira como a laranjeira, por exemplo, a mariposa fêmea não responde aos comprimentos de ondas infravermelhas por ela emitidas e continua o seu vôo, à procura de outros hospedeiros. O mesmo acontece com qualquer lepidóptero de hábitos noturnos, denominado de mariposa. Torna-se importante afi rmar que o inseto é um animal invertebrado dotado de grande capacidade de busca de seu (s) hospedeiro(s), já que adultos de algumas de suas Ordens, como a Lepidoptera e Coleoptera, enxergam na faixa do infravermelho, o que não acontece com o homem, que no espectro eletromagnético só enxerga na faixa da luz visível.  


 


Ciclo biológico 


Após o acasalamento, a fêmea já fecundada procura ovipositar (colocar ovos). Os ovos são colocados na face inferior das folhas, sendo pequenos e esbranquiçados, daí passarem despercebidos. Após a fase de ovo ou embrionária, que dura aproximadamente 7 dias, eclodem diminutas lagartas, de 5,0 mm, de coloração verde e com listras longitudinais brancas no dorso, podendo apresentar pequenos pontos escuros no corpo. Apresentam três pares de pernas torácicas e três abdominais (Fig. 3). Os três pares de pernas abdominais proporcionam o seu deslocamento peculiar quando aproxima a parte de trás com a parte da frente do corpo. Com este movimento forma-se um arco, lembrando o ato de medir palmo, daí o seu nome vulgar (Fig. 4). Na realidade as lagartas são falsas-medideiras, por pertencerem à família Noctuidae, e não Geometridae das verdadeiras lagartas mede-palmos, que apresentam apenas dois pares de pernas abdominais, os dois últimos, e três torácicas. As lagartas, após sua eclosão, passam a se alimentar das folhas das plantas. À medida em que se alimentam e os dias passam, as lagartas vão aumentando de tamanho, pelas mudas de pele (ecdises). Assim, durante a fase de lagarta que pode durar 30 a 35 dias, ocorrem seis estádios. Completamente desenvolvidas as lagartas chegam a medir 65 mm, sendo que cada uma pode consumir até 200 cm2 de área foliar (Fig. 5). São muito vorazes, deixando apenas as nervuras das folhas (Fig. 6). Terminada a fase de lagarta, se transformam em pupa ou crisálida, encerrada em casulo de seda, em folhas caídas ao chão e na face inferior de folhas de plantas que podem ocorrer em lavouras de batata mais ao fi nal do ciclo da cultura, como a corda-de-viola e o joá-de-capote, no Sul de Minas (Fig. 7). A fase de crisálida dura, aproximadamente, 15 dias. Após a fase de crisálida, emerge o adulto, com função reprodutiva.  


 


Comportamento em hospedeiros não-preferenciais 


Nos hospedeiros não-preferenciais, seu comportamento pode mudar por completo. Em tomateiro, por exemplo, planta da família Solanaceae, a P. includens pode ocorrer esporadicamente, com a presença de uma ou outra lagarta por planta, já que são muito parasitadas por microhimenópteros nessa cultura, e morrem, sem causar prejuízos, sem evolução de sua população e sem necessitar de controle químico. Em outros hospedeiros, pode ocorrer esporadicamente, em grandes ou pequenas infestações, necessitando ou não de controle. Na cultura da batata, nenhuma literatura menciona ataque de lagartas P. includens às plantas. Entretanto, a partir de 2007, tem ocorrido altas infestações dessa praga da soja em batata, infestações essas que poderão se prolongar por muito tempo, tornando-se uma nova praga nessa cultura, ou deixar de atacá-la, já que na natureza, onde muitos aspectos bioecológicos fogem ao controle do homem, tudo pode acontecer. Não se trata de desequilíbrio causado pelo homem, mas natural. Assim, as atuais infestações da lagarta falsa-medideira em batata, que tem assustado os bataticultores, poderão simplesmente desaparecer com o passar do tempo ou permanecer. Só o tempo dirá. O mais importante é o bataticultor se conscientizar da importância do monitoramento das pragas da batata, agora com a presença da P. includens, nas épocas de plantio durante o ano em cada região produtora, pragas essas já estudadas pela EPAMIG e com recomendações de controle da pesquisa, já em uso pelos bataticultores.  


