Manejo nutricional em batata via fertirrigação e aplicação foliar

Luiz Dimenstein – M.Sc.Agr. ldimenstein@uol.com.br
Haifa Química do Brasil Ltda.
fone: 11-3057-1239 / fax: 11-3057-0542


A cultura da batata é consumidora voraz de potássio. Na fase de enchimento dos tubérculos, a disponibilidade de K+ é a grande limitante nutricional. O nitrogênio tem três estágios de diferentes demandas, sendo mediano na fase vegetativa; deve ser mínimo na fase de início de tuberização e deve aumentar gradualmente ao longo do enchimento de tubérculos. O alto teor de N na fase de início de tuberização age como inibidor, forçando a planta a continuar na fase vegetativa por mais tempo.
O fósforo tem o ritmo de absorção estável, com leve aumento ao longo do desenvolvimento do cultivo.


Para atingir, porém, uma produtividade de 50 toneladas por hectare, considerada média- alta nos padrões da Europa, onde atualmente há produtividades acima de 80 toneladas sob condições de cultivo irrigado e fertirrigado, com complemento de nutrição foliar. Veja abaixo os níveis recomendados a serem aplicados de nutrientes para atingir as 50 toneladas de tubérculos: N = 260 Kg; P2O5 = 200 Kg; K2O = 430 Kg; CaO = 30 Kg; MgO = 35 Kg.


Justificativa de manejo nutricional convencional x fertirrigado
A agricultura de sequeiro adota as tradicionais aplicações de fertilizantes granulados em fundação ou base e complemento em cobertura. Essa prática tem sido mantida, de modo total ou parcial, também no cultivo da batata irrigada por motivos diversos como tradição, fácil acesso aos fertilizantes granulados considerados baratos, desconhecimento de manejo com fertilizantes solúveis para fertirrigação e carência de ensaios demonstrativos no Brasil com fertirrigação e divulgação do custo/benefício favorável do mesmo modo que já foi consagrado em vários países onde a bataticultura irrigada e fertirrigada está aceita e com suporte e viabilidade econômica. Há casos em que a totalidade do N e K é fornecida via fertirrigação e apenas uma fração do P (30% a 50%) é fornecida na base; enquanto a fração P, via fertirrigação, está crescendo gradualmente por ser muito mais eficaz e disponibilizar o P em pequenas e frequentes aplicações desde que a fonte de P seja solúvel como o MAP purificado, MKP ou Ãcido Fosfórico.


Consegue-se obter uniformidade pela maximização da produtividade, explorando todo o potencial genético da planta ao fornecer os nutrientes dentro dos níveis que ela necessita e a sua resposta será, com o máximo vigor, qualidade e quantidade possíveis. Alguns nutrientes como P e K, por exemplo, são facilmente imobilizados quando o solo seca, mas estão muito mais disponíveis na solução do solo quando fornecidos via fertirrigação antes de o solo secar. Ao se irrigar novamente esse solo, muitos elementos retornam à solução nutritiva do solo apenas de forma parcial.


Sistemas de Irrigação.
A irrigação localizada por gotejamento permite a aplicação de fertirrigação de forma muito mais eficiente e eficaz do que qualquer outra forma de irrigação convencional como aspersão, canhão, pivô central, inundação ou mesmo a chuva, com melhor aproveitamento e economia de água e menor incidência de problemas fitossanitários. Mais eficiente significa com melhor desempenho, enquanto que mais eficaz significa mais correto ou com menos erros. O novo raciocínio para agricultura irrigada e com a prática de fertirrigação é: mais importante que o tamanho da boca é o quão frequente essa boca é alimentada.
Considere que a boca, em sentido figurado, seja a raiz.
Gotejamento é o sistema mais viável e de mais fácil manejo. Não há limitação de tamanho de áreas, podendo ser projetado para várias parcelas, cujo somatório atenda a grandes áreas. A sua manutenção é simples e barata ao longo de sua vida útil que poderá superar os dez anos nos bons equipamentos disponíveis no mercado. A economia de água e energia, em relação aos outros sistemas de irrigação, é fantástica, mas é pela facilidade de suprir os nutrientes via fertirrigação a sua imbatível superioridade que também lhe permite atuar de forma corretiva e ponderada. O sistema de pivô central é também muito boa alternativa e deve ter injetora de fertilizantes para permitir fertirrigação. Embora seja menos eficiente em relação ao gotejamento, ainda promove uma excelente relação custo/benefício.



Extrator de solução do solo


Método dos Extratores de Solução do Solo (ESS) para monitoramento da solução nutritiva do solo com kits rápidos para manejo de fertirrigação
O uso de Extratores de Solução do Solo (ESS) para coleta da solução nutritiva para análises rápidas com kits de nutrientes de fácil uso em duas ou três profundidades. À direita, os ESS fabricados no Brasil, de excelente padrão de qualidade e baixo custo.


