Fitopatologia – Componentes de Produtividade




Eng. Agrônomo César Eduardo Boff


cesarboff@hotmail.com


 


Componentes de Produtividade
Diferentes estados do Brasil desenvolvem a bataticultura. Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia são os mais representativos. A área de plantio de batata diminuiu nos últimos 15 anos. No mesmo período, a produtividade aumentou mais de 60%. Contudo, a produção total brasileira cresceu cerca de 30%. Isto mostra que existe um grande incremento na produtividade das lavouras e que a tecnologia de produção da cadeia está se desenvolvendo rapidamente. Na cultura da batata, devido ao seu dinamismo e suas grandes exigências, as decisões devem ser tomadas rápida e precisamente, necessitando profundos conhecimentos técnicos e práticos.
Para quantificar o dinamismo da cultura da batata pode-se calcular e comparar o Índice de Produção Diária (IPD) com outras culturas. O IPD é a fração entre a produção por unidade de área e o número de dias necessários para completar o ciclo desta cultura, expresso em kg/ha/dia.
Se comparado o IPD das culturas de maior extensão no Brasil, se vê que o milho pode chegar até 90 kg/ha/dia e a soja 30 kg/ha/dia. Já nas perenes, a maçã aproximadamente 220 kg/ha/dia pêssego 100 kg/ha/dia e uva 110 kg/ha/dia. A batata pode chegar a 420 kg/ha/dia. O IPD da cultura da batata pode ser afetado em até mais de 50% dependendo de vários fatores de manejo.
Entre os fatores que determinam a produtividade destacam-se: adubação, qualidade do tubérculo semente, controle de pragas e doenças de solo e foliares, além das práticas culturais, que são muito importantes e devem ser realizadas em momentos bastante específicos do cultivo. A qualidade do tubérculo semente pode ser avaliada por dois aspectos: fisiológica e genética. A primeira pode ser observada e facilmente avaliada, já a segunda é difícil verificar no momento da compra da batata semente. Ambas têm grande importância e não se substituem.


Doenças e pragas


Os índices de controle de pragas e doenças da cultura da batata são bastante inferiores de outras, qualquer dano pode causar grandes perdas. A maior dificuldade encontrada pelos produtores para o correto manejo é o momento certo da aplicação dos defensivos, bem como definir o índice de controle de cada doença e praga.
A doença chamada Rhizoctônia é causada pelo fungo Rhizoctônia solani. Este fungo existe naturalmente nos solos de praticamente todo o Brasil. Existem 14 diferentes anastomoses de Rhizoctônia solani. Estas anastomoses afetam de diferentes formas a produção. RIBEIRO et. al.,1995, relata que as anastomoses mais encontradas no Brasil estão a AG-3 e AG-4, embora todas possam ser patogênicas e causar danos sozinhas ou associadas. Normalmente ela causa o sintoma chamado “piche” ou “asfalto” que são estruturas do fungo (esclerócios), que se formam na superfície do tubérculo. Outros danos podem ser ainda piores, prejudicando a produtividade, muitas vezes sem mostrar sintomas nos tubérculos. No quesito produtividade, existem várias formas que esta doença pode afetar: na emergência dos brotos, na formação deles, na emissão dos estolões e no enchimento dos tubérculos.
Os sintomas da Rhizoctônia podem ser vistos em diversas estruturas das plantas. Quando a planta é afetada há um leve amare-lecimento nas folhas do ápice e ainda nota-se estolões abortados ou parcialmente anelados. Como forma de defesa, a planta encurta ao máximo os estolões formando tubérculos menores e muito próximos à haste da planta.
A Rhizoctônia afeta a brotação da batata semente, limitando a emergência e a uniformidade da lavoura. Geralmente nestes casos, o número de hastes por planta diminui, afetando diretamente o número de tubérculos e a produtividade. No momento da emissão dos estolões, a doença anela a recém formada estrutura de produção bortandoa ou mesmo prejudicando a translocação de nutrientes para o tubérculo a ser formado.O manejo da Rhizoctônia geralmente está relacionado à avaliação visual da semente, histórico da lavoura e da classificação da produção das safras anteriores. O método da avaliação visual da semente pode levar a um grave erro, pois nem sempre o fungo produz esclerócios na superfície da batata semente, mesmo assim afeta largamente a produtividade.
Testes em lavouras comerciais do Rio Grande do Sul mostraram que, mesmo em lavouras que não apresentam sintomas visíveis de Rhizoctônia, o tratamento químico objetivando controle da doença acrescentou até 20% na produtividade. Em lavouras de batata semente o número de tubérculos ficou, na maioria dos casos, até 15% maior.



Pulverização em São Francisco de Paula (RS)


 


Manejo de controle
Vários fatores podem desfavorecer o desenvolvimento da Rhizoctonia: plantio de batata semente certificada e de boa qualidade; rotação de cultura e preparo conservacionista do solo também contribuem. Pesquisas mostram que plantas bem nutridas de cálcio e a elevação da Saturação de Bases do solo acima de 80% pode ter resultados positivos. O plantio realizado em solos frios e sementes posicionadas muito profundas no sulco são fatores que atrasam a emergência das plantas, aumentando o tempo de exposição dos brotos ao solo, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento da doença. Até o momento, não existem cultivares de batata resistente à Rhizoctonia, observa- se que há diferenças na localização e forma de apresentação dos sintomas na planta, porém todas cultivares são suscetíveis.
Entre os produtos registrados para a Rhizoctônia estão o Fluazinam, Fludio-xinil, Procimidona, Pencycuron e o Thifluzamide. Todos possuem modos de ação e mecanismos de translocação diferentes. Entre estes o Tifluzamide se destaca por ser o único com ação sistêmica, controlando a maioria das anastomoses patogênicas da Rhizoctônia. É muito importante que o fungicida empregado no manejo seja eficiente e seguro tanto para a cultura como para o meio ambiente. O plantio é o momento indicado para tratamento químico, pois as aplicações foliares dão pouco resultado. Além da eficiência, a segurança deve se estender aos problemas com fitotoxidez nas estruturas de brotação dos tubérculos, pois são estruturas extremamente sensíveis e se danificadas podem prejudicar o potencial produtivo da lavoura. Todo o manejo de pragas ou doenças deve ser integrado entre as várias formas de controle. A soma destas ações pode levar a um controle mais efetivo e seguro.



Plantio em São José dos Ausentes (RS)



Na dinâmica cultura da batata, a busca por detalhes que agreguem produção é determinante. As oportunidades para os “aventureiros” estão cada vez menores, ao mesmo ritmo que a cadeia produtiva se organiza e evolui. A comercialização da batata é um gargalo grande do setor, visto da oferta desregulada, da falta de padronização e de informações ao consumidor final. Estes aspectos devem ser superados com a colaboração de todos, cada um fazendo a sua parte. O produtor tem que produzir com qualidade e responsabilidade, seja batata consumo ou semente. Todos os elos da cadeia têm que se profissionalizar. O mercado permite cada vez menos erros e os que não e enquadram são excluídos.



Esclerócios em Tubérculos






Brotação atacada por Rizoctoniose



 


Portanto, observa-se que a cultura da batata é bastante complexa e exige conhecimentos específicos. Por se tratar de uma cultura com grande valor investido, é necessário e vital que o produtor seja organizado, busque informações técnicas e mercadológicas apuradas e empregue bons níveis de tecnologia, visando otimizar os custos fixos e melhorar os resultados, não permitindo que pequenos detalhes ou descuidos tomem a lucratividade do negócio.

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