Jesus Túfoli, Ricardo J. Domingues, Josiane T. Ferrari e Samantha Zanotta
Instituto Biológico
Considerada o grande “tesouro enterrado” dos povos andinos, a batata (Solanum tuberosum L.) transformou hábitos, culturas e costumes em todo mundo graças a sua excelência como alimento, adaptabilidade e elevado potencial produtivo. Superada apenas pelo arroz e o trigo, essa solanácea é uma importante fonte de carboidratos, fósforo, potássio, vitaminas do complexo B e C, proteínas de boa qualidade, fibra alimentar e outros nutrientes, podendo ser consumida “in natura” ou industrializada nas mais diferentes formas.
No Brasil, a pinta preta, causada por fungos do gênero Alternaria, representa uma das mais importantes e destrutivas doenças da cultura da batata. Nas folhas manifesta-se através de manchas foliares necróticas, circulares, elípticas ou angulares, pardo-escuras, isoladas ou em grupos, com a presença de anéis concêntricos, bordos bem definidos, podendo ou não estar envoltas por um halo amarelado. As lesões em hastes e pecíolos são similares e podem ocorrer em função da suscetibilidade da cultivar. Nos tubérculos as lesões são escuras, de formato irregular, deprimidas e tendem a provocar podridão seca. Ataques severos da doença são caracterizados por reduções significativas da área foliar, do ciclo da cultura, assim como da produtividade e da qualidade de tubérculos.
O fungo Alternaria solani Sorauer tem sido relatado como o agente causal da pinta preta da batata por inúmeros autores. Porém, a doença também tem sido associada a outras espécies do gênero como: Alternaria grandis E.G. Simmons e Alternaria alternata (Fries) Keissler. No Brasil, o relato de A. alternata é conhecido há algum tempo, porém o de A. grandis é mais recente. De modo geral, não se observa diferenças significativas de sintomatologia entre as três espécies, porém essas diferem quanto a agressividade e em relação ao tamanho e morfologia dos conídios. Observações de campo têm evidenciado que as epidemias de A. solani iniciam-se a partir dos 40 a 45 dias após a emergência, nas folhas mais velhas, evoluindo posteriormente para as mais novas. As epidemias causadas por A. grandis tendem a ser mais precoces e severas podendo destruir rapidamente toda área foliar. A. alternata geralmente é menos agressiva, sendo muitas vezes encontrada em complexo com as outras espécies ou associada aos tubérculos.
A ocorrência de epidemias severas de pinta preta está associada a temperaturas na faixa de 22 a 32 ºC e alta umidade. A doença é mais severa em primaveras e verões chuvosos, mas quando associada a Alternaria grandis pode ser bastante destrutiva em períodos mais secos.
Além dos aspectos climáticos e a presença de novas espécies, a concorrência de epidemias cada vez mais severas de pinta preta pode estar relacionada a uma maior disponibilidade de inóculo favorecido por cultivos sucessivos de batata e uma ampla gama de hospedeiros alternativos como: Solanum spp, Capsicum spp, petúnia (Petunia hybrida Hort.), tabaco (Nicotiana tabacum L.), fisális (Physalis spp.), mentrasto (Ageratum conyzoides), buva (Erigeron bonariensis), vinagreira (Rumex acetosa), entre outras.
Manejo
Entre os fatores a serem considerados para o manejo da pinta preta destacam-se:
Evitar plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, baixa circulação de ar e próximos a cultivos em final de ciclo.
Resistentes: Ibituaçú, Aracy, Aracy Ruiva, Apuã, Éden, Monte Alegre 172.
Moderadamente resistentes: APTA 16.5, Asterix, Catucha, Cupido, Itararé, Delta, Ãgata, Eliza, Novella, APTA 21.54, Baronesa, Baraka, Ana, Clara, Cristal, SCS 365 – Cota, BRSIPR, Bel Amorosa, Armada, El Paso, Fontane, Innovator, Maranca, Marlene Sinora.
Moderadamente suscetível: Camila, Atlantic, Asterix, Monalisa, Melody, Vivaldi, Caesar, Colorado e APTA 12.5.
Deficiências de nitrogênio causam a senescência prematura das plantas, tornando-as mais suscetíveis à pinta preta. Níveis adequados de nitrogênio, potássio, magnésio, silício e de matéria orgânica no solo aumentam o vigor das plantas e podem reduzir a severidade da doença.
Evitar longos períodos de molhamento foliar através de práticas como: evitar irrigações noturnas ou em finais de tarde; minimizar o tempo e reduzir a frequência das regas em períodos críticos.
Evitar o plantio sucessivo de solanáceas na mesma área é fundamental para evitar o aumento do potencial de inóculo.
As plantas invasoras dificultam a dissipação da umidade e a circulação de ar na folhagem favorecendo a pinta preta. Cabe destacar que, em alguns casos, essas podem ser hospedeiras alternativas da doença.
Eliminar restos de cultura, tubérculos remanescentes, plantas voluntárias, hospedeiros alternativos, tubérculos doentes e descartados durante o processo de lavagem e classificação.
O uso de fungicidas deve ser realizado dentro de programas de produção integrada. O produtor deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, intervalo, número e tecnologia de aplicação, uso de equipamento de proteção individual (EPI), intervalo de segurança, armazenamento de produtos, descarte de embalagens etc. Para evitar a ocorrência de resistência de Alternaria spp. recomenda-se que fungicidas específicos sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos de contato; que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença.
No Brasil existem dois produtos alternativos registrados para o controle da pinta preta da batata. O Bacillus pumilus, agente de controle biológico que age impedindo ou limitando a ação do patógeno e o extrato de Reynoutria sachalinensis que ativa o sistema de defesa da planta. A calda bordalesa também é uma opção para o controle da pinta preta em sistemas de produção orgânica.
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ANDREU, Mario Alejandro. Licenciado en Genética (U.Na.M./Misiones/Argentina). Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. (DBI/UFLA/MG). Diretor da empresa exportadora ANDREU ALIMENTOS, San Javier, Misiones-Argentina. – marioandreu@ig.com.br Como leitor desta prestigiosa revista, tive a oportunidade...