Entomologia – Pulgões da Batata

1. Introdução
Os afídeos, ou comumente chamados de pulgões, são pequenos insetos que se alimentam na planta sugando sua seiva, causando prejuízos relativamente elevado, tanto como praga, como vetora de vários vírus que afetam a planta de batata.Como praga é importante quando em populações relativamente grande colonizam a planta sugando a seiva da planta. Além disso, algumas espécies injetam saliva tóxica, causando distúrbios variáveis as plantas. Ainda como praga, pode causar indiretamente prejuízos reduzindo a área foliar através da excreção de uma substância açucarada e esta caindo sobre as plantas, especialmente as folhas, provocam o crescimento de um fungo conhecido como fumagina. Entretanto, o maior prejuízo ocorre quando ocorrem revoadas trasmitem diversos vírus que infectam a batata. São a causa da degenerescência da batata-semente e quebra de produtividade em culturas para consumo.


2. Espécies de Afídeos


2.1 Myzus persicae (Sulz.):
Essa é a principal praga da cultura da batata e também vetora de vírus, e é das folhas baixeiras, daí uma das dificuldades de seu controle. Em plantas em idade de florescimento, há uma tendência de formarem também colônias nas brotações novas e nas inflorescências. A forma áptera (sem asas) tem coloração verde clara ou verde pálida, de tamanho em torno de 2,0mm, com corpo ovalado. A forma alada tem coloração preta na cabeça e tórax, e uma mancha escura no centro do abdome. Devido a sua localização na planta, normalmente as colônias passam despercebidas, e para haver danos diretos são necessários quantidade relativamente grande de indivíduos o que é mais raro em culturas de batata devido à frequência de aplicação de defensivos.



Colônia de Myzus persicae em folha de pimentão


Daí a sua importância ser maior como vetora de vírus do que como praga.Habitam quase todas as regiões temperadas, sub-tropicais e tropicais, onde existam plantas hospedeiras, sejam elas cultivadas ou ervas daninhas. Em regiões de clima temperado essa espécie de afideo apresenta dois ciclos de vida, conhecida como primário e secundário. O primário é de sobrevivência aos rigores do inverno, na forma de ovo, e o secundário que desenvolve em outras estações, basicamente se caracteriza por se reproduzir
partenogeneticamente (sem a necessidade de fecundação pelo macho). Nos paises de clima tropical ou sub-tropical, como o Brasil, tem-se o conhecimento apenas do ciclo secundário, ou seja, a reprodução dos pulgões ocorre apenas de forma partenogenética durante todo o ano, não havendo uma quebra no ciclo como nas regiões de inverno rigoroso. Por ser uma espécie altamente polífaga, normalmente encontram hospedeiras para formar colônias, ocorrendo o ano todo, em populações maiores ou menores. Em São Paulo as revoadas ocorrem no período de abril a setembro e eventualmente em dezembro (Costa, 1970;Yuki et al., 1978 e 1981).


2.2 Myzus nicotianae Blackman:
Morfologicamente esta espécie é considerada muito semelhante ao M. persicae e de difícil distinção sendo que a melhor forma é através da sua coloração avermelhada (Blackman, 1987).
Essa espécie de afídeo foi aparentemente descrita nos Estados Unidos em 1985, em plantações de fumo (Seldlacek & Townsend, 1990). No Brasil foi observada também em fumo no inicio da década de 90, no Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro (Cupertino et al. 1993), causando graves prejuízos. Após algum tempo, foi notificado ocorrer em plantações de batata em São Paulo. Essa espécie aparentemente é mais tolerante a temperaturas mais elevadas e reproduz-se mais rapidamente, alem disso, parece ser mais resistente aos inseticidas.



Colônia de Myzus nicotianae em folha de fumo


Essa espécie tem ocorrido com alguma frequência em culturas de batata e os produtores tem reclamado da dificulda de de controle, é também vetora de vírus (Cupertino et al., 1993).


2.3 Macrosiphum euphorbiae (Thomas):
Esta espécie ocorre eventualmente colonizando as brotações novas das plantas. São pulgões relativamente grandes, podendo atingir 4,0mm de comprimento. O corpo é de coloração verde, aspecto alongado e apresenta sifúnculos (órgãos que secretam substância açucarada, localizado na base do abdome, um de cada lado) bem compridos. A forma alada é bastante parecida com a áptera, apenas a cabeça e o tórax com coloração marrom clara. Apesar de ser vetora de vírus, sua importância na epidemiologia é pequena pelo fato de sua população, em revoadas, serem muito mais baixas do que o M. persicae.


2.4 Aulacorthum solani (Kltb.):
Esse afídeo tem tamanho um pouco menor do que o M. euphorbiae, de coloração amarelo esverdeado. O corpo é periforme, cerca de 3,0 mm de comprimento e sifunculos compridos. A forma alada tem cabeça e tórax de coloração escura e pequenas manchas no abdome acompanhando os segmentos.
Com certa frequência são encontrados em brotos de tubérculos armazenados em galpões, onde podem disseminar vírus.


