Rui Scaramella Furiatti – furiatti@convoy.com.br Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Setor de Ciências Agrárias e de Tecnologia
Entre as principais espécies de afídeos que colonizam a batata destacam-se: Myzus persicae (Sulzer); Macrosiphum euphorbiae (Thomas); Aphis gossypii (Glover) e o Aulacorthum solani (Kltb.) (Homoptera: Aphididae). Porém as duas primeiras espécies são as mais importantes, sendo a primeira a maior responsável pela degenerescência da batata-semente. O M.persicae é capaz de transmitir mais de 100 viroses em plantas pertencentes a diversas famílias, sendo considerado como o mais importante vetor de “Potato Leafroll Vírus” (PLRV) e de “Potato Vírus Y” (PVY) – os maiores responsáveis por perdas de rendimento da batata -, entre outros vírus. Além da transmissão de viroses, altas populações de M. persicae podem ocasionar perdas de até 54% do peso seco de plantas de batata, decorrentes da ação toxigênica da saliva, a qual ocasiona necroses, principalmente ao longo das nervuras. A duração do ciclo de M. persicae em condições de laboratório, com temperatura média entre 23 e 24 0 C, é de cinco a oito dias, com longevidade média de 20 dias. A fêmea é capaz de produzir até 80 descendentes. Nas regiões tropicais o M. persicae reproduz de forma assexuada durante o ano todo por partenogênese telétoca (dos óvulos não fertilizados resultam somente fêmeas). Porém, a presença de machos dessa espécie, capturados em armadilhas em várias regiões do Brasil, põe em relevo a possibilidade da presença de populações sexuadas nos hospedeiros primários durante os meses mais frios do ano, principalmente na região sul do país.
A população áptera de M. persicae apresenta cor geral verde clara a verde transparente, sem manchas no corpo, porém sofre grande variação, dependendo da época do ano. Já a forma alada, mantém a cor geral do corpo verde clara, com tonalidades amareladas, rosadas, roxas e com manchas escuras características no dorso – a cabeça e o tórax são de cor preta. A presença de ápteros de coloração rosada ou avermelhada, sobretudo nos cultivos de outono, tem ocasionado dúvidas quanto a sua identificação e também quanto a sua susceptibilidade a inseticidas. Em trabalhos realizados pelo autor em áreas de Itapetininga, SP, e
Canoinhas, SC, constatou-se populações elevadíssimas das formas verde e rosada de M. persicae – identificação confirmada por taxonomistas – e também se observou a suscetibilidade de ambas a carbamatos, fosforados e neonicotinóides. Os resultados de eficácia para ambas as formas foram semelhantes, sendo que a rosada foi controlada, pela maioria dos inseticidas testados, aos três dias após a sua aplicação, enquanto que a forma verde foi controlada após cinco dias.
A dificuldade no controle da forma rosada, relatados por técnicos e produtores, pode estar ligada: ao manejo incorreto do inseto, isto é, início das aplicações com altas populações do mesmo; dosagem de inseticida inferior à recomendada; volume da calda insuficiente, o qual não se ajusta à massa foliar reinante na época da aplicação e não permite que o inseticida alcance as folhas inferiores das plantas de batata, local preferido de M. persicae; uso de bicos e/ou pontas de pulverização incorretas, entre outras causas.
O M. persicae é atraído pela cor amarela podendo ser monitorado por armadilhas amarelas de água e adesivas planas e cilíndricas. As armadilhas de sucção, auxiliadas ou não pela cor, são muito utilizadas em outros países. O número de afídeos coletados em armadilhas amarelas de água, principalmente M. persicae, tem relação com a infecção de PLRV nas plantas de batata, considerando a idade das últimas na qual se observou à revoada, porém não há relação com o PVY.
Isso de deve, provavelmente, ao fato de que o PVY é transmitido por diversas espécies de afídeos vetores de viroses. No entanto não há um nível confiável de controle de afídeos em batata baseado nas coletas através de armadilhas ou na população de afídeos nas plantas, para as condições brasileiras.
Nas áreas destinadas à produção de batata-semente o controle de afídeos deve ser rigoroso, já nas áreas de batata-consumo pode-se aceitar populações maiores. No entanto, é importante frisar, que não há nível de controle estabelecido para as condições brasileiras, em ambas as situações.
Quando o controle químico dos afídeos da batata for necessário deve-se optar por inseticidas com modos de ação diferentes, aplicados em rotação. O PLRV, vírus do tipo persistente ou circulativo, é controlado eficientemente com inseticidas. Esse vírus não é transmitido durante a picada de prova, que o afídeo faz na planta logo após o pouso, dando ao inseticida a oportunidade de atuar. Porém, o controle de PVY através de inseticidas é limitado, pois esse vírus é do tipo não persistente ou não circulativo, sendo transmitido durante a picada de prova, não permitindo a atuação do inseticida antes que a transmissão seja efetuada.
A qualidade das pulverizações tem grande influência na eficácia dos inseticidas, principalmente no controle do M. persicae, que coloniza preferencialmente as folhas do estrato inferior da planta. O manejo desse inseto deve ser iniciado nas plantas jovens não permitindo o desenvolvimento de grandes colônias em folhas senis, onde a translocação dos inseticidas sistêmicos é deficiente.
O uso indiscriminado de inseticidas na cultura da batata, além de acarretar danos ao meio ambiente e elevar os custos de produção, contribui na seleção de populações de M. persicae resistentes a inseticidas. Nas principais regiões produtoras de batata do Brasil têm sido observadas populações muito numerosas desse inseto, particularmente no final de ciclo, em áreas onde foram aplicados diversos inseticidas em várias ocasiões. Em algumas dessas regiões o autor constatou a presença de populações resistentes com intensidade e frequência elevadas. A alta frequência de indivíduos de M. persicae resistentes a inseticidas e a intensidade elevada da resistência podem estar ligadas à seleção de resistentes durante a safra de batata e à presença de migrantes alados resistentes provenientes das plantas voluntárias.
A resistência de M. persicae está ligada à superprodução da enzima esterase-4, a qual confere ao afídeo uma resistência cruzada, em grau variado, degradando ou sequestrando a molécula do inseticida.
Também já se constatou a presença de resistência comportamental e acetilcolinesterase insensível.
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