Hilario da Silva Miranda Filho
Centro de Horticultura
Instituto Agronômico
hilario@iac.sp.gov.br
Quando soube do falecimento de meu amigo, Jeobert Beloni, não quis acreditar. Menos do que 15 dias antes estivera com ele e seus fi lhos, Fernando e Carmelo, em Patrocínio (MG), discutindo se era fato ou mito a perda de qualidade de uma boa cachaça, antes armazenada em tonel, e passada para um recipiente de vidro. O tonel e a cachaça u conheci na década de 80 em sua casa em Vargem Grande do Sul, depois de sairmos do campo, repetidas vezes, do pivô central inteiro que ele cedera para o estudo da sarna pulverulenta da batata, moléstia recém descoberta na região.
“Seu Jobé” eu conhecia há muito mais tempo, desde seus tempos de pequeno produtor de batata-semente na Serra da Fartura. Nesse último encontro reclamei por ele ter deixado de cultivar batata em São Paulo, concentrando toda sua atividade em Minas Gerais. Explicou- me que aceitou uma proposta irrecusável de um grupo interessado em cana, e estava montando uma nova fazenda em Sacramento. Com o entusiasmo de sempre, explicou-me rapidamente seus planos e marcamos para uma próxima oportunidade uma visita à nova propriedade. A fatalidade não permitiu essa concretização.
Não pude ir a seu funeral. Pedi a autorização de seus fi lhos para prestar uma simples homenagem, bem como alguns dados relevantes de sua vida. O documento que recebi é tão interessante que decidi transcrevê-lo na íntegra. Como se verifi ca no relato de Fernando e Carmelo, a história de “seu Jobé” confunde-se com o desenvolvimento da bataticultura no Brasil, estando sempre em posição de vanguarda em todos os níveis tecnológicos explorados, o que permitiu sua evolução. Investiu principalmente no ponto mais importante: o preparo de seus fi lhos, dos quais muito se orgulhava e que mantêm e aprimoram a herança paterna. Só não foi alterada sua personalidade, permanecendo sempre o caboclo, simples mas não humilde, que conheci já fazem quarenta anos.
O sr. Jeobert Antonio Beloni será sempre lembrado com saudades por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Nosso pai, Jeobert Antonio Beloni, fi lho de Hélio Beloni e Maria Bedin Beloni, nasceu em 28 de abril de 1.941, em Vargem Grande do Sul/SP. Logo quando bem novinho já tinha vocação para ser uma “fi gura”. O fi lme “O Cangaceiro”, ganhador do festival de Cannes, foi gravado em Vargem Grande e o meu pai, mais um primo, o Vardinho, iam levar marmita para o vô Hélio quando passaram em frente ao set de gravação do fi lme e foram convidados para fazer uma ponta em troca de um dinheirinho. Ficaram esperando para gravar e realmente apareceram no fi lme, num momento quando a tropa de Lampião chega galopando na cidade, e os dois passam correndo na frente dos cavalos, junto com um monte de galinhas. O problema foi que, para fazer essa gravação, eles tiveram que esperar muito tempo e acabaram chegando com as marmitas umas três horas atrasado e acabaram levando uma surra.
Aos 12 anos começou a trabalhar prá valer em uma fabrica de móveis, onde aprendeu o ofício de carpinteiro. Aos 14, começou na ofi cina do meu avô, que era uma marcenaria especializada em conserto e fabricação de carroças. Logo no começo assumiu o comando e se tornou responsável pela mesma. Logo, além de carroças, começou a fabricar carrocerias de caminhão e se tornou bem respeitado na região.
Paralelamente ao trabalho, sempre foi muito ativo. Fez parte da primeira equipe de natação de Vargem Grande, ganhou várias medalhas para a cidade. Para nadar tinha que acordar às 4h30 para dar tempo de treinar e não se atrasar para o trabalho. Gostava muito de música, fazendo parte da banda da cidade, onde tocava trombone.
Aos 25, se casou com Maria da Glória Nogues Beloni, fi lha de Carmelo Nogues Canhedo, com quem teve 3 fi lhos, Adriana, Fernando e Carmelo. Após uns dois anos de casado, seu Carmelo, que já era “batateiro” nos municípios de São Sebastião da Grama, Itobi e Jacutinga, chamou nosso pai para trabalhar com ele e aí começou sua carreira de “batateiro”. Naquela época, só se plantava na Serra, batata das águas e da seca. Era tudo arado de boi, plantado na mão, pulverizado com aquelas bombinhas costais motorizadas da Hatsuta e arrancado na enxada.
Não tinha batata lavada e eles as guardavam nuns “ranchos” no meio das lavouras, tudo a granel. Como lá na Serra é bem fresco, a batata aguentava um bom tempo. Paralelamente a isso, nosso pai tinha um gado de leite, na época em que leite era bom, e plantava também umas cebolas de “ameia”, e também teve uma lavourinha de café, que fez tanta raiva nele que falou que nunca mais plantaria na vida.
Em meados da década de 70 começou a plantar a batata “temporona” no “campo”. Por alguns anos, arrendou do Carlitão áreas na Fazenda Campo Vitória. Depois plantou no Dr. Miachon, no Longuini, sogro do Fernando Milan, e em várias áreas. Foi produtor de semente por muito tempo e fornecia para quase todos os produtores de Vargem, na época. Foi muito feliz neste período e teve um crescimento profi ssional muito grande.
Em 1.983, ele e seu Carmelo compraram a Fazenda São Jorge, uma fazenda muito boa, em Casa Branca e, em 1.984 foram pioneiros em montar um dos primeiros pivots centrais da região. Foram muito felizes com a aquisição desta propriedade. Em 1.995 compramos em Patrocínio/MG e paramos de plantar batata das águas na Serra. Agora, toda batata das águas seria plantada em Minas.
Hoje, contamos com propriedades próprias e arrendadas. Plantamos 600 hectares de batata, 1.700 hectares de grãos, e temos 500 hectares arrendados para cana. Temos 14 pivots centrais, com uma área irrigada de aproximadamente 850 hectares. Mas, o que possuímos de mais importante é o prazer de ter tido o Jobé Beloni como pai.
Uma pessoa muito querida por todos, muito humilde, com amigos espalhados por todo o Brasil, trabalhador incansável, sãopaulino roxo, que viveu a vida com uma intensidade muito grande, nos ensinando a trabalhar e a ser honestos, e deixando muita saudade em todos e muita história pra contar.
Irmãos Beloni
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