Júlio César de Souza – Paulo Rebeles Reis
Inúmeras espécies vegetais cultivadas e mesmo algumas plantas daninhas, de porte herbáceo, em todo o mundo, inclusive no Brasil, apresentam suas folhas minadas por larvas de diversas espécies de diminutas moscas pertencentes à ordem Diptera e família Agromyzidae. Esse complexo de espécies de mosquinhas, muito semelhantes entre si, é denominado cientificamente de Liriomyza spp. Vulgarmente, são denominadas de moscas-minadoras, minadores-defolhas, bichos-minadores, larvas-minadoras etc.
Figura 1 – Adulto do minador-das-folhas.
Especificamente na cultura da batata, Solanum tuberosum L., a espécie que a ataca é Liriomyza huidobrensis, comentada a seguir. Como acontece com todas as espécies de minadores, também a L. huidobrensis apresenta ciclo de desenvolvimento completo, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulta.
Seus adultos fêmeas medem 1,5 mm de envergadura (Fig. 1). Apresentam coloração geral escura, com manchas laterais amareladas, inclusive no escutelo (dorso do tórax). Seu corpo é revestido de cerdas escuras. Os machos são menores e mais escuros. Nas plantas de batata, nas folhas, as fêmeas com seu ovipositor causam picadas de alimentação, nas duas páginas, e de oviposição somente na sua página inferior.
Os prejuízos são causados por suas larvas que minam as folhas das plantas à medida que se alimentam (Fig.2), minas essas que são áreas necróticas, ou seja, mortas, sem atividade fotossintetizadora (Fig.3).
Figura 2 – Larvas e pupas do minador-das-folhas
O ciclo biológico do inseto é muito variável, dependendo do clima, normalmente em torno de 21 a 28 dias. Sob condições climáticas favoráveis seu ciclo reduz-se, podendo sua população evoluir rapidamente num curto período de tempo, dando muitas gerações anuais. Nakano (1993) menciona um ciclo biológico muito menor para L. huidobrensis, ao redor de 15 dias, com a seguinte duração de cada fase: ovo – 2 dias; larva 4,2 dias e pupa – 9 dias (Fig. 4). Os adultos são dispersados pelo vento a grandes distâncias, sendo levados de uma lavoura a outra (s).
Figura 3 – Folíolo de folha de batateira minada por larvas do minador
Suas plantas hospedeiras, no Sul de Minas, por exemplo, são a batata, o feijoeiro e algumas plantas daninhas a elas associadas nas lavouras, como a maria-pretinha (solanácea). O minerador-das-folhas ocorre nas lavouras de batata do Sul de Minas, onde já foi estudado, durante todo o ano, principalmente naquelas com as cultivares Achat, Bintje e Atlantic, implantadas no plantio de inverno, realizado de final de março a junho/julho, requerendo controle químico.
Pode também ocorrer no plantio das águas, também requerendo controle químico, como resultado de alguma estiagem prolongada, a ele favorável, como aconteceu na região do Alto Paranaíba, em São Gotardo, em 1997, com a cultivar Bintje. Quanto aos prejuízos causados pelo minador-das-folhas, pesquisas realizadas no Sul de Minas pela EPAMIG concluíram que as maiores porcentagens de folhas e folíolos minados ocorreram dentro do período de maior ganho de peso em amido e diâmetro pelos tubérculos, dos 57 até 90 dias após o plantio, para a cultivar Achat. Naquela região, como o minador tem iniciado sua infestação no campo mais tarde, a partir de 40-45 dias após o plantio, nas folhas baixeiras, inicialmente, com pico de infestação máxima aos 75 dias após o plantio, aproximadamente, não se esperam grandes prejuízos à produtividade de tubérculos (Souza, 1995; Souza et al., 1998). Entretanto, em experimento instalado na mesma região em 1997, sob inverno atípico, quente e seco, as plantas das parcelas tratadas com inseticidas apresentaram, em mémédia, um aumento de 14% de produção de tubérculos comerciais em relação às plantas que não receberam o controle do inseto.
Esse aumento da produção, convertido em dinheiro, foi superior ao custo de controle do inseto na ocasião, daí ter sido viável economicamente (Pereira, 1999). Por outro lado, se o minador infestar mais cedo no campo, por exemplo, logo aos 25 dias após o plantio, como ocorre em algumas regiões produtoras de batata do estado de São Paulo, com pico de infestação aos 60 dias após o plantio, poderão ocorrer prejuízos, já que como consequência da presença de minas nas folhas causadas pelas larvas do inseto, haverá redução do ciclo da cultura dentro do período de maior ganho de peso e no diâmetro transversal pelos tubérculos, resultando em tubérculos miúdos, de baixo valor comercial no mercado, cerca de 30 a 40% do preço de mercado da batata especial.