 


Ocorrência em Minas Gerais 


Na região bataticultora do Alto Paranaíba, onde se destacam os municípios produtores de Ibiá, São Gotardo, Araxá, Santa Juliana e Perdizes, a lagarta falsa- medideira ocorreu pela primeira vez em maio de 2007, em muitas lavouras. Como os bataticultores a desconheciam e como ela é muito voraz e o número de lagartas nas lavouras é muito grande, seu ataque só foi detectado através dos sintomas de destruição, ou seja, plantas totalmente desfolhadas, só restando as nervuras das folhas. Através de informações de técnicos e produtores, as infestações dessa praga persistiram, sendo que em 2008 atacou lavouras de batata o ano todo, em altas infestações, principalmente no período seco. Naquela região, onde se cultiva a soja, feijoeiro e batata, com disponibilidade de hospedeiros durante todo o ano, inclusive no período seco, o inseto, através de seus adultos que são lá encontrados em quantidades incontáveis, migram de uma lavoura para outra, onde pousam e ovipositam, numa população sempre crescente, o que resulta num controle difícil, caro e pouco efi ciente, mesmo que se utilizem os melhores inseticidas hoje disponíveis no mercado. Ainda, como as lagartas são encontradas inicialmente mais nas folhas da metade inferior das plantas de batata e pela sua densa área foliar, fi cam menos expostas aos inseticidas aplicados. Na região bataticultora do Sul de Minas, a lagarta falsa-medideira ocorreu pela primeira vez em março/abril de 2007, no plantio da seca (fevereiro a abril), tendo infestado muitas lavouras no município de Turvolândia e outros, tendo requerido controle químico. No mesmo ano, pouco atacou no plantio de inverno, o mesmo acontecendo no plantio das águas. Já em 2008, a lagarta falsa- medideira praticamente não atacou lavouras nos plantios da seca; no plantio de inverno, foi constatada sua infestação em algumas lavouras de batata no mês de outubro, com os plantios já tendendo para completar o seu ciclo, sendo necessário controle químico, como em uma lavoura no município de Santa Rita do Sapucaí. Assim, para as condições do Sul de Minas, onde praticamente não se cultiva a soja e somente lavouras brancas na safra de verão, portanto com pouca disponibilidade de hospedeiros em grande parte do ano, a lagarta falsa-medideira atacará poucas lavouras nessa região, principalmente nos plantios da seca e de inverno. Ao contrário, na região produtora do Alto Paranaíba, onde se cultiva batata e o feijoeiro o ano todo, e também a soja na safra de verão, as infestações da lagarta falsa-medideira têm sido altíssimas, com gerações sobrepostas numa mesma lavoura. Isso acontece e acontecerá pela grande disponibilidade de hospedeiros (soja, feijoeiro e batata), sendo que seus adultos, à noite, voam e migram de uma lavoura para outra, por exemplo, da soja para a batata, ou da batata para o feijoeiro e vice-versa, requerendo rigoroso monitoramento nessas culturas a fi m de controlá-la quimicamente, com inseticidas em pulverização, para evitar prejuízos na produtividade (número, tamanho e peso dos tubérculos). Enfi m, a lagarta falsa-medideira vem atacando lavouras de batata desde 2007, com qualquer variedade, seja Ãgata, Asterix ou outra qualquer. Ainda, essa ocorrência em batata é natural acontecer como acontece com outras pragas em outras culturas, tampouco é um desequilíbrio causado pelo homem, como os leigos no assunto atribuem a esses fatos. Enfi m, jamais a pesquisa saberá o porquê desse ataque da lagarta falsa-medideira em batata. A realidade é a de que essa lagarta vem ocorrendo em batata, precisa ser monitorada pelos produtores para ser controlada com efi ciência.  


 


Prejuízos 


A batata Solanum tuberosum passa por 5 estádios ou fases fenológicas: estádio I – período entre o plantio e a emergência das plantas (10 dias); estádio II – período de desenvolvimento de estruturas diferenciadas, denominadas de estólons (20 dias); estádio III – tuberização – formação de tubérculos; estádio IV – crescimento dos tubérculos e estádio V – maturação dos tubérculos. Assim, com exceção do estádio I, em qualquer outro estádio resultará em prejuízos se lagartas da falsa-medideira comerem folhas, dependendo logicamente da intensidade da infestação, ou seja, do número delas por planta e, consequentemente, dos estragos causados. Como a viabilidade os ovos é próxima de 100%, e como a mariposa fêmea põe uma grande quantidade de ovos e da praticamente ausência natural de inimigos naturais, suas infestações são sempre destruidoras e causadoras de prejuízos, em qualquer estádio ou fase fenológica da batata, daí a importância de realizar o seu controle, químico, quando ocorrer, em qualquer estádio após a emergência das plantas.  


