Melhoramento da Batata e Produção de Semente na Escócia

John E. Bradshaw
Melhorista e Geneticista de Batata
Scottish Crop Research Institute (SCRI)


Introdução
A batata foi introduzida na Europa proveniente da América do Sul no final do século 16, mas foram necessários 200 anos para que ela se tornasse amplamente cultivada como um alimento.
Após isto ter ocorrido, surgiu a degenerescência da semente devido ao “enrolamento” que se tornou um problema e que levou à criação de um mercado de batata semente em áreas menos problemáticas como a Escócia. Atualmente é sabido que a degenerescência era devido à infecções sistêmicas de viroses e pode-se entender porquê a Escócia se tornou um sítio natural para a produção de batata-semente. Como resultado da sua localização, no extremo noroeste da Europa, a Escócia possui invernos frios e temperaturas mais amenas e maiores velocidades do vento durante os meses de cultivo, de abril a setembro, do que a maioria dos demais países Europeus. Essas características climáticas permitem a produção de lavouras com níveis bastante elevados de sanidade no que diz respeito à ausência de várias doenças viróticas importantes, que são disseminadas por afídeos. A Escócia também possui precipitações moderadas e solos férteis e bem drenados, que são ideais para o cultivo de batata-semente. Atualmente a Escócia produz cerca de 300 mil toneladas de batata-semente em 11 mil ha que são exportadas para as regiões produtoras da Inglaterra e País de Gales, bem como para outros 50 países além-mar (60 mil ton.). O consumo de batatas na Grã-Bretanha é atualmente de 6 milhões de toneladas/ ano, ou aproximadamente 105 kg/per capita/ano, e que são igualmente divididas entre batatas frescas e processadas na forma de fritas francesas e chips. Mais de 70% da batata fresca são fornecidas por quatro cadeias de supermercados sendo, a maioria, lavadas e pré empacotadas. Esta demanda é atendida por 133 mil ha de batatas com uma produtividade média de 45 t/ha.


O Melhoramento da Batata
Quando o “enrolamento” se tornou um problema, pela primeira vez, pensou-se que isto era devido a degeneração natural e que podia ser “curado” pelo cultivo de novos estoques de sementes verdadeiras e seleção de novos clones sadios, prática esta que levou à seleção de muitas variedades novas. O melhoramento moderno da batata se iniciou na Inglaterra em 1807, quando Knight realizou hibridações entre cultivares através de polinizações artificiais, embora a seleção a partir de frutos de ocorrência natural tenha continuado por muitos anos. O melhoramento da batata prosperou na Grã Bretanha e demais países da Europa durante a segunda metade do século 19 e início do século 20, quando várias novas cultivares foram produzidas por agricultores, melhorista amadores e produtores de sementes. Os melhoristas Escoceses famosos foram Willian Paterson de Dundee, que produziu a cv. Victoria (lançada em 1863), John Nicoll de Arbroath, que produziu a cv. Champion (1862) e Archibald Findlay de Fife, que produziu Majestic (1911). Esta tradição continuou com Donald Mackelvie de Lanlash, Ilha de Arran, que produziiu as cvs. Arran, incluindo Arran Pilot (1931). Mais recentemente, Jack Dunnet produziu as cvs. Caitness, das quais Nadine (1987) é a mais conhecida. Na Grã-Bretanha em 1964 o “Seeds Act” criou o Direito dos Melhoristas com o objetivo de apoiar o melhoramento comercial de plantas através de receitas arrecadadas de royalties. Hoje as três principais companhias comerciais de melhoramento de batata baseadas na Escócia são Caithness Potato Breeders, Cygnet Potato Breeders e Higgins Agriculture.


