Nutrição – Adubação da batata com Silício

Adubação silicatada via solo pode ser uma tecnologia promissora para aumentar a produtividade e qualidade da batata


A batata (Solanum tuberosum L.) é a quarta cultura na ordem de importância mundial, cultivada em mais de 125 países e consumida por mais de um bilhão de pessoas devido a sua composição nutricional, versatilidade gastronômica, adaptações tecnológicas e baixo preço. Sua eficiência produtiva garante um maior aproveitamento de áreas destinadas à produção de alimentos, característica que mostra a tendência do crescimento da cultura num cenário mundial de constante crescimento populacional. Contudo, a batateira é uma planta bastante suscetível a estresses bióticos e abióticos e, exigente em insumos. Assim, no cultivo dessa planta geralmente são utilizados grandes quantidade de defensivos e  fertilizantes. A ciência já demonstrou o envolvimento do silício em vários aspectos estruturais, fisiológicos e bioquímicos da vida das plantas, com papéis bastante diversos. O silício tem um papel importante nas relações planta-ambiente, pois pode dar às culturas melhores condições para suportar adversidades climáticas, edáficas e biológicas, tendo como  esultado final um aumento e maior qualidade na produção. A utilização do silício na agricultura torna-se particularmente interessante quando o consideramos um anti-estressante natural. Estresses causados por temperaturas extremas,  eranicos, metais pesados ou tóxicos, por exemplo, podem ter seus efeitos reduzidos com o uso do silício. A fertilização com silício pode, também, aumentar a resistência a várias doenças fúngicas, bem como para algumas pragas.
O fornecimento de silício pode ser realizado via solo ou mediante pulverização nas folhas com fontes solúveis.
Contudo, a adubação silicatada ainda não é amplamente utilizada na agricultura rasileira, contrariamente ao que se nota em outros países, como no Japão, EUA, Ãfrica do Sul e China. Isto, possivelmente, deve-se aos poucos dados experimentais obtidos no Brasil, em comparação a outros países. O Si é um elemento que se concentra na epiderme das folhas formando uma barreira física à invasão de fungos nas células, difi culta também o ataque de insetos sugadores e mastigadores e diminui os danos causados às plantas. Em condições de ataque de pragas, a planta com Si terá seu tecido “mais duro” para o inseto mastigar ou sugar, preferindo esse uma planta com baixo teor do elemento. O mesmo raciocínio pode se usado para as doenças.


Tecnologia promissora
Pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP, em Botucatu (SP), pelo mestrando Adriano L. Pulz, mostrou que a utilização de adubação silicatada via solo, pode ser uma tecnologia promissora para reduzir o uso de defensivos e ao mesmo tempo aumentar a produtividade e a qualidade da batata. Um benefício proporcionado pelo
silício à planta de batata é a maior resistência ao acamamento (Pulz, 2007), como pode ser visto na Figura 1. A melhoria da arquitetura da planta na cultura da batata pode possibilitar o adensamento promovendo incrementos na produtividade, como também pode evitar que as hastes toquem o solo e aumentar a aeração na cultura, diminuindo o potencial de ocorrência de doenças. Assim, o fornecimento de Si à cultura da batata pode reduzir o uso de defensivos agrícolas, proporcionando a obtenção de produto de maior qualidade, além de gerar menor impacto ambiental nos sistemas de produção da batata. O efeito da proteção mecânica do Si nas plantas é atribuído, principalmente, a sua deposição/acúmulo na parede celular na forma de sílica amorfa. Outra hipótese relacionada com o controle de doenças seria a formação de fenóis favorecida pela absorção de Si, o que é mais aceito para plantas não gramíneas como a batata. Compostos fenólicos  e ai acumulam-se nos sítios de infecção, cuja causa ainda não está esclarecida. O Si pode formar complexos com os compostos fenólicos e elevar a síntese e mobilidade destes na planta. Uma rápida deposição de compostos fenólicos ou lignina nos sítios de infecção é um mecanismo de defesa contra a infecção por patógenos, e a presença de Si solúvel facilita este mecanismo de resistência a doença, como bode ser observado na Figura 2. Carneiro et al. (2003) ao estudarem a aplicação foliar de Si na cultura da batata, cultivar “Atlantic”, demonstraram que tal prática, quando utilizada semanalmente, reduziu em até 50% a severidade da requeima (Phytophora  infestans), em relação às plantas que não receberam Si, sendo essa doença considerada como uma das principais da cultura Além disso, a aplicação foliar de Si aumentou a produção de batata cv. Atlantic da classe extra (Duarte et al., 2007).




