MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DA BATATA

Pedro Hayashi – Sócio proprietário
(Engenheiro Agrônomo) Pirassu Agrícola
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A cultura da batata é tida como a mais “envenenada” de todas. Ainda é possível encontrar pessoas que dizem que não comem batata por medo da grande quantidade de defensivos que são aplicados sobre a lavoura. Na verdade, a grande maioria dos nossos produtores aplica os produtos de acordo com as recomendações dos fabricantes, obedecendo às dosagens e formas de aplicação. Assim, respeitando o período de carência, o produto final, a batata, não oferece perigo a quem consome. Os tubérculos, não são atingidos pelos defensivos exceto os granulados de solo. Os produtos sistêmicos aplicados na folhagem têm um deslocamento ascendente, ou seja, não descem para os tubérculos. Também como argumento em favor do consumo de batata, não comemos batata crua, e ainda se tira a casca. Portanto, comer batata não oferece risco à saúde.


Nenhum agricultor gosta de aplicar produtos em sua lavoura. Cada vez que aplica alguma coisa, significa acréscimo de custo. Quando do nosso produto está com preço baixo, uma aplicação de produto torna representativo. A busca por utilização menor de agroquímicos levou o nosso agricultor a optar pela soja transgênica, que usam menos defensivos que a convencional e menor custo de produção. Uma prática muito comum em citrus e em cereais é o manejo integrado de pragas. O método consiste em monitorar a lavoura, contando as pragas e os inimigos naturais. A intervenção com inseticidas é feita somente quando as pragas atingirem o inicio de dano econômico. Este acompanhamento é feito por uma pessoa treinada em identificar cada praga e seus inimigos naturais. São conhecidos por “pragueiros”. Estes profissionais têm uma rotina pré – determinada. Com uma caderneta de campo, na qual são anotados todos os dados de cada amostragem, é possível estabelecer os níveis de danos e aplicar os produtos se necessário. Este sistema funcionaria para batata? Sem dúvida. O fundamental seria ter pesquisa e conhecimento do ecossistema da nossa lavoura. Quando implantamos uma lavoura, seja ela qual for já estamos provocando um desequilíbrio.


Pela pouca diversidade de plantas, é um convite a tudo que passa pela sua proximidade. Quando há alguma coisa para ser comida, aparece quem coma. Nossa lavoura não foge a esta regra. Então para não correr risco, todo bom “batateiro” não deixa de colocar junto com os fungicidas preventivos algum inseticida, independente se há ou não insetos, e pouco importa se o inseto é praga ou não.
É bom lembrar que um dos principais insetos praga que ataca nossa lavoura é nativo do Brasil, a mosca minadora (Liriomiza huidrobriensis). Ela começou a ser problema quando os inseticidas piretróides começaram a ser utilizados em larga escala. A razão é simples: os inseticidas são mais eficientes contra os inimigos naturais do que com a praga.


MONITORAMENTO
Se observarmos uma lavoura com detalhe, veremos uma infinidade de insetos. Temos insetos pragas, lagartas, besouros (vaquinhas) moscas minadora, que conhecemos bem e uma infinidade de insetos que não damos importância. Entre estes insetos estão alguns que estão na lavoura por acaso, e outros agem como inimigos naturais das pragas. Estes insetos podem ser da ordem díptera (moscas), coleóptero (joaninha), percevejos predadores e um grupo muito eficientes chamados de micro heminóptero (mesmo ordem das vespas). Estes últimos são vespas muito pequenas que lembram pequenas formigas aladas. Todos estes insetos estão trabalhando intensamente a nosso favor, até que uma pulverização acabe com todos eles.


Quando estes insetos são eliminados, as populações das pragas passam a níveis que podem atingir rapidamente danos econômicos. Para que uma população de predadores aumente é necessário que haja o inseto forrageiro (praga) como base alimentar. As pragas necessitam apenas das plantas para restabelecerem. A base do monitoramento seria o conhecimento dos insetos que vivem em nossas lavouras e os níveis das populações dos insetos praga. Uma lavoura bem conduzida é comum contar, por exemplo, um adulto de mosca minadora para quatro ou cinco inimigos naturais de diferentes ordens. Neste caso, é dispensável o uso de qualquer tipo de inseticida. Também alta população de adultos, não significa danos, pois, muitas vezes, às condições climáticas e a pressão de inimigos naturais, estes insetos tendem a desaparecer sem a necessidade de aplicação de inseticidas. A escolha das moléculas também é muito importante. Nunca usar “biocidas” ou inseticidas que matam tudo. Não podemos ter a visão de exterminar tudo, devemos trabalhar para dentro das possibilidades para estabelecer um equilíbrio. Optar por produtos específicos para que somente o inseto alvo seja controlado, sem interferir na população de inimigos naturais. Está sendo comum o aparecimento de lagartas em final de ciclo, caso não sejam controladas, podem causar perda de folhagem prejudicando o tamanho dos tubérculos e a produtividade e ainda abrir galerias quando não houver mais folhagem. Neste caso, optar por inseticidas fisiológicos logo no inicio de infestação, evitando assim um tratamento de choque quando já há grande desfolha.


OUTROS CUIDADOS
Outras medidas podem ajudar no manejo integrado de pragas:
– Em campos de batata-semente, o uso de aficidas é obrigatório. Utilizar produtos específicos e com garantia de seletividade.
– Escolha de variedades, cada variedade responde de maneira diferente a determinada praga.
– Escolher as melhores épocas. Certas pragas (também doenças) seguem um calendário, ou seja, para cada região é possível prever qual época o ataque de determinada praga é mais intenso.
– Usar semente de qualidade, tanto do aspecto de sanidade, como também na idade fisiológica adequada.
– Ter um solo bem corrigido, e adubar corretamente. Uma planta bem nutrida é mais tolerante ao ataque de pragas e doenças.
– Locais próximo de matas, normalmente possuem uma grande população de insetos predadores, facilitando a aplicação do método.
– Como advertência, este método deve ser monitorado por pessoa que possui experiência e saiba identificar cada inseto dentro da lavoura.
– Quando houver ameaça de dano econômico, a aplicação de inseticida é obrigatória, porém utilizar sempre os específicos para a praga alvo.


CONCLUSÃO
Todos nós sabemos que o custo de qualquer produto que aplicamos em nossa lavoura é sempre alto. Se economizarmos duas ou três aplicações já terá um ganho econômico sem falar no benefício que estamos fazendo à natureza, à saúde dos operários e consumidores. Este seria um bom assunto para pósgraduação.
Desenvolver um trabalho para identificar a ampla gama de insetos predadores que estão trabalhando para nós.

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