Cultivo deve ser planejado com cuidado
A sucessão batata – milho – batata deve ser planejada com cuidado, pois pelo menos quatro importantes nematóides são comuns nas duas culturas: três espécies de nematóides das galhas (Meloidogyne arenaria, M. incognita e M. javanica) e uma das lesões (Pratylenchus brachyurus). É importante destacar a diferença nas sensibilidades do milho e da batata aos nematóides das galhas. O milho sofre perdas de produção a partir de densidades iniciais (por ocasião da semeadura) de 400 a 800 exemplares por 200 cm3 de solo, mas a batata sofre perdas qualitativas (Figuras 1 e 2) a partir de densidades muito mais baixas, na faixa de 50 a 150 exemplares no mesmo volume de solo.
Batatas com galha: doença causa perda qualitativa na lavoura, no destaque, o professor Mário Massayuki Inomoto
No caso do nematóide das lesões, perdas ocorrem em milho e batata a partir de densidades iniciais semelhantes, por volta de 200 exemplares por 200 cm3 de solo. Portanto, a sucessão entre milho batata é altamente favorável a M. arenaria, M. incognita, M. javanica e P. brachyurus, porém a cultura da batata se apresentará mais precoce e, frequentemente, perdas de produção na presença de ematóides das galhas. Ou seja, é possível e mesmo provável encontrar situações em que a batata sofra elevadas perdas causadas por Meloidogyne spp. em local onde, poucos meses antes, o milho se desenvolveu satisfatoriamente. Um pormenor precisa ser lembrado dentro do quadro acima delineado. O milho é bom hospedeiro de M. arenaria, M. incognita e P. brachyurus, mas mau hospedeiro de M. javanica, enquanto a batata é boa hospedeira das quatro espécies. No caso do milho, signifi ca que a população de M. arenaria, M. incognita e P. brachyurus crescerá muito em temperaturas favoráveis aos nematóides (geralmente 10 a 20x em temperaturas médias do solo na faixa de 27 a 29oC). Em temperaturas moderadamente favoráveis (22 a 24oC), o crescimento será de 3 a 6x; em temperaturas pouco favoráveis (17 a 19oC), somente 1,5 a 3x. Porém, em temperaturas extremas (< 10 e > 35oC), ocorrerá decréscimo. Por outro lado, como o milho é mau hospedeiro de M. javanica, a população desse nematóide crescerá pouco, mesmo em temperaturas favoráveis ao nematóide (3 a 6x na faixa de 27 a 29oC), e se manterá constante ou mesmo diminuirá em temperaturas fora da faixa ideal. Portanto, o impacto negativo do milho sobre a batata, pelo aumento populacional de nematóides patogênicos, será muito maior no caso de M. arenaria, M. incognita e P. brachyurus que no caso de M. javanica. Para comprovar isso, veja a Tabela 1, que mostra a variação populacional de M. javanica e M. incognita em 10 híbridos de milho. Além disso, como há híbridos de milho resistentes a M. javanica, é possível utilizá-los em sucessão com batata para o manejo desse nematóide das galhas, desde que se tomem alguns cuidados. O primeiro deles é em relação ao que se espera de um híbrido resistente. Ao contrário do senso comum, planta resistente ao nematóide não é sinônimo de planta não-hospedeira. Brachiaria decumbens e Crotalaria spectabilis são plantas não hospedeiras de M. javanica, pois não permitem a reprodução do nematóide. Por outro lado, o milho resistente a M. javanica permite a reprodução do nematóide, mas em taxas muito mais baixas que o milho suscetível. Em condições extremamente favoráveis, a população de M. javanica pode crescer 1,2 a 2,0x durante o ciclo do milho (130 a 145 dias), se este for resistente. Sob temperaturas médias do solo abaixo de 22 oC, a taxa de mortalidade do nematóide provavelmente será maior que a de natalidade, resultando em decréscimo populacional. Portanto, plantando-se o milho resistente podese reduzir a população de M. javanica, dependendo da temperatura do solo durante o ciclo cultural. Tomando-se conhecimento da informação acima, recomendamos o uso do seguinte protocolo para avaliação do risco de perdas na sucessão batata – milho – batata:
1) Estimativa da população de M. javanica logo após a colheita da batata: defi nem-se dez pontos para coleta de amostras de solo, que são enviadas ao laboratório de sua confi ança. Por hipótese, vamos trabalhar com o valor médio de 60 exemplares de M. javanica por 200 cm3 de solo. Além disso, é preciso saber quantos nematóides existem nos tubérculos que permanecem no campo (Figuras 3 e 4). Para isso, é preciso coletar tubérculos em dez pontos com 1.
