Valmir Duarte (Ph.D. Fitopatologia, Prof. Titular, Depto de Fitossanidade), Faculdade de Agronomia,
UFRGS, (www.ufrgs.br/agro/fitossan/welcome.htm), valmir@ufrgs.br – (51) 3316-6016 Samira O. M. El Tassa (M.Sc. Fitopatologia, Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, UFRGS, tassa@terra.com.br
Praga Quarentenária. A Murcha Bacteriana da batata, causada por Ralstonia solanacearum, é considerada praga quarentenária A1 (não existe no local) na Europa, EUA e Canadá. Estes países têm medidas fitossanitárias visando evitar a entrada de material contaminado, proibindo a importação de regiões onde esta bactéria ocorre. Apesar disto, R. solanacearum biovar 2, raça 3, tem sido detectada em vários países da União Européia desde 1989, incluindo a Holanda, grande produtor de batatasemente. A sua introdução, através de mudas de gerânio importadas da Guatemala, também foi verificada nos EUA. Todas as medidas que foram implementadas nestes locais visaram a sua erradicação. E no Brasil?
Figura 1 – Planta de batata mostrando sintoma de Murcha Bacteriana ou Murchadeira , causada por Ralstonia solanacearum.
Tolerância zero. Em campos de produção de batata-semente certificada, registrada e básica, uma planta com murcha bacteriana numa lavoura (Figura 1) é suficiente para condenar o lote para comercialização. Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, embora haja predominância de estirpes da biovar 2, raça 3, com restrições quarentenárias, a incidência da biovar 1, raça 1 também tem sido registrada nas lavouras comerciais de batata para consumo (Lopes et al., 1993; Maciel et al. 2001; Silveira et al., 2002). Assim, o critério de tolerância zero nas lavouras de batatasemente, baseado na observação visual de plantas mostrando murcha, não tem sido suficiente para impedir a alta incidência nas lavouras de produção. O que precisa ser feito? Raça e biovar. A espécie R. solanacearum é classificada em raças, de acordo com as plantas que pode induzir murcha, e em biovares, baseados na habilidade de utilizar ou oxidar determinados açúcares e álcoois em meio de cultura. Dois grupos de estirpes são capazes de infectar a batata, as das biovar 1, que orresponde à raça 1, com grande número de hospedeiros, maior capacidade de persistir no solo e predominante em regiões de clima quente, e as estirpes da biovar 2, correspondentes à raça 3, que infectam basicamente a batata em regiões de clima temperado e apresentam maior capacidade de produzir infecções latentes. De acordo com recomendações para o manejo integrado da doença, o uso de cultivares resistentes, plantio de batata livre do patógeno e a rotação de culturas são algumas das medidas mais importantes a ser consideradas. No entanto, o comportamento distinto entre estes dois grupos de bactérias leva à adoção de medidas diferenciadas para o manejo integrado da doença. As estirpes da biovar 2 (raça 3) persistem por menos tempo no solo (2-3 anos) e tem menor número de plantas hospedeiras. Presença imperceptível. O termo infecção latente é usado para indicar que esta bactéria permanece, sem induzir sintomas, em lenticelas (olhos do tubérculo), na superfície dos tubérculos e no tecido vascular da batata. Esta característica facilita a introdução deste patógeno em áreas livres. Após a entrada nestas áreas, este patógeno permanece no solo e em várias outras plantas, variando com a raça presente. A desconsideração deste fato tem facilitado a introdução deste patógeno em áreas nobres. Muitas vezes, o próprio produtor, ao produzir batata-semente em área infestada e estabelecer lavouras para batataconsumo com esta semente em áreas próprias ou arrendadas, livres da R. solanacearum, condena, através desta prática, tais áreas. Disseminação – Embora não haja dúvidas que a principal forma de disseminação desta bactéria seja através de batata-semente infectada, pesquisas sobre este patógeno na Europa mostraram que vários casos, aparentemente, ocorreram em lavouras irrigadas com água de rios contaminados, onde a bactéria persiste infectando dulcamara (Solanum dulcamara), planta aquática. Assim, o uso de água de rios foi proibido para a irrigação, particularmente no Reino Unido. A seguir, um trabalho de erradicação das plantas hospedeiras foi feito baseado no monitoramento de R. solanacearum na água. Onde encontradas, as plantas de dulcamara foram eliminadas com o uso localizado de herbicida. No Brasil, várias pesquisas têm mostrado a grande quantidade de plantas silvestres (invasoras) hospedeiras desta bactéria, tornando a tarefa de erradicação impossível em algumas regiões. No entanto, cabe ressaltar que nem sempre a biovar tem sido determinada. O que está faltando? O que fazer? O Canadá tem os EUA como um grande comprador de batata-semente. Um grande obstáculo era a presença de Clavibacter michiganensis subsp. sepedonicus, agente causal da podridão anelar, sem ocorrência registrada no Brasil. Um programa de testes de tubérculos-semente para detectar este patógeno e também de monitoramento das áreas infestadas, significando muitas vezes focos numa lavoura, permitiu que os problemas devido à esta doença, praticamente sumissem do Canadá já há vários anos. Esta bactéria tem várias características semelhantes às de R. solanacearum. Já se têm laboratórios que testam para as diversas viroses. O agente da Murchadeira deveria ser incluído neste conjunto de testes.
