Irradiação – Definitivamente uma tecnologia agrícola

Carlos Fernando Prestes de Camargo, Eng. Agr.; Daniela Leite Capistrano, Nutricionista, Espec. Vigilância Sanitária; Geraldo Silva de Campos Almeida, Eng. Agr., MS.. Membros da InterPro Consultoria Empresarial
Fone (19) 34026526 / 34114021 / (11) 92627846 interpro.consultoria@bol.com.br


Introdução


A utilização de irradiações energéticas não é prática recente na história da humanidade. Esta arte acompanha o homem, através dos seus milênios de existência sobre a Terra. Ele sempre buscou a fonte da vida colhendo das plantas: os frutos, as raízes ou as f olhas. E essa fonte é a energia radiante do sol, simplesmente capturada pelos vegetais. Todavia, a energia solar não é a única forma de energia eletromagnética que lhe é útil. Existem outras que têm a mesma natureza, variando apenas a intensidade, ou melhor explicando, a quantidade de energia.
Como há dias ou horas do dia de “sol fraco” ou de “sol forte”, também existem “luzes fortes” e “luzes fracas”, algumas das quais são visíveis e outras não. A luz solar é composta por uma fração visível e de outras invisíveis (ultravioleta e infravermelho).
Mais “forte” que a luz do sol é a energia transmitida pelas microondas – produzidas naqueles aparelhos de cozinha e também usadas nas telecomunicações (transmissão de ondas de TV e telefones), pelos raios-X ou pelas emissões de um metal como aquele denominado Cobalto 60.
Se o homem abusar do tempo de sua exposição à ação de qualquer uma dessas formas, por certo terá problemas. Porém, a utilização racional, coerente e sensata dessas irradiações – nas praias, nos hospitais e na agricultura – pode lhe proporcionar lazer, bem estar, saúde e alimentos livres das pragas e da grande maioria dos microorganismos que provocam elevadas perdas e graves doenças.


Histórico


Já permeia um século entre a descoberta da emissão natural de radiação de alguns materiais e os nossos dias. O físico francês Antoine Henri Becquerel constatou a existência desse intrigante fenômeno e o seu colega Minsch, logo após, publicou a proposta de utilizar essas radiações ionizantes para preservar alimentos e destruir microorganismos nocivos à saúde humana e dos animais. Em 1929, foram reveladas as conclusões do estudo que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA havia feito com relação ao parasita Trichinella spiralis, encontrado em carne de porco.
Em 1960, o governo do Canadá aprova o uso de irradiação para batatas e o Federal Drug Administration, FDA, que é o serviço governamental norte-americano encarregado de analisar o emprego de novas tecnologias e produtos na área de segurança alimentar, fez o mesmo, além de ampliar o uso da irradiação para o trigo e o bacon, em 1964.
Em 1973, no Japão, entrou em operação o primeiro irradiador naquele país para o tratamento de batatas, sendo o processo incluído na cadeia produtiva de uma importante região agrícola.
Em 1983, a Organização das Nações Unidas, ONU, através da Comissão do Codex Alimentarius, estabeleceu as normas mundiais para a irradiação de alimentos, recomendando esta prática, com a aprovação dos representantes dos 130 países que compõem aquela comissão.
Em 1984, foi fundado e estabelecido na cidade de Viena, Ãustria, o Grupo Consultivo Internacional em Irradiação de Alimentos – ICGFI, com o apoio da ONU-FAO/OMS. O ICGFI é composto de técnicos especializados e representantes dos governos associados. As suas principais funções são:


• acompanhar e avaliar o desenvolvimento tecnológico da irradiação dos alimentos;
• proporcionar as consultorias específicas aos seus membros nos assuntos relacionados a irradiação dos alimentos;
• fornecer o necessário apoio técnico às comissões do consórcio FAO, OMS e IAEA, nas questões de qualidade dos alimentos irradiados, bem como à comissão do Codex Alimentarius.


