Fitonematóides do gênero Pratylenchus em batata

Dra. Maria Amelia dos Santos
Prof. adjunta do Inst. de Ciências Agrárias – UFU – Fitopatologia/Nematologia
Uberlândia – MG – amelias@umuarama.ufu.br


Pratylenchus é considerado o segundo gênero de nematóides parasitos de plantas em importância para o Brasil, seja pela sua polifagia como pela sua ampla distribuição geográfica. Esse gênero é conhecido pela denominação de nematóides das lesões radiculares, apresentando, em torno de, 60 espécies. No Brasil, pelo menos dez espécies já foram assinaladas, sendo que Pratylenchus brachyurus, P. coffeae e P. zeae são as mais frequentes (Ferraz, 1999). Para a cultura da batata, P. brachyurus e P. coffeae são as mais importantes. Boock e Lordello (1976) relataram o fitonematóide P. brachyurus associado à batatinha nas condições brasileiras. Observações de campo mostraram incidência de até 35% para P. brachyurus, e de 30 a 40% da área plantada com tubérculos, exibindo sintomas de infestação por P.coffeae (Lordello, 1982; Curi et al, 1990). Na Paraíba, trabalho de Lopes e Lordello (1980) mostrou que P. brachyurus foi a terceira espécie de fitonematóide mais importante, causando desvalorização para a comercialização em cerca de 10 a 15% de tubérculos em áreas com cultivo de batata. Charchar (1997) realizou um levantamento de nematóides nas principais regiões de produção de batata nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Observou que P. coffeae foi uma das espécies associadas aos maiores níveis de danos à cultura da batata.


Também encontrou P. brachyurus, porém, para essa espécie, não foram observados danos econômicos.
Sintomas O principal sintoma ocorre nos tubérculos, que apresentam pequenas e numerosas lesões. Apenas a casca e a região subcortical são atingidas pelas lesões, o que acarreta lesões superficiais e torna os tubérculos impróprios para comercialização. As batatas atacadas sofrem, no armazenamento, murchamento bem mais pronunciado do que os tubérculos sadios. Durante o armazenamento, para tubérculos atacados por P. brachyurus, não são observadas podridões moles. Já para P.coffeae, Curi et al (1990) relatam que os tubérculos tornam-se susceptíveis a podridões, comprometendo ainda mais a produção.


Em altas populações, o parasitismo desse gênero pode proporcionar a formação de extensivas lesões e destruição do córtex das raízes alimentícias não suberizadas. Consequentemente, as plantas atacadas, normalmente observadas em reboleiras, mostram em sua parte aérea os sintomas, reflexos desse parasitismo nas raízes, apresentando-se menos vigorosas com tamanho reduzido e com folhas cloróticas ou murchas. A desfolha total pode ocorrer quando o ataque é severo (Jatala e Bridge, 1990).


Controle


* Limpeza de máquinas e implementos agrícolas: o transporte de partículas de solo pelo vento, fato que pode ocorrer intensamente no sistema convencional, principalmente em solo desnudo, durante operações de preparo do solo, pode levar a disseminação dos fitonematóides dentro e entre propriedades. O trânsito de máquinas, também, contribui para disseminação por deslocar solos aderidos aos pneus e demais componentes das máquinas e implementos agrícolas. Basta a aplicação de jatos fortes de água para remoção de solo aderido nas partes das máquinas e implementos agrícolas.


* Plantio de tubérculos-semente sem sintomas e produzidos em áreas sem a presença do nematóide


* Tratamento térmico de tubérculos com P. brachyurus: água aquecida a 50 oC por 30 a 60 minutos (Lordello, 1982)


* Arranquio e destruição de restos culturais, principalmente dos tubérculos contaminados deixados no campo, quando do momento da colheita


* Eliminação de plantas daninhas na safra e na entressafra: Manso et al (1994) relacionam muitas espécies de plantas daninhas associadas à P. brachyurus (carrapicho-rasteiro, carrapichinho, picão preto, capim marmelada, capimcarrapicho, corda de viola, capim-gordura, beldroega, entre outras). Evitar a sua presença na lavoura é muito importante para impedir o aumento e a manutenção desse nematóide e, assim, não comprometer a eficiência de outras medidas de controle.


* Alqueive: é uma prática que consiste em deixar a área sem ser cultivada por algum tempo, ou seja, fica sem os hospedeiros dos nematóides (culturas ou plantas daninhas) e acontecem nesse período revolvimentos constantes do solo. Para tanto, utiliza-se de capina manual, aradura, gradagem ou herbicidas. Os nematóides podem morrer tanto por inanição, dada à ausência de plantas hospedeiras, como pela ação do calor e luz solar. A luz solar tem efeito nematicida, principalmente devido à fração ultravioleta do espectro. O revolvimento do solo reduz a população de nematóides. Pesquisas mostram redução acima de 75% da população de nematóides das galhas no campo durante os dois primeiros meses de alqueive e menos de 10% de sobrevivência após três meses.


É um bom tratamento, dando bons resultados de controle. Entretanto, caro. A área fica improdutiva, não tendo retorno econômico para o agricultor. As arações devem ocorrer nos dois sentidos: COLHEITA Þ 1a aração jogando a leiva para um lado Þ 30 dias Þ 2a aração jogando a leiva para o outro lado Þ 30 dias Þ 3a aração jogando a leiva para o outro lado.




O alqueive pode proporcionar alterações químicas e físicas do solo, provocando problemas de erosão pelos constantes revolvimentos. A alternativa de abordagem para o alqueive com o intuito de reduzir o período de ausência de cultura e viabilizá-lo economicamente é o alqueive úmido. Tratase da aplicação de água no solo em que será realizado o plantio, que está sem planta e que foi revolvido. Essa estratégia foi preconizada nas décadas de 60 e 70 do século passado, no entanto somente recentemente, está sendo usada para aumentar a mortalidade de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne (Dutra et al, 2003). A temperatura e a umidade afetam a densidade populacional de nematóides. A temperatura exigida para o desenvolvimento embrionário é mais baixa do que aquela para a eclosão de juvenis. Portanto, temperatura insuficiente para eclosão, pode permitir o desenvolvimento embrionário. Em taxa pequena, porém, num espaço maior de tempo, pode ocorrer aumento considerável de ovos com J2 já formados. Além disso, potencial de sucção da água do solo menor que – 200 Kpa reduz a eclosão de J2, e abaixo de – 300 Kpa, pode inibi-la. Baixa umidade do solo inibe a eclosão antes de afetar o desenvolvimento embrionário; dessa forma, aumenta no solo a quantidade de ovos com J2 à espera de condições propícias para a eclosão. Portanto, num campo sem cultivo infestado pelos nematóides de galhas e com estresse hídrico, a reposição da umidade pode levar à eclosão de juvenis do segundo estádio. Após a saída do ovo, J2 utiliza sua reserva energética lipídica em maior intensidade, em condições de temperatura elevada, consequência de sua maior atividade muscular, podendo levá-lo à perda da infectividade. Essa situação poderia ser testada para Pratylenchus.


* Plantas antagonistas: espécies de Crotalaria (Tabela 1) reduzem significativamente populações de P. brachyurus.


* Controle químico: os nematicidas registrados no Brasil pelo Ministério da Agricultura para controle de P. brachyurus em batata são indicados na Tabela 2 (Compêndio de Defensivos Agrícolas, 1999; 2003).


Referências – consulte autor.

VEJA TAMBÉM

ALAP e ENB 2012

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