A cultura da batateira é comumente afetada pela ocorrência de doenças, pragas e estresses abióticos. Entre as doenças, as viroses estão entre as mais problemáticas devido ao difícil controle. Uma dessas viroses é causada por uma espécie do gê- nero Crinivirus, o Tomato chlorosis virus (ToCV), que também causa o amarelão do tomateiro (Figura 1).
Este vírus induz sintomas que incluem amarelecimento internerval, manchas necróticas, enrolamento e engrossamento de folhas baixeiras, etc (Figura 1). O ToCV é transmitido de forma semi-persistente por insetos da família Aleyrodidae, comumente chamados de mosca branca. O vírus é adquirido pelos insetos adultos após alguns minutos de alimentação na planta doente. Depois disso o inseto já é capaz de transmitir o vírus para plantas sadias. O vírus pode permanecer no inseto por até 3 dias.
No Brasil as espécies que transmitem esse vírus são Bemisia tabaci e Trialeurodes va- porariorum. O ToCV teve a sua primeira constatação no país no ano 2006 em tomateiros no estado de São Paulo. Atualmente, o vírus já foi reportado no Bra- sil infectando naturalmente plantas de batata (So- lanum tuberosum), pimentão (Capsicum annuum) e berinjela (S. melongena). Também já foi encon- trado infectando naturalmente Physalis angulata, nome comum camapu ou joá de capote. A dificul- dade de controle da disseminação do vírus através do controle químico do vetor gera a necessidade de obter subsídios que auxiliem na elaboração de estratégias de manejo. O conhecimento da gama de hospedeiros do vírus no campo e a sua relação com o vetor podem auxiliar o manejo através da eliminação de fontes de inóculo do vírus.
Relatos de plantas hospedeiras do ToCV ao redor do mundo indicam que o vírus já foi encontrado infectando naturalmente 22 espécies vegetais. Experimentalmente, o vírus já foi transmitido para 25 espécies de plantas de sete famílias diferentes Os sintomas variam dependendo do hospedeiro, mas geralmente induz intenso amarelecimento, nanismo e enrolamento das folhas em uma ampla gama de espécies de ervas daninhas e espé- cies cultivadas comercialmente. Algumas plantas infectadas não exibem sintomas. Estudos de hospedeiros alternativos com o isolado brasileiro do ToCV foram realizados na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) com o objetivo de identificar plantas que podem atuar como fonte primária de inóculo do patógeno.
Também foi avaliada a preferência para oviposição do vetor nas espécies suscetíveis. O vírus foi detectado em 14 espécies pertencentes à família Solanaceae e 5 espécies da família Amaranthaceae. Confirmou-se a suscetibilidade de Chenopodium album (ançarinha-branca), Datura stramonium (trombeteira ou figueira do diabo), Gomphrena globosa (perpétua), cinco espécies de fumo (Nicotiana benthamiana, N. clevelandii, N. edwarsonii, N. glutinosa, N. tabacum), Solanum americanum (maria pretinha), S. pimpinellifolium (tomate selvagem) e Spinacea oleracea (espinafre) à infecção com o ToCV. As espécies Capsicum annuum (pimentão), Physalis angulata, P. peru- viana e S. tuberosum var. Asterix e S. melongena (berinjela) relatadas como suscetíveis ao vírus no campo, foram infectadas experimentalmente. Beta vulgaris var. cicla (acelga), Chenopodium quinoa (quinoa), Solanum aculeatissimum (arrebenta ca- valo) e S. sessiliflorum (cubiu) foram identifica- das pela primeira vez como espécies suscetíveis ao ToCV. Verificou-se alta suscetibilidade de quase todas as espécies à infecção com o ToCV. Também se encontrou que a grande maioria das espécies suscetíveis ao vírus exibiu boa preferên- cia à oviposição de B. tabaci biótipo B.
Porém as espécies da família Solanaceae mostraram-se de maior preferência para o vetor, sugerindo serem excelentes fontes primárias de inóculo do vírus no campo. A importância das diferentes espécies identificadas como hospedeiras do isolado brasileiro do ToCV na epidemiologia da doença pode variar dependendo dos diferentes ecossistemas nos quais se apresentam, e das espécies vetoras do vírus presentes no Brasil (B. tabaci biótipo B e T. vaporariorum), as quais também são dependentes da flora nativa do local e das condições climáticas regionais. Outro aspecto a ter em conta é o mo- fitopatologia mento do ano em que as hospedeiras alternativas são encontradas no campo.
Portanto, o planejamento das estratégias para o controle desse crinivirus em plantações de batateira, bem como de outras solanáceas, deve incluir o manejo das espé- cies de plantas cultivadas, como restos de culturas de batateira, tomateiro, pimentão e berinjela, bem como das plantas daninhas suscetíveis ao ToCV, levando-se em consideração as diferentes variá- veis citadas e as diferentes regiões do país aonde elas são encontradas. Revista Batata Show Ano XVI nº44 Abril/2016 13 A eliminação de hospedeiros alternativos, restos de cultura e plantas voluntárias visa à erradicação do patógeno, de maneira a reduzir as fontes primárias de inóculo e consequentemente a introdução do vírus pelo vetor nas novas planta- ções. De forma geral, o manejo deverá ser feito principalmente antes do plantio da nova cultura no campo, visando evitar a infecção das plantas jovens, que podem resultar em perdas significativas na produção.
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