Manejo da irrigação na batata


Jadir Aparecido Rosa, Ph. D. Pesquisador – Instituto Agronômico do Paraná Caixa Postal 129 Ponta Grossa – PR 84001-970 fone/fax (42) 229-2829 – jrosa@iapar.br


A irrigação pode ser definida como a reposição artificial da água no solo, na quantidade correta e no momento oportuno para satisfazer o consumo de água por uma cultura. Evapotranspiração (ET) é o termo empregado para definir o consumo de água por uma cultura. Este consumo é composto pela evaporação da água do solo e pela transpiração da água através do tecido da planta para a atmosfera.


A irrigação não é um substituto de uma prática agrícola, mas um instrumento do manejo agrícola. Ao lado das demais práticas, integra um conjunto de atividades que tem por objetivo o aumento da produção, buscando criar e assegurar as condições ideais para o desenvolvimento da planta. A função essencial da irrigação é propiciar à cultura um suprimento regular de água, de maneira que as demais operações agrícolas, como fertilização, mecanização, controle de pragas e doenças, possam atingir seus máximos benefícios, ou seja, maior produtividade e maiores lucros.


Entre as diversas vantagens do uso da irrigação como prática agrícola, podemos citar:


– Garantia de produção: com a instalação de um sistema de irrigação adequado, não há dependência das chuvas.
– Diminuição dos riscos: após todos os investimentos na preparação do solo, na compra de sementes, na aplicação de corretivos e adubos, não existe o risco de ver tudo perdido por falta de água.
– Colheita na entressafra: a irrigação possibilita obter colheitas fora da época de safra, o que resulta em remuneração extra e abastecimento regular do mercado.
– Aumento da produtividade: com todos os fatores do processo produtivo devidamente equilibrados o uso da irrigação, além de garantir a produção, possibilitará também um aumento dos rendimentos.
– Aumento do índice de exploração agrícola: possibilidade de mais de um plantio por ano, numa mesma área, assegurando maior rentabilidade.
– Quimigação: possibilidade de aplicação de produtos químicos (adubos, herbicidas, inseticidas, fungicidas, nematicidas) com a água de irrigação, reduzindo o trânsito de máquinas, o desgaste da maquinaria e o emprego de mão-de-obra.


Embora a irrigação apresente muitas vantagens, seu uso também tem algumas limitações:


Alto custo inicial: o investimento na aquisição de um sistema de irrigação é elevado em relação ao retorno, que nem sempre se processa a curto ou médio prazo. Por isto recomenda-se cautela na compra de equipamentos, pois uma decisão apressada poderá comprometer o projeto agropecuário.


Falta de mão-de-obra especializada: este é um dos problemas mais sérios enfrentados pelo agricultor, não só no que diz respeito à manutenção, mas também em relação à própria operação de um sistema de irrigação.


A batata é uma das principais hortaliças cultivadas no Brasil, com área plantada estimada na safra de 2003 de 146.963 ha (em três safras) e produção estimada em 2.897.472 t, com produtividade média de 19,7 t/ha (IBGE, 2003). Os principais estados produtores são Minas Gerais, São Paulo e Paraná, os quais respondem por quase 80% da produção nacional de batata. Entretanto, devido às variações edafoclimáticas, práticas culturais e variedades utilizadas, há diferenças significativas entre os valores de produtividade alcançados nas regiões produtoras. A produção comercial de batata pode passar de 40 t/ha se as condições, incluindo fertilidade e umidade, forem adequados durante a safra. O Brasil situa-se em 19º lugar (estimativa da FAO) na lista dos maiores produtores desta cultura.


Neste artigo, serão apresentadas algumas considerações sobre as relações entre o desenvolvimento vegetativo e a produção, com o fornecimento de água na cultura da batata e alguns princípios básicos no manejo eficiente da irrigação. No próximo artigo, apresentaremos os métodos de irrigação mais comumente usados na batata e exemplos de planejamento e manejo da irrigação.


Desenvolvimento da Batata e Disponibilidade da Ãgua no Solo A batata é uma cultura que tem o seu desenvolvimento e produtividade intensamente influenciados pelas condições de umidade do solo. A deficiência de água é frequentemente mais limitante para a obtenção de altos rendimentos do que o excesso de umidade. Assim, o controle da umidade do solo e o conhecimento do comportamento de parâmetros fisiológicos sob condições variáveis de umidade no solo são decisivos para a maximização da produção da cultura.


O desenvolvimento fisiológico da batata pode ser dividido em cinco estágios:


– Semeadura – emergência;
– Início do desenvolvimento vegetativo – início da tuberização;
– Tuberização;
– Crescimento dos tubérculos;
– Amadurecimento.


A duração de cada estágio depende da variedade, das práticas culturais e das condições ambientais. A batata é particularmente sensível ao déficit hídrico durante o início da tuberização e o desenvolvimento inicial dos tubérculos (transição entre os estágios II e III). Um déficit de água nesta época pode reduzir substancialmente a qualidade e resultar em malformação dos tubérculos. Se o déficit hídrico ocorrer durante o crescimento dos tubérculos (estágio IV), o peso total da produção será mais afetado do que a qualidade. Condições favoráveis de umidade promovem maior número e maior tamanho de tubérculos, maior teor de amido, melhor qualidade culinária e de conservação. Níveis excessivos de água no solo favorecem as podridões de tubérculos e a lenticelose. A alternância de excesso e falta de água pode causar defeitos fisiológicos, como embonecamento e rachaduras.