Por exemplo, se ainda existirem em média 200 gramas de tubérculos por m2 e o laboratório determinou que cada grama de tubérculo apresentou 150 exemplares de M. javanica, podemos estimar o número médio do nematóide dentro dos ubérculos em 200 cm3 de solo. Veja como isso pode ser feito: 200 gramas de tubérculo x 150 nematóides por grama = 30.000 exemplares nos tubérculos em 1 m2; como 1m2 tem 200.000 cm3 de solo nos 20 cm superficiais, então em 200 cm3 de solo haverá 30 exemplares nos tubérculos. Portanto, estimamos a população média de M. javanica, nesse exemplo, em 90 exemplares, dos quais 60 no solo e 30 nos tubérculos. 2) Estimativa da população final de M. javanica após o milho resistente: o valor estimado em (1) pode ser considerado a população inicial para o milho, numa hipotética sucessão de cultura. Se o milho (resistente a M. javanica) for cultivado em locais quentes ou épocas quentes, a população de M. javanica deverá crescer cerca de 1,5x, ou seja, irá para 135 no final do ciclo do milho (situação A). Se, o local ou a época apresentar em temperaturas médias do solo abaixo de 22 oC, a população poderá cair pela metade, portanto 45 exemplares (situação B). 3) Avaliação do risco de perdas na cultura da batata após milho: o valor estimado em (2) é população inicial da cultura subsequente de batata. Como ressaltado acima, populações iniciais na faixa de 50 a 150 exemplares por 200 cm3 de solo oferecem moderado risco de perdas em batata. Portanto, na situação A haverá moderado risco. Nesse caso, levamos em conta a temperatura do solo durante o ciclo da batata. Se as temperaturas forem predominantemente baixas (< 22oC), o risco será atenuado e a sucessão com milho resistente poderá ser considerada boa opção de manejo de M. javanica. Porém, sob temperaturas médias do solo acima de 26oC, o risco da batata sofrer perdas será alto e a sucessão com milho, mesmo que resistente, desaconselhada. Ao invés de milho, opte por Brachiaria decumbens, B. brizantha ou Crotalaris spectabilis. 4) Na situação B, o risco será baixo e a sucessão com milho resistente pode ser recomendada. Antes de continuar a explanação, é preciso ressaltar três coisas. Primeiro, reforçar que se trata de protocolo válido para o manejo de M. javanica, mas não para M. arenaria, M. incognita e P. brachyurus, nematóides cuja presença como regra torna desaconselhável a sucessão com milho. Segundo, lembrar que a temperatura do solo normalmente é 2 a 4oC maior que a temperatura do ar. Terceiro, destacar que este protocolo deve servir tão somente como ponto de partida para o desenvolvimento de protocolos próprios, que levem em conta as particularidades do local de trabalho (textura do solo, clima, presença de invasoras etc) e do sistema de produção (cultivares de batata, duração do ciclo e controle fi tossanitário etc).
Por fi m, são citados alguns híbridos de milho que já foram testados e se mostraram resistentes a M. javanica, juntamente com algumas características agronômicas importantes (fonte: http://www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares/tabela1.htm – acesso em 29/2/2008): DKB 566 (híbrido triplo; indicado para produção de grão ou silagem; para verão e safrinha na região Sul do país); AG 9020 (híbrido simples; indicado para produção de grão ou silagem; para verão nos estados de RS, SC, PR, SP, MG e MS); AG 8021 (híbrido simples; indicado para produção de grão; para verão no sul de MG, sul de SP e região Sul do país); AG 6018 (híbrido triplo; indicado para produção de grão; para verão nos estados de RS, SC, PR, SP, MG e MS); AG 2060 (híbrido duplo; indicado para produção de grão e silagem; para verão em todo o Brasil); e DKB 214 (híbrido simples; indicado para produção de grão; para verão na região Sul do país).
Batata com galha logo após a colheita, no destaque, detalhe da galha na batata
Tabela 1. Variação populacional (relação entre população fi nal e população inicial) de M. javanica e M. incognita em 10 híbridos de milho
Paulo Cezar Rezende FontesDepartamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.Professor Titular. Bolsista do CNPq.DFT/UFV – VIÇOSA/MG, 36570-000(31) 3899.1140 / fax (31) 3899.2614pacerefo@ufv.brMarcelo Cleón de Castro SilvaDepartamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.Doutorando...
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