Método físico para dessecação das ramas de batata

A colheita da batata ocorre dias após a morte natural ou artificial das ramas, sendo necessário esperar alguns dias para que ocorra a perfeita fixação da pele ao tubérculo, minimizando o risco de “esfoladura” que levaria à redução do valor comercial. Geralmente nos cultivos comerciais a antecipação da colheita é obtida através da aplicação de dessecantes químicos, utilizando-se produtos com forte ação de contato, que matam rapidamente os tecidos verdes, provocando a descoloração das folhas e o rompimento das membranas celulares horas após aplicação. A dessecação pode atuar positivamente de forma indireta na cultura impedindo a passagem de vírus das ramas e folhas para os tubérculos em áreas destinadas à produção de semente, diminuindo o contágio dos tubérculos por fungos e bactérias e uniformizando a maturação.




FIGURA 1. (A) Queimadores arranjados paralelamente e (B) Queimadores arranjados em “V”.


Uma alternativa para dessecação das ramas da batata por meio de um método físico é o uso de equipamentos lança-chamas, onde é possível dessecar as ramas e folhas por meio do calor da chama produzida em queimadores específicos.


De uma forma geral este método é pouco empregado entre os produtores brasileiros. Em outros países é mais comum encontrar este tipo de equipamento sendo utilizado em diferentes culturas e estádios de desenvolvimento, principalmente nos EUA e Europa. Nos EUA, por exemplo, na cultura da batata as máquinas fl amejadoras, como são denominadas, são utilizadas para o controle do Besouro Colorado.
Neste caso a aplicação é realizada na fase entre a emergência e 20 cm de altura da planta. Quanto ao controle do besouro o calor pode ser efetivo tanto na forma adulta como na redução dos ovos.


Já a dessecação das ramas com calor é uma prática mais utilizada nas lavouras pelos produtores nos EUA e na Europa. A aplicação das chamas na parte superior da planta provoca um choque térmico pelo calor intenso e destrói os tecidos das ramas e folhas e, consequentemente a habilidade da planta em realizar fotossíntese.


Em meados de 2006, a ABBA e a Cia Ultragaz realizaram, em parceria, dois testes em área comercial de produção de batatas na fazenda Santa Helena, em Itapetininga. Para o tratamento térmico foi utilizado um equipamento protótipo fl amejador, denominado “FLAMER”. Para ambos os testes foram adotados 5 tratamentos, sendo 4 velocidades de deslocamento do conjunto trator-fl amer e 1 tratamento padrão com herbicida dessecante para comparação. No 1º teste, o equipamento fl amejador foi equipado com 13 queimadores dispostos paralelemante (Figura 1A) e no 2º teste com 10 queimadores direcionados sobre a leira de batata, em “V”, conforme Figura 1B.


A avaliação da dessecação, em ambos os testes, foi realizada 7 dias após plicação, por meio de notas visuais com escala de 0 – 100% de controle, sendo avaliados 4 parâmetros: planta total, folha, haste e plantas daninhas. Foram estimados o rendimento operacional em ha h-1 e o consumo de GLP ha-1.
Como resultado dos testes, a resposta à passagem dos queimadores sobre as ramas da batata pode ser visualizada 10 minutos após aplicação. A Figura 2 foi registrada 30 minutos após aplicação dos testes comprovando a resposta imediata à aplicação.



FIGURA 2. Vista geral da área após aplicação.


A Figura 3 apresenta em detalhes a operação e a diferença de coloração das plantas após aplicação da chama. O rendimento operacional do protótipo foi considerado baixo em função da largura de trabalho de 4m. Quanto ao consumo de GLP nota-se uma diminuição considerável no Teste 2, isso ocorreu devido à menor quantidade de queimadores na configuração do equipamento. Apesar da diminuição o consumo ainda é considerado alto. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos do rendimento operacional e consumo de GLP em função da velocidade de deslocamento do conjunto trator-fl amer.





FIGURA 3. Detalhe da aplicação e da diferença de coloração das plantas após aplicação com equipamento “FLAMER”.


Quanto à dessecação, no Teste 1, o T1 teve desempenho próximo ao do dessecante químico, seguido do T2 e T3, porém com um consumo elevado de GLP e o menor rendimento operacional por área. A análise dos gráficos (Figura 5) indica que a parte da planta mais afetada foram às folhas, isso deixa claro que estas realizam um efeito “guarda-chuva” sobre hastes e as plantas daninhas localizadas abaixo.


Os resultados do Teste 2 são semelhantes ao do dessecante químico, ocorrido provavelmente em função da disposição dos queimadores na barra em “V”, direcionados sobre as plantas da batata na leira, indicando que as chamas penetraram nas ramas obtendo-se a maior eficiência no tratamento, o que não ocorreu no Teste 1. Novamente o T1, velocidade de deslocamento 1,5 km h-1, o controle foi ligeiramente melhor que os demais (83%) devido ao maior tempo de exposição das folhas e ramas à chama, mas também com um consumo alto de GLP, .





FIGURA 5. Notas visuais dos parâmetros avaliados de cada tratamento do Teste 1.


 



TABELA 1. Resultados do rendimento operacional e o consumo de GLP em função da velocidade de deslocamento do conjunto, para os Testes 1 e 2.


Considerações Finais
Os testes preliminares comprovaram a eficiência da dessecação das ramas da batata pelo equipamento “Flamer”, porém com um consumo elevado de GLP o que pode inviabilizar a sua aplicação. A dessecação com os queimadores direcionados na leira da batata apresentou melhor resultado no controle e menor consumo de GLP por área. Visualmente não houve efeito negativo sobre os tubérculos.
Sugere-se a realização de outros estudos testando maiores velocidades de deslocamento, outros tipos de queimadores e posterior análise dos custos operacionais. Ainda é necessário estudar a viabilidade para aumentar a área de trabalho do equipamento. Outro ponto importante seria estudar o efeito da aplicação sobre as pragas e doenças de final de ciclo, bem como a viabilidade do emprego do equipamento em outras fases do desenvolvimento da cultura da batata.


Marcos Roberto da Silva
Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
mrsilva@agr.unicamp.br


 

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