Métodos Científicos de Melhoramento
A redescoberta em 1900 dos trabalhos de Mendel, publicados em 1865, marcou o nascimento da genética moderna e abriu o caminho para o melhoramento de plantas baseado em métodos científicos com forte conhecimento da herança de caracteres economicamente importantes. O desenvolvimento de tais métodos para a batata foi um dos desafios enfrentados pela Estação Escocesa de Melhoramento de Plantas (SPBS) quando ela foi fundada, em 1920, com o objetivo inicial de aumentar a produção de alimentos na Grã-Bretanha após a primeira guerra mundial. O SPBS e seu sucessor, o Instituto Escocês de Pesquisas Agrícolas (SCRI) já lançaram mais de 70 cultivares, de The Alness (1934) passando por Craigs e a série Pentland, até as mais recentes, tais como, Lady Balfour (figura 1), Vales Emerald e Vales Sovereign (figura 2). Hoje o SCRI objetiva demonstrar como o conhecimento crescente do genoma da batata pode ser usado para ajudar a Cadeia Inglesa da Batata a aumentar o consumo da batata de uma maneira economicamente e ambientalmente sustentável. As novas cultivares devem ser comercialmente mais produtivas e seus produtos terem custos mais baixos. Elas devem ser resistentes a pragas e doenças (particularmente nematóides de cisto e requeima) e apresentar melhor eficiência no uso de água e minerais que permitem o uso reduzido de inseticidas e fungicidas e melhor uso de água e fertilizantes. Finalmente, elas devem atender a demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis, mais saborosos e convenientes. Uma recurso importante para essa empreitada é a coleção de batatas selvagens e cultivadas da América Latina do Commonwealth Potato Collection (CPC), a qual é mantida pelo SCRI por meio de sementes verdadeiras. Nosso objetivo é desenvolver e usar modernos métodos moleculares de melhoramento para transferir genes úteis identificados pelo CPC, e o germoplasma derivado pelo CPC, para genitores a serem usados nos programas comerciais de melhoramento objetivando a obtenção de cultivares adequadas à produção de sementes na Escócia e usadas nos mercados exportadores da Escócia, principalmente Inglaterra e País de Gales, mas também além-mar. Os contratos de melhoramento são organizados pelo Mylnefield Research Services (MRS), a  ubsidiária comercial do SCRI, e envolve as principais companhias de processamento e de fornecedores de batata localizados na Grã-Bretanha.


A Produção de Sementes na Escócia
Os processadores e principais supermercados fornecedores na Grã-Bretanha são companhias erticalmente integradas com os produtores de batata semente na Escócia. Antes da batata semente escocesa ser comercializada elas devem atender os requisitos da Seed Potatoes Regulations 2000 (Escócia) com as emendas de 2005, as quais implementaram EC Council Directive 2002/56/EC. Isto é feito através do Esquema de Classificação de Batata Semente que é administrado e executado pela Agência de Ciências Agrícolas da Escócia (SASA) (que é a Autoridade Certificadora) pertencentes ao Departamento Executivo de Negócios Ambientais e Rurais. Os padrões para os níveis de viroses são mais rigorosos que aqueles recomendados pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa. A produção de sementes se inicia de plântulas livres de viroses que são produzidas pelo SASA em condições assépticas. O SASA também mantém in vitro uma coleção de 450 variedades livres de patógenos. Os minitubérculos são produzidos comercialmente sob licença em ambientes protegidos, sendo produzidos anualmente na Escócia cerca de três milhões de tubérculos.



Lady Balfour – cultivar orgânica com resistência à requeima e nematóide de cisto.


As primeiras gerações cultivadas no campo também são produzidas por produtores comerciais aprovados oficialmente e resulta na semente pré-básica. As gerações subsequentes resultam na semente básica e finalmente na semente certificada. Geralmente ocorrem de quatro a seis gerações no campo. As lavouras são oficialmente inspecionadas duas vezes durante o cultivo e os tubérculos devem ser inspecionados para doenças e defeitos e atender os requisitos padrões antes de receberem a etiqueta oficial necessária para a comercialização. A Escócia é livre de doenças quarentenárias encontradas em outras partes do mundo, como o viróide do tubérculo afilado da batata (PSTV), a podridão anelar (ring rot) e a murcha bacteriana. O terreno deve estar livre de “wart” e também ser testada e estar livre do nematóide de cisto. O intervalo entre lavouras de batata na rotação deve ser de sete anos para semente pré-básica e de cinco anos para semente básica. A semente certificada deve ser vendida apenas para batata consumo, ela não pode ser replantada na Escócia. Embora a população de afídeos seja baixa na Escócia, ela é monitorada pelo SASA a fim de antecipar problemas potenciais. Atualmente lavouras para batata consumo também são cultivadas na Escócia para atender as empacotadoras locais que abastecem os supermercados, e a área  essas lavouras é ligeiramente maior que as das lavouras de sementes.


Entretanto, para proteger o alto padrão de qualidade sanitária da semente, os produtores de batata consumo devem usar semente pré-básica ou básica, ou semente usada uma única vez de tais lavouras.
Conclusão No futuro, produtores de batata consumo na Grã-Bretanha poderão usar uma nova geração de cultivares escocesas de batata da mais alta qualidade, que têm sido produzidas na Escócia por dedicados produtores comerciais e companhias, apoiadas pela excelência científica do SASA, o Colégio Agrícola Escocês (SAC) e pelo SCRI.



Vales Sovereign – própria para o mercado de batatas empacotadas, com excelente qualidade culinária.


Tradução: Prof. César A. Brasil Pereira Pinto Universidade Federal de Lavras
cesarbrasil@ufla.br


 

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