Hoje, o governo brasileiro autoriza o tratamento por irradiação, de forma incondicional, de praticamente todos os itens alimentares e das suas matérias-primas. Outro importantíssimo fato histórico é o trabalho que a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo, vem realizando com a irradiação, nos últimos 30 anos. Essas pesquisas foram inicialmente desenvolvidas pela
Cadeira de Física daquela Faculdade e continuadas pelo seu Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA).
Este trabalho efetivo, profícuo e transparente, respaldado na responsabilidade incontestável da mais antiga Universidade paulista, com certeza estimulou e embasou a decisão do nosso governo em permitir o uso da tecnologia de forma ampla e incondicional.
Portanto, sob o enfoque técnico, a questão da irradiação não é recente, bem como é antiga a aprovação do seu uso para fins alimentares por parte das autoridades mundiais que atuam nas áreas de higiene, saúde e alimentos.



CONTROLE DO BROTAMENTO DE BATATAS E CEBOLAS


Este é um dos mais espetaculares resultados agrícolas da irradiação.
Mas, o que resulta do controle da brotação de batatas e que deve despertar grande interesse econômico, principalmente entre os produtores?
Como primeiro resultado temos o fato de contar com um dilatado período de estocagem.
Quando convenientemente irradiada, a batata pode ser estocada por um tempo maior. Esse tempo depende das características do cultivar. Mas, em nenhum caso, será inferior ao prazo de alguns meses.
O segundo resultado é a conquista de mercados mais distantes. As diferenças de preços que as distâncias impõem às mercadorias, frequentemente são suficientes para compensar o custo do tratamento e do transporte.
Mesmo porque este último poderá ser realizado em modalidade mais barata. Esses resultados também permitem a percepção dos prováveis ganhos com a estocagem do produto, a serem feitas para contornar as pressões oriundas de uma oferta excessiva.
Há alguma controvérsia a respeito da inibição do esverdeamento. Contudo, sabe-se que muitos cultivares também têm esse fenômeno controlado pela irradiação. Como esses resultados têm importantes consequências comerciais, a adoção da irradiação deve ser precedida de um profundo estudo econômico e financeiro, feito para revelar o ponto de ótima utilização da tecnologia e o melhor aproveitamento dos seus resultados no fluxograma de produção de batata e nos planejamentos estratégicos das produções regionais, nos estudos da logística de distribuição e da estocagem da batata.


Outros resultados


Os alimentos são irradiados para torná-los mais seguros e estender o período de estocagem, o que privilegia a comercialização, seja de frutas ou de cereais. Nas doses mais altas, utilizadas para estender a vida de prateleira ou controlar bactérias nocivas, as perdas nutricionais são inferiores ou, no máximo, iguais àquelas verificadas quando utilizamos o cozimento ou o congelamento como pro processos de conservação dos alimentos. Em doses mais baixas, tais perdas são insignificantes. Isso porque a irradiação é aplicada sem que se altere a temperatura do produto. Assim, como resultado final, as pessoas não observam mudanças de sabor ou de textura nos alimentos convenientemente tratados por irradiação.
Quando se torra ou se frita um alimento, dentro dele vários produtos de vida muito curta são formados. São muito reativos e alguns se recombinam formando produtos mais estáveis. O mesmo acontece durante o processo de irradiação, com frequência e em quantidades semelhantes. Como era de se esperar, os resultados de vários e meticulosos estudos indicaram que não existem provas que indiquem diferenças de risco à saúde do consumidor, quando se comparam alimentos irradiados com alimentos processados convencionalmente.
O valor nutricional dos alimentos tratados não sofre modificações em seus macro-nutrientes ou seja, no teor dos carboidratos, gorduras e proteínas. As vitaminas têm perdas semelhantes àquelas induzidas pelos outros processos de conservação, sejam esses físicos ou químicos. Porém, essas perdas podem ser
sensivelmente reduzidas pelo uso de algumas técnicas de irradiação que são de conhecimento e uso exclusivo de algumas empresas. Em alguns casos, a vitamina C deixa de ser afetada e as perdas com as vitaminas A, E e B1 são minimizadas.
Quando utilizada para apenas eliminar a maioria dos microorganismos, a irradiação atua de forma semelhante à pasteurização. Assim, as formas sobreviventes, se encontrarem condições favoráveis, irão se desenvolver. Portanto, serão necessários os mesmos cuidados de higiene e conservação. O que diferencia um método do outro é a certeza do resultado e o menor custo propiciado pela irradiação, para uma idêntica intenção de redução da carga microbiana.
Estudando o processo, aprendemos que a energia proveniente da fonte de um irradiador comercial atravessa o alimento, da mesma forma que a luz solar atravessa os vidros de uma janela. Assim, o alimento tratado fica “imerso” em um banho de radiação que termina tão logo esta fonte seja removida. Não há possibilidade física da ocorrência de contaminação ou de existência de resíduos tóxicos nos produtos tratados. É o mais limpo de todos os processos de redução de carga microbiana, esterilização e extensão da vida de prateleira dos alimentos.
O tempo de exposição dos alimentos à fonte irradiadora é a única variável que se utiliza para controlar a eficiência do tratamento. Portanto, o processo é muito simples e a sua eficácia beira a certeza total do resultado esperado. Dessa simplicidade deriva um custo bastante baixo. A difusão da tecnologia
Os serviços de redução de carga microbiana e de esterilização pela irradiação ganham, a cada momento, um grande número de novos clientes. Isso porque são evidentes as suas vantagens na:


