Nutrição Mineral de Cálcio pela Batata


Paulo Cezar Rezende Fontes Depto. de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa. Professor Titular. Bolsista do CNPq. VIÇOSA/MG – CEP: 36570-000 Fone: (31) 3899.1140 Fax: (31) 3899.2614
pacerefo@ufv.br.


A maioria dos solos apresenta quantidade adequada de cálcio solúvel (Ca++) para a nutrição da batata, embora possa estar adsorvido aos colóides do solo onde apresenta reduzida mobilidade.
Ademais, a adição de calcáreo e de superfosfato simples complementa a quantidade existente no solo.
O cálcio tem diversas funções na planta entre as quais proporcionar apropriada divisão celular e desenvolvimento de parede celular; osmoregulação; mensageiro na condução dos sinais entre os fatores ambientais e processos de crescimento da planta; co-fator em atividade enzimática e metabolismo do amido. O elemento apresenta reduzida mobilidade na planta e o teor no tubérculo é naturalmente baixo, pois o sistema radicular absorve o Ca da solução do solo e o envia, preferencialmente para o caule e folha que apresentam taxa de transpiração maior do que a do tubérculo. Esse mecanismo depende da interação genética x ambiente x práticas culturais, sendo de difícil quantificação (Pereira & Fontes, 2005).


Quando a concentração de Ca no tubérculo é adequada, ocorre redução na severidade de defeitos como pontos internos marrons, coração oco e sintomas de sarna. É comum associar a ocorrência de sarna com pH do solo e calagem. Em algumas situações e anos a associação funciona. Quase sempre, em solo com baixo pH, o percentual de ocorrência de sarna é maior do que em solo com pH próximo de 5,50 a 6,00. Porém, a eficiência de uso do fertilizante e a produtividade absoluta conseguida neste solo são maiores. Não adianta reduzir a porcentagem de ocorrência de sarna se a produtividade for também reduzida. Mostramos (Fontes, 1999) que a incidência da sarna comum nos tubérculos de batata depende da interação de diversos fatores como propriedades químicas do solo (constituição da fração coloidal, capacidade de complexação de alumínio, atividades do alumínio e do silício) além de práticas culturais como local de colocação do adubo NPK e provavelmente, genótipo e ano.


Analogamente ao que ocorre com a batata, anormalidades pela “deficiência de Ca” são relatadas na maioria das espécies. Em tomate é caracterizada pelo aparecimento de tecido necrótico na parte distal do fruto, chamada de podridão apical (Fontes, 2003). Essa anomalia foi identificada há mais de 100 anos como uma desordem fisiológica e relacionada à deficiência de cálcio (Saure, 2001). Apesar de intensamente estudada, a podridão apical (PA) ainda não é completamente entendida.


Consequentemente, medidas de controle a nível prático não são sempre eficazes. É sabido que interações entre irradiação, temperatura, disponibilidade de água, características físicas do solo, salinidade, balanço catiônico na solução do solo, umidade relativa do ar, entre outros, controlam o aparecimento de PA nos frutos. É proposto que a PA não é diretamente causada pela deficiência de Ca, mas o resultado da expressão de algum gen em condições de estresse. É também proposto que a PA não é causada por um simples fator, mas por eventos, em série: aumento na concentração de giberelina resultando em acentuado decréscimo na concentração de Ca e causando aumento na permeabilidade das membranas celulares; ocorrência de algum estresse ambiental acima de determinada intensidade (déficit hídrico, altas concentrações salina ou de NH4+, temperatura elevada e outros) que provocará a deterioração das membranas das células do fruto, principalmente os recém formados, com subsequente perda de turgor e vazamento do líquido celular (Saure, 2001).


Explicação parecida é proposta para a ocorrência de “pontos amargos” (bitter pit) em maçã, tida como deficiência de cálcio. Também, a “queima das pontas” da alface é uma desordem relacionada à deficiência de cálcio localizada nas margens da folha. Nem a adição ao solo ou pulverizações com Ca são meios seguros de prevenir a ocorrência da “queima das pontas” da alface. Em lavouras de alface, inesperadamente e sem possibilidade de previsão, mesmo os cultivares tidos como tolerantes, mostram sintomas da anomalia (Wissemeir & Zuhlke, 2002). Das variáveis climáticas, apenas a irradiação relacionou-se significativamente com a incidência da anomalia.


Voltando a batata, há questionamento se o tubérculo tem capacidade de “absorver” Ca diretamente do solo. Essa possibilidade parece ser viável se houver “interceptação” do Ca solúvel pelos tubérculos jovens e estólons. Essa possibilidade tem levado alguns produtores americanos aplicarem uma fonte solúvel de cálcio (100 a 200 kg/ha de Ca), via água de irrigação, no período de tuberização intensa da batateira (Spillman, 2003). Segundo o autor, essa prática propicia aumento na concentração de Ca dos tubérculos, redução na incidência de defeitos internos, menor incidência de esfoladura dos tubérculos durante a colheita, transporte e armazenamento e menos estresse na planta pelo calor. A consistência dos resultados advindos desta prática precisa ser avaliada nas condições brasileiras.


Embora seja útil e operacionalmente fácil, parece não ser oportuno e aconselhável considerar a deficiência de Ca como causa independente e única das anomalias observadas nas culturas de tomate, alface e batata. É mais importante otimizar as condições edafo-climáticas, o manejo e a quantidade dos insumos do que maximizar a quantidade de insumos. Assim, práticas culturais ou estratégias antiestressantes como adequadas condições no solo para crescimento da raiz; suprimento apropriado de água e de nutrientes, principalmente nitrogênio; baixa salinidade na rizosfera; plantio em condição de temperaturas amenas são exemplos de procedimentos, difíceis de serem otimizados, mas que minimizam o aparecimento de sintomas de deficiência de Ca nos tubérculos.


Literatura: consulte o autor.


 

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