Figura 4 – Ciclo biológico do minador-dasfolhas (Nakano, 1993).
A eficiência no controle do minador baseia-se nas seguintes medidas, segundo Souza e Reis (1999): 1ª – plantio de batatasemente de qualidade, também não “cansada”, para garantir plantas vigorosas e produtivas; 2ª – dispensa-se o uso preventivo de inseticidas sistêmicos granulados no plantio, brotação ou amontoa visando o seu controle; 3ª – manter um rígido e eficiente controle preventivo de doenças visando preservar a parte aérea das plantas durante todo o seu ciclo; 4ª – suprir as lavouras com um bom manejo de irrigação; 5ª – manter a irrigação na lavoura até na véspera da dessecação da parte aérea com herbicida, dessecação essa que favorecerá o “enchimento” final dos tubérculos já que toda matéria seca sintetizada na parte aérea (caules e folhas) será carreada para eles; 6ª – manter na lavoura uma estrutura de pulverização adequada com o seu tamanho; 7ª – evitar a aplicação de inseticidas piretróides, de metamidofós (fosforado) e outros visando matar adultos do minador, a fim de preservar os seus parasitóides, insetos esses úteis, que parasitam suas larvas, naturalmente, nas lavouras, ajudando na redução de sua população; 8ª – antecipação do plantio dentro do período de plantio de inverno, período esse de maior ocorrência do inseto, com sua população ainda baixa; 9ª – implantação de faixas com linhas de feijoeiros nas lavouras de batata de inverno, a cada 50 linhas de plantio de batata, inclusive em seu entorno, para ser infestado de propósito pelo minador, com o objetivo de se criar ali seu parasitóide Opius sp., naturalmente, num aumento antecipado de sua população, para que atue mais efetivamente no controle da praga quando ela se instalar na batata. Em feijoeiro, o minador não causa prejuízos, não é praga e não deve ser controlado; 10ª – Realizar duas pulverizações com inseticidas a intervalo de 7 a 14 dias, dependendo da intensidade da infestação do inseto, após constatar a ocorrência de adultos e picadas de alimentação em folhas superiores, e da presença das primeiras minas do inseto em folhas baixeiras.
Na primeira pulverização aplicar abamectin 18 CE (0,5 a 1,0 l/ha) mais óleo emulsionável mineral ou vegetal a 0,25%. Em condições normais, aplicar 0,75 l/ha. Pulverizar todas as folhas das plantas, inclusive as baixeiras. Na segunda pulverização aplicar cyromazine 750 PM (120g/ ha) (Pereira, 1999). Em regiões em que ocorrem infestação da praga logo no início da brotação da batata no campo, talvez haja a necessidade de se fazer mais uma a duas pulverizações com esses mesmos inseticidas, dependendo de observações; 11ª – usar bicos cônicos com jato vazio nos pulverizadores e alto volume de água nas pulverizações, e 12ª – ajustar o pH da água da pulverização para 5,5.
Referências Bibliográficas
NAKANO, O. Mosca-minadora: o caminho de prevenção. Sinal Verde, São Paulo, v.6,n.12, p.8-9, 1993.
PEREIRA, D.I. da P. Controle químico e biológico da mosca-minadora Liriomyza huidobrensis Blanchard, 1926 (Diptera:Agromyzidae) na cultura da batata Solanum tuberosum L. na região Sul de Minas Gerais. Lavras: UFLA, 1999. 85p. (Dissertação – mestrado em Entomologia).
SOUZA, J.C. de. Danos e controle da mosca-minadora Liriomyza huidobrensis Blanchard, 1926 (Diptera:Agromyzidae) em batata Solanum tuberosum L., no Sul de Minas Gerais. Lavras: UFLA, 1995. 138p. (Tesedoutorado em Fitotecnia).
SOUZA, J.C. de; SALGADO, L.O.; RIGITANO, R.L. de; REIS, P.R. Danos causados pela mosca-minadora Liriomyza huidobrensis Blanchard, 1926 (Diptera:Agromyzidae) na cultura da batata Solanum tuberosum L., no plantio de inverno no Sul de Minas Gerais, e eficiência do aldicarb no seu controle. Ciência e Agrotec. Lavras:v.22, p.22-29, 1998.
SOUZA, J.C. de; REIS, P.R. Pragas da batata em Minas Gerais. Belo Horizonte: EPAMIG, 1999. 63p. (EPAMIG-Boletim Técnico, 55).
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