Figura 2 – Tubérculo seccionado exsudando a bactéria Ralstonia solanacearum a partir da linha escura, onde estão os vasos (Valmir Duarte).
Teste diagnóstico – O corte transversal de um tubérculo pode indicar a presença da bactéria no sistema vascular se for pressionado e um pus branco exsudar (Figura 2). Além disto, quando plantas apresentarem o sintoma de murcha, um pedaço da haste pode ser suspenso dentro d’água em um copo transparente; a exsudação de um filete de pus bacteriano indica a presença da bactéria. Estes testes, no entanto, são restritos a material com altas populações de células bacterianas. Pequenas populações e ausência de sintomas dificultam sua detecção. O resultado é a sua ampla disseminação. Os produtores de batata e os programas de certificação de batata-semente necessitam usar técnicas sensíveis, que detectem populações latentes que podem estar abaixo do nível de detecção por métodos tradicionais, bem como a biovar predominante, como citado anteriormente.
Amostra – Um fator tão importante quanto o método a ser usado na detecção da bactéria é a amostragem do material a ser analisado. O Laboratório de Clínica Vegetal da UFRGS (LCV-UFRGS) www.ufrgs.br/agro/fitossan/clinica/index.html) recomenda a coleta, de forma aleatória e representativa, de amostra composta de 200 tubérculos. Esta amostra, ao chegar no laboratório é lavada e um cone de tecido, da região onde o tubérculo se une a planta (extremidade do estolão) (Figura 3), retirado de cada tubérculo. Este material é triturado em liquidificador, decantado por 10 minutos e o sobrenadante, submetido aos testes de detecção. Em virtude dos custos do transporte de uma amostra de 200 tubérculos, o envio de apenas 200 cones de cerca de 1g, perfazendo 200g, obtido sob orientação, é possível ser enviado pelo correio para o LCV-UFRGS para análise.
Figura 3 – Cone sendo retirado da região onde o tubérculo estava preso ao estolão (Valmir Duarte).
Análise – A presença da bactéria nos tecidos do tubérculo pode ser detectada por técnicas moleculares (PCR) e sorológicas (ELISA e imunofluorescência). A sensibilidade dos testes pode ser aumentada por Bio-PCR ou Bioimunofluorescência (Figura 4), nos quais a amostra é submetida a um período de incubação (12h) em meio líquido seletivo, que aumenta a população original e facilita a detecção por estes testes. O prazo prometido do resultado é cinco dias úteis, embora todo o protocolo possa ser executado em dois dias.
Mercado – O comércio internacional tem criado oportunidades para todos os produtos, inclusive para a batata. Embora R. solanacearum seja considerada endêmica no País, é perfeitamente viável credenciar zonas livres de pragas quarentenárias, que podem ser regiões dentro de um Estado. O Brasil tem inúmeras áreas livres desta bactéria, mas que, por falta de um programa de obtenção de tubérculos livres deste patógeno, correm o risco de serem contaminadas e comprometer qualquer aspiração brasileira de ocupação de um lugar mais destacado neste novo cenário internacional.
Figura 4 – Células de Ralstonia solanacearum fluorescentes observadas em microscópio de epifluorescência (Valmir Duarte).
(41) 3399.4251 – 3399.2027 – 9115.9607 –9115.8114 – ranchodabatata@hotmail.com O Rancho da Batata Indústria e Comércio de Alimentos Ltda está localizado na Br 277 km 124, no Bairro de São Caetano na Cidade...
Há aproximadamente cinco anos, as principais variedades de batata produzidas no Brasil eram: Bintje, Achat, Elvira, Baronesa, Atlantic e Baraka. Atualmente as principais variedades são Monalisa, Mondial, Asterix, Ãgata, Atlantic, e ainda um pouco...
Valmir Duarte – valmir@ufrgs.br;valmir.duarte@pq.cnpq.brProf. titular, Fitopatologia,Ph.D. Eng. Agr., CREA-RS 29.404Chefe do Depto – Depto de Fitossanidade, Faculdade de Agronomia, UFRGS51 3308.6016 / 9986.9421 Prof. Valmir Duarte em lavoura de batata O...
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