A coleta da solução nutritiva do solo.
Extratores de Solução do Solo (ESS)
são tubos que, com o auxílio de uma seringa, promovem o vácuo que facilmente fará, por sucção através da ponta de cerâmica, a coleta da solução do solo, imitando como uma mímica a absorção que as raízes fazem para dentro da planta. Devem-se coletar amostras frequentes em três diferentes profundidades, sugeridas 15, 30 e 45 cm, para se identificar as tendências de distribuição dos nutrientes nos perfis de solo.


O que é Condutividade Elétrica (CE)?
A água pura ou destilada, pela ausência de sais dissolvidos, não possui íons dissociados em solução e age como um isolante elétrico apresentando uma condutividade elétrica (CE) zero. Um aparelho digital e portátil chamado de condutivímetro pode medir a CE. A água comum,utilizada na irrigação, possui uma certa concentração de íons, dissolvidos na solução com cargas positivas e negativas, ou seja, com cátions e ânions que indicarão uma CE superior a zero. Baseado nesse princípio, quando um fertilizante solúvel, que na verdade é um sal, é dissociado em íons que poderão ser medidos pelo condutivímetro, indicando que para um acréscimo na concentração de fertilizantes na solução se obtém um aumento proporcional de leitura no condutivímetro. A CE é apenas um indicativo do somatório dos sais ou fertilizantes. Esses fertilizantes podem ser adicionados e manipulados via fertirrigação com extrema facilidade, influindo na disponibilidade dos diferentes nutrientes ao longo do ciclo fenológico de cultivo com maiores ou menores doses dos nutrientes relevantes, e a CE coletada com frequência de uma a duas vezes por semana da solução nutritiva do solo poderá facilmente indicar a disponibilidade nutricional, naquele momento, e servir de indicativo para as aplicações seguintes de nutrientes via fertirrigação. Isso permite uma nova concepção na agricultura irrigada, chamada da fertirrigação corretiva que visa a suprir os nutrientes adequados que estarão compondo o coquetel de fertilizantes através das fertirrigações seguintes. Essas fertirrigações irão contribuir com sais (fertilizantes) conhecidos e serão monitorados nas sucessivas coletas e medições da CE.


Fertirrigação Baseada na Condutividade Elétrica (CE)
Para o cultivo da batata, CE abaixo de 1,0 mS/cm seria adequada apenas durante a fase inicial, com a planta jovem e sistema radicular pequeno, porém essa medição de baixa CE, para o cultivo em fase de desenvolvimento e enchimento de tubérculos, nos indicaria que a planta está carente de nutrientes e necessitaria de maior suprimento, via fertirrigação, para atingir os níveis de CE entre 1,5 a 2,0 mS/cm.
Níveis mais altos de CE até 3,5 mS/cm são considerados níveis de luxúria, por não contribuírem mais em produtividade, sem prejudicarem o desempenho das plantas, mas implicam em gastos extras de fertilizantes desnecessários. A CE mais alta do que 3,5 mS/ cm pode promover redução de produtividade. CE acima de 6,0 mS/cm promove estress por excesso de salinização e pode causar colapso. Alta CE indica alta salinidade e isso dificulta a absorção de água pelas raízes.


Dosagem de fertilizante proporcional à água irrigada – a “anti-receita de bolo”
Em vez de aplicar fertilizante baseado em Kg/hectare, que é o critério tradicional para agricultura de sequeiro, a sugestão em agricultura irrigada é utilizar Kg/ m3 de água irrigada. Esse é o método “anti-receita de bolo” para manejo de fertirrigação que é baseado no suprimento adequado dos fertilizantes necessários para cada fase fenológica. Alterações nas proporções e nas fontes de nutrientes devem ser efetuadas de acordo com as necessidades e as interpretações agronômicas.


Medições do pH da solução nutritiva do solo
Outro fator de qualidade é o pH, que pode ser manipulado com a escolha adequada dos fertilizantes aplicados na fertirrigação de modo que o nível desejado, de preferência levemente ácido entre cinco e seis, por ser adequado do ponto de vista fitossanitário. Do ponto de vista da disponibilidade de nutrientes na solução nutritiva do solo, o intervalo de pH mais adequado seria entre 6,0 a 6,5. O controle do pH para valores adequados aos cultivos já é suficiente para solucionar mais da metade dos problemas nutricionais dos cultivos.


