Pinta-preta da batata

Ailton Reis / Sieglinde Brune Pesquisadores, Embrapa Hortaliças, Brasília Eduardo S. G. Mizubuti Professor, Depto. de Fitopatologia, UFV ailton@cnph.embrapa.br


Várias doenças fúngicas incidem na cultura da batata, comprometendo a sua produtividade, acarretando um aumento dos custos de produção e dos riscos associados ao uso intensivo de fungicidas. Dentre estas, destaca-se a pinta-preta, causada pelo fungo Alternaria solani. A doença ocasiona perdas na produção devido à severa destruição de área foliar, reduzindo o número e tamanho dos tubérculos, além de causar apodrecimento desses órgãos. Outra hospedeira importante de A. solani é o tomate.
A pinta-preta ocorre em todas as regiões onde tomateiro e batateira são cultivados.
É uma doença importante principalmente em condições de temperatura e umidade elevadas.


Sintomas


Toda parte aérea da planta pode ser afetada e em qualquer estádio de desenvolvimento, embora plantas mais velhas sejam mais suscetíveis que as jovens. Em geral, os sintomas costumam ser observados após os 40 dias do plantio. Nas folhas, ocorrem lesões pardo-escuras, geralmente circundadas por um halo clorótico. Com o aumento das manchas, são formados anéis concêntricos (Figura 1). No caule, as lesões são alongadas com anéis concêntricos evidentes.
Em condições muito favoráveis, plantas de cultivares suscetíveis podem apresentar uma rápida queima da parte aérea (Figura 2). No Brasil, a ocorrência de infeção nos tubérculos quase não tem sido observada. Quando esta ocorre, se inicia principalmente por ferimentos, induzindo a formação de lesões escuras, circulares a irregulares e deprimidas.


Epidemiologia da doença


As condições favoráveis ao desenvolvimento da doença são alta umidade e temperatura entre 25 e 30oC. Geralmente, essas condições são verificadas durante o verão na maioria das regiões produtoras. Os esporos do fungo são facilmente dispersos pelo vento, batatas-sementes e pelos respingos de chuva e de água de irrigação e ainda podem permanecer viáveis por longo período de tempo. O fungo sobrevive em sementes, restos de cultura e também em outras plantas hospedeiras. Além do tomateiro e batateira, A. solani afeta outras plantas da família Solanaceae como pimentão, berinjela e o jiló. A ocorrência de raças do patógeno e de especificidade por hospedeiro ainda não estão bem esclarecidas.



fig. 1 – Sintomas da pinta preta em folha de batata


 


Controle


O controle da pinta preta tem sido baseado na aplicação de fungicidas protetores e sistêmicos, conforme recomendação dos fabricantes e sob receita de um agrônomo.
Vários fungicidas estão registrados no Brasil para controle da pinta-preta, além dos fungicidas de contato, oxicloreto de cobre, mancozeb, clorothalonil e famoxadone, existem os fungicidas sistêmicos como iprodione, procimidone, tebuconazole e difeconazole bem como produtos mais modernos como azoxystrobin e pyraclostrobin, entre outros. Porém o uso de controle químico deve ser feito de maneira racional.
Medidas de controle cultural, tais como rotação de culturas, espaçamento adequado e, ou, sistema de condução da cultura, adubação e a eliminação dos restos culturais, podem ser utilizadas com o objetivo de controlar a pinta preta. No entanto, estas práticas são difíceis de serem adotadas em cultivos intensivos e, por si só, não são eficientes. Adubações pesadas podem colaborar para uma maior resistência das plantas, porém esta prática pode encarecer ainda mais o cultivo e causar desequilíbrios na planta, tornando-a mais suscetível a outras doenças. O controle da doença por meio da resistência é a medida mais recomendável e com maiores chances de reduzir o uso de fungicidas na cultura. A integração de variedades resistentes ao controle químico é viável e já foi demonstrada ser capaz de reduzir o número de aplicações de fungicidas.
Na batata cultivada (Solanum tuberosum subsp. tuberosum), fontes de resistência à doença são muito raras, mas há possibilidade de encontrá-las entre as espécies selvagens. Entretanto, a resistência encontrada é do tipo quantitativa (horizontal ou parcial) e a mesma está geralmente associada com características de maturidade tardia (ciclo longo).
Entre as cultivares de batata comercialmente conhecidas Aracy, Catucha, Eliza e Asterix são consideradas resistentes, Baronesa, Delta e Baraka medianamente resistentes, Atlantic e Monalisa pouco resistentes e Bintje e Achat muito suscetíveis.



fig. 2 – Planta de batata severamente afetada pela pinta preta


A resistência da batateira a A. solani está associada com as características de maturidade e tuberização. Em geral, genótipos resistentes são de maturação tardia e maior intensidade da doença é observada a partir da tuberização.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


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