 


Monitoramento e Controle 


O único método de controle para a lagarta falsa-medideira na cultura da batata é o químico, através da aplicação de inseticidas em pulverização, visando matá-las por contato e ingestão. É uma praga de difícil controle pela maioria dos inseticidas. Como se trata de uma praga de ocorrência recente em batata, ainda não foi determinado o nível de desfolhamento para os quatro últimos estádios fenológicos da planta, como existe para a soja e feijoeiro, para se decidir pelo controle químico. Assim, como se trata de uma praga voraz, com grande número de lagartas comendo folhas das plantas na lavoura, o seu controle químico é realizado simplesmente pela sua presença, na parte aérea das plantas, presença essa que precisa ser constatada quando as lagartas estão ainda pequenas, nos dois primeiros instares, onde ainda comem pouco pelo seu tamanho e são mais fáceis de serem mortas pelos inseticidas aplicados. Assim, torna-se importantíssimo o produtor monitorar com a sua mão-de-obra toda a lavoura, duas vezes por semana, buscando-se constatar a presença de lagartas falsasmedideiras nas folhas das plantas. Como as lagartas apresentam coloração verde, muitas vezes passam despercebidas ao se confundirem com a cor verde das folhas, daí a necessidade de muita observação nas plantas, de baixo para cima. Ainda, a presença de fezes em folhas abaixo do seu local de ataque ajuda a indicar sua presença (Fig. 5). Pode-se usar pano de batida, como para a soja e feijoeiro. Uma vez constatado o ataque da lagarta falsa-medideira, realizar o controle químico através da aplicação de inseticidas em pulverização. Para a lagarta falsa-medideira, na cultura da batata, como se trata de uma praga de recente ocorrência, já mencionada anteriormente, não existem inseticidas registrados para o seu controle. Nas culturas da soja e feijoeiro, como se tratava até então de uma praga pouco importante, praticamente só existem registrados alguns inseticidas piretróides para o seu controle. Atualmente, é uma praga importante nessas duas culturas, principalmente na cultura da soja. Como os produtores de batata não podem sofrer prejuízos pela lagarta falsa-medideira em suas lavouras, recomenda-se extrapolar o uso de inseticidas (de baixa toxicidade) das culturas da soja e feijoeiro para o controle de lagartas desfolhadoras, como aqueles à base de Bacillus thuringiensis e outros. Ainda, como na maioria das regiões produtoras, inseticidas à base de B. thuringiensis não estão disponíveis para pronta entrega, e como geralmente são gastos até 15 dias para adquiri-los, tempo esse muito grande para um ataque da lagarta já instalada na lavoura, recomenda- se deixar um estoque dele para pronto uso, ou seja, que o controle seja iniciado assim que a praga for constatada na lavoura, em seus três primeiros instares, ainda pequenas. Inseticidas à base de B thuringiensis podem ser adquiridos com antecedência, por exemplo, na Biocontrole (http://www.biocontrole. com.br). Como os inseticidas à base de B. thuringiensis atuam por ingestão, devem ser aplicados em alto volume de calda visando cobrir toda a folhagem das plantas. Depois de pulverizados, uma vez as lagartas comendo as folhas contendo os inseticidas, também os ingerirão, sendo que demoram aproximadamente quatro dias para matá-las. O B. thuringiensis atua em nível de aparelho digestivo, destruindo o estômago da lagarta. Recomenda- se aplicá-lo em pulverização em mistura com o inseticida metomil (Lannate) (1,0 L p.c./ha). Poderá haver a necessidade de ser realizada uma segunda pulverização, somente com o metomil (Lannate) (1,0 L p.c./ha). A dosagem do B. thuringiensis está contida na bula, dependendo da concentração de esporos/mL do produto comercial. Em infestação constatada mais tarde na lavoura com lagartas pequenas e grandes, recomenda-se a mistura de Curyom (300 mL p.c./ha), Avaunt 150 SC (indoxacarb) (300 mL p.c./ha) e óleo vegetal emulsionável (1 litro/ha) em uma única pulverização, ou a mistura de Rimon 100 CE (200 mL p.c./ha) com Lannate (1,0 L p.c./ha), em duas pulverizações, a intervalo de 5 dias. Usar espalhante adesivo. Nas pulverizações usar bicos D (cone vazio) e procurar ajustar o pH da calda inseticida para 5,5, utilizando-se um redutor de pH. Geralmente as águas das represas, nas propriedades, utilizadas nas pulverizações apresentam pH 6,5 a 7,0. No caso do produto comercial Redutil, por exemplo, para cada 100 litros de água são necessárias 4,2 g desse produto para reduzir em 1,0 ponto o pH. Para outros produtos, as dosagens estão contidas na bula, anexa à sua embalagem. Finalmente, pode-se afi rmar com toda certeza que os casos de insucesso no controle da lagarta falsa-medideira em batata, em geral, deve-se à defi ciência nas pulverizações. 

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