Feiras Livres de São Paulo

Maria de Fátima A. Pellicioli Séc.Exec.do Sind.Com. Var. Feirantes Est SP fone: (11) 227 4555


No começo do século XX, mais precisamente em 25 de agosto de 1914, os chacareiros, que vinham ao centro de São Paulo para vender suas mercadorias, conseguiram do então prefeito Washington Luiz Pereira de Souza que se criasse a primeira feira livre da cidade.
Até hoje, com cerca de mil feiras semanais, e mais de 10 mil feirantes, a comercialização basicamente é a mesma: os feirantes compram as verduras na Ceagesp ou no mercado Central da Cantareira, todos os dias, e as vendem diretamente aos consumidores.


Por bacia, por peça, por quilo, com direito a experimentar “um pedacinho” e a reclamar do preço, os compradores fazem a festa. O pescado, consumido na cidade de São Paulo, é realmente comprado em sua maioria nas feiras livres. Hoje tem feira? Que tal fazer uma pescadinha frita ou uma sardinha “escabeche”? Miúdos de boi também são encontrados quase só nas feiras. Hoje está meio frio e tem feira, vou fazer rabada com polenta…


As frutas são vendidas em tal quantidade que pessoas de outros países, que visitam nossas feiras, não acreditam em tanta fartura. Restaurantes “de gabarito” têm receitas que só são possíveis de serem feitas graças aos temperos e iguarias naturais encontradas nas feiras livres. Como o feirante obtém o preço a ser vendido? Com cálculos sem base econômica ou preceitos conhecidos. Não somam as despesas, não sabem das perdas, apenas tentam cobrir o custo inicial (preço de compra) e, então, cobrar o mais barato possível, porque a concorrência é enorme e quem bobear leva a mercadoria de volta ou direto para o lixo, por serem produtos altamente perecíveis.


Há uma alternância tão grande nos preços do atacado, motivada pelas safras, que durante o Plano Cruzado, o Sindicato dos Feirantes obteve, em Brasília, uma liberação dos preços (que estavam tabelados, mas congelados) de todos os produtos hortifrutícolas vendidos nas feiras de São Paulo.
Entre todos os motivos que levam o consumidor a comprar tais produtos nas feiras livres, dois são certamente os mais importantes:


a) a feira atrai o consumidor que mora, no máximo, a 500 metros da mesma, ou seja, a proximidade da feira é o poderoso atrativo;
b) o feirante especializa-se em um só setor e portanto, cuida melhor dessa mercadoria . Exemplo: banca só de ovos, só de tomates, só de bananas, etc.
Claro que hoje, com o advento automóvel, o consumidor pode ir onde bem entender, mas, principalmente, para a dona de casa, a feira pertinho de casa é uma benção.
Os vilões da história, e que afastam compradores, são certamente os cartões de crédito. Muito embora existam feirantes que aceitam e até trocam cheques de maior valor do que as compras feitas pelo freguês, o uso do cartão de crédito é impraticável nas feiras.


Compras à vista são bem mais baratas e certamente mais saudáveis para o consumidor.
Na região metropolitana de São Paulo, as feiras livres continuam sendo os equipamentos de maior importância na distribuição quantitativa dos produtos hortícolas, embora constate- se uma notável queda no seu papel abastecedor. De fato, observa-se que, enquanto em 1983 as feiras livres chegavam a responder por 48,4% do escoamento da tonelagem global comercializada na Ceagesp, na década seguinte a sua participação foi reduzida para 28%. Após o Plano Real (1994) porém, têm se observado uma recuperação econômica das feiras. Segundo o Índice de Consumo de Alimentos (ICA), da Federação do
Comércio do Estado de São Paulo, as feiras triplicaram seu movimento nesse período. O maior crescimento nas vendas é explicado pelo aumento do poder aquisitivo da classe de menor renda, principalmente nas periferias do município de São Paulo, onde tais equipamentos detém, ainda, maior expressão relativa ao abastecimento alimentar (Bacoccina, 1998).


Entretanto, de caráter mais estrutural, ressalta-se a participação cada vez mais crescente do setor de supermercados, agora tenazmente, buscando conquistar o cliente do comércio hortícola mais tradicional, notadamente no setor de batatas e cebolas.
Identifica-se, também, o surgimento de uma nova atividade no circuito da distribuição hortigranjeira no mercado paulista, representada por empresas distribuidoras que, basicamente, são prestadoras de serviços aos pequenos e médios supermercados, os quais vêm praticando a terceirização das funções de aquisição e de abastecimento de suas lojas em produtos hortifrutigranjeiros. Finalmente, há de se atentar para a formação de oligopólios que destroem as relações comerciais e de consumo, representados por grandes cadeias de hiper e supermercados. O impacto desse “gigantismo” é estendido também ao setor produtivo, que é obrigado a submeter-se ao estilo “draconiano” das grandes redes, as quais impõe preços sob a falsa desculpa de atender ao consumidor.


Esse é, em linhas gerais, o panorama do comércio nas feiras livres de São Paulo.

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