O Papel do Associativismo na Agricultura e a Modernidade

Magda Eva Soares de Faria Wehrmann
Agrícola Wehrmann Ltda. Sócia-proprietária,
(61) 3504 0224, Fax: 3504 0223
mwehrmann@hotmail.com


A palavra associativismo passou a existir oficialmente para a Língua Portuguesa depois dos anos 1990, sendo sua definição vinculada a trabalhadores e não a produtores. Esse fato não impediu que ela fosse adotada por aqueles que procuram fazer desse conceito uma prática socioeconômica. Historicamente, o Homem mostrou-se gregário, sobretudo, nos períodos de fortes conflitos ou quando sua sobrevivência estava de alguma forma ameaçada. O advento da Modernidade e suas consequências sobre o comportamento dos atores sociais, bem como as duas grandes revoluções ocorridas no Ocidente – a política na França e a econômica na Inglaterra, – contribuíram para que as relações humanas se tornassem cada vez mais individualistas.


Os efeitos desse tipo de comportamento afetaram não só a maneira como os homens se relacionavam com seus pares, como também o modo como eles se comportavam em suas atividades produtivas, quer como proprietários dos meios de produção, quer como força de trabalho. À medida que o setor industrial conquistava a hegemonia da vida socioeconômica, os demais setores passavam a ter papel complementar nessas sociedades. A perda de espaço da agricultura nessas sociedades foi recorrente em todas as regiões do planeta.


No século XIX, apogeu da indústria como setor- líder da economia, iniciaram-se as primeiras reações ao predomínio de uma atividade em detrimento de outras e a preponderância de uma classe sobre as demais; o que ocorreu em Rochdale: 28 tecelões desempregados e com poucas perspectivas de inserção no mercado de trabalho, criaram uma associação, cuja base doutrinária constituiu os princípios fundamentais do cooperativismo, válidos até hoje (Inglaterra, 1844); foi apenas o germe de um novo tipo de comportamento dos atores dentro de seu contexto socioeconômico. A nova postura pressupunha ajuda mútua e igualdade, o que não seria possível sem organização e um fio condutor mais forte que a produção per se. A ideologia, aqui entendida como idéias próprias de um grupo, pertencente a um momento histórico, foi a mola propulsora dessa nova postura perante o poder econômico dominante, quiçá político.
Ainda no século XIX, o alemão Karl Kautsky realizou um estudo pioneiro, A questão agrária, onde ele expôs de maneira clara como a indústria passava a desempenhar atividades, até então consideradas próprias da agricultura e de que maneira a agricultura tornava-se cada vez mais dependente do setor secundário.


Esses mesmos argumentos foram retomados por Goodman et al (1990), em sua obra Da lavoura às biotecnologias. Para esses autores o setor industrial, ao se apropriar de algumas atividades ou elementos da produção agrícola, tenta reduzir a importância da natureza na produção rural. A indústria passa a representar uma proporção crescente do valor agregado, reduzindo o produto agrícola à condição de insumo industrial.


São inúmeras as discussões sobre a penetração do capitalismo urbano no setor rural e as mais diversas formas de submissão deste último ao primeiro; essas discussões ocorreram em todas as escolas de desenvolvimento e sob os mais diversos matizes ideológicos. Cabe destacar que esse capital urbano impõe-se à agricultura e valoriza a padronização da produção agrícola, que aí pode ser vista como uma extensão da produção industrial.


Inúmeras são causas estruturais e conjunturais que explicam a preponderância do setor industrial sobre o agrícola. Mas uma, em especial, interessa aos produtores que buscam romper com padrões que se reproduzem desde que a agricultura tornou-se dependente do capital urbano: a sua suscetibilidade em relação a recursos oriundos de outros setores da economia. No Brasil, a pouca tradição em se associar e a atomização das unidades de produção contribuíram para que os produtores rurais ficassem ainda mais a mercê dos humores do mercado e das políticas agrícolas nacionais e internacionais – além daquelas desenhadas por blocos que se fortaleceram no último quartil do século XX.


Se o setor agrícola não é preponderante na economia, o que dizer do seu poder de barganha?
A História mostra que grandes avanços no setor ocorreram quando esses agentes produtivos passaram a agir de forma conjunta. Associar-se não significa apenas esforço para reduzir custos e produzir em escala, é assumir um comportamento, uma postura para com os demais atores, que deixam de ser atores apenas e passam a ser partícipes da vida sócio-econômica da coletividade.

VEJA TAMBÉM

Variedade CUPIDO – Nova opção para mercado fresco

Pedro Hayashi jarril@uol.com.br (19) 641.3489 Imagens: klaas Schoaenmaker klaas@produtosterraviva.com.br (19) 3679.9116 A procura por novas variedades de batata é um trabalho contínuo e que com certeza nunca terá fim, seja por cruzamentos, seja por...

LER

Fatores críticos do processo produtivo da batata

ABSTRAC: Critical factors in potato production process The production of Brazilian potato was 3.1 millions of tons in 2006 (FAO, 2006). An analysis since 2001 has been showing that potato price had a variation...

LER

Antenor Pelegrino

Antenor Pelegrino 26/10/1954 – 10/04/2005 Começou sua carreira jurídica em 1981, o ano de 1986 publicou o BIT – Boletim Informativo Trabalhista, em 1989 o BIT passou a ser a Revista BIT, na qual...

LER

A produção de batata semente na Escócia – E as perspectivas de importação de sementes para o Brasil

Elcio Hirano Pesquisador e gerente do Escritório de Negócios Tecnológicos de Canoinhas EMBRAPA -Transferência de Tecnologia Contato: (47) 6240127 – elciohirano@netnorte.com.br A Escócia, juntamente com a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte,...

LER