Aumento da produtividade
O acúmulo de sílica na folha também provoca redução na transpiração e faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor, ou seja, a planta fi ca mais tolerante a veranicos e períodos  de baixa disponibilidade hídrica, mantendo o processo de crescimento por um período maior, em relação às plantas que não receberam o elemento, consequentemente, aumentando a produtividade da cultura (14,3%) e a qualidade do produto colhido, tanto em condições de adequado fornecimento de água, quanto em condições de deficiência hídrica (Pulz, 2007), como se observa na Figura 3.
Na cultura da batata tal efeito é importante, já que essa cultura é exigente em água e mais sensível ao estresse hídrico, comparada à outras culturas, pois possui um sistema radicular superfi cial  e seu cultivo é frequentemente realizado em solos de baixa a média capacidade de retenção de água. Os benefícios do  Si são observados com maior frequência em solos pobres no elemento e em anos com adversidades, como veranicos ou períodos secos prolongados. Sob tais condições, a planta bem nutrida com silício tolerará por um período maior a falta de água, pois usará melhor água absorvida e a perderá numa velocidademenor em relação à planta com baixo teor de silício. Na prática, o fornecimento de Si pode reduzir o consumo de água pela batata, evitando o desperdício desse recurso natural cada vez mais escasso.
Além disso, o silício acumulado na folha permite que esta fi que mais ereta, ou seja, diminui o acamamento, como pode ser verifi cado na Figura 1, e com isso aumenta a área de exposição à luz solar. Como consequência, há redução da queda de folhas, aumento na taxa fotossintética e da produtividade. Outro benefício que pode ser proporcionado à planta é aumentar a tolerância à geada. Uma grande variedade de materiais tem sido utilizada como fonte de Si para as plantas, como escórias de siderurgia, wollastonita, sub-produtos da produção de P elementar em fornos elétricos, metalissicato de Ca, metassilicato de sódio, termofosfato, silicato de Mg, de Ca e de K. As escórias básicas de siderurgia podem ser utilizadas como corretivo do solo e fonte de Si e outros nutrientes. São constituídas principalmente de silicatos de Ca e Mg, podendo conter impurezas como P, S, Fe, Zn, Cu, B, Mo, Co e outros. Os silicatos comportam-se de maneira similar aos carbonatos (calcários) no solo e são capazes de elevar o pH, neutralizando o alumínio e outros elementos tóxicos às plantas. Em seu estado original, a escória é um material de composição química e granulometria bastante variável, em função do tipo de  processo, do minério de Fe e do sistema de forno utilizado. A reatividade da escória varia conforme sua granulometria, dosagem utilizada, tipo de solo e tempo de contato entre a escória e o solo, tendo, normalmente, custo muito parecido com o do calcário. O preço dos silicatos provenientes da escórias não é elevado, contudo o custo fi nal do produto, colocado na propriedade, dependerá do frete.
Além da correção do solo a principal vantagem do uso dos silicatos é o fornecimento de silício, o que não ocorre quando se utiliza calcário. A solubilidade do Si, nos diferentes tipos de escórias é bastante variável. As escórias de alto forno, normalmente, apresentam maiores teores de Si, enquanto as escórias da produção de aço inox são as que apresentam o Si na forma mais solúvel, ou seja, prontamente disponível para as plantas. O produtor deve sempre adquirir produtos de fi rmas idôneas. No caso de dúvidas, realizar consulta técnica antes de adquirir o produto.

Figura 2. Efeito da aplicação de silício na resistência da batata a doença (esquerda: sem Si e direita, com Si)





Figura 3. Efeito da aplicação de silício no solo e da deficiência de água na produção total e comercial de tubérculos de batata (Pulz, 2007).


Resultados
Os principiais resultados obtidos até o momento envolvem as culturas do arroz, cana-de-açúcar, pastagens e milho, que são plantas que acumulam maiores quantidades de Si nos tecidos. Nos últimos anos têm sido realizadas pesquisas também com cultura não gramíneas, tais como: soja, feijão, eucaliptos e batata, com resultados promissores, indicando que tal técnica pode ser interessante para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos agrícolas.


Rogério Peres Soratto
Eng. Agro. Professor Assistente Doutor
Departamento de Produção Vegetal
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP
Caixa Postal 237, CEP 18610-307, Botucatu (SP)
E-mail: soratto@fca.unesp.br

Carlos Alexandre Costa Crusciol
Eng. Agrº. Professor Adjunto
Departamento de Produção Vegetal
Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP
Caixa Postal 237, CEP 18610-307, Botucatu (SP)
E-mail: crusciol@fca.unesp.br



LITERATURA CONSULTADA
CARNEIRO, L.M.S.; JULIATTI, F. C.; OLIVEIRA, R.G.; KORND÷RFER, G.H.;
AMADO, D.F.; RAMOS, H.F. Uso da argila silício na redução da severidade
de Phytophthora infestans em batateira. Fitopatologia Brasileira, v.
28, p.347-348, 2003.
DUARTE, I.N.; RODRIGUES, C.R.; LUZ, J.M.Q.; JULIATTI, F.C. Aplicação
de silicato de potássio via foliar em plantas de batata: Produção e sólidos
solúveis. In: CRUSCIOL, C.A.C; VILLAS BOAS, R.L.; FERNANDES, D.M.;
SORATTO, R.P.; KORNDÖRFER, G.H.; GUERRINI, I.A. (Ed.). Resumos do
4º Simpósio Brasileiro sobre Silício na Agricultura. Botucatu: Fepaf. 2007,
p.175-178.
PULZ, A.L. Estresse hídrico e adubação silicatada em batata (Solanum
tuberosum L.) cv. Bintje. 2007. 56 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia/
Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade
Estadual Paulista, Botucatu

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