Identificando “erros grosseiros”.
O método do Extrator de Solução do Solo (ESS) permite identificar rapidamente situações nutricionais indesejáveis para o melhor desempenho das plantas. É considerado “erro grosseiro” seguir aplicando algum fertilizante que promova o aumento de qualquer fator limitante, quando o melhor manejo seria imediatamente promover um equilíbrio de nutrientes na solução nutritiva do solo, corrigindo valores de pH e CE para melhor disponibilizar os nutrientes e corrigir eventual excesso ou carência, com um manejo consciente baseado em coletas de informações de fácil procedimento e interpretação para que as fertirrigações possam ser instrumentos de manipulação nutricional a cada turno de rega.


          
Aparelho digital condutivímetro           Aparelho digital pHmetro


 Fontes de fertilizantes solúveis disponíveis
As melhores fontes de P solúveis seriam MAP purificado (12-61-00) e MKP (00-52- 34).
As fontes de N mais comuns são uréia (45- 00-00), sulfato de amônio (21-00-00) e nitrato de amônio (34-00-00), além de fontes que contêm mais de um nutriente, além do N como o nitrato de potássio (13-02-44), nitrato de cálcio (15,5-00-00+26,5CaO) e nitrato de magnésio (11-00-00+16MgO).
O K preferencial para fertirrigação será sempre o nitrato de potássio, seguido do MKP e depois de sulfato de potássio (SOP) (00-00- 52+45SO3). A fonte de K mais popular é também a menos adequada ao cultivo de batatas que é o cloreto de potássio (KCl) (00- 00-60), que embora tenha alto teor de K, possui cloretos acima de 45% na fórmula, que é extremamente salino e nocivo, além de que o Cloreto é um competidor dos nutrientes úteis como nitratos, sulfatos e fosfatos. O cloreto de potássio existe na versão branca, que é solúvel, mas contém como impurezas alumínio, sódio e brometo, enquanto na versão vermelha o KCl possui como impurezas o sódio e o Fe+3 , que é insolúvel e pode causar entupimento do sistema de rega.
A melhor fonte solúvel de cálcio é o nitrato de cálcio e deverá ser aplicado separadamente de fontes de fosfatos e fulfatos por serem incompatíveis, formando precipitados insolúveis.
A melhor fonte de magnésio é o nitrato de magnésio (Magnisal) seguido pelo sulfato de Magnésio com 16% MgO e 32% SO3, cuja versão solúvel é a hepta hidratada enquanto que a versão para aplicação convencional de solo é a mono hidratada.


Nutrição Foliar Complementar em Batatas
Aplicações de macros e micronutrientes podem ser também fornecidas através de aplicações foliares, “pegando carona” na aplicação de defensivos, sempre que houver oportunidade de pulverizar contra algum problema fitossanitário em misturas compatíveis. Em cultivo de batatas, que são pulverizadas com inseticidas ou fungicidas com frequência, um programa nutricional complementar, via foliar, deve ser implantado, sempre aproveitando a chance de fornecer nutrientes nas várias aplicações de defensivos.
Nunca devemos desperdiçar uma oportunidade de nutrir nossas plantas quando o custo da aplicação é baixo e o benefício é alto, como em foliares junto com defensivos. Deve-se ter o cuidado de corrigir o pH da calda de pulverização para intervalos entre 4,5 a 6,5, que é ideal para melhor absorção dos próprios nutrientes, além de evitar a decomposição do princípio ativo da maioria dos defensivos, sensíveis à hidrólise alcalina. Em batata, o uso de nitrato de potássio foliar (multi-npK ou Bônus-npK 13-02-44) nas fases de enchimento de tubérculos já vem sendo utilizado em dosagens de 2% a 3% de concentração na calda de pulverização em até três aplicações. Também o nitrato de magnésio (Magnisal 11-00-00+16MgO) em doses de 1% a 1,5% de concentração na calda de pulverização em duas aplicações, sendo uma na fase vegetativa e a outra no enchimento dos tubérculos, para ajudar a sintetizar clorofila e ajudar na fotossíntese. MAP purificado (12-61-00), além de fornecer boa quantidade de P solúvel, é excelente redutor de pH com excelente poder tampão, mantendo o pH entre 5,0 e 5,5. Recomenda-se sempre adicionar dois quilos para cada mil litros de calda. MAP deve ser utilizado sempre em conjunto com outros fertilizantes foliares e com defensivos em geral para garantir um excelente tampão em pH adequado e medianamente ácido. Entre os fertilizantes completos de NPK + Micros, há duas fórmulas muito interessantes para uso em batatas em doses de 2% de concentração na calda de pulverização: Poly-Feed 19-19-19+Micros quelatizados para uso na fase vegetativa; Poly-potato (ou Poly-batatas) 12-05-40+Micros quelatizados para uso na fase de enchimento dos tubérculos.


Agronomia não é a ciência para a obtenção das melhores produtividades agrícolas, mas sim da melhor relação custo/ benefício a favor do agricultor.
Luiz Dimenstein

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