1. inibição do brotamento de batatas, cebolas e alhos e eliminação das barreiras quarentenárias na exportação desses produtos;
2. desinfestação de alimentos como grãos, ervas e especiarias, pela eliminação de pragas, sem deixar resíduos tóxicos ou afetar a qualidade dos produtos;
3. eliminação ou redução dos níveis populacionais de microorganismos patogênicos como Salmonella, Listeria e Campylobacter, tanto em profundidade quanto na superfície dos alimentos; e
4. extensão da vida de prateleira de inúmeras frutas, pela interrupção dos processos de amadurecimento e de senescência, permitindo, também, que esses alimentos possam ser armazenados de forma mais barata e por períodos mais longos. Isso evita as perdas decorrentes das substituições ou devoluções feitas pelos atacadistas, redes de supermercados e pelos demais agentes de comercialização varejista.


Mas por que, a despeito das vantagens inerentes à tecnologia da irradiação, não ocorreu a universalização da sua utilização? A resposta a esta questão é muito simples e tem duas vertentes a serem analisadas:


• primeiramente, a tecnologia de aplicação sempre foi segredo industrial de grande valor estratégico para alguns governos, principalmente em países desenvolvidos cuja agricultura tem custos bem mais elevados que a do Brasil, por exemplo.


• o segundo aspecto a ser considerado é o fato que os irradiadores são instalações de elevados custos e exigem operadores de alto grau de conhecimento técnico e científico.


Mas, agora, após 30 anos de contínuas pesquisas, a Universidade de São Paulo, através da SALQ/CENA, conseguiu eliminar e superar a distância de conhecimentos em relação aos demais centros de pesquisa e/ou de aplicação industrial. Também, somente agora, nos últimos dois anos, é que foi instalado um irradiador de grande porte no Brasil. Este equipamento pertence à Companhia Brasileira de Esterilização – CBE, localizada no município de Jarinu, SP, à margem da rodovia D. Pedro I.


A irradiação no futuro


A tendência é a difusão da tecnologia, principalmente nos países que possuem uma economia agrícola importante, como é o caso brasileiro. Além disso, restrições a diversos produtos químicos usados no pós-colheita e na indústria de alimentos tendem a aumentar.
Certamente, esta tecnologia tem adversários e alguns verdadeiros inimigos neste mundo comercial, cada vez mais globalizado.
Não tenham dúvida, nós também seríamos seus ferrenhos adversários se também fossemos produtores ou agentes comerciais de produtos agrícolas estabelecidos em algum lugar acima da Linha do Equador.
Isso porque a irradiação é a única técnica de tratamento pós-colheita que permite o transporte de batata, cebola, alho, gengibre, inhame, mandioca e muitas frutas, in natura ou processados, para longas distâncias, em condições menos dispendiosas. Isso, em outras palavras, significa que temos a real possibilidade de exportarmos todos esses produtos para os mercados de países ditos desenvolvidos e vendê-los a um preço imbatível.


Siglas citadas:
FAO – Organização para Alimentos e Alimentação
OMS – Organização Mundial da Saúde (ambas da ONU)
IAEA – Agência Internacional de Energia Atômica

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