2.5 Aphis gossypii (Glover):
Também de ocorrência esporádica em culturas de batata, alimenta-se na face inferior das folhas, tanto novas como as velhas, e é o menor dos afídeos encontrados nessa planta, atingindo no máximo 1,5 mm de comprimento.
Apresenta grande variação de tonalidade desde verde claro, passando pelo amarelo até coloração escura.


2.6 Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki):
Essa espécie caracteriza-se por colonizar as partes subterrâneas da planta.
São afídeos pequenos, um pouco maiores que o A.gossypii e de coloração marrom.


2.7 Rhopalosiphoninus latysiphon (Davison):
Essa espécie, embora ainda não encontrada colonizando a batata, ocorre no Brasil. É relatada colonizar principalmente brotos de batata armazenada, embora possa também habitar partes subterrâneas da batata. A forma alada tem coloração esverdeada com uma mancha escura no abdome. A sua característica mais marcante são o sifúnculos bem dilatados.


3. Transmissão de vírus.


A transmissão de vírus depende da relação existente entre o vírus e o vetor. No caso de transmissão não circulativa, como é o caso dos Potyvirus , ou seja , o vírus Y (“Potato vírus Y”- PVY) e as suas estirpes , o vírus é adquirido muito rapidamente pelos pulgões, basta uma picada de 10 a 15 segundos e na transmissão também ocorre de forma s emelhante apenas uma picada de 10 a 15 segundos também já transmite o vírus. Essa forma de transmissão também é conhecida como estiletar. No caso de transmissão circulativa os afideos necessitam se alimentar por períodos mais longos tanto para adquirir como para transmitir os vírus (algumas horas) e ainda possuem um período de incubação, que também é de várias horas. É o caso do vírus do enrolamento das folhas de batata (“Potato leaf roll virus”- PLRV). Devido a essas formas de transmissão é que há casos em que inseticidas podem ou não ter efeito na redução na disseminação dos vírus nas culturas.
No campo a disseminação é feita geralmente pelos alados. Um afídeo em vôo é atraído por superfícies que estejam refletindo comprimento de ondas de luz na faixa do amarelo (580 nm), seja ela planta ou não, portanto, ele não sabe distinguir a sua hospedeira. Chegando ao acaso em uma planta ele dá uma picada rápida, conhecida como picada de prova, se ela for sua hospedeira aí estabelece novas colônias, mas, se não for a sua hospedeira, ou por qualquer outro motivo não permanecer, saí em novos vôos. Nesses vôos é que adquire e transmite o PVY. No caso do PLVR, há necessidade de que ela tenha adquirido o vírus na planta mãe, ou tenha permanecido, durante vôos apetitivos, o tempo suficiente para adquiri-los. Inicialmente a distribuição do vírus, trazidos de fora da cultura, ocorre ao acaso, com maior concentração na bordadura do lado do vento predominante. Essas plantas agora servirão de fonte para que os afídeos que estão fazendo vôos apetitivos disseminem o vírus dentro da cultura. Portanto, a maior ou menor infecção dependerá da população de pulgões em revoadas, consequentemente, quanto maior a quantidade de afídeos vetores em revoadas maiores serão as plantas infectadas. Essa é de uma maneira bem generalizada como ocorre a transmissão e disseminação dos vírus.


4. Literatura Consultada:


Blackman, R.L. 1987. Morphological discrimination of a tobacco-feeding form from Myzus persicae (Sulzer) (Hemiptera: Aphididae), and a Key to new World Myzus (Nectarosiphom) species. Bull.Ent. Res., 77:713-730


Costa, C.L. 1970. Variações sazonais da migração de Myzus persicae em Campinas, nos anos de 1967 a 1969, Bragantia, 29:347-359


Cupertino, F.P.; Costa, C.L. & Silva, A.M.R. 1993. Transmissão de três estirpes do vírus Y da batata por Myzus nicotianae. Fitopatol. Bras. 18:102-106.


Seldlacek, J.D. & Towsend, L.H. 1990. Demography of the red form of Myzus nicotianae (Homoptera: Aphididae) on the Burley tobacco. Journal of Economic Entomology, 83:1080-1084.


Yuki, V.A.; Costa, A. S.; Teófilo Sº , J. & Pettinelli Jr., A. 1978. Flutuação populacional de alados de Myzus persicae, em três localidades do Estado de São Paulo, durante os anos de 1975 a 1977. In: congresso Brasileiro de Entomologia, 3.Ilhéus / Itabuna , BA. (resumos).


Yuki, V.A., Souza Dias, J.A.C.; Ishimura, I.; Castro, J.L.; Godoy Jr., G.; Ramos, V.J.; Teófilo Sº, J. & Costa, A.S. 1981. Densidade populacional de Myzus persicae em regiões de clima quente, em comparação com regiões de clima mais ameno. In: Congresso Anual da Sociedade Americana de Ciências Hortícolas – Região Tropical, 24. Campinas, SP. (Resumos).

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