A produção e a qualidade da batata também são influenciadas pelo excesso de água no solo, resultante de irrigação excessiva ou chuva acima da média. Isto acarreta lixiviação de nutrientes abaixo da zona radicular, causando deficiência nutricional, baixa eficiência no uso do fertilizante e provável contaminação da água subterrânea. A saturação do solo na zona radicular por mais de 8-12 horas pode causar danos por falta de aeração adequada para a respiração das raízes. O excesso de água no solo por ocasião do plantio promove o apodrecimento das sementes e retarda a emergência devido à menor temperatura do solo úmido. Batatas que são superirrigadas durante o crescimento vegetativo e o início da tuberização têm grande chance de desenvolverem coração-negro e coraçãooco, e estão mais sujeitas à morte prematura.


O conteúdo de umidade do solo também tem influência nos danos mecânicos causados aos tubérculos durante o processo da colheita. Se os tubérculos estiverem desidratados, como resultado da baixa umidade do solo, eles se quebrarão mais facilmente no processo de arrancamento mecanizado. Se os tubérculos estiverem túrgidos, devido à alta umidade do solo, eles estarão mais suscetíveis a esfolamento e unhaduras. Neste caso, também poderão ocorrer problemas na qualidade e armazenamento dos tubérculos.


O desenvolvimento do sistema radicular da batata é relativamente superficial (45 – 60 cm), com a maioria das raízes na faixa de até 30 cm de profundidade. A pouca profundidade do sistema radicular é atribuída à fragilidade das raízes em penetrar camadas compactadas ou outras camadas restritivas. A compactação do solo devido ao tráfego de máquinas pode restringir a penetração das raízes da batata, e é normalmente influenciado pelo conteúdo de umidade do solo no momento da operação de mecanização.


O crescimento das raízes também está relacionado com o vigor geral da cultura e o seu máximo desenvolvimento pode ser alcançado quando as condições de umidade são mantidas em condições adequadas no perfil do solo. Sob certas condições, irrigações leves e frequentes, ou seja, fornecimento de água a uma pequena profundidade apenas, diminui a capacidade da planta em suportar maiores déficits de água, pois as raízes ficam confinadas naquela faixa superficial onde a umidade está presente. Outro fator importante é a capacidade de transmissão de água no solo que influencia a habilidade de extração de água pelas raízes.


Algumas pesquisas relacionam as condições de umidade do solo com a absorção de nutrientes pelas raízes, pelo efeito indireto do déficit de água no solo na disponibilidade dos nutrientes. Uma vez que a maior parte da matéria orgânica e dos nutrientes está concentrada na zona superficial do perfil do solo, a falta de umidade nesta zona poderá ocasionar a diminuição do desenvolvimento da planta pela redução na capacidade das raízes em absorver os nutrientes disponíveis.


Manejo da irrigação


O manejo racional de qualquer projeto de irrigação deve ter como objetivo melhorar a eficiência do uso da água e diminuir os custos, quer de mão-de-obra, quer de capital, mantendo as condições de umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada.


A irrigação não deve ser vista como uma prática isolada. Ela é parte de um conjunto de operações necessário ao atendimento das necessidades das plantas para uma boa produção. Isto significa associar a irrigação com uma boa escolha das sementes, um adequado preparo do solo (manejo conservacionista), uma boa adubação e tratos fitossanitários quando necessários.


No manejo da irrigação, duas perguntas devem ser respondidas: quando e quanto irrigar. A primeira é respondida pelo termo frequência de irrigação, ou turno de rega, que nada mais é do que o intervalo em dias entre as irrigações. A frequência de irrigação pode ser fixa ou variável, especialmente levando-se em conta as chuvas que ocorrem no período. Quanto à segunda pergunta, a resposta é baseada nas condições climáticas, em quanto o solo é capaz de armazenar água entre as irrigações e principalmente, na sensibilidade da planta à falta de água, que está relacionada com o seu estágio de desenvolvimento.


Para o máximo retorno econômico, é necessário que o conteúdo de água no solo seja mantido dentro de certos limites ao longo do ciclo da cultura. A batata é exigente em água porque é mais sensível ao estresse hídrico, comparado com outras culturas, além de desenvolver um sistema radicular raso e ser frequentemente cultivada em solos de baixa a média capacidade de retenção de água. Estas condições fazem com que os sistemas de irrigação sejam dimensionados para aplicar água mais frequentemente, em quantidades menores, de forma uniforme, tal que a disponibilidade de água no solo durante o ciclo da cultura seja otimizado. Estas condições também indicam que um manejo eficiente da irrigação na cultura da batata inclua: (1) monitoramento regular da quantidade de água no solo; (2) irrigações programadas de acordo com o uso da água pela cultura e com a capacidade de retenção da água no solo; (3) um suprimento de água e um sistema de irrigação que seja capaz de fornecer a quantidade programada.
A resposta da produção de batata ao manejo da irrigação é ilustrada na Figura 1. Os resultados foram obtidos de uma pesquisa em práticas de manejo de irrigação em 45 lavouras no Estado de Idaho, um dos maiores Estados produtores de batata nos Estados Unidos. A produção de batata é reduzida tanto por irrigação deficiente quanto por irrigação em excesso. Apenas 10% de variação na quantidade de água aplicada durante o ciclo pode resultar em decréscimo da produção devido à sensibilidade da batata ao déficit hídrico; por outro lado, a irrigação em excesso causa aeração deficiente no solo, aumenta os problemas fitossanitários e lixívia dos nutrientes da zona radicular. Um manejo da irrigação otimizado pode aumentar a produção comercializável e ao mesmo tempo reduzir os custos de produção pela conservação da água, energia, fertilizantes e defensivos, e diminuir os riscos de contaminação do ambiente. Um manejo eficiente da irrigação é um pré-requisito para um consistente e máximo retorno econômico.

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