Outros usos do álcool a partir da batata

Além da produção de etanol combustível a partir de batatas, uma outra alternativa é a obtenção de álcool com maior valor agregado, seja álcool neutro ou bebidas alcoólicas. Em ambos os casos o preparo do material e o processo fermentativo são os mesmos descritos anteriormente (Revista Batata Show de agosto de 2007), apenas certos cuidados adicionais devem ser tomados, de acordo com o produto fi nal desejado. O álcool etílico, do ponto de vista químico, não apresenta diferença quanto às matérias-primas utilizadas como canade- açúcar, cereais, beterraba e batata.



Divulgação
Cristina Maria Monteiro Machado


As diferenças estão restritas às impurezas que acompanham o álcool, que são características de cada matéria-prima e o grau de purifi cação pelo qual passou o produto.


Ãlcool Neutro
A denominação álcool neutro procura englobar diversos “tipos” de álcool, por exemplo: álcool fino, álcool extra fino, álcool de qualidade industrial. Grosseiramente falando, o álcool neutro é o etanol, hidratado ou anidro, com baixos teores de impurezas.
O álcool neutro constitui-se principalmente em bem de produção intermediário, ou seja, matéria-prima para as indústrias químicas, alimentícias, de bebidas, de cosméticos e de produtos farmacêuticos. Na indústria química é utilizado na fabricação de tintas, solventes, detergentes. Na alimentícia é utilizado na fabricação de vinagre e como matéria prima em diversos processos como precipitante e solvente. Já em bebidas o álcool neutro é usado principalmente na correção do teor alcóolico de vinhos e na fabricação de licores e aperitivos.


Na farmacêutica é usado na extração de princípios ativos naturais e como diluente na fabricação de vacinas, antibióticos. Em cosméticos para fabricação de perfumes, desodorantes, cremes, produtos de toalete em geral etc.


Não existe uma especifi cação nacional ou mesmo internacional que contemple todos os tipos de álcool em comercialização hoje em dia. Um dos motivos para isto é que a especifi cação solicitada por um determinado comprador depende do uso específi co. Em geral, quanto mais puro o álcool (neutro, fino, extra-fino) ele terá um peso específi co e acidez menores, características diretamente relacionadas com a sua pureza. Operacionalmente, o processo de produção de álcool neutro é idêntico ao de produção de etanol combustível.


Devido às características próprias, há a necessidade de maiores cuidados no processo fermentativo (uso de microrganismos selecionados e controle rigoroso de contaminações) e uso de faixas de trabalho mais restritas nas colunas de destilação.


Naturalmente, quanto maior a necessidade de pureza do produto, mais exigente e, provavelmente, mais caro, será o processo produtivo e o investimento inicial em equipamentos. No Brasil, as destilarias que produzem álcool fi no utilizam cana, milho ou arroz como matérias-primas. De modo geral, o álcool neutro produzido a partir de matérias primas amiláceas é comercializado apenas em maior grau de purifi cação como álcool fi no ou extra fi no para indústrias alimentícia, cosmética e farmacêutica, o que pode lhe conferir um valor agregado mais alto, ao ser comparado com o álcool neutro de cana.


Bebidas alcoólicas
Nem todas as indústrias de fermentação alcoólica têm por fi nalidade obter, a partir de carboidratos, etanol em concentração máxima. Em muitos casos, outras substâncias que trazem características de aroma e sabor e se formam no processo fermentativo são pelo menos tão importantes quanto o álcool etílico, e esse produto fi nal é comercialmente muito mais valioso que o da indústria de álcool combustível. Esse é o caso especifi camente das indústrias de bebidas alcoólicas.


Assim, ao ser obtida por fermentação, uma bebida alcoólica vai ter uma proporção harmônica de substâncias nobres que dão a ela características únicas e que se completam, conforme o tipo de bebida, com as que se formam durante o envelhecimento. Neste contexto é extremamente importante a matéria-prima utilizada, sua origem, bem como a preparação do mosto, e até mesmo a quantidade de sais minerais da água de diluição, o sistema de destilação utilizado e o tipo de madeira do tonel de envelhecimento. Também não pode ser esquecida a importância vital do microrganismo, pois embora sempre se usem leveduras, conforme a bebida pode haver uma variação na sua espécie. Diferentemente do processo de obtenção de etanol combustível onde o que se espera é rendimento em concentração de álcool no menor tempo possível, aqui o objetivo é um produto com características próprias e diferenciadas de aroma e sabor.


No Brasil, a lei atualmente vigente que regulamenta os padrões para bebidas alcoólicas as defi ne como um produto refrescante, aperitivo ou estimulante destinado à ingestão humana no estado líquido, sem fi nalidade medicamentosa e contendo mais de meio grau Gay-Lussac de álcool etílico potável, obtido por fermentação. É imposto que, entre todas as bebidas alcoólicas, só os licores podem ser artifi cias (obtidos da mistura de xaropes com álcool neutro).


As bebidas alcoólicas são tão antigas quanto a humanidade e numerosas como suas etnias. Cada povo tem as suas, a partir das fontes naturais próprias de açúcares e amiláceos, como frutas, cana, milho, trigo, arroz, centeio, aveia, cevada e até mesmo com raízes e folhas. A batata é uma matéria prima importante principalmente nos países eslavos, onde é utilizada para a produção de vodca.


Considerações finais
As alternativas de agregação de valor à batata propostas neste artigo, produção de álcool neutro e de bebidas obtidos da fermentação alcoólica dos tubérculos podem ser interessantes na medida em que exploram as diferenças de matériaprima na qualidade do produto fi nal. Assim, embora o etanol obtido de batata seja mais caro que o de cana-de-açúcar, alterando-se alguns parâmetros no processo se obterá produtos mais valorizados.


Adicionalmente, principalmente no caso da produção de bebidas alcoólicas, pode-se explorar nichos de mercado que procuram produtos alternativos, como os artesanais e/ou orgânicos. Por outro lado, não se pode deixar de lembrar que quanto mais valorizados os produtos, mais exigentes os compradores. Desta forma, antes de se decidir iniciar um investimento deste tipo, é necessário um planejamento considerando todas as variáveis existentes em cada etapa do processo industrial e chegando à estratégias de marketing para inserção de um produto novo no mercado.


Cristina Maria Monteiro Machado
Embrapa Hortaliças
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CEP 70359-970 – Brasília (DF)
e-mail: cristina@cnph.embrapa.br


 

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